Miss Shadow escrita por Botiné


Capítulo 6
Lembranças e Promessas


Notas iniciais do capítulo

Heeeey!
Dessa vez eu nem demorei tanto, leve orgulhinho de mim.
Espero que gostem ♥



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Barry passou mais dois dias comigo, mas hoje ele teria que voltar para Central City, o que me obrigou a fazer o mesmo. Se New York já me dava más lembranças antes, agora a cidade praticamente esfregava na minha cara o quão estúpida eu era.

Parecia que nunca mais iria conseguir gostar daquela cidade. Quando Barry chegou, me encontrou bêbada e soluçando de tanto chorar. Já tinha tomado três garrafas de vodka e voltado com o meu velho hábito de fumar. Hábito que Peter tinha me ajudado a deixar para trás. Parecia que eu ligava a ele cada coisa que eu fazia. Toda hora eu me perdia em flashbacks do passado. Sinceramente, se não fosse Barry, eu já estaria morta.

Eu quase tinha sido atropelada por estar distraída no meio da rua e, por sorte, o motorista conseguiu frear. Apesar de ter sido xingada por trezentos e quarenta milhões de nomes, eu estava bem. Pelo menos do lado de fora eu estava.

Eu ainda não tinha entendido direito o que aconteceu. Como não tinha percebido aquilo? Como Peter teve a coragem de fazer isso comigo? Honestamente, eu me sentia vazia; a única coisa que eu sentia era dor e, mesmo assim, parecia meio irreal, como se não estivesse acontecendo comigo. Mas estava. Precisava acordar para a realidade, e dizer a mim mesma que tinha acabado. Nunca mais conseguiria ser amiga de Peter e precisava aceitar isso. Mesmo que eu o amasse e soubesse disso agora.

Depois de tudo, ficava me lembrando de todos os nossos momentos e me sentindo estúpida por não ter notado nem meus sentimentos nem o segredo de Peter.

Bem, não poderia fazer nada a respeito. O que não tem remédio, remediado está. Acendi um cigarro e me senti extremamente culpada. Foi nesse momento que ocorreu mais um dos flashbacks que não queriam parar.

No flashback, eu tinha 16 anos e este mostrava uma das minhas brigas com Peter. Ele não aceitava que eu fosse dependente da nicotina.

“Alice, para. Chega disso. Você precisa parar de fumar e beber como se não houvesse um amanhã porque há um. Você precisa parar antes de se matar.”

“Chega, Peter! Você não é minha mãe, tá legal? Eu faço o que quiser com a merda da minha vida. Sempre me virei sozinha, e não vai ser agora que eu vou precisar de alguém!”

“Você vai acabar se matando!” Ele repetiu tentando me trazer para a realidade.

“E daí?! Ninguém se importa mesmo. Se eu morrer ou viver, não importa. Ninguém se importa, e nem eu pra falar a verdade.”

“Eu me importo! Merda, Ally! Você é minha melhor amiga. Por favor, pare. Dê-me a garrafa e o maço de cigarros. Venha comigo, me deixa te ajudar.”

Aquela havia sido nossa centésima briga e ele já estava cansado de discutir. Eu tenho que admitir que era insuportável.

“Não posso, me desculpe.”

“Então acabou. Nossa amizade termina aqui, entendeu? Não vou mais consertar as merdas que você fizer. Não posso continuar com isso. Não vou assistir você se matando. Adeus, Alice.”

Foi naquele momento que eu caí na real. Estava perdendo meu único amigo, por minha culpa. Percebi o monte de merda que estava fazendo e quando ele estava perto da porta tive um momento de lucidez.

“Peter espera! Desculpa, você está certo. Eu ando fazendo muita merda. Sei que estou errada e vou mudar. Mas, por favor, não me deixe. Eu não posso perder você também.”

A essa altura já havia chegado perto dele e chorava. Entreguei o maço dos cigarros e a garrafa de vodka pra ele. Peter jogou os dois no chão, chegou mais perto de mim e me abraçou. Naquele momento nós dois chorávamos e nossa amizade ficou mais forte.

“Promete que nunca vai me deixar?” pedi ainda fragilizada.

“Prometo. Promete que nunca mais vai voltar a beber e fumar desse jeito?”

“Prometo.”

É, parece que quebrei minha promessa. É claro que depois daquilo passei por longa reabilitação, não era alcoólatra, só fumante, então foi um pouco mais fácil. Mas até agora havia cumprido o que havia prometido. Porém a lembrança dessa promessa me remeteu a algo mais antigo. Uma promessa feita há anos que foi quebrada antes de eu quebrar a minha.

Dessa vez estávamos eu e Peter com 10 anos. Havia contado a ele tudo que acontecia comigo no orfanato e agora observávamos as estrelas.

Havíamos nos afastado de New York, não lembro exatamente como. Depois de ter contado a ele tudo ficamos em silêncio, apenas observando as estrelas. Era um silêncio confortável, embora eu sentisse que ele estava inquieto.

“Podíamos falar com meus tios. Eles poderiam te adotar e você estaria livre de lá.” Inqueriu ele como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

“Não é bem assim. Seria um processo trabalhoso, e que pode não dar em nada. Não quero criar falsas esperanças, Pete. Só queria te contar isso porque confio em você.”

Depois disso voltamos a ficar calados e, dessa vez, ele parecia mais conformado.

“Pete?” interrompi o silêncio estabelecido.

“Hum?” agora ele me fitava, atento às minhas palavras.

“Promete uma coisa pra mim?”

“O quê?”

“Promete nunca mentir pra mim e sempre me contar tudo, por mais íntimo que pareça?”

“Claro, Ally. Eu prometo.”

Parece que Peter não cumpriu com sua palavra antes de eu não fazê-lo. Pensar nisso só me fez sentir pior. Traguei novamente. Outra lembrança tomou meus pensamentos. Dessa vez, o dia em que nos conhecemos.

Novamente tínhamos 10 anos. Eu estava começando o 7º ano e Peter o 5º. Para ele, também era o primeiro dia de aula em uma escola nova. Ele me contou que todos lhe pareciam metidos e esnobes, com exceção de mim.

A única naquele lugar que se vestia normalmente embora houvesse a predominância da roupa preta. O resto deles estavam todos usando roupas como se estivesse indo a algum tipo de festa. Pelo menos foi o que Peter contou, pois eu não prestava muita atenção a nada ao meu redor.

Estava concentrada lendo sobre Geometria Fractal (mesmo que fosse um assunto que não era ensinado nem mesmo na faculdade, eu gostava).

“Oi, meu nome é Peter Parker. É meu primeiro dia. Qual o seu nome?” ele sorria, nervoso, e me estendia a sua mão meio trêmula.  Demorou um pouco para perceber que ele estava falando comigo. Ninguém falava comigo.

Dava patadas em todos que tentavam se aproximar mantendo uma barreira à minha volta. Mas, quando o olhei, vi como estava nervoso e querendo fazer amigos e uma sensação estranha tomou conta de mim.

Nunca entendi porquê, mas apertei sua mão estendida e lhe dei um sorriso gentil.

“Hey, Alice. Prazer te conhecer.”

“O prazer é meu, posso te chamar de Ally?”

“Claro, mas só se me deixar te chamar de Pete.”

“Pode me chamar assim. Podemos ser amigos?”

“Claro que não.” ele abaixou a cabeça e ia embora cabisbaixo quando eu completei “Nós já somos.”.

A partir daí, erámos nós contra o mundo, até as coisas mudarem sem que eu nem mesmo percebesse. O cigarro acabou. Saí da varanda do meu apartamento em Central City e lavei o rosto.

Alguém tocou a campainha. Fui atender e era Barry. Dei espaço para ele entrar e um leve sorriso.

“Está melhor, Ally?” o apelido me deu um calafrio.

“Um pouco, a medida do possível. E... Barry?”

“Hum?”

“Posso te pedir uma coisa?” estava hesitante em lhe pedir isso, pois teria que dar-lhe explicações que não poderia.

“Pode, claro. O que foi?”

“Pode não me chamar mais de Ally? É porque o amigo que eu te falei, o que acabou comigo e eu não posso te contar o que aconteceu por ser um segredo dele, que inventou esse apelido. Ele sempre me chamava assim e agora isso me faz mal. Entende?”

“Tudo bem.”

“Desculpa por ser tão complicada.”

“Não, sério. Eu entendo. É uma coisa entre vocês, não tem porque eu me meter nisso. Agora eu só posso tentar te ajudar.” Fui até ele e o abracei.

“Obrigada Barry. Você é um ótimo amigo. Mas o que houve? Você parece querer dizer algo.”

“Bem, não é nada demais. Deixe-me explicar.”

Então Barry me contou sobre sua mãe e como ela foi morta. Que a polícia declarou o pai culpado e que ele procurava por casos impossíveis que pudessem talvez fazer com que seu pai fosse solto. E também que ele queria ir a Starling para pesquisar um desses casos.

Não pude deixar de me comover com a história. Nunca havia tido mãe ou pai, mas o jeito que ele parecia disposto a tudo para provar a inocência do pai...

Depois de ouvir tudo, tomei uma decisão. Iria ajudá-lo. Acreditava nele. Se existia um cara que conseguia grudar em prédios, por que não um com super velocidade?

Além disso, iria me manter com a cabeça ocupada sem poder pensar nos meus problemas ajudando-o.

“Barry, eu vou te ajudar a achar o impossível.”

Houve vários momentos decisivos que me trouxeram ao momento de minha morte. Esse definitivamente foi um deles, e um dos mais importantes.

Porque, Barry e eu não sabíamos, mas durante a nossa busca ao impossível, acabaríamos nos tornando o impossível.


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Notas finais do capítulo

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Capítulo betado pela Cherry Pitch :3



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