Renascer escrita por Luna


Capítulo 8
Confronto




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Hermione analisava o último relatório vindo do Quartel dos Aurores, lia cada linha com desgosto e desespero. Já fazia seis meses que as investigações não avançavam, ainda mantinham aurores vigiando os principais suspeitos, membros de famílias com ligação na arte das trevas, mas até agora nenhum movimento foi feito que desse inclinação de quem estava por trás dos ataques.

Não havia um padrão, as vítimas eram de nascidos trouxas a puros sangues, até o momento a central não tinha conseguido observar nenhum paralelo entre as vítimas, nada que pudesse dar qualquer indicio de onde eles deveriam procurar e aquilo a estava deixando frustrada. A população estava começando a perceber que tinha algo de errado, era difícil esconder quando as mortes eram tão bárbaras.

Seu outro ponto de frustração atendia pelo nome de Harry Potter. Sabia que aquilo era um erro sem volta, foi totalmente contrária quando Albert sugeriu que levassem a ideia dela até o Ministro, tinha sido apenas um devaneio, algo que surgiu em meio a suas pesquisas e estudo, mas o colega o fez mesmo ela sendo contra e depois não conseguiu convencer os demais do perigo daquela empreitada desafortunada. Quim achava que ela ainda guardava mágoa, sabia que Gui também achava aquela opção muito perigosa, mas o desejo de rever Harry falou mais alto. A mulher sabia como os Weasleys eram apegados a Harry, como o consideravam um filho e irmão e tê-lo longe por tanto tempo era um peso para todos.

Ela se silenciou depois de se cansar em convencê-los. Só voltou a falar quando foi chamada para ir buscar o Eleito. Não queria vê-lo, falar com ele, enganá-lo. Não queria trazê-lo de volta a uma guerra, sentia que não tinha o direito de fazer isso. Mas Quim apontou para a lista do nome das pessoas mortas, disse que cada vez que um nome era acrescentado à culpa era deles, agentes do Ministério que eram incapazes de proteger seus cidadãos. Harry era a melhor escolha deles, e depois de tantos meses sem avanço ele passou a ser a única escolha.

Sabia que o relacionamento deles não voltaria a ser o que foi há cinco anos, algo tinha se quebrado na noite que ele a deixou e foi embora. Uma parte do seu coração morreu no momento que a porta bateu e Harry não a impediu de sair do quarto e a cada ano que passava a parte que pertencia a Harry ia diminuindo, enquanto a dor de não tê-lo ia aumentando.

Ela pensou em enviar cartas para ele em vários momentos. Quando terminou a escola com mérito, na noite da entrega da Ordem de Merlim, quando foi chamada por Astúcia Flemming para trabalhar no Ministério, quando conheceu Olivia e depois decidiu adotá-la. Quando o primeiro corpo apareceu.

Ela tinha escrito várias cartas no decorrer daqueles anos e cada uma delas acabava no mesmo lugar, na lareira de seu escritório. No terceiro ano ela não se permitia mais chorar, cada vez que se sentia fraquejar ela pensava no momento que ele falou que ia embora, via a boca rosada se movimentar dizendo que iria deixa-la e isso a inundava em raiva e desprezo.

Mas nada a preparou para o momento que o viu novamente. Ele ainda possuía aquelas pequenas esmeraldas no lugar dos olhos, lembrava quando elas brilhavam em meio a um sorriso ou na fúria adolescente, naquele momento elas pareciam apagadas. Ele tinha deixado crescer uma barba que o fazia parecer mais velho e cansado, tinha olheiras escuras. Talvez ele ainda tivesse pesadelos, ela sabia como era difícil dormir a noite inteira.

Tentou parecer forte, repetia mentalmente que seu dever era leva-lo para Londres, devolvê-lo ao inferno que ele tinha fugido. Sabia as armas que tinha que usar para convencê-lo e não se enganou ao vê-lo se comprometer em voltar e ajudar.

Agora semanas depois sabia que ele estava escondendo coisas dela, Harry nunca foi um bom mentiroso e sempre negava quando o perguntavam sobre os avanços no trabalho que estavam fazendo. Mas ele estava cada vez mais nervoso, às vezes ela via um brilho nos olhos dele, uma perversidade, algo que não era natural. Por vezes sentia que não o conhecia mais e se perguntava se ele tinha mudado tanto depois da guerra ou se as lembranças o estavam fazendo sumir em sua própria mente.

Saber de seus encontros com Pansy não ajudou a melhorar seu estado de espírito. Desde a morte do marido que a sonserina estava diferente, menos intragável, mas ainda assim não era digna de confiança e tê-la tão próxima a Harry trazia um desconforto no fundo de seu estômago e um formigamento em sua cabeça.

Sua onda de pensamentos foi interrompida por batidas suaves em sua porta, ela levantou o rosto e se deparou com a feição curiosa de Albert.

— Sra. Scotts está aqui. Disse que veio a seu pedido. – Ele disse.

Ela apenas concordou e pediu que a deixasse entrar.

Pansy sempre se vestia como se estivesse indo a um encontro formal, hoje ela portava saltos altos, vestido justo de tonalidade escura e um sobretudo claro por cima. Seu cabelo descia com cachos comportados pelo ombro, seus olhos de safira estavam cobertos por uma maquiagem pesada que não a deixavam menos bonita. Hermione se questionava onde tinha ficado a menina magricela com cara de cachorro que ela se lembrava do tempo de escola. Pansy agora não era nada menos que uma mulher magnifica aos olhos.

— Granger. – Pansy falou o nome com desagrado. – Sua mensagem foi muito sútil, da próxima vez poderia mandar um dos seus capangas me buscar em casa.

— Você disse que estava disposta a ajudar no que fosse necessário. – Hermione a lembrou e viu o rosto dela se transformar, era sempre assim quando falavam sobre a morte do marido. – Mudou de ideia?

— Em que posso ser útil? – Pansy perguntou com falsa cortesia.

Hermione não viu por que esconder suas pretensões, nenhuma das duas tinha paciência para jogos.

— Temos que saber o que está acontecendo com o Harry. – Ela se adiantou antes que a outra falasse algo. – Ele vem para as sessões todos os dias, busca em sua mente fragmentos de memórias de Tom Riddle e vai embora. Quando questionado sobre possíveis avanços ele diz que não tem nada ainda, embora claramente algo esteja acontecendo. Não conseguimos usar legilimentes, a oclumência dele está a um nível bastante elevado. Não podemos força-lo de outra forma, isso poderia trazer um comportamento mais hostil e ele é um recurso que não podemos perder.

— Recurso? – Pansy perguntou apenas para ter certeza que tinha ouvido corretamente. – O que você quer que eu faça?

— Sei de seus encontros. – Hermione viu os olhos dela se estreitarem. – Se ele não está falando comigo, com Gui ou qualquer um da equipe deve estar conversando com você. Apenas quero saber o conteúdo da conversa que diz respeito aos experimentos que estamos fazendo.

— Isso é algo confidencial. Por que acha que ele me falaria qualquer coisa sobre o que acontece aqui?

— Porque eu o conheço. – Hermione deu um pequeno sorriso. – Ele precisa jogar para fora o que o aflige, ele tem um senso de dever com você já que ele sabe o que aconteceu com seu marido. E para tantos encontros ele deve ter o mínimo de confiança na sua pessoa. Todos nós queremos solucionar esse caso, Pansy. Mas Harry pode ser difícil às vezes. Eu sei que você quer achar quem está por trás dessas mortes, achar o assassino de Evan. Nós acreditamos que o Harry é a chave, só preciso que me diga se ele falou algo com você.

Pansy a encarava sem reconhecer a mulher a sua frente.

— Ele tem razão, você não é mais aquela garota inteligente de Hogwarts. O que a fez mudar tanto, Granger? Foi a Guerra? Ver seus amiguinhos morrerem? Os anos com a escória do Ministério?

— Do que você está falando?

— Você me trouxe até aqui como se eu fosse uma garota de recados, para fazer mexericos de possíveis coisas que o Eleito pode ter me dito de seus encontros secretos. Usou a memória do meu marido morto e meu desejo de vingança para tentar me incutir a participar dessa sujeira que vocês estão fazendo.

— Você não sabe...

— Não sei? – Pansy levantou da cadeira. – Não é você que acha que Harry está me usando como confidente? Sim, ele me disse o que vocês estão fazendo. Mexendo em memórias, buscando algo na mente dele, indo fundo e cada vez mais fundo. Erguendo memórias que ele tanto buscou esquecer.

— Ele disse algo? – Hermione perguntou ansiosa. – Algo sobre Tom Riddle?

— Ele falou. Falou sobre como sonhou com a morte dos pais depois da primeira sessão, como a memória estava viva, que foi como viver tudo novamente, assistir o feitiço atingindo a própria mãe e ter que ficar lá assistindo. Falou sobre ver Sirius Black atravessando um véu, que tentou segui-lo, mas então percebeu que era apenas uma memória. Falou sobre ouvir você gritar quando estavam presos na Mansão...

— Já chega. – Hermione bateu na mesa. – Com que direito você...

— Direito? Vocês mexem com algo que não entendem, o trouxeram de volta para tortura-lo. Pensei que fossem amigos, uma família, não foi isso que você falou no seu discurso patético? Não... Ele é um recurso, um meio para atingir um fim. Vocês o estão usando sem nem saber se isso dará certo, mexendo com a mente dele. Ele já não sofreu o bastante?

Hermione deu um sorriso de deboche.

— Você parece bastante afeiçoada, Pansy. Quase dá para acreditar que você está preocupada com ele.

— Esse deveria ser seu papel, não?

— Meu papel é encontrar as pessoas responsáveis por essas mortes. Não estamos mais pertos de encontra-los do que estávamos há um ano. Eles são como fantasmas, mas as coisas que estão na mente do Harry, todo o conhecimento, toda a magia... Isso pode ser a resposta.

Pansy deu um suspiro cansado, como se Hermione fosse muito tola e ela não tivesse paciência para lidar com a estupidez da mulher.

— Conhecimento de magia negra, de como mexer com a mente de alguém até ela contar todos seus segredos mais profundos, memórias de ânsia pelo poder, do ódio por trouxas. São as únicas memórias que alguém como o Lorde das Trevas possuía, são essas memórias que vocês querem que ele busque.

— Você não entende.

— Não? Você e sua brilhante equipe já pararam para pensar que a magia do Harry pode tê-lo protegido durante todos esses anos? Que o fato dele nunca ter tido acesso a essas memórias pode não ter sido em vão?

— Harry não se deixará sucumbir aos desejos de Voldemort, ele saberá separar as memórias do que ele é. – Hermione falou sem segurança, ela não acreditava realmente nisso.

— Você não sabe. Não há como saber.

— Harry é forte.

— Não, ele não é. Ele foi um dia, eu creio. – Pansy olhou para suas mãos, ela se sentia estranha, um sentimento que ela tentava afugentar. – A guerra destruiu a todos nós, ele mais do que qualquer um. Ele não é mais como eu me lembro, falta algo, como se alguma coisa tivesse se perdido nesses cinco anos, ele fala e a voz soa como ele, mas não tem mais aquela força, a vivacidade de quando ele enfrentava o Draco. Ele não possui mais aquele fulgor que todos vimos no dia da Batalha de Hogwarts. Se eu consigo ver isso como você não consegue?

Pansy olhava para Hermione com desprezo e raiva. Ela se sentia ultrajada, chamada até aquele lugar como se fosse uma bruxa simplória, intimada a responder perguntas como se devesse algo a qualquer um deles. Vendo a forma como ela agora enxergava Harry.

— Você não o conhece. – Hermione disse apenas.

— E nem você. Não mais pelo menos. – Pansy colocou suas luvas novamente e ajeitou o sobretudo no corpo. – Lamento Granger, mas não faço ideia do que você está perguntando. Se quiser saber algo sobre o Eleito deveria perguntar a ele.

— Você está cometendo um erro, Parkison.

Pansy não achou que deveria corrigi-la, seria perda de tempo.

— Preste atenção, observe, faça algo enquanto é tempo. Você tem uma ótima oportunidade aqui e está deixando escapar porque é muito tola ou muito cega. Você irá perdê-lo, Granger.

— Perdê-lo para você? – Hermione perguntou em desafio, mas Pansy não respondeu, apenas piscou e deu um sorriso, o que dizia que o desafio tinha sido aceito.


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