Miss Shadow escrita por Botiné


Capítulo 2
O Gênio, Bilionário, Playboy, Filantropo


Notas iniciais do capítulo

OI AMORES!
Espero que gostem :3



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O orfanato era católico, mas aquele lugar definitivamente não era de Deus. Todas me odiavam, das freiras as órfãs. Nem sei direito o porquê, eu nunca havia feito nada a elas. Exceto pela vez que botei fogo na saia da freira Jesuína, também teve a vez que coloquei pó de mico na saia da Valentina, e a vez que eu acordei a freira Matilde jogando água nela... Bem, talvez tenha feito algumas coisas que elas não gostaram.

Mas a verdade é que elas sempre, sempre, me provocavam primeiro. Jesuína havia me deixado sem comer por um dia por ter ajudado uma menina a fazer uma conta de matemática que ela deveria fazer sozinha; Valentina havia zombado de mim por ser uma “nerd esquisita” que nunca seria adotada e Matilde... Bem, ela era simplesmente insuportável e também aplicava os castigos mais cruéis.

No orfanato tinham regras bem rígidas e os castigos eram mais do que severos. Mas ninguém imaginaria isso. Afinal, quem pensaria que freiras com expressões angelicais e adoração a Deus sequer pensariam em torturar órfãs de várias maneiras possíveis?

Porém, por mais que nunca tenha admitido em voz alta, sabia que Valentina estava certa sobre ninguém me adotar, porque eu nunca fui adotada. Apesar de minhas notas serem ótimas, o meu gênio era muito forte. Não era como as outras garotas e os casais queriam meninas femininas que amavam rosa e bonecas. Eu destruía as bonecas e montava outras coisas, odiava rosa e só usava as camisas de banda que eram doadas para o orfanato.

Desde pequena percebia que não era como as outras crianças e o resto do mundo me condenava por isso. Com o tempo havia aprendido a não me importar com o que os outros pensavam a meu respeito, pois, apesar de pequena, já havia percebido que não importava o que fizesse nunca seria aceita por todos. Sempre teria alguém para me julgar e dizer o quanto estava errada.

Quando o orfanato decidiu que não conseguiria me dar aulas fui para uma escola particular. Devido a minha inteligência acima da média, consegui uma bolsa integral. As freiras não aguentaram a minha pura genialidade. Eu, sinceramente, sentia pena delas. Por serem tão burrinhas, sempre vinham com aquele discurso de não precisarem de inteligência para que Deus as amasse.

Não que eu tenha algo contra Deus, que isso fique bem claro. Somente achava que, apesar Dele não se importar com isso, a inteligência e o conhecimento são, sim, importantes e que o que elas diziam eram só desculpas esfarrapadas para não estudar.

Não posso dizer que no início era aceita na escola. O pessoal de lá era muito mimado. Era possível ver que eles se achavam melhores de alguma forma, por serem ricos, ao contrário de mim, que vim de um orfanato. Adoravam implicar com minhas roupas, falavam que meus pais me abandonaram porque era feia demais e coisas do tipo.

Mas nunca fui do tipo que ouve desaforo calada, e, por isso, eles logo perceberam que implicar comigo não é algo muito recomendado. Vinguei-me de cada um deles e ninguém ousou mexer comigo depois disso.

Nunca demonstrei, é claro,  mas eles conseguiram me afetar falando dos meus pais. Na verdade, não era nem pelo o que falaram. O problema de verdade era que sempre havia me perguntado sobre isso. O que aconteceu com eles, se estão vivos, porque me abandonaram... Essas eram as perguntas mais comuns.

Eu tinha 10 anos e estava no 7º ano. Era uma gênia, e todos os gênios que eu conheci eram solitários. Talvez isso fosse alguma brincadeira do universo, ou algo do tipo. Até que entrou um menino na escola. Tínhamos a mesma idade e ele nunca me julgou. Acabou que viramos amigos. Era meu único amigo e eu era sua única amiga já que ele não era do tipo mais sociável, era muito tímido.

Seu nome era Peter Parker e ele sempre será uma das partes mais importantes da minha história. Com o tempo me abri com ele. Contei que, no orfanato, as freiras faziam coisas horríveis conosco, órfãs. Contei como quase sempre ficava sem comer e como os castigos de lá eram severos. Naquela época eu já não aguentava mais. Havia passado 10 longos anos da minha vida naquele lugar.

Também naquela época comecei a me tornar um tanto egoísta. Tinha uma mágoa enorme de tudo que havia me acontecido. Por que ninguém me ajudava? Por que ninguém me tirava daquele inferno?

Então, decidi que, se não me ajudavam, nunca iria ajudar ninguém. Eu não precisaria de ninguém. Seria independente de tudo e todos. Mas abriria raras exceções, como para Peter. Por ele sempre estaria lá. Em qualquer momento ou situação. Só por ele e seus tios, as únicas pessoas que me ajudaram e me acolheram. Era uma promessa. E eu sempre cumpro com minhas promessas.

Com 15 anos entrei no MIT para graduação em engenharia elétrica e com 18 recebi o título de Doutorado em Física. Também com 18 anos comecei a trabalhar na Osborn, estava feliz por ter me formado, mas sentia que faltava alguma coisa. Queria coisas novas, minha vida inteira já tinha sido monótona demais. Queria me aventurar, descobrir meus limites, fazer uma grande descoberta... Enfim, estava meio sem rumo pelo mundo e foi quando as coisas começaram a mudar.

Foi quando meu melhor amigo começou a esconder coisas de mim. E não era uma coisa pequena, foi uma coisa que mudou tudo.

Ele começou esquisito. Não tinha tempo pra mim, quando estava comigo sumia do nada e sempre tinha uma desculpa esfarrapada. Foi quando surgiu o Homem- Aranha, grudando em prédios por aí e bancando o herói.

E eu, pessoalmente, achava esse tal de Homem Aranha um belíssimo idiota. Para que ficar arriscando a própria vida daquele jeito por pessoas que ele não conhece e ainda ficar sendo julgado nos jornais? Era totalmente desnecessária a presença dele. Ainda mais que ele não era o único que estava bancando o herói.

Tinha o Homem de Ferro, também conhecido como Tony Stark, o cara era um gênio! Eu meio que o idolatrava. Era um completo idiota, sempre bêbado e acompanhado. Mas os projetos dele, o trabalho dele... Era simplesmente sensacional. Até que em uma apresentação de armas no Afeganistão, ele sumiu. Desapareceu do mapa durante três meses e, quando voltou, anunciou que as Indústrias Stark não fabricariam mais armas.

Foi impactante. A única coisa mais impactante que isso foi, no entanto, quando ele, alguns meses, depois anunciou que andava por aí numa armadura. “Eu sou o Homem de Ferro”, ele tinha dito numa entrevista coletiva. Se o pessoal se espantou quando ele decidiu parar de fabricar armas imagine depois dessa declaração?! Uma coisa é inegável: Homem de Ferro ou não, herói ou não... Tony Stark tem estilo.

Então descobri que o Peter estava namorando a Gwen Stacy, a garota que ele gostou desde sempre. Pensei ter descoberto o motivo de ele estar sendo tão misterioso, estava me trocando pela namorada.

Não tinha nada contra Gwen, ela era legal, mas senti muitos ciúmes dela. Quem ela pensava que era? Chega do nada e rouba meu melhor amigo de anos? Naquela época eu achava que era só isso, ciúme de irmão. Bem, não era exatamente isso.

Aquela foi uma das brigas mais sérias com Peter. Não nos falamos por semanas, eu realmente estava magoada com sua mania de me afastar cada vez mais. Estava cansada dele e de tudo aquilo. Queria entender o que estava acontecendo.

Foi então que eu fui convidada para uma convenção de cientistas muito famosa. Era meu sonho ir nela, sempre foi.

Então, vesti minha melhor roupa e cara de indiferença e fui realizar meu sonho. Essa com toda certeza foi uma noite decisiva pra mim. Nela eu conheci alguém que, apesar de eu não saber, se tornaria muito importante pra mim em alguns anos.

Claro, a convenção não era nenhuma Expo Stark, mas mesmo assim era um sonho estar entre tantos cientistas. Depois de ter visto tudo que tinha, acabei cansando e sentando num banco qualquer, mal sabia eu que o banco “qualquer” seria tão importante.

“Entediada?” disse uma voz ao meu lado, me assustando.

“Por Deus! De onde você veio?” disse ainda sem me virar, qual não a minha surpresa que ao virar desse de cara com Tony Stark?

“Do céu, sabe, eu sou um anjo com armadura de ferro.” ele fez essa piada sem graça, mas não pude me conter e acabei abrindo o bico.

“Na verdade, a sua armadura é feita de liga de titânio com ouro, não ferro.” me arrependi no momento em que as palavras saíram da minha boca porque agora ele me olhava curioso.

“Como você sabe disso? Nunca contei a ninguém sobre isso, todo mundo acha que a armadura é de ferro.” Stark continuava me olhando como se eu fosse um enigma que ele tentava decifrar.

“Ahn... Eu não... quer dizer... Qualquer um inteligente o bastante saberia disso, sabe se fosse de ferro você não conseguiria ir muito alto sem congelar” consegui dizer isso um tanto embolada, porém não havia soado nenhum pouco convincente. Agora ele possuía um brilho de diversão em seus olhos, fingi olhar o relógio e falei:

“Puxa! Olha a hora! Já está bem tarde, eu já devia estar em casa. Foi um prazer conhecê-lo, até mais!” até tentei ir embora, mas logo senti meu braço sendo puxado delicadamente.

“Nananinanão, mocinha. Você vai me explicar direitinho como você sabe de que material minha armadura é feita. Se embolou muito para explicar ou arranjar uma desculpa plausível” me vi sem saída quando ele me puxou de volta para o banco.

“Ok, só... não surta, tudo bem? Ah, e também tem que prometer que não contará a polícia” ele me olhou desconfiado.

“Tudo bem e, por que eu chamaria a polícia?”

“Só prometa, tá legal?”

“Ok, eu prometo.”

“Pela sua armadura?”

“Pela minha armadura.”

“Ok, eu hackeei seu sistema e entrei nos seus arquivos.” agora Tony estava incrédulo.

“O quê? ” ele exclama fazendo com que eu me sobressalta-se.

“Vou confessar que não foi fácil, foi o sistema mais difícil que hackeei, e isso é bastante coisa, parabéns por isso. Demorei horas até conseguir. Foi bem divertido.”

“E o J.A.R.V.I.S., por que ele não me avisou?”

“Eu entrei nas configurações dele e alterei algumas coisinhas.Aliás, você deveria checar com mais frequência o sistema operacional dele. Invadi faz mais ou menos seis meses, logo depois de você anunciar que é o Homem de Ferro. Fiquei realmente fascinada com seus projetos, o reator ark é incrível e o J.A.R.V.I.S. é a melhor inteligência artificial que já vi. Mas, tem uma coisa, não sei se deveria te falar isso...”

“O que tem de errado?”

“Sinceramente, nunca trabalharia com paládio. Ainda mais se minha vida dependesse disso. É um elemento muito instável, bastante tóxico. Quem sabe quais são as consequências em longo prazo? Se eu fosse você, estaria procurando desesperadamente outro elemento compatível.”

“Infelizmente, nenhum outro elemento é compatível. Você tem razão, paládio é tóxico. Está envenenando meu sangue. Nem sei mais o que fazer.” Quando um dos maiores cientistas do mundo, e mais egocêntrico também, diz que não sabe mais o que fazer então a situação já é séria o suficiente pra ser impossível se fazer alguma coisa. A menos, é claro, que ele descubra um novo elemento.

“Bem, acho que você devia aproveitar o tempo que ainda te resta. Sem se preocupar com o depois.”

“Acho que sim, quantos anos você tem? E por que hackeou meu sistema?”

“Eu tenho 18. E diversão. Eu estava entediada e você tinha anunciado ser o Homem de Ferro e, preciso confessar, me interessou bastante saber como é e de que era feita a armadura.”

“E qual seu nome?”

“Tenho uma ideia, você quer saber de mim pelo visto, então vamos fazer um acordo. A cada pergunta que eu responder você responde outra. Beleza?”

“Justo.”

“Qual o seu nome?”

“Alice. Qual é a sensação de voar na armadura?”

“Maravilhosa, uma liberdade incrível. E o seu sobrenome?”

“Não tenho. Você já conheceu o dr. Banner?”

“Ainda não, quem sabe um dia. Por quê?”

“Fui abandonada em um orfanato no mesmo dia que nasci. Sem nome ou sobrenome. As freiras me chamaram de Agatha, mas quando cresci decidi que meu nome seria Alice por causa de Alice no País das Maravilhas. Como você se descreve?”

“Gênio, bilionário, playboy, filantropo.” depois disso eu comecei a rir muito, a gargalhar na verdade. Não sabia por que mais o Homem de Lata estava me encarando.

“O que foi?” perguntei parando de rir aos poucos.

“Nada, você só me lembrou de alguém.” ele parecia ter acordado de um sonho. Vendo como ele parecia abalado, não perguntei sobre.

“Você é formada?”

“Sim, senhor.” respondi.

“Em que?” como não tinha mais criatividade não falei nada sobre só ele fazer perguntas.

“Com 15 anos entrei no MIT para graduação em engenharia elétrica e com 18 recebi o título de Doutorado em Física” falei com um certo orgulho de mim mesma.

“E faz o quê, por agora?”

“Trabalho na Osborn.” expliquei, com desgosto.

“E gosta?” perguntou ele, arqueando uma sobrancelha (o que me fez sentir certa inveja, pois sempre quis fazer isso).

“Pra falar a verdade, não muito. Eles não me dão muito espaço para fazer descobertas realmente interessantes, tenho que fazer a mesma coisa todo dia. Julgam-me pela idade, o que é um completo erro, então não me dão trabalhos para os quais eu seja qualificada o suficiente. Mas preciso do dinheiro então não posso simplesmente me demitir.”

“Sinceramente, poderia dizer pra você que sei como se sente, mas eu não sei. Quando me formei, já era bilionário, não precisei me esforçar muito. Já tinha minha vaga na empresa, já tinha a liberdade de inventar o que quisesse. Então, não te entendo. Mas acho que você se sairia bem nas Indústrias Stark. Você teria a liberdade e a tecnologia para criar o que quisesse. Teria seu sonho de cientista realizado.”

“Sonho de cientista?”

“Sim, todos nós temos um. Alguns, como para o dr. Banner é reproduzir o soro do super soldado, por exemplo. Esse era o sonho de cientista dele.”

“Ele pagou bem caro por esse sonho.”

“São os riscos da profissão.” dei uma risada baixa ao ouvir aquele comentário.

“Qual o seu sonho de cientista?” perguntei a ele curiosa.

“Bem, depende do dia. Até pouco tempo atrás era a armadura. Com esse já realizado, espero ansiosamente pelos próximos. E o seu?”

“Fazer algo importante. Algo que mudaria a ciência do jeito que a vemos hoje para sempre.”

“Lá você teria essa chance.” a proposta de Stark era realmente tentadora, mas tinha algo, bem no fundinho da minha mente que me incomodava. A verdade que  percebi naquele momento, em que uma oportunidade única estava me sendo oferecida, era que não queria ficar em NY.

Por mais que amasse a cidade, queria conhecer o mundo, e ela me trazia muitas más recordações. Aquela cidade me lembrava do quão infeliz eu era. Não queria recusar a proposta, mas a perspectiva de viver ali por mais boa parte da minha vida me sufocava. Não poderia ficar em NY, não desse jeito.

“Stark, sei que o que está me oferecendo é uma oportunidade única, é tudo que sempre quis, mas, eu não posso aceitar. Não consigo ficar em NY. Eu preciso sair dessa cidade. Ainda não sei qual será minha rota de escape para fora daqui, mas essa cidade me sufoca. Tantas lembranças ruins. Tanta dor acumulada. Eu não aguentaria, acabaria surtando. Preciso viver mais um pouco, conhecer o mundo. Não posso aceitar e sei que você não me oferecerá essa proposta mais uma vez. Foi a proposta perfeita na hora errada.”

“Certo, eu entendo. Também já tive isso de conhecer o mundo. Depois de um tempo, ficou chato. Foi uma pena, já que era realmente legal. Você falou muitas verdades, mas houve um engano aí no meio.”

“Qual foi esse engano?”

“Não foi uma proposta única, você será bem vinda a trabalhar comigo a hora que quiser.” Olhei-o incrédula. Como assim? “Quê? Achou mesmo que eu te deixaria escapar tão facilmente? Você é brilhante, garota. Conseguiu hackear meu sistema, e isso não é pouca coisa, fora que é super inteligente. Você terá um futuro brilhante e eu quero fazer parte dele. Não sei o porquê, já que só te conheço há algumas horas, mas sinto que posso confiar em você. Acho que nos encontraremos de novo um dia, e, nesse dia, você aceitará a minha proposta. Boa sorte, Alice. Espero que ache o que está procurando.” depois disso, ele abriu uma maleta e vestiu a armadura e saiu voando pelos céus.

Aquela noite me mostrou muita coisa, inclusive que Tony Stark não era tão babaca quanto eu pensava. E ele não poderia estar mais certo, nos encontraríamos de novo, mesmo que com um peso maior nos ombros.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :v
Capítulo betado pela linda da Cherry Pitch (https://fanfiction.com.br/u/384014/)



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