Não disse nada de imediato, afinal não pensei que ele seria tão direto. O que exatamente esse garoto estava querendo dizer com isso? Depois de algum tempo resolvi falar alguma coisa.

— Não sei...ficaria muito estranho se eu falasse...tudo?- Respondeu sorrindo, me juntei a ele e disse que sim, mas não o impediu de continuar. – Então, posso te fazer uma...

— Você lembra dos seus pais?- Disse pegando-o de surpresa. Não sei o que deixou mais chocado, a pergunta ou o momento que eu soltei ela. - Desculpa... é que... ultimamente eu tenho pensado muitos nos meus e sei lá, acho que nunca conversei com ninguém que os pais também tenham...você sabe...- Disse deixando a frase morrer e tentando não encara-lo. Por que eu sempre falo coisas errada no momento errado?

— Mortos. - Disse completando a minha frase. Ele suspirou e falou - Cassandra Mccall você é uma caixinha de surpresas.

— Desculpa. É sério. A minha boca às vezes não me respeita... - Quando comecei a tagarelar Isaac me cortou respondendo rapidamente a minha pergunta.

— Sim, eu penso... ás vezes, mas somente no meu pai – disse olhando para o nada. - Minha mãe faleceu quando era muito pequeno então não me lembro muito dela.

— Lamento. - Disse por fim.

— Tudo bem, faz muito tempo, perto dos seus iss......- disse ele – Desculpa.

—Tudo bem, ta na cara que somos péssimos em consolar as pessoas. - Disse tentando dar um sorriso. Ele confirmou com a cabeça. - Mas então, como você veio parar aqui?

Ele respirou fundo antes de responder, como se quisesse tirar um peso das costas.

— Hum... quando meu pai morreu, foi assassinato na verdade, eu não tinha ninguém e eu era novo nesse negocio de transformação, lobisomem e tudo mais... Derek era meu alpha, por isso morei um tempo com ele, para aprender mais sobre essas coisas, mas de alguma forma, que não sei explicar, eu me sentia mais leal ao Scott...- Ele me olha para saber se ainda estou acompanhando a história, e continua.- ...então depois de alguns acontecimentos... vim para o bando dele e assim acabei ficando por aqui... devo muito ao Derek pelo que fez por mim....e devo também a sua Tia e seu primo e por falar nisso já esta na hora de eu achar um lugar para morar.

Só em pensar em viver nessa casa sem o Isaac me bate uma tristeza que eu não consigo explicar...

Ficamos calados durante um tempo, contudo não foi aquele silêncio vergonhoso ou entediante, mas sim um silêncio de respeito. Ficamos sentados no chão um do lado do outro, Isaac mexendo no seu casaco, talvez esperando um momento para falar alguma coisa ou quem sabe ainda pensando nos pais e eu observando Margo. Ela tava muito quieta, acho que ela vai aprontar alguma coisa. Isaac foi o primeiro que voltou a falar e tirou Margo dos meus pensamentos.

— Posso fazer uma pergunta?- Disse virando a cabeça na minha direção. - Quer dizer, a senhora me interrompeu quando tentei fazer então... – Disse me dando um empurrãozinho de leve.

— Parece justo- Retribuindo o sorriso.

— Você já... voltou na sua casa antiga? Scott comentou que você morava aqui em Beacon Hills.

—Não, não posso... não por enquanto, acho que não vai me fazer bem..

—Ou pode te fazer.... você só vai saber se for lá. – Disse ele me cortando. - Se aprendi alguma coisa nessa vida, é que não adianta ficar adiando as coisas por causa do nosso medo, teremos que enfrentá-los em algum momento.... Não me olha desse jeito. - Disse assim que percebeu que eu estava ficando meio irritada, quando viu que eu não me opus, continuou. - No fundo você sabe que é verdade, uma hora você vai ter que revirar o passado, e às vezes  pode ser o melhor para você.

— Tenho medo de me afogar no passado e não conseguir sair... –  Não consegui terminar e deixei que a frase morresse. Por um minuto pensei que ele não tivesse ouvido, pois falei muito baixo, quase como um sussurro. Mas ele se aproximou colocou um braço em volta de mim e com seu outro braço esticou e pegou minha mão. - Sabe... quando eu era criança, foi muito difícil absorver o que tinha acontecido,  mas eu tinha minha avó que me ajudou tanto... mas la no fundo eu sabia que eu não tinha superado e que eu vivia com esse constante  luto que não me deixava seguir em frente...- Respirei fundo e continuei. – Parecia que eu sabia que tinha algo errado naquela história toda sabe? Então, depois de mais velha minha avó contou sobre as suspeitas, sobre que aconteceu com cada um e por mais estranho que pudesse ser eu me senti mais leve.. .como se a verdade tivesse me libertado. – Levantei a cabeça e olhei nos olhos dele. – Eu não posso ir até à minha antiga casa, porque seria muito doloroso me lembrar de tudo que vivi com eles, de tudo que eu poderia ter aprendido com eles....Não posso aguentar tudo aquilo de novo, não sozinha...

— Você não precisa mais fazer nada sozinha. Tem pessoas aqui que se importam muito com você, agora que sabemos o que você é e você sabe sobre nós, fica mais fácil ajudarmos uns aos outros ....Que tal assim.. quando estiver preparada e precisar de companhia, serei seu cão de guarda. – E depois abriu aquele lindo sorriso de canto da boca que eu tanto gosto. Não pude deixar de sorrir com essa comparação tosca.

— Péssimo trocadilho. – Disse no meio do riso.

— Pelo menos fez você sorri...- Ele parou de repente e olhou para o lado.

— O que foi?

— Seu primo acordou – disse fazendo uma careta. –é melhor eu ir antes que ele saiba que estive aqui. - Disse se levantando indo para a porta. - Scott é tranquilo, mas melhor não incomodá-lo com isso.

— Ei, é o meu quarto e posso trazer quem quiser pra cá. - Disse parecendo uma adolescente mimada. E fazendo o Isaac levantar a sobrancelha e sorrindo, o que me fez repensar no que tinha dito.  –E por que diabos ele ficaria incomodado? Moramos na mesma casa. E além do mais só estamos conversando...- por enquanto pensei. Cassandra, se controla!  Nada aconteceu e nem vai acontecer.

— Você tem certeza que conhece seu primo? – disse bufando – é melhor eu ir a gente se fala depois...- falou Isaac sumindo da minha vista.

—Isaac!- Digo um pouco mais alto o fazendo voltar para a porta. – Obrigada por hoje, bom ...você sabe..

— Estou aqui para o que precisar bruxinha. – E assim desapareceu pela porta afora...

— É Margo, somos só nós de novo. - Disse chegando perto da gata que de repente estava mais acordada do que um adolescente que bebeu energético durante duas semanas, como sempre ela se esquivou e saiu pela janela.