Paparazzi escrita por Kyra_Spring


Capítulo 2
Capítulo 1: Névoa




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E mais uma vez eu começava o ano num colégio novo.
O ritual era sempre o mesmo. Entrar ao som do sinal, sentar-se numa cadeira do fundo, ouvir as aulas e torcer para, nesse meio-tempo, passar o mais despercebido possível. Talvez houvesse uma ou outra diferença, considerando que eu estava começando o ensino médio, mas já estava resignado a não ter nenhuma mudança. O que mudaria, afinal de contas? Eu ainda era o forasteiro, o intruso. Alguém que não deveria estar ali.
Como sempre, meus fones de ouvido me deixavam alheio a tudo. Naquele dia, chovia. Era uma chuvinha fina, morosa e chata, do tipo que dura por semanas. “Uau, isso tá tão Crepúsculo”, pensei comigo mesmo, entediado. Escola nova, lugar chuvoso, um monte de gente estranha que me encarava como se eu tivesse antenas... sim, eu era praticamente uma Bella Swan da vida.
Quando o sinal tocou, eu já estava na sala. A professora representante ensinava geografia. Não era uma professora ruim. E ela não me obrigou a me levantar e me apresentar a todos, o que já foi muito bom. Mas, durante a aula, eu prestava mais atenção nos olhares e cochichos que as pessoas ao meu redor fazia, e já começava a entrar em pânico. Será que eles já sabiam? Quem teria contado, e por que? Eu só queria ser invisível, passar despercebido. Aos poucos, me obriguei a me acalmar. É claro que ninguém sabia de nada, eles só me encaravam porque eu era o novato, nada além disso. Assim que se acostumassem a mim e eu deixasse de ser “a novidade”, eu teria a invisibilidade que desejava tanto.

Então, veio o intervalo. Saí da sala rapidamente. Como estava chovendo, percebi que estava confinado aos corredores, então comecei a caminhar por entre eles e observar as salas e divisões. Nada surpreendente. Ali estava a sala do diretor, a enfermaria, a biblioteca, o laboratório... pelo menos descobri que havia um clube de fotografia, o que já era uma vantagem em relação aos últimos dois colégios nos quais eu havia estudado.
Por fim, acabei me cansando. Por que diabos todos me encaravam? Será que eu parecia tão anormal assim? Resolvi ir para o pátio, onde provavelmente não haveria ninguém para ficar me medindo com os olhos. Agora, além da chuva, havia uma névoa fraca, pela qual fui até grato. Pelo menos com ela ninguém iria perder seu tempo tentando olhar para mim.
Bem, o dia não estava sendo um desastre completo, pelo menos. Não havia do que reclamar.
Ou talvez eu estava me permitindo ser otimista cedo demais.
Percebi vagamente que alguém entrava pelo portão correndo e xingando alto. Ele estava usando um moletom escuro e o capuz lhe cobria o rosto, então não vi quem era. Mentalmente, porém, eu o censurava. Que lindo, chegar atrasado logo no primeiro dia de aula. Se havia alguém que eu apontaria como o irresponsável oficial do colégio, seria aquele cara.
Pare com isso, Roxas. Guarde o veneno para depois.
O intervalo terminou, e foi sucedido pelas aulas da tarde. Tudo na mesma. Pelo menos os professores continuavam não me pedindo nenhuma apresentação, e a chuva havia parado. Logo, a aula terminou. Coloquei os fones, como sempre, e saí, olhando para baixo, sem dar importância a quem estava à minha volta. E assim foi até o momento em que eu cheguei ao portão e...
- Ei, moleque, sai da minha frente!
Me virei e saí do caminho, apenas uma fração de segundo antes de um cara gigante sair pisando forte. Claro, como todo bom estereótipo, ali precisava haver um valentão, também. Com isso sobe para dois o número de pessoas que tenho que fazer um esforço extra para evitar. A primeira era o cara relapso que havia chegado com mais de duas horas de atraso.
Segui o resto do caminho a pé. A escola não ficava longe da minha casa, e eu não era tão desorientado a ponto de me perder no meio do caminho. Mas, alguns metros à frente, percebi que meus planos de evitar pessoas começavam a falhar miseravelmente. Sentado num banco, estava o mesmo cara de capuz que havia chegado atrasado. Ele não parecia perceber que euestava ali, apenas escrevia algo numa folha de papel. Prestei atenção nele. Em volta do capuz, era possível perceber mechas de cabelo muito vermelho. Ele usava um anel com um desenho de chama vermelha, e tamborilava com os dedos no banco.
E então, vi o que ele escrevia. Aquilo era uma partitura?
- Dá pra sair da frente? Você tá bloqueando a luz – então, ele disse, sem levantar os olhos.
- O quê? – pisquei – Ahn... desculpe.
Droga. Mais uma vez, tudo o que consegui fazer foi baixar a cabeça e dar as costas. Aquela reação era quase automática para mim, eu já estava acostumado a isso. E, geralmente, depois disso tudo voltava ao seu normal e eu voltava à minha vida normal e sem interferências externas.
- Ei, não, espere aí!
Isso era diferente. Qual é, ele tava me chamando? Me virei, e ele me encarava. Pude ver seu rosto com mais clareza. Os olhos eram verde-claros, o rosto era estreito, e ele me encarava como se estivesse se perguntando se eu tinha fobia social ou algo assim. Por fim, ele disse...
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- Ei, você não é aquele carinha que estava no pátio do colégio hoje mais cedo?
Aquele dia estava sendo um fiasco absoluto. Comecei chegando atrasado, levando um esporro da diretora, descobrindo que o professor representante é o mesmo maldito que quase me reprovou em história no ano passado e fugindo da escola o mais cedo que pude. Só me dei conta de que não tinha nada melhor para fazer (e que definitivamente não queria voltar para casa) quando já estava longe e resolvi terminar a música na qual estava tentando trabalhar há quase um mês.
Foi então que ele apareceu. Era um garoto loiro, olhos azuis, um rosto meio pálido, usando fones. E me encarava de uma forma muito estranha, como se estivesse com medo de mim ou algo assim. Lembrei-me que havia visto ele quando estava chegando na escola. Ele estava sozinho, no pátio. Era um novato, sem dúvida. Estava quase escrito na testa dele.
- S-sim – por que diabos ele estava gaguejando?
- Desculpe, eu não queria te assustar – ele não devia ser normal, mesmo, então comecei a falar de uma forma bem lenta e pausada – Meu nome é Axel. E o seu?
- Roxas. E não precisa falar comigo como se eu fosse um débil mental – ele respondeu, irritado. Dessa eu tive que rir, pelo menos consegui despertar alguma reação nele.
- Desculpe. E... você ainda está na minha frente.
- O quê? – é, ele ainda estava na minha frente – Ah, droga, desculpe! Hum... até mais... eu acho.
- Até mais.
Ele foi embora. Foi uma conversa estranha, sem dúvida. Isto é, se realmente podemos chamar aquilo de conversa. Provavelmente, não nos falaríamos mais. Ele parecia ser o tipo de cara que passava todo o tempo livre dele com a cara em algum livro, ou fazendo algo melhor do que simplesmente vagabundear (coisa na qual eu era o maior mestre).
Ou talvez não. Quem sabe...
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Então o nome dele era Axel.
Eu não sabia o que pensar sobre ele. Ele não parecia ser alguém ruim, mas também não parecia levar as coisas muito a sério. Não sei, ele só parecia... diferente. Não era como os outros babacas que estudavam comigo nos outros colégios. Mas como eu podia saber isso, se havia conversado menos de cinco minutos com ele?
Aliás, esse era o meu maior problema. Analisar e julgar as pessoas depois de cinco minutos de convívio. E era exatamente isso que tinha me levado até ali...
“Chega”, disse para mim mesmo. Eu sabia o rumo que aqueles pensamentos iriam tomar, e faria o possível para impedir que eles chegassem ao seu destino final. Continuei o meu caminho para casa, concentrando-me na música (aliás, aquilo que eu vi na mão dele era mesmo uma partitura?).
E, quando eu cheguei, olhei para o quadro logo em frente à porta. A mesma marca rasgada para a qual eu olhava todos os dias. O que era para ser uma forma de esquecer, havia se tornado uma forma incrivelmente dolorosa de sempre se lembrar.
Sempre se lembrar... sempre sentir...
“Fique quietinho, Roxas”, aquela voz me preenchia. “Fique quietinho e ficará tudo bem. É só uma lição... só uma lição que alguém tem que aprender...”
E eu sabia o que vinha depois. A dor de cabeça, quase cegante. E todas as lembranças que vinham e queimavam, e provocavam uma dor tão intensa que chegava a ser física. Precisei me apoiar na parede para não cair. E doía, doía...
- Roxas! – ao longe, ouvi a voz da minha mãe, e senti as mãos dela me aparando. Ela sabia o que eu sentia, e já estava preparada. Enquanto me apoiava, colocava duas aspirinas na minha boca, quase empurrando-as garganta abaixo.
Ela sabia o que eu sentia, mas não sabia como fazer parar. Até porque o que ela sentia... era pior.
- Isso precisa parar – ela sussurrou, enquanto me levava até o sofá e tirava meus sapatos – Isso precisa parar... Roxas...
E, à medida que o remédio foi fazendo efeito, a dor foi dando lugar ao cansaço. E foi tudo sumindo em meio ao silêncio e à névoa de memórias desconexas e dolorosas que eu caí no sono.
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Notas finais do capítulo

Bem, gente, é isso. Eu preciso de um retorno, por favor. Me dêem a opinião de vocês, e podem apostar que eu lerei e responderei cada review com todo o carinho. Espero que estejam gostado, muito obrigada pela atenção, beijos a todos e até a próxima!



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