Renascer escrita por Luna


Capítulo 7
Invasão




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As pessoas ao meu lado conversavam sem parar, no orfanato eu sempre me sentava longe das outras crianças para evitar ser incomodado pelo barulho incessante, porém ali não podia simplesmente me retirar. Quase podia sentir o olhar de Dumbledore queimando minha nuca, mas não olharia para confirmar. Os outros alunos me observavam pelo canto de olho, pareciam não saber o que uma pessoa como eu estava fazendo em um lugar como aquele.

— Então, o que você é? – O garoto a minha frente tomou coragem para perguntar.

— Desculpe, o que? – Respondi sem entender a pergunta.

— Você é mestiço? Riddle não é um nome bruxo, pelo que sei. – Ele falava com arrogância e olhava para mim com superioridade. Ali já sabia que não tinha gostado dele.

Apenas dei de ombros. Queria demonstrar indiferença, mas a verdade é que não sabia como responder a ele que não tinha ideia de quem eram meus pais. Minha mãe deveria ser a trouxa, ela tinha morrido afinal.

As semanas foram passando e os dias não melhoraram, todos me evitavam e escutava as fofocas e olhares hostis. Eu não pertencia a Sonserina, era um pária para os puros sangues. Mas eles eram insignificantes para mim, ser solitário nunca foi um problema e não seria agora. Não havia nada no meu caminho, eu finalmente tinha descoberto meu destino, a magia que corria pelo meu corpo era forte, a varinha parecia uma extensão do meu braço. Eu nasci para ser incrível.

Harry abriu os olhos respirando ofegante, seu coração batia acelerado e por um instante ele não soube onde estava. Sabia que haveria a possibilidade disso acontecer, James tinha lhe falado todas as informações que a equipe tinha conseguido levantar. Mas ainda era meio surreal que aquilo era verdade, que uma parte das memórias de Voldemort estivesse escondida na sua mente, que algo daquele ser asqueroso tivesse sobrevivido em si. Ele se sentia sujo, corrompido e temeroso. Não queria ver aquelas memórias, não queria sentir o que o menino tinha sentido em seus anos em Hogwarts, sua ascensão ao poder e seus momentos violentos.

Ele ainda conseguia sentir a pequena dor ao ser rejeitado pelos colegas de Casa, por não ter tido ninguém naquelas primeiras semanas. Sabia que aquele sentimento não era seu, mas era difícil compartimentar e se impedir de se sentir.

Um mês depois de ter voltado e ele ainda não se sentia normal. Era como se toda a vida que ele viveu ao lado daquelas pessoas tivesse sido vivida por outra pessoa, ele se sentia como um intruso vivendo em um corpo que não lhe pertencia.

Acordava todas as manhãs, ia para o Ministério, fugia para o café no fim da rua, voltava para o Ministério e ia para a casa de Hermione, onde tinha que se mostrar apresentável para Olívia que sempre queria saber como seu dia fora. Ele olhava duramente para Hermione e mentia para a criança, alguém tão pura e ingênua como Olívia não merecia ouvir a verdade.

Eu sorria para a professora Galatea, ela discorria já há longos minutos sobre diabretes, tentava me mostrar atento e fazia os comentários em momentos oportunos, mas queria sair dali. No dia seguinte teria o jantar com Slughorn, ainda tinha que ler sobre algumas pessoas para impressioná-las, sabia que iria encontrar várias pessoas famosas, mas a única que lhe importava era Pollux Black, diziam que era a pessoa mais importante da comunidade bruxa, mais poderoso que o próprio Ministro da Magia e tão importante quanto Septimus Malfoy, e um amigo íntimo de Horácio.

Lógico que pessoas como Abraxas, Avery e Lestrange já tinham tido contatos com o homem, assim como muitos de seus tolos colegas de Casa. Mas ele brilharia nesse jantar, todos sairiam de lá sabendo quem era Tom Riddle.

Harry não percebeu que tinha adormecido, o livro que estava em sua mão agora descansava no chão. Hermione o olhava preocupada da porta, ela não esperou um convite para entrar e fechou a porta quando o fez.

— Você estava falando. – Ela falou baixo. – Parecia agitado.

Harry não sabia o que dizer a ela. Não queria contar a verdade, sabia que deveria, mas manter aquilo para si o satisfazia de uma forma egoísta. Ver o rosto preocupado dela dia após dia o dava uma satisfação que não pensou que encontraria, quando visse em suas memórias algo de relevante falaria a verdade, não para satisfazê-la, mas porque sabia que devia.

— Deve ter sido mais um pesadelo. Tenho muitos.

Ele se levantou e foi até o banheiro jogar água no rosto com Hermione ainda parada. Sabia que ela queria lhe falar algo, mas não estava disposto a escutá-la, assim como não esteve durante toda aquela semana.

— Harry...

Ele ponderou se deveria apenas expulsá-la do seu quarto. Sua última tentativa de sair da casa foi frustrada por dois aurores. Teria vigilância agora, para a sua própria segurança foi o que ela disse. Mas no íntimo sabia que era uma segurança para eles, de que ele não iria embora, que o trabalho que estavam fazendo não o faria matar a todos na casa durante a madrugada. Se sentiria ofendido se não temesse isso também.

— Lembra quando você recebeu aquela vassoura do Sirius e eu o dedurei à Minerva? – Ela soava insegura. – Você nunca se desculpou por ter sido um babaca comigo. Nenhum de vocês na verdade.

A lembrança de Ron o fez apertar o mármore com mais força. Qualquer menção a ele o fazia se fechar em um casulo, era melhor assim. Não lembrar o protegia de sentir, não sentir era melhor do que se afogar na dor de não tê-lo mais, na culpa dos sentimentos que o invadiam sempre que Hermione estava próxima demais.

— Você não achou que eu merecia um pedido de desculpa? Vocês me abandonaram por semanas e...

— O que você quer com isso? – Ele se virou. – Que bem faz lembrar esses momentos? Quer um pedido de desculpa? Eu dou a você, dou qualquer coisa para que saia daqui e me deixe em paz.

Ele respirou fundo, se arrependeu das palavras assim que as falou, mas já era tarde. Viu Hermione se encolher, como fazia quando eram menores, mas seu olhar ainda possuía uma fúria que temia recair sobre si em algum momento.

— Pensei que poderia querer conversar.

— Eu não quero. – Ele falou categórico.

Andou até o armário para pegar um pijama e pensou que ela sairia depois de suas últimas palavras.

— Mas conversa com Pansy Parkison.

Ele não viu o rosto dela, mas sua voz soou perigosamente raivosa. Seus ombros ficaram tensos e ele se virou com as roupas em mão. Pensou, por um momento, que seus encontros com Pansy ainda eram um segredo, a sonserina não tinha comentado se havia falado sobre isso para alguém, ele tampouco.

Como um acordo silencioso eles passaram a se encontrar todos os dias no mesmo horário na cafeteria, ela sempre fazia o pedido pelos dois e falava mais do que ouvia. Ele não se importava, com os anos ao lado dos amigos tinha se tornado um bom ouvinte. Pansy era boa em falar, reclamar na verdade. Ela reclamava sobre tudo, clima, pessoas, comida, pessoas e sobre ele. Em algum momento do dia ela o deixaria sozinho dizendo que ele era ridículo e que a cansava, mas no dia seguinte ela estaria ali.

Era a única que sabia sobre o progresso que estava tendo das memórias de Tom, sentia que devia isso a ela. Quando ele falou ela o olhou por longos minutos antes de falar alguma coisa, tentou sorrir ele percebeu, mas saiu mais como uma careta e sua voz falhou quando ela disse para ele avisar quando viesse os desejos homicidas. Não lhe fez mais perguntas quando disse que ainda não havia falado sobre isso com nenhum dos aurores, inomináveis ou para Hermione.

— Estou sendo vigiado? – Ele perguntou.

Hermione não iria responder, ela se dirigiu a passos largos até a porta, mas Harry estava mais perto e com um empurrão fechou a porta novamente se colocando entre ela e Hermione.

— Sim, por motivos de segurança.

— Segurança de quem? – Ele tomou coragem para perguntar.

Hermione tinha os cabelos soltos e molhados, daquela distância ele podia sentir a fragrância suave vinda dos cabelos ou seria do corpo dela, não saberia definir bem. Lembrava como gostava quando ela pousava a cabeça em seu ombro e ele beijava-lhe, gostava da sensação do volume tocando seu rosto, do cheiro doce. Afastou essa lembrança, como afastava todas.

— De todos nós. – Ela foi sincera. – Não sabemos com o que estamos lidando. Você sempre rompe as barreiras da magia, isso é algo nunca antes visto, Harry. Não temos como saber com o que estamos lidando.

— Mas mesmo assim se arriscam em criar um novo bruxo das trevas.

— Estamos nos cercando de garantias.

— Me matar antes que eu mate todos vocês? – Ele deu um passo na direção dela. Seus olhos brilhavam perigosamente e sentiu mais do que viu o temor dela. Em outro momento se afastaria, mas gostava do medo que captava, de como a magia dela parecia formar uma barreira, mas ela estava sem varinha, indefesa às vontades dele.

— Harry?

A voz suave dela trouxe um formigamento em seu ventre. Os lábios dela estavam bem próximos dos seus, ele se perguntou como seria finalmente senti-los. Fazia um tempo desde a última vez que esteve com uma mulher, lembrava-se vagamente como era beijar Gina, mas Hermione era diferente, tudo seria diferente com ela.

Ele percebeu que todo aquele sentimento de prazer em vê-la encurralada e indefesa não eram dele e aquilo o assustou. Ele abriu a porta permitindo que ela saísse, ela ainda se demorou um pouco, mas Harry não ousou olhá-la novamente.

— Você está mais calado hoje. – Pansy falou enquanto soprava sua xícara com chocolate fumegante.

— Você amava Evan? – Ele perguntou depois de alguns segundos de silêncio. Eles tinham feito um acordo de não falar sobre quem já havia morrido e ele tinha acabado de quebra-lo.

— Eu poderia dizer que sim. – Ela respondeu tranquila para a surpresa dele que esperava algum tipo de ataque. – Ele era bom, gentil e um bom amigo. Alguém com quem eu poderia conversar sobre qualquer coisa e sabia que não seria julgada. Meu pai zombava dizendo que ele tinha nascido uma cobra sem veneno. Talvez por isso...

— Não. – Harry disse antes que ela pudesse terminar e agarrou a mão que ela mantinha em cima da mesa. – Ele não teve culpa do que aconteceu. Eu vi as fotos do local, houve uma luta, ele se defendeu, Pansy. Você sabe, ele era um bom bruxo. Apenas não era um cretino como a maior parte dos Sonserinos.

Ela deu um sorriso triste e tirou a mão gentilmente debaixo da dele. Ele ficou envergonhado com o gesto, não queria passar a ideia errada.

— Eu conheci o avô do Sirius. – Harry comentou como se aquilo não significasse grande coisa. Pansy sempre ouvia atenta. – Ele era uma figura impressionante, bonito como o Sirius na juventude, cabelos negros e impressionantes olhos azuis.

— E como o pequeno Lorde reagiu a tão impressionante figura?

— Eu-ele encantou a todos, como sempre faz. – Ele se corrigiu a tempo. – Foi inteligente e falou na hora certa. Mas ele era olhado de lado ainda, sua ancestralidade ainda era uma mancha.

— Meu pai uma vez comentou que ele era muito charmoso e persuasivo nas palavras. – Ela comentou, os pequenos olhos dela vagavam pelo rosto dele procurando algo. – Como você se sente?

— Que tipo de pergunta é essa? – Ele riu pelo nariz.

— As memórias dele são suas agora. – Ela falou baixo, já que havia mais pessoas na mesa próxima agora. – Essas ainda são brandas e posso perceber como sua fala está calculada. Em algum momento era você e não ele. Isso deve ser confuso, eu sei. Mas...

— Mas o que?

— Há inomináveis estudando o que está acontecendo com você, pessoas que podem ajudá-lo quando as memórias se tornarem mais cruéis.

Harry a encarou, ele queria zombar e dizer que ela quase parecia preocupada. Mas não queria brincar com os sentimentos de urgência que ela sentia em ver os assassinos do marido mortos, sim, por que ela já tinha lhe dito que eles não seriam presos, seriam mortos.

— Eu a estou importunando? – Harry perguntou duramente.

— Me diga que o que está sentido não o está influenciando. Que não sente repulsa, a raiva e o ódio dele entalando em você. Ou o desejo das pessoas de se ajoelharem.

Harry se lembrou do seu pequeno momento com Hermione dias atrás, a satisfação de vê-la contra a porta, o desejo de infligir mais medo.

— Elas não irão parar, Potter. Se tornarão pior a cada dia, ele se tornará pior a cada dia e você tem que estar preocupado quando esse momento chegar. Por que já temos uma seita de assassinos para lidar, não podemos trabalhar com um Lorde das Trevas em ascensão. – Pansy se debruçou sobre a mesa e o azul e verde se encontraram. – Estou começando a tolerá-lo, Potter, mas se eu ao menos duvidar da sua capacidade de se controlar não vai ver o feitiço que o atingiu.


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