Subo ao segundo andar cinco minutos depois e quando entro no meu quarto encontro Esme sentada na minha cama me esperando.

— Venha, meu amor! – é claro que ela soube a hora que eu chegaria aqui. Ela ouviu certamente o som da torneira fechada e meus passos na escada. E com certeza pode sentir meu cheiro.

Sento ao lado dela e me inclino até repousar a minha cabeça perto de seu estômago.

— Mamãe...?

— Sim, minha querida? – ela diz afagando uma mecha de meu cabelo e colocando atrás da orelha. Sua pele fria faz cócegas quando encosta de leve na minha.

— Você pode me contar o que aconteceu ano passado quando o exército de vampiros recém-criado de Victória atacou vocês?

— Sim, filha, é claro que eu posso. Você precisa saber de tudo que aconteceu na nossa família porque você faz parte dela. Na verdade, o que causou esse incidente aconteceu meses antes quando o companheiro de Victória, James, queria matar Bella. E foi morto por isso.

— Por que ele queria matar minha irmã?

— Ele queria o sangue dela porque era a segunda vez que encontrava um sangue tão apetitoso em um humano. Antes ele havia encontrado em Alice, mas ela foi mordida e transformada por um amigo antes que James a matasse.

— Espera um pouco. Alice, minha outra irmã você diz, mãe?

— Exatamente. Eles haviam se encontrado antes, por volta de 1920 quando sua irmã, Alice estava internada em um hospital psiquiátrico. – Imagino os horrores que ela deve ter passado com os tratamentos de eletro-choque. Se não era louca a pessoa acabava ficando. Se ainda existissem esses manicômios eu certamente também seria internada... Esme percebe o espanto em minha face, mas prossegue – Por isso o cabelo dela é mais curto, você verá quando a conhecer.

‘Mas um amigo dela a transformou a pedido dela, pois ela já tinha visões do futuro e pressentiu que James viria atrás dela. O vampiro jardineiro do hospital acreditou nela, pois também podia perceber quando outro vampiro estava por perto e fez o que tinha de fazer. Ele sabia que James só queria o sangue dela. Ele iria matá-la e Alice tinha um dom que a faria uma poderosa vampira. No entanto James percebeu e por vingança matou o vampiro que transformou Alice e a deixou ali se transformando, abandonada.

‘Quando ela acordou não sabia onde estava, mas sabia que tinha de sair dali e fugir. Isso foi fácil devido ela ser uma vampira nova ela era bem forte e veloz. Ela viu que seria parte da nossa família e decidiu ter o nosso estilo de vida vegetariano. Alguns anos mais tarde ela encontrou Jasper, também através de suas visões e os dois nos procuraram. Ela sabia que nós iríamos aceitá-los e isso de fato foi o que aconteceu.

— Há quanto tempo eles estão com vocês?

— Há pouco mais de cinquenta anos.

— Só isso!

— É pouco mesmo querida, eu sei. Nós podemos viver tanto e comparativamente eles estão pouco tempo conosco. Somos jovens, mesmo seu pai que é o mais velho de nós é considerado jovem comparado a outros vampiros.

— Existem vampiros mais velhos do que papai?

— Claro que sim, filha. Meu marido não é o mais velho de maneira nenhuma. Existem vampiros com mais de mil anos de idade. Jane, uma das guardas Volturi, e seu irmão gêmeo, têm 1200 anos. Os três lideres tem mais de 1500 anos cada um.

— Mas vocês conseguiam ficar perto da Bella, mesmo o sangue dela sendo tão bom quanto você disse.

— Sim, mas somente com muito esforço conseguíamos. Apenas Carlisle não sentia nenhuma atração pelo cheiro dela porque ele trabalhou muito para desenvolver a resistência e ser médico como sempre sonhou.

— Papai é incrível. Eu tenho muito orgulho dele! Para mim é uma honra extraordinária que supera qualquer definição em palavras que ele tenha me aceitado.

— Comigo também é assim, querida. Eu era apenas uma humana simples como você quando ele me conheceu pela primeira vez. Não sei o que ele viu em mim, eu não era bonita. Não sei, mas por alguma razão ele me escolheu dentre todas as mulheres que ele conheceu antes mesmo de eu nascer. Isso me deixa tão encantada!

‘Ele podia ter transformado a mãe do Edward e não eu, mas não. Ele esperou mais alguns anos até nos reencontrarmos por acaso. Não sei se foi o destino que nos uniu, mas eu não fazia ideia que ele trabalhava naquele hospital quando eu pulei do precipício. Eu me apaixonei por ele desde a primeira vez que o vi; não passou um dia sequer sem que eu pensasse nele nos dez anos seguintes. Até o nome do meu filho era em homenagem a ele. Mas eu havia desistido e me conformado que eu nunca mais o veria novamente. Eu tinha razão por ter me apaixonado  por ele, ele era e é lindo, mas era além disso o homem mais atencioso que eu conheci. Os homens que conheci eram rudes com as mulheres. Sobretudo meu ex-marido foi comigo mais tarde...

— Eu adoro ouvir sua história, mamãe. É tão linda! É um pouco triste, mas tem um final feliz.

— Obrigada, querida. A sua também me parece um pouco a minha própria história, mas por sorte você não teve de sofrer nenhuma violência sexual, apenas física, o que por si só já é muito grave. E você também terá seu feliz para sempre comigo e meu marido. Poder fazer isso na sua vida é tão maravilhoso, me sinto sublime.

— Me identifico tanto com você, mãe!

— Eu também me identifico muito com você, querida. É como se eu me visse em você. Por isso quando te protegi daqueles homens me senti cumprindo um dever, fazendo o que eu devia fazer. Senti a sensação de missão cumprida. Me senti tão bem por tê-la salvado!

— Obrigada, mãe. Sempre vou lhe agradecer.

— De nada, meu amor. Eu sei que você sempre terá na memória aqueles outros atentados, mas ao menos esse estupro eu consegui evitar que você sofresse. Você não merecia passar por isso, eu sei como isso é horrível. Charles uma vez levou amigos para casa e eles me estupraram em três.

— Oh mamãe, sinto muito.

— Oh minha querida, obrigada por sua compaixão. Você é muito compreensiva conosco.

— Eu entendo você tanto, mamãe. Mais do que você imagina.

— Você é tão empática, querida!

Esme retoma a história de onde havia parado:

‘...Mas James não tinha a mesma consideração que nós temos pelos seres humanos. Deveríamos saber que os vampiros nômades não vêem os humanos além de fonte de alimento. Foi um erro dele subestimar uma família inteira de sete vampiros e achar que poderia sozinho nos vencer.

‘Eu não participei diretamente da morte dele, pois nem fui a Phoenix, mas foi necessário destruí-lo porque ele queria matar Bella. Se ele continuasse vivo poderia nos ameaçar para sempre. Não gostei de meus filhos terem que matá-lo, mas não havia outro jeito. Ou era ele ou ela. Eu não poderia permitir que James matasse nenhum membro da minha família, mesmo Bella ainda sendo humana eu já a considerava minha filha. Assim como você, meu amor – Esme toca meu queixo com a ponta dos dedos. – e ela é a companheira de meu filho e então não poderia deixar que ninguém a matasse. Não gostaria de ver meu filho triste ou pior que ele tentasse morrer também como fez depois.

‘Nós não defendemos todos os humanos como os Quileutes, mas não poderíamos deixar James fazer o que ele queria. Ele poderia ter escolhido qualquer outra pessoa, mas não, ele escolheu bem aquela que ele teria mais dificuldade em conseguir e seria mais empolgante se conseguisse; o que não aconteceu totalmente. Ele a teve nas mãos por alguns minutos, mas depois no fim perdeu.

‘Ele teve que escolher bem a nossa protegida, digamos assim, a companheira de meu filho. Não.  Ele não pode ter tudo o que quer, mexeu com a pessoa errada e pagou por isso – imagino que eu agora seja a protegida deles, ou algo assim. E isso é lisonjeiro e ao mesmo tempo apavorante porque será que eu também terei de enfrentar tudo que a minha irmã teve de enfrentar? Eu acho que eu não seria tão corajosa.

Esme prossegue:

— Só digo que não me arrependo porque James sabia que não iria ser fácil conseguir o que ele queria e se não conseguisse passar por todos nós, ele sabia que o mataríamos. Victória é que não entendeu que o próprio parceiro buscou a própria destruição. Para ela, ele não estava fazendo nada de mais caçando a companheira de outro vampiro. Os errados éramos nós em matar um de nossa própria espécie para proteger uma humana. Mas essa humana não era apenas uma humana aleatória qualquer, era a futura esposa de meu filho. Victória pensava que tinha o direito de se vingar, mas não tinha; e por isso tivemos de matá-la também mais tarde.

‘E para se vingar de nós ela planejou e criou um exército de vampiros, pois ela sabia que somos muitos; e se já foi difícil e praticamente impossível eu diria, para ela e James nos vencerem, muito mais improvável ela vencer se viesse sozinha. Por isso ela criou o exército, para nos distrair enquanto ela atacaria Bella. Mas diferente de um exército humano que precisa de muitos soldados para ser forte, um exército de vampiros recém-criados é ainda mais forte que de vampiros. Se já seria forte um de vampiros, um desses novos vampiros é ainda mais porque nós vampiros somos ainda mais fortes no primeiro ano.

— Porque mãe?

— Porque quando somos novos nessa nova ‘vida’ ainda temos os nossos músculos e tecidos irrigados com nosso sangue por sete meses. O sangue humano nos deixa mais fortes do que o sangue animal...

‘Mas mesmo assim conseguimos derrotar os recém criados. Eles foram surpreendidos pelos lobos. Não sabiam da existência deles e não estavam preparados. Um trunfo a nosso favor. Além do mais eles eram desorganizados, apesar de fortes eram desorganizados. Se fossem bem liderados eram uma força a se considerar, disse mais tarde meu filho Jasper; ele, no começo dessa nova vida viveu no sul dos EUA com exércitos que frequentemente disputavam território. Era necessário sempre ter novos vampiros para proteger o domínio de novos ataques.

— Ele não é vegetariano como vocês, então?

— Agora ele é, mas nem sempre foi. Ele é o mais novo de nossa família e por isso às vezes comete alguns deslizes.

Agora fiquei com medo de conhecer esse tal de Jasper.

— Fique tranquila, minha filha - diz Esme ao perceber o terror em meu rosto. – Eu irei protegê-la. E todos os meus outros filhos cuidarão de você também se for necessário, tenho certeza. 

Nem todos. Rosalie não me deu a mínima importância.

‘Victória pensou que o grupo de vampiros recém-criados dela já era suficiente para nos derrotar e seria fácil vencer com vinte, mas ela estava enganada e não foi bem assim. A surpresa dos transmorfos Quileutes foi inesperada para Victória e seu exército eles não estavam preparados para isso. Ela percebeu que seus vampiros novos seriam derrotados então os deixou conosco como uma distração e foi atrás do que realmente queria.

'Os vampiros novos eram fortes, mas não trabalhavam em equipe como nós.

‘Ela sabia de nossos dons e os alertou, mas não sabia dos lobisomens e que eles iriam lutar ao nosso lado. Se ela sabia pensava que eles eram inimigos dos vampiros e jamais se uniriam a nós. Mas nós não somos vampiros como os outros. Somos a exceção da regra.

— Quem matou essa Victoria então?

— Ela de alguma maneira conseguiu encontrar onde estava meu filho com Bella e foi procurá-los enquanto os recém criados dela eram destruídos por nós e pelos lobos Quileutes. Ela não viu meu filho lutando conosco e então seguiu o cheiro de Edward e sabia que Bella estaria junto dele. Logo ela os encontrou. Foi uma outra batalha além daquela que nós havíamos travado. A nossa luta se resolvia e acabava enquanto a deles apenas começava.

‘Victória e Riley tentaram matar Bella, mas Edward e Seth, um jovem lobo Quileute que estava junto de meu filho para deixá-lo informado sobre o que acontecia na nossa luta e não se envolver diretamente na batalha porque era muito novo, ele tinha 15 anos, defenderam Bella.

— Como Seth deixava Edward saber o que acontecia com vocês?

— Os Quileutes têm uma forma de comunicação telepática entre todos os membros da matilha, assim meu filho sabia o que estava acontecendo conosco praticamente em tempo real.

— Mas e os Volturi não interferiram? – sinto um arrepio sempre que me lembro dos vampiros italianos.

— Até o final da batalha, não. Hoje eu entendo por que. Acho que eles queriam ver se nós venceríamos e sobreviveríamos ou se seriamos dizimados. Eles queriam que fôssemos destruídos, mas não fomos. Eles mesmos quase fizeram isso mais tarde...

‘Os Volturi não sabiam dos Quileutes até o final do ano passado, quando vieram todos por causa de minha neta. Eles só mataram a Bree naquele dia por que ela não oferecia nenhuma resistência e já havia se rendido ao ver o seu grupo ser destruído pelo nosso. Eles disseram que não cabia a nós oferecer anistia a ela, mas eu acho que sim, porque ela desistiu de nos atacar. Em troca da proteção que não pudemos lhe dar, infelizmente, estava além de nós.

— Vocês não tiveram culpa mãe, fizeram tudo que podiam – sinto muito por essa recém-criada.

— Sim, você está certa, os Volturi é que são intransigentes e intolerantes.

— Quantos anos ela tinha, mãe? – me sinto como se eu estive preenchendo o espaço que deveria ter sido dela.

— Ela tinha aproximadamente a mesma idade que você tem agora filha.

— Oh! – fico muito sensibilizada com a história dela. Ela era como eu quero ser, não merecia ter morrido dessa forma tão cruel.

Ela estava infelizmente no lugar errado com as pessoas erradas. mas tinha se arrependido. Não merecia o fim que teve. ela era inocente.

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