Mente de Coordenadora Pokémon escrita por Kevin


Capítulo 3
Entendendo-se com a mãe


Notas iniciais do capítulo

Vamos mais um capitulo!!!
Agradeço a todos que estão acompanhando a fanfic.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/724688/chapter/3

Mente de Coordenadora Pokémon
Episódio 03: Entendendo-se com a mãe

 

 

— Não vou ficar no mesmo quarto que ela! -

 

O grito ecoou pelo Centro Pokémon chamando a atenção de todos. De fato, mesmo que não tivesse gritado, todos teriam visto Mirian de forma irritada a apontar para sua mãe com indignação.

 

— Ontem eu fui envergonhada em rede nacional. Nessa manhã fui forçada por ela a conversar com meus pokémon o que resultou em termos ficado na mira de armas e um dos pokémon sair ferido. Não bastasse isso, nos fez cair em dois ninhos de pokémon e agora eu sou forçada a passar a noite com ela? –

 

Uma das Oficias Jane de Vermilion ofereceu carona para as Millers, uma vez que Angel, que estava com um carro alugado, ainda ficaria no restaurante por mais tempo para acabar de resolver o incidente. No entanto, Mirian recusou de imediato pela aversão que havia tomado de policiais e por algum motivo estranho a mãe dela, Wanda, fizera o mesmo. Acabaram levando três horas de caminhada pela estrada após uma Beedril ter gostado do perfume de flores da mãe e chamado seu enxame para “colher o néctar”.

A fuga resultou nelas caindo em um buraco que mais parecia uma toca de Ratata’s que não gostaram nada da invasão. Se um bando era complicado de se encarar, imagina dois?

O resultado foi a chegada da família Miller ao Centro Pokémon completamente sujas e descabeladas, chamando a atenção das quase cinquenta pessoas que estavam na recepção e acompanharam o momento do cadastramento até o anúncio da enfermeira que lhes dariam apenas um quarto.

 

— Acalma-se ou precisarei expulsá-la. - Disse a Enfermeira em tom sério. - O Centro Pokémon de Vermilion vive lotado devido ao porto local. Neste momento só tenho um quarto disponível, mas mesmo que possuíssemos algum outro a senhorita não possui credencial para comprovar as mensalidades pagas para usufruir das instalações do Centro Pokémon para pernoite, apenas a senhora Miller possui a mesma. - A Enfermeira parou fuzilando Mirian. - Agora, estou vendo na sua identidade que ela é sua mãe. Como pode gritar com sua mãe desse jeito? Que tipo de filha é você? -

 

Mirian cerrou os punhos irritada com tudo aquilo. Ficou tão envolvida com o incidente no restaurante que sequer se lembrou de que não conseguiu de volta sua credencial pokémon e não tinha ideia de onde estaria seu Editor para hospedá-la em um hotel longe de sua mãe.

 

— Joy! - Disse Wanda chamando a atenção da enfermeira. - Minha filha apenas está tendo um dia muito difícil. Por favor, não a julgue mal. -

 

Um rosnar irritado. Talvez até aceitasse ser hostilizada pela enfermeira local, mas de forma alguma deixaria a mãe defendê-la. Mirian marchou para fora do Centro Pokémon a fim de procurar em todos os hotéis de Vermilion por seu Editor. Mas, acabou por apenas sentar do lado de fora do centro esperando que a multidão dispersasse e sua mãe entrasse. Afinal, a cidade era grande demais e ainda precisava ver como estava seu Farfetch’d, motivo pelo qual se dirigiu a cidade tão rapidamente, em vez de ficar no restaurante onde, inicialmente, esperaria o editor.

 

Por que será que minha mãe ainda paga a mensalidade do Centro Pokémon se a mais de quinze anos ela não pega num pokémon? Se é que realmente ela teve um pokémon. Ela diz ter sido coordenadora e reconhecida por uma Top-coordenadora de renome com uma fita premium. Uma Fita da Vida que diz que ela sabe respeitar a vida. Mas, eu fui presa justamente porque a fita dela é falsa. Ela falava de concurso para cima e para baixo, minha vida inteira ao ponto de eu desejar ganhar algo para ela nesse mundo idiota da coordenação. E o que eu ganhei? A verdade nua e crua que a fita era falsa. Não sei se ela mentiu a vida toda ou se foi enganada a vida toda.

Nutro ressentimento desde que descobri isso, mas se ela me enganou não sei se consigo perdoá-la. Agora, se ela foi enganada, não sei se o choque da descoberta fará bem a ela. O que faço?

 

— Imaginei que não iria longe. –

 

Mirian cortou seus pensamentos olhando para a porta e percebendo que era a enfermeira Joy com desdém para ela. Não passaram-se mais do que trinta minutos desde que ela sentara-se ali, mas parecia ter sido o suficiente para dispersar todas as pessoas da recepção e Joy ficar livre.

 

— O Farfetch’d baleado é meu. - Mirian disse levantando-se. - Eu não poderia me afastar do centro desta forma. -

 

Joy desfez a cara amarrada e fez sinal para que Mirian a seguisse. Passaram por uma porta que possuía aviso de só entrar caso autorizado e ambas caminharam pelos corredores.

Mirian via várias salas com pokémon em tratamento, a maioria que ela sequer sabia o nome. Percebeu que haviam outras enfermeiras ali, todas Joy’s, mas que pareciam sequer notá-las passando. Lembrava-se de ter perambulado pelo interior do Centro Pokémon da cidade de Tin e Pewter, mas aquela era a primeira vez que via a ala médica para pokémon. Ela não achava que fossem separadas e até aquele momento nunca havia sentido o clima de hospital que os centros possuíam.

Sentiu um nó na garganta se formando a cada nova visão que tinha dos pokémon doentes por ali. Alguns ela via os ferimentos com facilidade, outros, no entanto, não conseguia supor qual mal havia recaído sobre eles.

 

— Na verdade, seu Editor passou por aqui e deixou suas coisas e o aviso que te esperaria para o início de setembro no ginásio da Cidade de Celadon. - Joy disse sem virar-se para Mirian. – Então meio que sabia que voltaria para o centro, mais cedo ou mais tarde. Desculpe por tratá-la tão agressivamente. Mas, acho muita ingratidão uma filha tratar a mãe desta forma, ainda mais na frente de todas essas pessoas. -

 

Mirian nada disse. De certa forma ela pensava a mesma coisa e por isso ainda não havia despejado tudo que o que estava sentindo em cima da mãe. Não queria, mas a amava e talvez essa fosse a parte mais complicada, saber que fora traída pela pessoa amada.

 

— Mas, acho que no seu lugar também estaria um pouco estressada. Ser filha de uma pessoa com câncer não parece fácil. – Mirian levantou o olhar surpresa chegando a exclamar o que fez Joy parar de andar e falar por alguns instantes. - Fiquei dois anos num hospital cuidando de pacientes com câncer, tanto pokémon quanto humanos e é nítido que sua mãe voltou a enfrentar a doença. Como você é jovem deve ter se sentido muito pressionada com tudo o que relatou no dia de hoje após tantos cuidados com ela. –

 

— Acho que… - E parecia que de alguma forma a enfermeira acreditava saber como ela se sentia. Talvez explicar-lhe tudo ajudasse a decidir o que fazer sobre sua mãe. Preparou-se, no entanto seus olhos pousaram em algo que desviou sua atenção. - O que é isso? -

 

Mirian aproximou-se de um vidro onde havia um pokémon parecendo uma esfera metálica com ímãs colados ao seu lado. A esfera metálica estava com um grande trincado e parecia que um dos ímãs pendia. Havia um grupo de três pessoas de jaleco olhando para o pokémon e acompanhando um vídeo que parecia ser o replay do momento em que ele ficara naquele estado.

O vídeo mostrava o pokémon acamado inteiro e disparando diversas descargas elétricas contra uma pequena raposa peluda de olhar vivaz que corria velozmente, em círculos desviando de tudo. Chegava a parecer que havia muito mais do que uma única raposa ali.

De repente as raposas começaram a disparar, para cima, diversas estrelas e então o pokémon metálico pareceu tomar ciência que acima dele havia uma esfera negra que estava parada no ar e agora era circundada pelas diversas estrelas disparadas pelo pokémon raposa.

A raposa saiu do campo de visão vídeo, como se tivesse se afastado e as estrelas começaram a cair, rodeando o pokémon metálico, impedindo sua fuga e logo ele foi bombardeado pelas estrelas e pela esfera negra. A fumaça dissipou-se dando a visão de um pokémon desmaiado e com os ferimentos que apresentava ali.

O vídeo começava a repetir, no entanto Mirian estava paralisada com a cena. Seus olhos fixos na tela não acreditavam que o ataque pudesse ter sido tão poderoso. Era incrivelmente belo a forma como a esfera negra pareceu um planeta, ou talvez até um sol negro, e as estrelas rodaram em volta dela, criando um contraste entre a luz negra e a luz das estrelas, mas o efeito destrutivo do golpe parecia longe de ser real.

 

— Vamos Mirian. Farfetch’d ficara feliz em vê-la. Ele está fora de perigo e em três dias estará novo em folha. -

 

Mas, Mirian pouco conseguiu prestar atenção nas falas da Joy, apesar de se pôr a caminhar. Simplesmente não conseguia descrever o pavor que sentiu a ver aquele ataque sendo feito e o estrago que ele provocara.

 

<><><><><>

 

Para algumas coisas não há solução. Mirian tentava manter o silêncio para com a mãe, mas logo após ficarem as duas trancadas dentro do mesmo quarto, era inevitável que o silêncio começasse a se tornar constrangedor demais.

 

— Não dá para ler esse lixo! -

 

O quarto de Centro Pokémon de Vermilion era grande e mais luxuoso que Mirian poderia esperar. Parecia com os quartos dos hotéis em que ela andava se hospedando para divulgar seu livro. Duas camas de casal, grande janela, puffs banheiro com banheira e ainda ar-condicionado, isso fora os armários e a escrivaninha. Depois de quatro meses dormindo numa cela e um virando noites a preparar o livro, aquilo parecia um paraíso. Mas, sentia-se caindo num inferno a cada vez que escutava a voz de sua companheira de quarto, sua mãe.

 

— Tudo bem… - Mirian suspirou. - Que noticia aterrorizante de concurso está lendo? -

 

Só uma coisa deixava a mãe irritada com o jornal e era notícias ruins, ou ridículas, sobre concursos. Mirian até ignoraria a mãe como o fez durante o dia, mas a realidade era que não poderia fazê-lo para sempre. Além disso, a mãe respeitou seu espaço até aquele momento, então ela precisava também respeitar o fato dela ser sua mãe. Achou que aquele poderia ser o início de uma conversa para que as coisas evoluíssem para o que realmente importava.

 

— Não é a notícia em si. - Comentou a mãe jogando o jornal de lado. - Kanto tem o pior jornal que eu já vi na vida. É uma escrita pobre, cheia de gírias, com uma organização de classificados e de pouca utilidade pública. -

 

Mirian piscou algumas vezes ao escutar aquilo. Por vezes esquecia-se que a paixão pela literatura que possuía vinha da mãe que trabalhava como revisora de algumas revistas quando a doença a permitia, já que jornais não queriam alguém sazonalmente.

 

— Talvez, como outras regiões, Kanto esteja realizando uma migração de mídia impressa para a digital e isso seja uma forma de forçar as pessoas a realizar um êxodo do papel para os computadores, ou talvez o efeito da migração, menos dinheiro para investimentos e profissionais de qualidade. -

 

Mirian comentou indo ao banheiro e estendendo a toalha para secar. Ao preparar-se para voltar ao quarto olhou no espelho por um instante percebendo os hematomas pelo seu corpo. Alguns datavam ainda do início de sua jornada, no começo do ano, e outros de sua temporada da prisão. Trajando um shortinho branco, de tecido que lembrava moletom, e uma blusa de alça de algodão rosa, tinha que admitir que a mãe havia acertado em trazer para ela alguma roupa fresca, já que todas as que possuía na mala da viagem de lançamento do livro era para esconder os hematomas.

Agora entendia porque a mãe estava calada, não era apenas por ser serena e achar que o tempo certo da conversa chegaria, mas porque estava vendo o rosto machucado e imaginava se o restante do corpo também estaria e a visão dela saindo do banho com braços pernas marcadas certamente diziam que qualquer pressão poderia acabar de quebrar o espírito dela.

 

— Jotho ainda não fez essa migração de mídia, fez? -

 

Mirian voltou para o quarto e observou a mãe que estava com um pijama, certamente para esconder a marca das agulhas e algum roxeado do tempo que esteve internada. Agora ela estava apenas deitada e parecia ter se levantado para tomar remédios, pois o jornal que havia ido para o chão foi colocado na escrivaninha e o copo com água estava pela metade.

Em casos normais ela não perceberia aquilo, mas para com a mãe ela era totalmente atenciosa. Não deixava nada passar, nada escapava. Qualquer detalhe sempre indicava que a mãe estava piorando e escondendo algo e precisava sempre agir antes dela. Ou, ao menos era assim antes de sair em jornada.

 

— Não. - A mãe disse. - Ainda consigo acompanhar notícias da temporada de concurso de Jotho num jornal sem necessidade de ir a internet. - A mãe parou e percebeu que Mirian começou a rir enquanto conferia se a porta estava trancada e encaminhava-se para a janela. - O que é engraçado? -

 

— Eu sabia que era reportagem de concurso. - Ela disse fechando as cortinas preparando-se para fazer uma noite de sono longa e sem hora para acordar no dia seguinte. - Aqui em Kanto todos as formas de mídia são fortes, mas acabam se complementando quando falamos de concurso. -

 

— Kanto tem uma forma exagerada para com os coordenadores. Qualquer coisa que os deixe em evidência para o público está valendo. - Disse a mãe. - É como se a imagem feita antes contasse como algo importante para a apresentação. - A mãe disse pensativa. - Basta ver aqueles que estão na frente agora que percebesse que há uma ideia sobre isso. Amora, Rachel, Blue, Rodolfo, Mauricio… -

 

— Mauricio está na frente? -

 

Mirian não teve como conter a curiosidade. No fundo ela se perguntava se era armação da mãe falar de Maurício em concursos para poder manter o papo e encaminhar para o assunto que precisavam, mas, ainda assim, era uma grande surpresa que seu melhor amigo estivesse se saindo bem.

 

— Bem… Eu confesso que estou desatualizada na quantidade de fitas de cada um, mas na última vez que olhei, a um mês atrás, antes de sair de Jotho para vir atrás de você, cada um deles tinha 3 fitas e sempre iam para a segunda fase. -

 

A mãe fez uma pausa vendo o quanto a filha ficou pensativa com aquilo. Estaria ela sentindo-se pequena perto deles, especialmente do melhor amigo ou seria apenas o assunto que estava a incomodando.

 

— Mas... Sse nada mudar, o vitorioso será Rodolfo. - Disse a mãe a fim de encerrar o assunto e evitar que a conversa tomasse caminhos inusitados.

 

Mirian ficou olhando a convicção da fala da mãe e tentou lembrar-se de Rodolfo nos concursos. Aquele jovem de pele bronzeada e olhos amendoados que em beleza perdia apenas para Kenan Kornox, o campeão da Liga Pokémon de Kanto. Não sabia muito das habilidades dele, tirando o fato de ser esforçado. Mas, resolveu deixar de lado, já que aquela era uma vida a qual ela não queria mais ter.

O único problema era que para deixar aquilo tudo para trás, precisava acertar as coisas com sua mãe, pois tudo o que estava preso era sobre concursos.

 

— Mãe. A sua fita premium, a Fita da Vida, é falsa. –

 

O silêncio tomou conta do quarto novamente por alguns instantes. Mirian encarava a mãe que a encarava de volta. Finalmente Mirian havia tomado coragem para começar a conversa definitiva e a iniciativa havia sido dela própria. No entanto, ambas ficaram mudas em seguida esperando que a outra quebrasse o silêncio, mas acabou que ele foi quebrado por batidas na porta.

Esboçaram estranheza com o ocorrido. Ainda não era tarde, umas nove e meia da noite, no máximo. Mas, não esperavam por ninguém, principalmente porque as únicas pessoas que sabiam que elas estavam ali era Angel, que estava em hotel por falta de vagas e o Editor, que já deveria estar longe.

 

— Bati apenas por causa da luz acesa. Mas, posso esperar até amanhã para falar com você. -

 

Mirian arregalou os olhos perplexa. Aquela voz não poderia e nem deveria estar ali. Talvez sua mente pudesse até pregar peças em outros momentos, mas não havia como confundir.

 

Não pode ser ele! Não tem como ser ele! O que eu falo para minha mãe? Como vou explicar para minha mãe… Mirian parou a caminho da porta olhando a mãe, tão assustada e apreensiva quanto ela.

 

— Você está bem mãe? - Questionou Mirian parando junto a porta. - É só o… -

 

— Conversamos amanhã Kornox. Já estamos deitadas! -

 

A mãe falou alto da cama fazendo Mirian ficar estática. A jovem sabia quem estava ali fora devido a voz, nunca esqueceria a voz do rapaz mais bonito que ela conheceu, especialmente se ele foi uma das pessoas mais interessantes e diferentes que conheceu. E principalmente porque a voz estava sempre na televisão em entrevistas como o campeão da Liga Pokémon. Mas, como a mãe sabia que era ele? Como sabia reconhecê-lo só pela voz? Por que a mãe ficara tão assustada?

Foi um movimento brusco e inesperado. Mirian girou a chave e rodou a maçaneta na esperança de encontrá-lo ainda próximo a porta, querendo começar a ganhar o corredor do centro. Mas, a surpresa fora grande quando a porta se abriu e um vulto saltou para dentro do quarto fechando a porta rapidamente e apoiando-se na placa de madeira como quem quisesse garantir que nada mais passaria por ali, mesmo que forçasse passagem.

Mirian e a mãe se assustaram, mas puderam ver os cabelos loiros, os olhos azul esverdeados, o pingente de K pendurado, as roupas azul e preta oficiais de batalha que ele adotava quando em jornada. Mas, viam uma expressão de susto e apreensão no rosto dele e o dedo indicador da mão esquerda esticado diante os próprios lábios como quem pedia silêncio.

 

“Eu ouvi alguém falar Kornox! Tenho certeza!” e vozes passavam pelos corredores a passos rápidos.

 

A vida de campeão deve ser complicada. Sempre sendo assediado e seguido pelas pessoas. Quando minha mãe gritou o nome dele as pessoas enlouqueceram, talvez ele estivesse muito bem oculto e se eu não tivesse aberto a porta seria atacado pelos fãs e não teria paz. Mirian ficou a olhá-lo enquanto ele parecia se concentrar no que acontecia do outro lado da porta, mais exatamente no corredor. Foram alguns minutos até que a agitação terminou e tudo voltou ao silêncio inicial no centro.

 

— Querida, talvez queira colocar um dos roupões que estão no banheiro. -

 

A mãe disse de repente fazendo Mirian piscar e olhar inicialmente para Kenan que mantinha o olhar voltado para cima e apontava para ela. Ela olhou para si mesma e pode perceber que a blusa rosa de alças não estava exatamente justa em seu corpo e assim um de seus seios quase se revelava.

Arregalando os olhos Mirian protegeu-se com seus braços preparando-se para correr para o banheiro e então travou, antes de se virar. Encarou a mãe por alguns instantes e voltou-se para Kenan.

 

— Como conhece minha mãe? -

 

Um silêncio se fez no quarto. Não houve menção de Mirian de desviar os olhos de Kenan nem mesmo um único segundo. Um sorriso simpático e enigmático surgiu no rosto de Kenan que começou a caminhar pelo quarto, em direção ao banheiro e de lá voltou com um roupão já aberto indicando que ajudaria a vesti-la.

 

— Desculpe os modos de minha filha, Kornox. Ela passou por momentos difíceis e estressantes. - Disse a mãe ainda na cama.

 

Enquanto a mãe tentava justificar os modos da filha o jovem loiro acompanhou o movimento de cordo de Mirian de passar os braços pelo roupão aberto que ele segurava e logo depois afastar-se dele fechando o roupão, contendo com a faixa.

 

— Não se incomode com isso Wanda. Adoro esse modo de ser que Mirian apresenta. - Ele sorriu sentando-se no puff. - Confesso que temi que ela tivesse sido quebrada dentro reformatório, mas vejo que já está inteira novamente. -

 

A mãe, Wanda Miller, fez um gesto para o jovem campeão que Mirian pegou no mesmo instante. Mirian encarou a mãe que aquietou-se.

 

— Grato por me socorrerem do perigo que me colocaram ao gritar meu nome. - Ele sorriu. - A sua pergunta novamente é a mais interessante possível. Em vez de me perguntar o que vim fazer aqui, ou o que quero, perguntou de onde conheço sua mãe diante até mesmo a urgência de proteger-se contra olhares mais ousados da minha parte. - Ele levou a mão ao bolso de sua jaqueta azul de onde tirou um pequeno estojo. - Talvez até fosse a mesma pergunta que sua mãe faria, mas tenho certeza que ela deve imaginar que na sua passagem por Tin, minha cidade natal, acabamos por nos conhecer. - Ele de posse do estojo em mãos encarou Mirian novamente. - Mas, desta vez qualquer pergunta que tivesse feito teria a mesma resposta, esta resposta! -

 

Mirian viu o pequeno estojo de joias ser aberto e revelar uma fita de concurso. Uma genuína e brilhante fita premium, uma Fita da Vida.

 

Mirian encostou-se na parede e olhou da mãe para Kenan e de Kenan para a mãe sem saber o que estava realmente acontecendo.

 

— Filha… Eu sei que você pegou minha Fita da Vida quando saiu de casa, talvez como amuleto. E sei que foi presa como falsificadora pela fita ser falsa. - A mãe suspirou. - Eu vi você pegando a fita em casa, mas não tinha ideia de que você iria ser acusada de falsificação por estar com uma fita falsa. Muitas pessoas levam fitas falsas com elas. -

 

Mirian viu a mãe se levantar da cama e ir até Kornox que ainda estava com o estojo aberto. Ela tomou o estojo em suas mãos, com os olhos brilhando e quase marejados.

 

— Então você sabia que sua fita era falsa todo esse tempo? - Mirian ficou espantada. - E porque não me disse nada? Por que mentiu para mim esse tempo todo? -

 

A conversa finalmente tinha iniciando-se. Mirian pensou diversas vezes que seria uma briga e uma choradeira por parte de uma das duas, mas esperava que estivessem sozinhas e não sendo assistidas por alguém importante como um campeão de liga pokémon que ela sequer entendia o que fazia ali.

 

— Por que eu não queria que odiasse seu irmão por isso. - Comentou a mãe deixando um momento a fita de lado e olhando para a filha. - Seu irmão saiu pelo mundo deixando-a sozinha para cuidar de mim e eu sei que você o odeia por isso. Então, um final de semana em que você estava com Maurício seu irmão voltou e trocou minha Fita da Vida, original, por uma falsa. Ele achou que eu não vi e quando tentou ir embora acabou confessando que ou levava a fita ou morreria e iriam atrás de nós duas. -

 

Mirian sentiu as forças das pernas falharem, o chão se aproximou lentamente. Agradeceu por já estar com as costas apoiadas na parede, pois assim apenas escorregou por ela enquanto um turbilhão de coisas passou por sua cabeça.

Ela passou cinco meses questionando-se se a mãe realmente tinha a enganado e por vezes pedia para que ela a tivesse feito isso mesmo. Duvidar da pessoa que mais amava no mundo era terrível e confirmar que suas suspeitas eram infundadas a destruíam. Sentia-se uma péssima filha. Mas, pior do que duvidar de sua mãe era descobrir que seu irmão havia causado aquilo tudo.

 

— Um ano atrás sua mãe entrou em contato comigo explicando o que havia acontecido e perguntando-me se eu poderia ao menos registrá-la no Hall da Fama de Kelly Kornox. Bem… Eu demorei para confirmar que minha mãe havia dado uma fita a ela durante o Concurso de Sucessão. - O loiro pareceu distante. - Minha mãe não era de anotar muitas coisas e descobrir para quem ela deu a fita foi complicado. Felizmente pude achar um vídeo desse acontecimento um mês atrás. Então, tentei entrar em contato, mas fiquei sabendo que ela estava no hospital e que a filha, Mirian Miller, estava perdida em Kanto. -

 

— Foi assim que você ficou sabendo que eu estava presa? - Questionou Mirian.

 

Wanda observou os dois jovens rapidamente e imaginou se a filha e eram mais que amigos.

 

— Demorei umas semanas para descobrir onde te trancaram e quais as acusações reais. - Kenan olhou para Wanda. - Mexi alguns pauzinhos para ela ser liberta, mas o motivo de ninguém ter ficado sabendo sobre a prisão dela e tantos direitos dela aparentemente terem sido negados você sabe. -

 

Naquele momento Mirian percebeu que a mãe tentou fazer um gesto para Kenan ficar quieto. Ela percebia que a mãe não queria que ele falasse sobre algo, mas o gesto foi a prova concreta.

 

— Obrigada por me inserir no Hall da Fama e por ajudar minha filha. - Wanda disse. - Aqui, sua fita. -

 

Kenan riu levantando-se e balançando a cabeça.

 

— Minha mãe a reconheceu. Quero que fique com uma original. Só mantenha longe das mãos de seu filho. -

 

Wanda deixou que as lágrimas começassem a rolar. Era uma fita importante, uma fita que mostrava o quanto ela poderia ter sido grande. Mas, assim como para um treinador que recebe uma insígnia como prova de seu valor ao vencer um ginásio, um coordenador ao vencer um concurso recebe uma fita como prova do seu valor. A prova do seu valor não pode ser substituída, se pudesse achar a fita perdida a aceitaria com muito prazer. Uma outra, por mais valiosa e igual, só seria uma outra.

 

— Não posso aceitar. - Disse ela finalmente estendendo o estojo de volta a Kornox. - Por mais valiosa que seja, a minha tinha um valor sentimental. Eu só queria ser inserida no Hall. -

 

Kenan sorriu. Levantou-se sacudindo a cabeça indicando que entendia e então olhou para Mirian que ainda parecia surpresa com tudo. No final, sua mãe não havia mentido para ela e toda a raiva que estava sentindo era desnecessária.

 

— Ou aceita a fita ou conto tudo sobre o Lado Sombrio para Mirian e o que eles fizeram com você! -

 

Os olhos de Wanda mudaram. Ela em instantes já estava entre Mirian e Kenan, com um dedo em riste encarando o jovem loiro a frente. Havia uma conversa com o olhar entre os dois.

 

— Você parece gostar da minha filha, então não se atreva a fazer isso ou ela vai morrer! -

 

Mirian arregalou os olhos, surpresa com a atitude e fala da mãe.

 

— Não se preocupe! - Kenan disse começando a ir em direção a porta. - Fique com a fita, proteja e basta que Mirian faça como você, ficar longe dos palcos para não morrer. -

 

A porta foi aberta enquanto Wanda ainda fitava Kenan e segurava fortemente o estojo. No entanto, a mãe não percebia que nesse tempo todo Mirian ficara calada.

 

O que é o Lado Sombrio? Por que eu morreria ao saber disso e o que ele fez com minha mãe?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam desta aparição?