Eyes Green escrita por Creeper, Lya


Capítulo 10
Acampamento


Notas iniciais do capítulo

Oieeee! O cap está bem grande, viu?
Boa leitura ♡!
(Ultrapassou um pouquinho o prazo, mas vocês perdoam, né?)



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Viagens escolares são as piores.
Por que? Porque são chatas, tem destinos chatos, tarefas chatas e pessoas chatas.
As turmas do 3A e o 3B superaram-se em seus trabalhos de resumo do que aprenderam (Aquele lá que eu e Gray "invadimos" na casa de Leo). E por isso ganharam uma viagem como prêmio.
Não fiquei animado, porque como eu disse, essas viagens são sempre chatas. Iríamos apenas sair da cidade, ir pro campo, floresta, selva, seja lá o que for e acampar lá!
Kenzie me obrigou a ir, disse que seria agradável respirar o ar puro fora da cidade, aprender a sobreviver sem tecnologia e interagir (Virou uma Keyla na vida) com a natureza.
Eu estava muito bem respirando esse ar poluído, muito bem com meu celular, minha água quente, minha eletricidade e minha selva de concreto.

—Que bonitinho...Vai acampar!-Dressa provocou rindo. Ela estava deitada em minha cama, as pernas apoiadas na parede e a cabeça virada para baixo fora do colchão, deixando seus cabelos vermelhos caírem até tocarem o chão.

Dressa estava me fazendo compainha enquanto eu arrumava as malas para passar uma semana na floresta.

—Você podia me ajudar, né!-bufei dobrando uma camiseta e enfiando na mochila com raiva.

—Nah...Vou ficar só olhando mesmo.-Dressa riu mexendo em seu celular.-O ruivinho vai?-desviou o olhar da tela para mim.

—Vai...-falei não evitando um sorrisinho de canto.

Gray e Leo também me obrigaram a ir, eles estavam afim de causar e eu não podia faltar. Ah, e eles argumentaram que Arthur também iria. Isso foi o suficiente pra mim.

—E aí?-Dressa bocejou.-Já se pegaram?-me encarou com tédio.

—Não né! Palhaça! - falei virando de costa pra ela e senti meu rosto corar.

—Desde quando você é tão devagar?-Dressa mostrou a língua e revirou os olhos.

—Ah, então vai me dizer que você e o Diego já se pegaram?-falei irônico, arqueando uma sobrancelha.

—Não! Mas isso não vem ao caso!-Dressa inflou as bochechas coradas.

—Eu fui mais rápido que ele.-me gabei. Estava me referindo ao tempo que eu e Dressa ficamos.

—Você só queria alguém para se divertir, hipócrita.-Dressa revirou os olhos.

Eu estava carente na época!
—Igual a você.-rebati. Ela também estava.-E igual ao Diego. A diferença é que...Ele quer te levar pra cama, quer brincar com você como se fosse uma boneca, só tá pagando de lerdo pra você confiar mais nele.-falei com tédio, pegando uma tesoura para cortar a etiqueta de uma jaqueta que colocaria na mala.-Homens são assim, infelizmente. Não todos...Mas...-dei de ombros e suspirei. -A maioria.

—Você não entende nada mesmo!-Dressa bufou.-Ele está sendo lerdo por não saber o que fazer! Ele está nervoso!

—Jura? Nervoso?-arqueei uma sobrancelha.-Aquele galinha?-ri irônico.

—Talvez eu seja a mulher da vida dele e ele não queira estragar isso. Você não entende, né.-Dressa deu de ombros.-Ele não é como você que estragou tudo com a Bárbara...-me encarou sarcástica.

Por que eu fui contar meu passado inteiro pra Dressa?
Respirei fundo e fiquei calado.
Ás vezes, o silêncio é a melhor resposta.
Eu sei que eu estraguei tudo com minha primeira namorada, mas não precisa jogar na cara. Eu me arrependi, certo?

—Você é igual minha tesoura...-falei com tédio após um constrangedor silêncio.

—Afiada?-Dressa sorriu convencida arqueando uma sobrancelha.

—Cega.-sorri jogando aquela tesoura em cima da cama.

—Acho que você está com ciúmes do Diego por ser meu Senpai!-Dressa provocou.
—Ciúmes? De você?-ri debochado.-Minha filha, passe roupa, não passe vergonha. E me poupe!

—Ciúmes por eu escolher me entregar a ele!-Dressa ficou de pé em minha cama, colocando as mãos na cintura.

—Se entregar?!-engasguei.-O que está dizendo?!-subi na cama, ficando cara a cara com ela, a olhando nos olhos.-Você não está pensando em...Em...-arregalei os olhos, incrédulo com a decisão dela.-Minha filha, você é idiota?!

—Estou e sou, por que?-Dressa me olhou com superioridade.
Cerrei os dentes.

—Dressa, tem que ser especial e não com qualquer um!-franzi a testa.-Você mal o conhece e já tá pensando em dormir com ele?!

—Ele é especial pra mim.-Dressa cruzou os braços e desviou o olhar.

—Você não é especial pra ele.-suspirei.

—Ah, é? E com quem foi sua primeira? Não to vendo você com o fulano!-Dressa me encarou com deboche.-Por acaso é o dono da sua porcaria de amuleto?!-alterou o tom da voz.

Arregalei os olhos.
—SE VOCÊ QUER MESMO SABER, EU FALO: Ele está no Canadá. Eu estaria com ele até hoje se não fosse por minha mãe, falou?!-me irritei profundamente.

Me lembrar daquele assunto me estressava, eu não queria me lembrar do passado. Tudo aquilo me fazia lembrar da minha mãe, a repreensão dela, o desgosto dela, a desaprovação...

—Nathaniel?-Dressa me olhou assustada.

—Desculpa.-sussurrei balançando a cabeça para afastar tais pensamentos.

—Quem é ele?-Dressa arqueou uma sobrancelha.

—Não estou afim de falar...É algo que tenho que esquecer.-murmurei inclinando a cabeça para trás. Eu não queria esquecer coisa nenhuma. Não queria esquecer a pessoa que mudou minha vida no meu tempo fora do Brasil.-Só que...-empurrei Dressa, a imprensando contra a parede, ambos ainda de pé na cama.-Não faça isso. Não importa o quanto esteja desesperada para amadurecer. Não importa o quanto queira perder sua pureza. Não deixe alguém imundo como ele te sujar.-sussurrei sinceramente, a olhando fundo nos olhos.-Por favor, me ouve só dessa vez, sua desmiolada.

—E você se importa?-Dressa engoliu em seco.

—Sabe que sim...Você é minha melhor amig...-falei cansado daquela conversa.

—Você tá apaixonado, né.-Dressa deu um sorriso fraco, me interrompendo.

Minha cabeça deu um estalo.
—Q-Que?-minha voz saiu rouca.

De repente, ouvi a madeira do sustento da cama ranger, mas um rangido ALTO, seguido de um som de madeira quebrando.
E...PÁ! O colchão foi ao chão, junto com nós, fazendo eu e Dressa nos desiquilibrarmos e cairmos deitados. Pra piorar a situação, eu em cima dela. E a cama quebrada.
Isso que dá comprar cama velha do Paraguai.

—Wow! E nem fizemos nada! Imagina se tivéssemos feito!-Dressa usou seu senso de humor para amenizar a situação, rindo nervosamente, ri também, apenas para descontrair. Ela estava vermelha da cabeça aos pés, com dificuldade de respirar. Não estava diferente de mim.
Não que eu estivesse sentindo algo com aquela situação constrangedora...Eu estava apenas envergonhado por estar naquela situação com alguém que considero minha melhor amiga. É a mesma coisa de ver sua irmã no banho.
Não sou um pervertido!
A porta foi aberta, o que me causou um susto, era Kenzie segurando uma camiseta.

—Era essa aqui que você...-Kenzie falou sem nos notar. Até que ela decidiu encarar o rostinho belo de seu irmão. Kenzie arregalou os olhos, pasma.-N-Não sabia que vocês...-tentou não gaguejar, recuando alguns passos.-Façam tudo, só não façam bebês!-ela gritou fechando a porta com força.

Ficamos em silêncio, encarando a porta, depois nos encaramos calados.
Eu estava desconfortável, assim que tentei me levantar a porta foi aberta novamente.

—Mentira!-Kenzie anunciou.-Saí daí, seu porco imundo! A Dressa é uma dama!-me puxou, me levantando e depois me jogando no chão sem delicadeza.-Ele abusou de você?-perguntou toda meiga para Dressa, a ajudando a se levantar.

—Não esquenta.-Dressa riu.-Mais fácil eu abusar dele.-jogou o rabo-de-cavalo para trás.

—Haha, engraçadinha.-revirei os olhos.-Alguma das duas pode me fazer o favor de me ajudar com as malas?-pedi.

—Estou cozinhando!-Kenzie saiu dali.

—E eu estou comendo o que ela acabou de cozinhar!-Dressa saiu depressa.

Bufei, fechei a porta e encarei a cama quebrada.

—Aquela idiota nunca me dá ouvidos! Diego? Pelo amor!-reclamei.-E...Eu apaixonado? Ela está a cada dia com um parafuso a menos!

☆☆☆

No dia seguinte, fui para o colégio bem cedo, o ônibus estaria lá as 8:30 para nos levar até o acampamento. 3A e 3B foram em ônibus separados, o que só deixou a viagem mais longa pois Gray não parava com as paranoias dele sobre Vick estar dando em cima de Leo. É, eu tive o azar de sentar com Gray, já Arthur sentou-se com Jane.
Soube que estávamos prestes a chegar quando meu celular ficou sem sinal, adeus vida social.
Não demorou muito, o ônibus saiu da estrada de asfalto e entrou na de terra, logo as árvores foram nos engolindo e o veículo estacionou.

—Prestem atenção!-Keyla se colocou na frente do ônibus.-Não se separem da turma, permaneçam em grupos ou duplas! Não há sinal de celular, então nem tentem. A primeira tarefa será montar as barracas, há instrutores que lhe auxiliarão nisso. Entenderam?-colocou as mãos na cintura.

—Sim.-todos responderam em coro, ligeiramente desanimados.

—Então vamos!-Keyla ergueu o punho no ar e saiu animada.

Todos os alunos saíram se arrastando feito zumbis, o cheiro de mato invadiu minhas narinas, mal pisei no chão e meus tênis já estavam afundados na lama, podia ouvir o som de água há alguns metros dali.

Enquanto tirávamos nossas malas do ônibus, Leo nos encontrou.

—Ah, o ar livre, super romântico!-Gray disse ironicamente.

—Considere nossa lua de mel adiantada.-Leo sorriu.

—Que nojo.-murmurei.-Não vim pra cá pra ser vela.

—Parece que tem alguém de mau humor!-Leo apertou minha bochecha e deu um tapinha de leve.

—Eu nem queria vir...-desviei o olhar e avistei Arthur se aproximando.

—Leo!-Arthur puxou Leo suavemente pela mão.

Gray franziu a testa.
—Estava te procurando!-Arthur sorriu. Que sorriso, meu Deus...

—Posso saber o por quê?-Gray arqueou uma sobrancelha.

—Para arrumarmos nossas coisas na nossa barraca.-Arthur mudou o tom de voz pra responder Gray.

—Que?-eu, Gray e Leo dissemos incrédulos. Gray ficou verde de ciúmes e eu pálido de surpresa.

—Cada barraca vai ser de duas pessoas.-Arthur apontou para os alunos e coordenadores montando as barracas mais para frente.-E eu vou dormir com o Leo. Até chutei o Victor para ir dormir na barraca do Brendon, apesar dele ter me agradecido.-ele disse revirando os olhos para Gray.

—Não! Eu sou o namorado dele! Eu vou dormir com ele! Você que vá dormir com o Nath ou com outra pessoa!-Gray rosnou.

—Gente...Eu não posso escolher não? E se eu quiser dormir com o Nath?-Leo deu de ombros suspirando.

—Opa! Vem!-falei na brincadeira.

— Vai porra nenhuma! - Gray disse irritado. - Quando eu penso que me livro de um rival, eu ganho outro!

— Que rival o que! Deixa de palhaçada, garoto! - Arthur falou no mesmo tom. - Ele é meu amigo e eu vou dormir com ele sim!

Bem, tivemos uma longa discussão sobre quem iria dormir com quem, fizemos esquemas em um papel, debatemos e argumentamos.
Depois de muita briga, o Leo e o Gray foram conversar em um canto, mas não deixaram nem eu e nem o Arthur ouvirmos.

—Bem...Decidimos!-Leo veio até nós.-Eu irei dormir com o Tutu!-sorriu.

Suspirei decepcionado ao ver Arthur sorrindo de felicidade ao abraçando seu colega de barraca de leve, Leo sorriu bagunçando os cabelos ruivos dele. Olhei para Gray, desconfiado, ele somente me mandou uma piscadela.

Eu e Gray fomos montar nossa barraca, mas era mais difícil do que parecia! Leo e Arthur já tinham montado a deles e estavam sentados conversando junto de Victor.

— Vocês bem que podiam dar uma mãozinha aqui! - falei alto pra eles ouvirem, suspirando de frustração.

—Bem...- Leo deu um sorriso sem graça.

—Se virem sozinhos.- Arthur falou nos olhando friamente e Victor riu achando graça.

— Olha, a gente até podia ajudar, mas... Se não fizerem sozinhos, nunca vão aprender!- Victor falou olhando entediado para mim e Gray.

— Dane-se!- Gray cuspiu as palavras.

—...E além do mas... -Victor continuou como se Gray não tivesse falado nada- Isso é fácil.

Victor se levantou vindo em nossa direção, pegou os ferros da mão de Gray e os fincou no chão.

—Você faz isso aqui. - falou civilizadamente para Gray, explicando como deveria encaixar os ferros no chão.
Fiquei chocado, acho que era a primeira vez que os vi juntos sem se alfinetarem.

— Hum, entendi... Obrigado.- Gray falou meio a contra gosto.

— Nem por isso. -Victor deu de ombros e foi até Leo. -Quem será que é mais rápido? Eu, obviamente!-e saiu correndo.

— Como você ousa me desafiar!? - Leo gritou se levantando e correndo atrás de Victor.

Arthur riu se levantando e batendo em suas roupas para tirar a poeira.

— O que você tá olhando?- Ele perguntou me olhando cheio de indiferença.

— N-Nada! Eu só queria olhar a barraca de vocês...- sorri sem graça inventando uma desculpa.

— Então vem ver, oras... - ele disse dando de ombros.

— Então vai ver!- Gray fez uma voz maliciosa me empurrando na direção de Arthur.

Constrangido, me aproximei da barraca de Arthur e fingi observar.

—Por que está nervoso?- ele perguntou olhando diretamente pro meu rosto.

Engoli em seco, não sabia como responder! O que eu deveria dizer? "Estou nervoso porque você está me olhando"? Sem essa!

—Cara... O Leo corre! - Victor reapareceu por trás de Arthur, colocou as mãos nos joelhos e respirou fundo.

— Cadê ele?- Gray perguntou se aproximando de nós enquanto batia uma mão na outra para tirar a sujeira.

—Ah, não sei, eu dei um perdido nele! -Victor gargalhou.
Observei de relance Leo vindo voando na direção do Victor.
Leo deu uma voadora no Victor, o fazendo ir com tudo para frente, mas como ele estava atrás de Arthur, o ruivinho veio praticamente voando em cima de mim.
Até tentei segurá-lo, porém o impacto foi tão forte que caímos no chão, ele em cima, eu em baixo.

— Minha irmã vai gostar de ver isso!-Leo disse sorrindo e tirando uma foto nossa naquela situação.

Arthur se levantou super rápido.

—Eu vou... Ali! - Arthur apontou para uma direção, entretanto foi para outra.

Gray me ajudou a levantar e Victor ficou olhando para mim com uma expressão insinuosa.

— Hummmm... Tinha razão. - falou para Leo lhe dando um empurrão.-Valeu a pena a voadora!-se espreguiçou dolorido.

— Eu falei!- Leo deu uma cotovelada nele.

Após um dia inteiro somente montando as barracas, guardando as malas, ouvindo as regras um milhão de vezes e fazendo uma trilha para conhecer a floresta, finalmente chegou a hora de descansar.

—Eu estou morto!-me joguei no saco de dormir e bufei. Ainda era 8 da noite.

—Também estou!-Gray se espreguiçou e se deitou no saco de dormir ao meu lado.-Que saudade do Leo...-abraçou um travesseiro.

—Você acabou de vê-lo faz uns cinco minutos...-debochei o encarando.

—Quando tiver um namorado, vai saber.-Gray sorriu todo bobo.-Vai querer ficar com ele a cada segundo do dia... Vai saber!-riu tímido.

—Hum...É...-virei pro outro lado e suspirei pesadamente.-Vou saber...-sussurrei franzindo a testa.

—Não fica na bad!-Gray veio para cima de mim.

—Você é pesado!-reclamei.
—Tua bunda!-Gray bufou.-Em uma hora iniciaremos nosso plano.-riu maléfico.

—Plano?-arqueei uma sobrancelha.

Lá vem! Tô sentindo! Sabia!

☆☆☆
Não deu outra, às nove horas Leo apareceu na nossa barraca sem camisa, somente vestindo uma calça de moletom cinza e carregando um cobertor no ombro.
Moleque eficiente, já vem quase semi-nú, assim não gastam tempo tirando a roupa...

—Fiquei com saudades do meu loiro!-Leo sorriu inocente.

Eu estava lendo uma revista e quase caindo no sono quando aquele Romeu apareceu.

—Parte 1: Completa.-Gray sorriu e me encarou.-Nath...Sabe que só pode duas pessoas nas barracas, né?

—Você tá me expulsando?-perguntei indignado.

— Não, estou te convidando para meter o pé daqui! - Gray sorriu de maneira cínica.

—Estamos te dando a chance de ficar na mesma barraca que o Tutu!-Leo disse.

—Em outras palavras: Dá no pé logo.-Gray falou de modo ameaçador.

—Ok! Ok!-falei pegando minha blusa de moletom para cobrir meu peito nú.

—Você não vai precisar disso.-Leo disse malicioso.

—Não sou um pervertido igual a você!-senti minhas bochechas ficarem levemente quentes e saí dali rapidamente. Corri o mais rápido que pude para que nenhum inspetor me pegasse, entrei silenciosamente na barraca que Leo estava anteriormente.

Eu nem respirava. Fiquei observando Arthur deitado de lado em seu colchão inflável, os olhos fechados, a respiração calma...Ele estava dormindo?

Vesti meu moletom e fiquei pensando...O que Leo e Gray pensavam que eu ia fazer com Arthur?
Fiquei o fitando por mais um tempo, me aproximei e pensei em afagar seus cabelos.

—Se você tocar em mim, eu te mato.-Arthur virou bruscamente para me encarar (ou pelo menos tentar).

—Você tá acordado?!-arregalei os olhos.

—Eu não sou burro, Nathaniel.-ele disse indignado, sem os óculos ele era ainda mais lindo.-Sabia o que os dois planejaram.

—Você me enxerga?-soltei a pergunta mais idiota que podia. Sei lá o que me deu! Mas, apesar de tudo, eu já sabia a resposta.
Arthur ruborizou.

—Eu só sou míope e não cego, idiota!-Arthur colocou seus óculos e então se deu conta o quanto estava errado...
—Ah, é? Então por que você está olhando pra frente e não pro lado?-prendi a risada.

—Vai se lascar!-ele finalmente me encarou, totalmente vermelho e com as bochechas infladas.

—Por que você é tão bruto?-perguntei abraçando meus joelhos.

—E você ainda pergunta?-Arthur bufou.

Pensei por um momento.
—Tudo bem...-suspirei.-Me desculpe por ter jogado o celular em você...E por ter mexido no seu cabelo...E por ter te sarrado...-abaixei a cabeça.-Foi mal mesmo.

—Sério?-Arthur me fitou.

—É sério. Seria cinismo da minha parte achar que eu não estava errado.-falei tentando ser o mais convincente possível.

Arthur piscou os olhos várias vezes.

—Demorou...-Arthur comentou.-Desculpado.-murmurou hesitante.
Sorri de canto.

— Me diz...Por que você é tão bonzinho com o Leo e com o Vick, mas comigo e com o Gray é tão... Sei lá...?-dei de ombros curioso.

—Eu gosto do Leo e do Vick. - ele deu de ombros - Leo foi o primeiro que quis amizade comigo, mesmo ele sendo popular, ele quis ser meu amigo... Ele não é superficial, Victor também não. São divertidos.

—Entendi... Todos sempre gostam do Leo...- falei o óbvio. Tá certo que há 5 anos eu não fazia parte desse "todos".

—E... Bem, a maneira como eu trato você e Gray é porque...Gray acha que manda no Leo!-bufou. -Apesar de serem namorados, eu acho essas briguinhas...Divertidas. E em relação a você... -ele virou o rosto.
—Bom, não preciso falar, você acabou de se desculpar.

Eu sorri com isso.

—Agora vê se vira e dorme.-ele franziu a testa e voltou a deitar-se.
Balancei a cabeça e dei de ombros, sentindo um arrepio. Droga...Eu havia esquecido meu cobertor! Eu ia virar um picolé se passasse a noite inteira sem me cobrir.
Dei uma checada no lado de fora, infelizmente havia um inspetor supervisionando, então fechei o zíper da barraca rapidamente para evitar uma bronca.

—Arthur, que tal compartilhar seu cobertor na humildade?-falei com todo meu tom de inocência.

—Eu não mandei você vir pra cá, então morra de frio!-Arthur disse friamente e se virou.

—Okay...-suspirei. Por que ele continuava sendo tão grosso?

Me deitei de costas para Arthur, com uma mão debaixo da cabeça e a outra no bolso do moletom.
Fechei os olhos na tentativa de conseguir dormir, meus pés e pernas estavam gelados, por isso me encolhi.
Em algum momento, senti um pano quentinho e um tanto pesado ser colocado sobre mim. Dei uma risada abafada, virei um pouquinho para o lado e fiquei encarando Arthur que fingia estar dormindo.
Achei aquilo super fofo!
Quer dizer que ele só queria um pedido de desculpas? Por que eu não fiz isso antes?

☆☆☆

Cheguei a conclusão que nem eu e nem Arthur estávamos próximos de dormir.
Então me surgiu uma idéia...
Peguei uma lanterna, levantei em silêncio, abri o zíper da barraca devagarzinho e pude vislumbrar o lado de fora.
Estava tudo escuro e um silêncio mortal, sem sinal de algum inspetor.
—Mas você não para quieto um segundo?!-Arthur colocou seus óculos e me encarou com as bochechas infladas.

—Quero te mostrar algo legal.-sorri e lhe estendi a mão.

—Isso é o que um estrupador diria...-Arthur arregalou os olhos e se encolheu. -Foi o que a dupla sertaneja "Victor e Leo" me ensinou.

—Acha mesmo que vou te machucar?-o olhei com tédio.-Te garanto, será legal.-dei um sorriso sincero e segurei em seu pulso delicadamente.

—Vixe! -ele arregalou os olhos.-Exatamente como os meninos falaram! -ele fez uma cara de assustado, mas logo em seguida revirou os olhos.

—E aí?-arqueei uma sobrancelha.

—Tudo bem, mas é só porque não consigo dormir.-Arthur jogou o cobertor para um canto e saiu da barraca junto a mim.

Mais uma vez olhei ao redor para ter certeza de que não seríamos pegos.

—Vem.-acendi a laterna e fui o guiando.

—Não! Você é doido? Podemos nos perder...-Arthur parou de andar receoso.-E eu não quero ficar perdido com você.

—Magoei.-coloquei a mão no peito.-Só confie em mim. Eu tenho um ótimo senso de direção.

—Certo.-Arthur respirou fundo.
Andentramos a mata, eu ia dando as devidas instruções para Arthur não pisar em falso ou tropeçar em algum cipó.

—Por que citou a possibilidade de nos perdemos e não a possibilidade de encontramos uma cobra?-perguntei enquanto ia abrindo espaço entre os galhos das árvores.-Não tem medo?
—Não. Para falar a verdade, seria legal a gente fugindo de um bicho. Imagino você gritando e subindo em cima de uma árvore.-Arthur falou com normalidade.

—Quem você acha que eu sou?-franzi a testa e fiz biquinho.

—O garoto que saiu correndo do Troy em cima da mesa.-Arthur riu.

—Você é doido mesmo, acho que é por isso que anda com o Leo.-concluí.

—Eu...-Arthur começou, porém o interrompi colocando minha mão em frente a sua boca.

Em silêncio, podíamos ouvir o som de água corrente.

—Perfeito.-sussurrei.
Não demorou muito, saímos do meio da mata cortando caminho e encontramos uma cachoeira.
Arthur olhou para cima, admirando o céu aberto, mais estrelado do que nunca.

—Isso é incrível!-Arthur disse fascinado.
Eu estava mais impressionado com a linda e enorme cachoeira, a água era tão cristalina.
Sentamos na beira da água e deixamos nossos pés se molharem.
—Eu realmente achei que essa viagem seria incrivelmente chata. Mas agora vejo que eu talvez possa estar errado.-comentei.

—Eu sabia que não seria chata, afinal, Leo, Gray e você viriam.-Arthur sorriu de canto.-Vocês sempre animam tudo, é incrível.-suspirou.

—Lisonjeado.-disse convencido.

—Não se acostume, isso não é admiração.-Arthur inflou uma bochecha.
Ficamos em silêncio.

— Você...-tentei puxar assunto.
—Silêncio! Olha! -Arthur sussurrou apontando para uns vagalumes do outro lado do rio.-Essa... É a primeira vez que... Eu vejo tantas coisas bonitas...-disse baixinho ganhando um brilho no olhar.

—Sério? E eu estou incluído?-sorri convencido.

—Você não, metido!-Arthur se permitiu rir e me deu um soquinho.

Após um tempo, notei que Arthur não me respondia mais, mas só fui me dar conta quando sua cabeça caiu em meu ombro.

Fazia sentido, afinal, ele havia bebido um remédio para alergia e o efeito dava sono.
Mas...Fiquei surpreso com sua confiança em deitar no meu ombro.
Eu não seria um irresponsável como sempre. Então com cuidado e delicadeza, o coloquei em minhas costas e me levantei.
Podia escutar sua respiração calma e seu coração batendo no ritmo ideal.
Decidi pegar o caminho aberto, sem árvores ou cipós no chão, entretanto era bem mais longo, mas esse não seria um problema.

—N-Nath...-Arthur murmurou inocentemente com uma voz arrastada.-Idiota...

—Sério?-sussurrei revirando os olhos e rindo baixinho.
Os braços de Arthur rodearem meu pescoço.
Senti um baque em meu coração e ele logo acelerou. As batidas eram tão intensas que chegavam a doer.
A sensação era estranha, sentia como se fosse desmaiar, parecia que ia vomitar de...Nervosismo.
Eu não conseguia sequer respirar direito.

—Que droga você está fazendo comigo?-sussurrei perplexo.
Ao chegar na barraca, coloquei Arthur deitado em seu colchão inflável e o cobri. Fiz tudo com muita cautela.
Enquanto fechava o zíper da barraca, senti a barra de meu moletom ser puxada.
Lentamente me virei e encarei Arthur, com uma mão ele segurava minha roupa e com a outra esfregava seu olho.
—Desculpa...Te acordei?-sussurrei preocupado.

—Deita.-Arthur mandou. Obedeci sem questionamentos.-Mais perto de mim, babaca.

Eu estava incrédulo! Me aproximei dele como ele havia mandado, céus, estávamos tão próximos que ele devia estar ouvindo meu coração!

—Vou te contar algo...Mas fica entre nós ou você está morto.-Arthur murmurou deitando de lado, a mão ainda agarrada em meu moletom.-A-Aquele dia você dormiu do meu lado na casa do Leo...-jogou um pedaço da coberta em cima de mim, a ajeitei.-E acho que me acostumei com sua presença.

—Mas foi só uma noite...-cruzei os braços atrás da cabeça.

—Eu gosto de me comparar com animais. Alguns só conseguem dormir com a presença de outros.-Arthur sussurrou.

—Hã...-o olhei de soslaio.
—Eu era acostumado com o Leo.-Arthur confessou.

Ah, se o Gray ouve isso...
Ri por dentro.

—E o que quer que eu faça?-perguntei.

—Saía da minha vida.-Arthur disse com dureza.-Ou simplesmente me dê uma camiseta sua.

—Vai dormir com ela?-é, eu ruborizei.

—Só por uns dias.-Arthur murmurou.-Não pense besteiras, depravado.

—Por que exatamente uma camiseta?-me interessei.

—Porque tem seu cheiro.-Arthur colocou a outra mão em frente a boca, assim abafando o som. Infelizmente estava escuro e eu não conseguia ver se ele estava corado.

—Como quiser...-engoli em seco.
Eu estava pirando. Arthur precisava de mim para dormir?
Só que...Eu estava constrangido. Isso é normal?
Mil pensamentos passavam por minha mente.
Como ele consegue bagunçar minha cabeça desse jeito?

☆☆☆

Acordei assustado com um alto som de buzina do lado de fora da barraca. Um som insistente que não parava de tocar acompanhado de uma voz gritando:
—ACORDEM! TODO MUNDO PRA FORA! O SOL JÁ RAIOU, A ALEGRIA É MAIOR!

Só espero que esse tipo de despertador esteja em falta nas lojas, porque com certeza Kenzie iria querer um para usar comigo.
Abri os olhos após muito esforço e...
—Eu deveria estar surpreso?-perguntei com tédio para Leo e Gray que estavam me encarando com malícia.

—Não!-Gray prendeu a risada.

—Não mesmo!-Leo sorriu maligno.-Nossa noite foi ótima e a de vocês?

—Nada demais.-bocejei e estava prestes a me espreguiçar, mas algo me impedia de me mover.
Olhei para o lado e percebi que Arthur estava me abraçando enquanto lutava para continuar dormindo.

—Nada demais?-Leo mordeu o lábio inferior, arqueou uma sobrancelha e por fim soltou uma gargalhada irônica.

Corei. Corei. Corei violentamente.

—Saíam daqui, seus urubus!-reclamei.

—PORRA, ENFIA ESSA BUZINA NO...-Arthur levantou bruscamente e atirou um cantil lá fora.

Ou melhor, tentou atirar lá fora, mas acabou acertando a testa de Gray.
Eu e Leo cobrimos a boca por conta do choque.
Ficamos encarando o ruivinho de modo assustado.

—TU É CEGO?!-Gray reclamou massageando a testa. Leo não parava de rir, igual a mim.-DOEU!

—Nossa...Nostálgico, não?-ri com a lembrança.

—Não foi a intenção.-Arthur deu de ombros.-É...Talvez.-riu.

—Tutu não gosta que o acordem! Ele fica mal humorado!-Leo abraçou Arthur se jogando em cima dele.-Vamos levantar, genty! A galera encontrou uma cachoeira!

—Cachoeira?-Arthur colocou os óculos e me olhou em silêncio.

Dei de ombros, sorri inocente e lhe mandei uma piscadela discreta.

Ele deu um mínimo sorriso de canto e assentiu com a cabeça.

Observei Gray e Leo trocarem olhares confusos.

☆☆☆
Após o café da manhã, todos estávamos na cachoeira, só esperando a digestão para que pudéssemos dar um mergulho.
Eu estava me preparando para entrar na água, havia acabado de tirar a camiseta e passava protetor solar.
De repente, Lassie, uma garota do 3B veio conversar comigo. Ela era amiga do Leo e sentava na mesa dos populares junto com ele.

—Hey, Nath.-ela sorriu, apesar de usar aparelho, seu sorriso era bonito.-Soube que você estava na barraca do Gray, mas Leo quis trocar e agora você está com o Arthur.

Arqueei uma sobrancelha.
Como ela sabia disso?

—Então...Eu queria saber se você gostaria de dormir comigo, sabe, não aguento mais minha amiga ne chutando a noite inteira!-colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, notei que suas bochechas estavam rosadas.

Fiquei sem reação por fora, mas por dentro eu estava:
ATA, KERIDA! VAI ACHANDO QUE VOU TROCAR MEU ARTHUR FOFO E CHEIROSO POR TU, PERANHA!
Tá...Não vou mentir...Lassie é bem bonita e é uma das RARÍSSIMAS garotas que não me odeia.
Porém...Eu não estava interessado em garotas no momento.

—Ai!-Lassie resmungou.-Alguém jogou uma pedra em mim!-massageou a cabeça e com a mão livre pegou uma pedrinha no chão. Ela virou pra trás, olhei por cima de seu ombro e para minha surpresa, Arthur estava com a mão cheia de pedras.

—Foi sem querer.-ele disse sem um pingo de arrependimento.-Estava descartando as pedras que não servem pro trabalho que o professor pediu.

Ah, sim...Devíamos coletar umas pedras como tarefa, afinal, era uma excursão escolar.
— Que coisa feia, Arth! -Leo falou com uma cara risonha. -Jogar pedra nos amiguinhos! -disse isso mas logo em seguida tacou uma pedrinha em Victor que estava falando com Brendon.
Victor se virou para Leo, pegou uma pedra enorme soterrada no chão e foi atrás dele que já estava a uns bons metros de distância.

—Aff...-murmurou.-Aonde estávamos?-Lassie bufou, me olhando.

Novamente, olhei Arthur por cima do ombro de Lassie e ele fez menção de jogar outra pedra.
Prendi a vontade de rir e só para tacar o fogo, passei o braço pelos ombros de Lassie.
Eu sou do mal, baby.

—Bem, vou ter que recusar o convite tentador. Mas podemos passar o dia juntos.-dei um falso sorriso conquistador.
Lassie fez um biquinho invocado.

—Já disse como foi sensacional o que você fez com o Troy?-ela comentou.-Eu até postei o vídeo no blog do colégio.

—Isso é permitido?-estranhei.
—É no blog liberado, o de fofocas, sabe?-Lassie fez sinal de positivo com o polegar.-Não deixe a diretora saber.-piscou um olho.

—Espera, existe um blog de fofocas? E como é que eu não conheço?-eu estava indignado.
—Não se ofenda, mas o pessoal da produção não ia com sua cara.-Lassie deu um sorriso constrangido.-Só que eu aposto que agora devem estar doidos para que você entre pra produção!

—Não é porque fiquei famoso que irei abandonar meu título de "fofoqueiro", né?-penteei meu cabelo para trás com os dedos e dei um sorriso convencido.
Estava até demorando para que outra pedra fosse jogada...Enfim, aconteceu, mas dessa vez foi na MINHA cabeça!
Soltei Lassie e me virei para trás com as mãos na cintura.
Só que não havia sido Arthur que tinha jogado a pedra e sim Gray.
—É melhor a gente conversar depois, seus amigos estão querendo atenção.-Lassie suspirou e saiu.

—O que foi isso?-perguntei.

—Algum problema jogarmos pedras em ti?-Gray se aproximou.

—Eu disse que só estava descartando as que não serviam!-bastou Arthur se aproximar que eu voltei a ter a mesma sensação que tive na noite anterior.

—Eu estou doente!-cheguei a essa conclusão.

—Por que, Nathzinho?-Gray fez biquinho.-Quais os sintomas? Aposto que Arthur pode tomar conta de você!
—Posso nada.-Arthur saiu dali e foi até Leo que estava tirando sua camiseta.

—Ai não, ai não, ai não!-massageei as têmporas.-Droga, droga, droga...Não pode ser o que estou pensando!-arregalei os olhos.

—Que foi, doido?!-Gray segurou em meus ombros.

—Eu já senti isso antes...Duas vezes.-mordi o lábio inferior e coloquei a mão no peito.

☆☆☆

Finalmente pude entrar na água, ela estava refrescante e o sol estava alto.
Todos a minha volta se divertiam e os professores estavam ficando loucos já que ninguém os obedecia.

—Vamo tira a camisinhaaa! - Leo cantarolava puxando a camiseta de Arthur.

— Eu vou matar você, Leo! - Arthur disse com a voz abafada pois sua camiseta já estava passando por seu rosto.

Franzi a testa enquanto os encarava. O que ele pretendia fazer?
—Mostra sua força! Vai! -Leo segurou Arthur pela cintura ignorando seus protestos, o levantou e num ato simples o jogou EXATAMENTE em cima de mim.

Arregalei os olhos assustado, em um ato instintivo segurei Arthur pela cintura como se ele fosse uma criança que não soubesse nadar.
Leo se matava de rir. Ah, eu ia matar ele!
Arthur me encarou mortalmente, havia respingos de água nas lentes de seu óculos.
Senti minhas bochechas esquentaram. Tinha certeza de que ele não estava gostando que eu o segurasse.
De repente, Gray (que já estava sem camiseta para se exibir) tomou distância para conseguir impulso e pulou no rio, espalhando água pra todos os lados e vindo até nós dois.
—Vamos brincar de briga de galo!-Gray me mandou uma piscadela discreta.-Leo, amor, chega mais!

—Sei não... Você engordou, é capaz de me matar! -Leo disse zoando e cruzou os braços virando o rosto.

—Eu o que???!!!-Gray surtou, olhou para baixo desesperado e passou a mão pela barriga.

Ri de sua reação, meu amigo era muito exagerado. Arthur também queria rir, porém estava tentando esconder isso.

—Tô brincando!!!! Nossa, mozão...-Leo ergueu as mãos como se fosse inocente.-Você fica uma graça quando está desesperado!

Gray corou levemente e desviou o olhar.
—Entra logo na água pra gente brincar!-Gray inflou uma bochecha e cruzou os braços.

—Ownt, por isso eu amo esse loirinho!-Leo sorriu e não deu outra, pulou na água para se juntar a nós.

☆☆☆

O dia foi extremamente divertido, passamos metade dele brincando na cachoeira e a outra metade fazendo trilha pela parte segura da floresta.
Acabamos não tendo que fazer tarefa nenhuma! Mas isso não impediu os garotos de continuarem a jogar pedras uns nos outros.
Já de noite, para fechar com chave de ouro, os alunos secretamente organizaram um encontro em volta da fogueira às 23:00 horas (quando os inspetores e professores já estavam dormindo).
O lugar marcado era no final da trilha que parava em uma cerca de madeira com arame farpado e placas que diziam: "Proibida Entrada", "Afaste-se", "Alunos em excursão não devem ultrapassar" e etc. Atrás da cerca só havia árvores, árvores e mais árvores, além de trevas.
O grupo que chegou primeiro já havia acendido a fogueira e providenciado troncos para usarmos de bancos. Lógico que fui acompanhado com meu fiel grupo: Gray, Leo, Arthur e Vick.
Quando já estávamos todos presentes, nos sentamos e Lassie anunciou:

—Bem-vindos a noite do terror! Será que conseguirão sair vivos dessa?

Ela usava uma máscara que era metade preta e metade branca, na parte branca havia um sorriso insano e na parte preta havia uma boca costurada. Só conseguia ver seus olhos e seu cabelo.

—Eu sabia que devia ter ficado na barraca.-Arthur bocejou, estava com a maior cara de sono, afinal, ele estava dormindo quando o chamamos.

—Aí, Lassie! Tá bonitona com essa máscara, ela não consegue disfarçar sua beleza.-Leo sorriu como um príncipe, arrancando suspiros das meninas, também recebeu um aceno tímido de Lassie e um pescotapa de Gray.

—Acomodem-se.-um garoto usando uma máscara igual a de Lassie disse ao ficar de pé e colocar uma laterna abaixo do queixo, de modo que a luz iluminasse seu rosto.-Desliguem os celulares e laternas, porque agora vocês são seres da escuridão.

— Adoro. - Leo, Vick e outro menino falaram sorrindo travessos.

Todos fizeram o que ele mandou sem protestos.

—Irei contar o motivo para essa cerca existir...-ele apontou para a cerca atrás dele.-Porque atrás dela vive um bestial. Bestiais são criaturas corrompidas que um dia já foram humanas. Vocês achavam que essa floresta não era civilizada, né? Pois estavam errados! Há alguns anos, atrás de todas essas árvores, existia uma casinha aonde morava uma humilde mãe com suas duas filhas. A mulher era frequentemente chamada de bruxa, mas na realidade ela só cultivava ervas para fazer remédios. Um dia, a filha mais nova foi chamada de "filhote de feiticeira" por um garoto na escola, ela ficou irada e partiu para cima dele, dizendo que sua mãe o amaldiçoaria, o fazendo arrancar seus olhos e mastigá-los!

—Argh!-algumas garotas disseram em coro e começaram a se abraçar.

—Isso não é verdade, né?-Arthur riu nervosamente.

—Não sei...Vamos conferir esta noite.-Vick piscou um olho e sorriu maléfico.

—Ah, se vamo.- Leo cruzou os braços atrás da cabeça e deu um riso presunçoso.

—O garoto dedurou a menina e naquela noite, a mãe dele foi até a casa da "bruxa" tirar satisfações. A "bruxa" ficou constrangida e aceitou as ofensas da mulher. Quando a tal mulher foi embora, a bruxa não teve dó de sua filha, a castigou severamente e a irmã mais velha ganhou a permissão de lhe dar algumas cintadas. Mas isso não foi o suficiente para a garota aprender, ela voltou a ameaçar todos que a xingassem. Não demorou muito, um grupo de pais furiosos foi até a casa da bruxa...Entretanto não encontraram ninguém, então decidiram colocar fogo em tudo. Só que...Havia alguém sim! A menina estava dormindo no porão já que estava de castigo. A bruxa e a irmã mais velha estavam na cidade para pagar as contas e quando voltaram ficaram em choque ao ver a casa completamente em chamas.

—Que crueldade...-Jane estava impressionada.

—Acabou, né?-Arthur disse impaciente.

—Cala boca! - Leo e Vick falaram ao mesmo tempo, totalmente entretidos na história.

—Óbvio que a menina morreu! Ao passar desse mundo para o outro, ela ganhou poderes, iguais ao de uma bruxa de verdade. A menina adorou sua forma espiritual e prometeu vingar-se de todos seus colegas de escola. Os anos passaram, a bruxa revelou-se uma medium, então ela conversava com sua filha sempre que podia. A menina ainda não havia ido embora e isso era ruim! Ela já havia assustado seus colegas, mas queria mais...ELA QUERIA MATÁ-LOS!

Nesse momento, senti dois braços entrelaçarem-se ao meu com força. Olhei para o lado e observei Arthur me agarrando.

—É só uma história.-falei calmamente.

—Amor, preciso ir buscar um colega que acabou de acordar.-Leo sussurrou para Gray que estava agarrado nele.

—Que? Bem agora?-Gray ficou emburrado.

—Volto logo.-Leo riu lhe dando um beijo na testa.-O Nath cuida de você.-me olhou.

Gray suspirou pesadamente.
—Volta logo, sabe que morro de medo dessas coisas...-Gray murmurou e veio para mais perto de mim.

—Pode deixar.-Leo se levantou.-Vick, bora.

Victor e Leo trocalham olhares, mas ficaram sérios ao olhar a floresta a dentro. Então seguiram caminho pela trilha silenciosamente.

—...A bruxa já não reconhecia mais sua filha! Ela estava mudando de forma, não se assemelhava nem um pouco com um humano...Ela estava feia, com uma aparência de monstro, com enormes dentes sangrentos que sequer permitiam que sua boca se fechasse e seus gritos faziam som de portas rangendo. Oh, céus, ela havia virado um bestial. E isso estava enlouquecendo a pobre bruxa, ela já não conseguia mais dormir, para onde olhava lá estava o bicho que um dia já foi sua filha, viver era uma tortura. Foi então que ela achou uma saída...Su...

Ele calou-se por um instante, todos ficamos apreensivos.

—Diz logo!-Arthur me apertou com mais força.

—Shh...-Lassie sussurrou.
Ouvíamos somente o som das folhas balançando com o vento, mas algo misturava-se nesse som...Algo como...

—AIIII, UM MORCEGO!!!!!-pude ouvir essa frase claramente, pois ela foi dita bem em meu ouvido. É, Gray havia berrado e estava se debatendo enquanto tinha um rato voador em seu cabelo.

—Calma!-falei me levantando com pressa para tentar ajudá-lo.

As garotas começaram a gritar histericamente e os garotos começaram a rir loucamente.

—Tira! Tira! Tira!-Gray estava desesperado.-Me ajuda! Meu cabelo lindo!-começou a falar com uma voz chorosa.

Quando eu estava prestes a colocar minhas mãos no bicho, ele voou para cima de mim, porém me abaixei rapidamente e ele acabou se atracando na cara de Arthur.

—Sem movimentos bruscos!-falei imediatamente arregalando os olhos.

Arthur ficou parado, sem reação. Vi que seu peito subia e descia rapidamente, o que significava que sua respiração estava acelerada.

—Ele não quer sangue de gente, então não há motivos para se desesperar...-falei me aproximando lentamente.
Não...Eu estava bem errado. O bicho acabou dando uma dentada na bochecha do Arthur.

—CARALHO, NATHANIEL, TIRA ESSA PORRA DE MIM!-Arthur gritou MUITO alto e deu um tapa no bicho.-ESSA DESGRAÇA ME MORDEU!-colocou a mão na mordida que estava sangrando.

Fiquei em choque, sem saber o que fazer. Arthur estava irreconhecível!
A miniatura de Batman continuou a voar pelas cabeças dos alunos, arrancando gritos de desespero por onde passava.
Teve uma garota que pegou um pedaço de pau e bateu no coitadinho, o atirando para perto da fogueira, resultando em uma asa parcialmente chamuscada.
Finalmente conseguimos fazer com que o animal pegasse outro curso e voasse para longe dali.

—Tá todo mundo bem?-Lassie estava ofegante e descabelada.

—Não, eu estou traumatizado!-Gray deu um chilique.

—E eu fui mordido! Esses bichos possuem raiva. Eu tenho que chamar um inspetor para me examinar imediatamente!-Arthur bufou.

—Não, você não pode!-o contador de histórias de terror arregalou os olhos.

—Vai dedurar todos nós!-Lassie se desesperou.

—E se eu ficar doente?!-Arthur estava indignado.

—Não é igual picada de cobra? Chupa o veneno!-Jane deu uma idéia.

—O Nath chupa!-Gray disse automaticamente.

—Cala a boca!-lhe dei um soco no ombro.

—Não é não e isso é nojento.-Arthur ruborizou.-Eu preciso de um profissional.-passou a mão pelos cabelos em um ato de preocupação.

—Arthur, pelo bem de todo mundo, não vai chamar um professor!-um garoto implorou.-As consequências vão ser pesadas!

Arthur ficou sério.
—Eu cansei! Vou voltar pra minha barraca. Fiquem tranquilos, não vou dedurar ninguém.-Arthur bufou e foi para a trilha.

O silêncio reinou, todo mundo desconfiado e preocupado.
—Vai lá com ele!-Gray murmurou me socando e logo em seguida me entregando uma lanterna.

Corri para alcançar o ruivinho, não sabia o que havia dado na telha dele para andar sozinho e sem laterna.

—Arthur! Cadê você?-apontei a laterna para todos os cantos.

—Aqui.-ouvi a voz dele. Ele estava sentado fora do caminho da trilha, seu celular estava ligado e sua cabeça estava abaixada.

—É perigoso andar sozinho.-me abaixei para ficar cara a cara com ele.-Levanta, eu te acompanho.

—Me deixa em paz.-Arthur abraçou os joelhos, pelo tom de sua voz ele só podia...

—Por que você tá chorando?-engoli em seco.

—Eu não sei.-Arthur fungou e passou o braço nos olhos para limpar as lágrimas.

—Você tá com medo?-me aproximei um pouquinho.

—Talvez.-ele deu de ombros.-Mas...Eu não quero ficar sozinho na barraca.-murmurou.

—Eu não posso deixar o Gray sozinho.-falei com dó da carinha de choro dele.

—Eu não pedi pra você vir comigo.-Arthur entrou na defensiva.

Suspirei, tentando pensar no que fazer.
—Olha...Vamos voltar para a fogueira.-Coloquei uma mão em seu ombro.-Se não quiser ouvir a histórias, pode deitar no meu ombro e escutar música.-com a mão livre tirei um fone de ouvido do bolso do moletom e lhe entreguei.

—E quanto a mordida?-Arthur me olhou nos olhos. E isso fez meu coração falhar uma batida.

—Tem certeza que não é igual a mordida de cobra?-passei a mão por sua bochecha, arrancando a casquinha que o sangue seco havia virado, voltando a provocar o sangramento.

Arthur fez uma carinha de dor.
—Chupa logo isso.-Arthur desviou o olhar e cruzou os braços.-É melhor do que nada.

Senti meu rosto esquentar.
—Hã...Tá falando sério? Nunca fiz isso...-fiquei nervoso.
—Nathaniel, coloca a boca na mordida, chupa e cospe. Simples.-Arthur estava desconfortável.

—Okay...-respirei fundo.
Aproximei meu rosto do seu, levei minha boca até a mordida e suguei o sangue até meu limite. Só faltava eu morrer de vergonha!

Me afastei rapidamente e cuspi tudo na grama de maneira desengonçada, acabei engasgando.

—Desculpa...É um pouco nojento.-Arthur estava constrangido enquanto limpava sua bochecha.
Não respondi, não haviam palavras em minha boca, somente um gosto de ferrugem e cuspe acumulado que eu não estava afim de engolir.
—Não demorou muito?-cuspi mais uma vez.-Sabe...Pra sugar...-coloquei minha manga na boca, o gosto de pano substituiria o de sangue.

—Espero que não.-Arthur se levantou, a mão ainda na bochecha.-O-O-O-Obri-Obrigado.-parecia engasgado.-Nunca pensei que diria isso para tu.-bufou.

—Não foi nada.-sorri me levantando.-Posso dizer algo que vai fazer tu me dar um tapa?

—Prossiga.-Arthur revirou os olhos.

—Eu adorei.-sussurrei em seu ouvido de maneira maliciosa.

O movimento de seus ombros indicava que ele havia se arrepiado.

—Babaca pervertido! Eu não sou gay!-Arthur me deu um empurrão e voltou para trilha em direção ao nosso grupo.

Ri de sua reação e suspirei aliviado. Eu estava completamente instável por dentro, mas me sentia bem.
Já de volta a fogueira, todo mundo estava agarrado com todo mundo enquanto tremiam. Bem, nem todo mundo. Alguns garotos estavam se pagando de machões e algumas garotas estavam dormindo.

Gray estava abraçado com Jane, mas a largou assim que me viu e veio me abraçar.
Arthur fez o que eu havia sugerido, estava com os fones em seus ouvidos e hesitava em relação a deitar a cabeça em meu ombro.

—Eu to com medo!-Jane choramingou.-E se o espírito da bruxa ou o bestial vierem nos pegar?

—Da bruxa?-me interessei.

—A bruxa cometeu suicídio!-um garoto me explicou.-E ela assombra a floresta e devora humanos!

—Quanto mais temer, mais vai atrair, tentar dormir pensando em desenhos animados ou algo mais forte fará o medo passar. Palavras verdadeiras essas.-o narrador disse sabiamente.

—Acho que ninguém vai dormir essa noite!-Lassie riu.

—Será que a gente consegue encontrar a corda?-uma garota parecia curiosa.

—Que corda?-eu estava por fora.

—A corda que a bruxa usou pra se enforcar!-Lassie olhou para mim.-Está pendurada em alguma das árvores atrás da cerca.-ergueu as mãos e as balançou.

—Agora, uma dica...

—E a irmã mais velha?-arqueei uma sobrancelha.

—Caramba, Nathaniel, cala a boca!-um moleque se irritou.

—Dizem que ela já é idosa e tem uma casa aqui na floresta, pois ela optou por continuar vivendo no lugar que nasceu e cresceu.-Gray apertou meu braço e cerrou os dentes.

—Posso continuar?!-o narrador se irritou. Assenti com a cabeça.
—Agora uma dica...-ele repetiu e pigarreou.-Quando você morrer, morra com vontade. Não pense em voltar, não seja burro! Procure a luz, procure entidades de luz. Quanto mais demorar, mais chances de um bestial se tornar.

E assim que o filho da mãe acabou de falar, alguém mais filho da mãe ainda jogou o que parecia ser um balde enorme de água na fogueira, assim a apagando em um piscar de olhos.

Senti um aperto no peito e um arrepio, a escuridão era tenebrosa.
Pronto! A gritaria foi estridente.

—ACENDE ISSO, SENHOR!

—EU QUERO A MINHA MÃE!

—JESUS TEM PODER! EU ESCOLHO DEUS!

—JOHNNY, CADÊ VOCÊ?!

—ALGUÉM VIU MINHA LANTERNA?!

—QUEM APAGOU A LUZ?!

—NÃO SE MEXAM!

—HAHAHAHAHA!

—EU QUERO SAIR DAQUI!

—POR ONDE É A TRILHA?!

—AAAAA, ALGO TOCOU EM MIM!

—FUI EU!

—QUEM É VOCÊ?

—ACHO QUE OUVI UM MORCEGO!

—A BRUXA VAI NOS COMER!

Eu fiquei parado, mas isso não significa que eu não tenha gritado ou surtado.
Arthur estava somente agarrado em mim, mas não havia se pronunciado.

Gray estava se esguelando de tanto gritar.
—FIQUEM QUIETOS OU IRÃO DESPERTAR A IRA DO BESTIAL!-o narrador gritou com uma voz assustadora.

Todos calaram a boca.
—Meu celular não liga...-alguém disse.

Não dava pra enxergar nada e nem ninguém. E como era uma área coberta pelas folhas das árvores altas, nem a luz da lua ou das estrelas era capaz de iluminar o lugar.

—Tiramos a bateria dos celulares e as pilhas das lanternas enquanto vocês estavam concentrados na história!-Lassie riu maligna.

—PIRANHA!-ouvi um som de um galho quebrando.-DEIXA EU TE ACHAR QUE EU TE QUEBRO!

—Ui, que medo...-Lassie disse com deboche.

—Bem-vindos a parte dois da noite do terror.-o narrador anunciou.

Ouvimos alguns passos a distância.
—Me digam que esses passos são de alguém daqui da rodinha que está indo embora...-Gray engoliu em seco.

—Palhaçada.-falei com desprezo acendendo a lanterna que Gray havia me dado, a luz dela era bem fraca.

—Nath, não estraga tudo!-Lassie bufou quando apontei a lanterna pra cara dela.

—Você tá aí, viada!-a garota com um pedaço de tronco levantou e foi correndo na direção de Lassie.

—AAAAAAH, DAVE, HELP!-Lassie gritou se levantando e correndo para o lado oposto ao da garota.

—O que está acontecendo...?-Arthur retirou os fones e ligou a lanterna do celular.-Eu acho que peguei no sono...-falou com a voz arrastada.

—E você tava dormindo com toda aquela gritaria?!-eu disse incrédulo.

—Sono pesado.-Arthur deu de ombros e bocejou.

—Sem graça vocês, hein!!!!-Lassie disse com dificuldades enquanto tentava manter o tronco longe de seu rosto.-Colaborem, né!

O narrador veio até mim, arrancou a lanterna de minha mão e a atirou para bem longe dali.

—Não vai querer que o mesmo aconteça com seu celular, né?-ele perguntou irônico para Arthur.

Arthur revirou os olhos e guardou o aparelho no bolso, consequentemente voltamos a ficar no escuro.
Os passos foram ficando cada vez mais altos...Até que avistamos uma luz forte e branca surgir da escuridão.
Haviam três vultos iluminados parcialmente pela luz.

—A aliança rebelde chegou! Prontos para a parte dois?-ouvi uma voz familiar.

—Somente os corajosos irão nos acompanhar! Os que restarem irão ficar aqui...Sozinhos...No escuro...-ouvi outra voz familiar.-Não podem voltar para o acampamento nem que queiram! Fechamos a trilha e tem inspetores fazendo o turno da madrugada!
Alguns começaram a protestar, alguns começaram a gritar animados, outros começaram a chorar e outros ficaram revoltados.

Ao estreitar meus olhos pude saber perfeitamente que aqueles dois eram Leo e Vick. Só que ambos usavam máscaras iguais a do narrador e de Lassie. Leo segurava a lanterna afastada de seu corpo, na intenção de não ser identificado.

O terceiro membro talvez fosse o tal amigo que Leo e Vick haviam ido buscar.

—Eu não vou pra porcaria nenhuma!-um garoto disse se levantando.

— Problema é seu. Quer ficar aqui no escuro esperando algum animal ou até mesmo um espírito, então fica. -ouvi a risada de Leo. - Vamos... - ele seguiu caminho enquanto arrastava um enorme pé de cabra na terra.

Todos se levantaram hesitantes e seguiram os três membros da "Aliança Rebelde". Arthur estava segurando no meu braço. Gray estava olhando para Leo disfarçadamente de um jeito curioso.
Todos nós andamos para onde parecia ser o lugar da história.
Paramos em frente a tal cerca.

—Espera... N-Não vamos entrar aí... Vamos? - Arthur disse temeroso pela resposta.

— Certeza que sim.-ouvi a voz de Victor.

— Estão loucos!- uma garota falou em tom amedrontado.

— Cala a boca!-mandou o terceiro membro. - Vamos ... Todo mundo pra dentro!
Leo quebrou o cadeado que prendia as correntes com o pé de cabra, assim fazendo a porteira abrir.
—Cuidado com o arame.-Leo foi o primeiro a entrar, cheio de habilidade.

—Nem pensar! Eu não vou entrar!-uma garota cruzou os braços e fez bico.-Eu vou chamar os professores e vocês todos vão se ferrar! -ela deu as costas como se fosse embora e bateu de frente com Victor.

—Que se dane, eu quero mais é que se exploda!- ele riu e pegou no ombro dela, a guiando para dentro do cercado.-Se não gosta, senta e chora.

O clima era cheio de medo, mas confesso que estava interessado, pois se era obra do Nathan, eu só sabia que iria me render boas risadas! Ou não...

Todos por fim entraram naquele cercado, tinha uma névoa branca nos rodeando e o ar era gélido.
Ficava um pouco difícil de andar, pois as árvores eram todas muito rentes umas as outras.

— Bem, é aqui que dizem que a menina morava. Pelo local dá para ver que foi aqui mesmo. -o terceiro membro disse.

— Alguém pode nos dizer por que trouxemos vocês aqui?- Leo disse desligando sua lanterna.
Escuro infinito.
Mas dessa vez, todos se aquietaram.

—Para nos matar!

—Para assassinar a gente!

—Pra fazer uma chacina!

—Um... Ritual satânico?

—Para curtir com a nossa cara?-Arthur falou com desdém.

Ouvimos um som muito alto atrás de nós, fazendo todos, repetindo, TODOS nós pularmos e gritarmos assustados!
Eu acho que fiz algo inapropriado nas minhas peças de baixo.

Após um susto, nos ligamos que era um som do música.
Leo voltou a acender sua laterna, reparei que haviam surgido cinco pessoas com as mesmas máscaras. Essas estavam carregando sacos brancos e uma caixa de isopor, em um simples movimento despejaram o conteúdo que havia nos sacos: Bebidas alcoólicas e refrigerantes.

Quando nos demos conta, haviam diversas luzes coloridas apontadas para nossos rostos. Os meninos haviam tirado as máscaras e seguravam inúmeras lanternas.

— Isso é só uma histórinha para bebês! -Leo fez careta e logo em seguida gargalhou.

— Depois de um longo de dia, merecemos uma recompensa...-um garoto disse convencido.

— Diversão! -Leo, Vick e o garoto gritaram animados, arrastando todo mundo.
Em um minuto, já estava todo mundo gritando e pulando em direção a parte mais aberta (e funda) da floresta.

Todos começaram a dançar ao som de "Cheguei" da Ludmila.

—Cheguei com tudo! Cheguei quebrando tudo! Pode apagar a luz e aumentar o som!-Vick e Leo cantavam dançando um de frente pro outro e jogando as máscaras em um canto qualquer.

—I-Isso é sério?- Arthur estava incrédulo.

—Sabia que não ia me arrepender! - falei sorrindo agitado.

Observei Leo e Vick vindo em nossa direção.
Leo segurou nos ombros de Gray dançando de frente para ele, assim colando seus corpos, ele sussurrou algo em seu ouvido e os dois saíram dali, desaparecendo de nosso campo de visão.

—Tá...-coloquei as mãos na cintura e suspirei com desaprovação.-Quem se responsabiliza por encontrar os dois no final da festa?-olhei para o lado, porém arregalei os olhos e calei a boca.

Victor estava dançando de frente para Arthur, com uma mão boba segurou em sua cintura.
Acho que fiz alguma cara estranha porque Victor sorriu malicioso para mim.
Ele puxou Arthur até mim e ficou no meio de nós dois, começando a dançar de maneira provocativa.
Eu pegaria ele com todo prazer.

Quando me dei conta, estávamos os três dançando juntos, Arthur frente a frente com Victor segurando em seus ombros, o próprio Vick havia conduzido minhas mãos para sua cintura, ele estava de costas pra mim, rebolando de um jeito bem...Deixa quieto.
Todos se deixaram levar!
Não sei como, mas em algum momento estávamos apenas eu e Arthur dançando.

Olhei ao redor procurando por Victor, o localizei dançando com Lassie, ele reparou que eu o olhava, deu de ombros e mandou uma piscadela como se dissesse "de nada!".
Agradeci mentalmente.

Arthur naquele instante parecia outra pessoa dançando daquele jeito, sinceramente, essa foi a primeira vez que me toquei de que não conhecia mesmo Arthur e nem estava perto de descobrir todos os seus lados.
Respirei fundo, parei de dançar e em um momento de coragem, agarrei a nuca dele o fazendo olhar dentro de meus olhos.
Os olhos são a janela da alma. Será que ele conseguiria compreender o que se passava por minha cabeça?

Foi uma troca de olhares cheios de intenções. Aproximei meu rosto do dele sem ressentimentos e notei que ele havia fechado os olhos...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Nós gostaríamos muito de saber a opinião de vocês, comentem o que acharam ♥
Até semana que vem XD!
Bjs.
—☆Creeper.



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