Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 60
Raquel - tentando ser racional




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Em casa, sozinha, Raquel ligou para Ana, precisava conversar com alguém antes de tomar uma decisão definitiva. Queria ser racional, pesava os prós e contras, porque, sabia que ter um filho significava perder Otávio e Vitor, que teria que assumir grandes responsabilidades sozinha. Sentiu uma intensa ânsia e correu para o banheiro, ajoelhou-se junto ao vaso e vomitou.

— Você é tão pequenino e já está dando este trabalho todo – falou para a sua barriga, depois, levantou-se, foi até a pia, lavou a boca e o rosto, encarando sua imagem no espelho, estava pálida e abatida, os cabelos desgrenhados, sem maquiagem, não era nem a sombra da antiga Raquel.

Quando, a campainha tocou, ela sabia que era Otávio. Ele não podia ter chegado em pior hora, considerou não atender, mas, passou a mão no cabelo, sem vontade de se arrumar e foi até a porta. Ele entrou, deu um leve beijo em seus lábios e a observou.

— Você não parece bem – Otávio disse, em um tom tenso. – Como foi no médico? Os exames deram alguma coisa?

— Não, eu estou melhor. Ele acha que é só uma virose, passou alguns remédios e disse que vou ficar boa logo – mentiu, com falsa casualidade.

— Que bom! Eu já estava ficando preocupado.

— Não precisa se preocupar, vai ficar tudo bem. Vem aqui! Quero ficar um pouco com você. Por favor, me dê um abraço, preciso de você.

— Eu vou cuidar de você – ele falou, com ternura, afastando o cabelo do rosto dela, então foram para cama, apenas para dormir, abraçados.

Na manhã seguinte, Otávio levantou cedo para trabalhar, Raquel voltou para o seu apartamento, se preparar para o trabalho, tomou um banho, enrolou-se em uma toalha felpuda e foi até seu closet, escolheu um conjunto de lingerie e, quando, ia colocá-lo, reparou em sua imagem refletida nos espelhos do lugar, então, parou e olhou-se, passando a mão em uma barriga inexistente. Havia tomado uma decisão, telefonou para mãe.

— Mãe, eu decidir que vou ficar com o bebê, haja o que houver!

— Se é isso que você quer, Raquel, por mim, está tudo bem. Mas, já contou para o pai?

— Não, ainda não, quero ter um pouco mais de tempo com Otávio.

— Você precisa, minha filha. Ele tem que saber que será pai, mesmo que não queira.

— Mas, ele vai me deixar, mãe!

— Raquel, até quando você acha que vai poder esconder isso?

— Não sei! Estou insegura, sei que, em breve, a minha barriga começará a aparecer, não terei muito tempo.

Para complicar ainda mais, Vitor havia voltado ao trabalho, em um ritmo mais lento, a rotina voltava ao normal. Sendo assim, em pouco tempo, ele iria querer retomar aos antigos costumes com Raquel, as visitas furtivas e o sexo ocasional. E, como ela esperava, no meio do dia, recebeu uma mensagem dele avisando que iria ao apartamento àquela noite. Vitor já se sentia melhor e a queria de volta, mas não encontraria a mesma mulher que deixou para trás meses antes. Atualmente, era alguém que viveu uma intensa história de amor e estava grávida de outro homem. Portanto, hoje seria o dia que acabaria com aquela história, definitivamente, para o seu próprio bem e do seu filho.

Talvez, perdesse o seu emprego, mas, pelo menos, estaria garantida por algum tempo, depois, daria um jeito, usando o dinheiro guardado pela mãe da venda da casa do seu pai até encontrar um novo emprego e se estabelecer. Por vingança, Vitor poderia acabar com sua reputação no mercado de trabalho e, possivelmente, ficaria muito difícil arrumar outro emprego nesta área. Já que não pretendia usar o recurso da chantagem, ameaçando contar para a esposa dele, pois, talvez, ela também ficasse com raiva e poderia dificultar a vida profissional de Raquel.

 Naquela noite, antes de Vitor chegar, andando de um lado para o outro, indócil, treinou várias maneiras diferentes de começar a conversa, mas não conseguia escolher um modo mais ameno, para terminar com o relacionamento entre eles, enquanto seu estômago se revoltava, só esperava não vomitar no momento decisivo. Ainda, lembrou-se de mandar uma mensagem para Otávio, pedindo que não fosse na sua casa, naquela noite, esperar até ela ir ao encontro dele.

Minutos antes do horário marcado, Raquel aguardava, ansiosa, remexendo as mãos, queria que Vitor chegasse logo, para acabar com aquela história, o mais rápido possível, colocar um ponto final em tudo aquilo, mudar a sua vida. Até ouvir, ela ouviu a chave girando na fechadura, seu coração bateu mais rápido, chegou o momento, não haveria mais volta. Vitor entrou como se aquela fosse a sua casa, dirigiu-se a ela e beijou, levemente, seus lábios, como de costume, porém, Raquel pressentiu algo estranho naquele beijo, permaneceu impassível, esperando o melhor momento, para começar a falar, contudo foi ele quem começou sentando se no sofá, ao lado dela.

— Precisamos conversar, Raquel – Seu tom era muito sério, encarando-a direto nos olhos.

A cabeça de Raquel começou a girar, rapidamente, imaginando mil possibilidades. Será que ele descobriu algo? Ou vai quer se separar de Vera para ficar comigo? Seu coração acelerou, sentiu o ácido do estômago chegar na sua garganta.

— Sim, Vitor, precisamos conversar – confirmou, pois estava pronta para ouvir o que ele veio falar.

— Eu não sei como começar, então serei direto. Hoje, eu vim aqui para dizer a você que temos que terminar nosso relacionamento — Ele segurou mãos dela para reconfortá-la, Raquel ficou chocada, seu queixo literalmente caiu, pois nunca esperaria por isso.

— O quê?

— É isso que você ouviu, precisamos nos separar. Vera descobriu tudo, esperou que tivesse alta para me confrontar.

— Vocês vão se separar? — Raquel indagou, em um sussurro, ansiosa com a resposta.

— Não de jeito nenhum! Ela sabe que eu estou tendo um caso, mas não desconfia com quem, também, não quer saber, só exigiu que eu termine com tudo, agora. Ela precisa de mim na empresa e eu preciso dela...

— Como ela soube? – Raquel teve que se segurar para não rir, demonstrando o seu alivio.

— Os brincos de brilhantes que eu havia comprado durante a nossa viagem. Ela os encontrou na minha mala, quando eu tive o infarto e desconfiou que poderia ser um presente para outra mulher. Então, esperou até que os médicos me dessem alta e me confrontou. Eu estou ainda fragilizado por todo o meu problema, não tive coragem para mentir e confessei. Ela não fez escândalo, não brigou. Apenas, exigiu que eu terminasse tudo, senão pediria o divórcio, eu concordei. Como eu falei, depois do infarto, fiquei mais precavido e cuidadoso, não quero enfrentar um divórcio desgastante, não sei se suportaria. Além disso, descobri que Vera é uma mulher dedicada e muito paciente, ficou ao meu lado nos piores momentos.

— Eu não sei o que dizer, Vitor – O semblante dela era de dissimulada tristeza.

 — Sei que é muito triste terminarmos assim. Eu lamento, Raquel! Não quero que sofra, pois, com o tempo, você vai esquecer. Você é tão jovem e bonita.

— Sim, eu estou muito triste, mas entendo sua situação, Vitor. Assim mesmo, fico feliz por você e Vera e sei que vou superar — Raquel mentiu, querendo continuar a farsa.

— Você sempre foi uma boa pessoa, contudo não poderá mais viver aqui, o apartamento é da empresa, alguém poderá desconfiar e Vera ficará sabendo sobre você. Fique, até conseguir outro lugar para morar. – Ele queria parecer indulgente, porém, no fundo, estava a expulsando de lá, apesar de sentir uma pontinha de mágoa, Raquel pensou que seria a melhor solução.

— Tudo bem – falou, compreensiva, sabendo que teria mesmo que se mudar de lá, quando a gravidez começasse a aparecer, assim nenhum dos dois saberia.

— Adeus, Raquel! – Vitor beijou seu rosto e levantou-se, colocou as chaves do apartamento sobre a mesa. – É melhor, eu deixar isso aqui. E não se preocupe com seu emprego, nada mudará. Adeus, sentirei saudades – Caminhou até a porta e saiu, sem beijo de adeus.

No elevador, Vitor e Otávio se encontraram, um entrando e o outro saindo, encarando-se com o olhar duro, sem se falarem. Otávio foi direto para casa de Raquel, entrando pela porta destrancada.

— Acabou! – Raquel disse, relaxada, esparramada sobre o sofá, assim que viu Otávio entrar.

— Bom – Um grande sorriso surgiu no rosto dele.

— A mulher dele descobriu que ele tinha um caso, mas não sabe que eu era a amante. – Ela confessou a verdade.

— Então, não foi você que terminou?

— Eu ia terminar tudo hoje, já estava decidida, mas ele começou e deixei que acabasse. Acho que foi melhor assim – Raquel concluiu, com tranquilidade da certeza, assim os dois ficariam bem, principalmente, no trabalho, pelo menos até que Vitor descobrisse sua gravidez.

— Talvez, seja mesmo melhor assim. Não importa quem terminou agora poderemos ficar juntos sem empecilhos.

— Eu vou ter que me mudar de apartamento.

— Você pode se mudar para aqui ao lado.

— Não, é muito cedo, Otávio.

— Raquel, eu aprendi que a vida é muito curta, que a qualquer momento, podemos perder as pessoas que amamos. E aí, você não fica se perguntando, porque você não aproveitou a companhia daquela pessoa por isso pretendo valorizar cada minuto como único.

— Otávio, não posso morar com você.

— Por quê? Nós nos damos bem. Você até gosta do meu gato.

Então, Raquel respirou fundo, fechou os olhos, era a hora de falar a verdade.

— Otávio, estou grávida de um filho seu. — Ela confessou e abriu os olhos, encarando-o, esperando pela pior reação dele.

— Um bebê?

— Sim, estou com quase três meses.

— E é por isso, que você não quer morar comigo? Porque você vai ter um filho meu? – Otávio parecia confuso com aquela lógica.

— Você não quer mais filhos — respondeu, como se fosse óbvio.

— Quem disse isso? – Agora, ele estava zangado, com aquela mentira

— Você! – Ela respondeu, direta.

— Eu? Quando eu disse isso? – Otávio estava perdido, sem entender, porque Raquel pensava isso dele.

— Quando você contou sobre sua filha e disse, que não queria mais isso.

— Raquel, você entendeu tudo errado! – Ele sorriu, relaxando. – Claro que eu quero mais filhos. Só não quero mais aquele tipo de sofrimento. Eu amava minha filha, ela me fez uma pessoa melhor, no pouco tempo que viveu.

— Mas, nós mal nos conhecemos! Foi tudo tão rápido!

— Raquel, nós vamos ter um bebê e você vem com essa história, que mal nos conhecemos, acho que está um pouco tarde para isso, não é mesmo? – Otávio falava, em um tom divertido, achando graça dos medos dela. — Além disso, eu me apaixonei por você desde o dia em que a encontrei, chorando no corredor. Até usei o gato para me aproximar.

— Usou o gato?

— Aquela história de pedir para você alimentá-lo, foi para me aproximar, eu poderia ter deixado o gato na veterinária. Quando você se ofereceu para fazer um favor e eu tinha que viajar, aproveitei a chance.

— Espertinho!

— E então, você e meu filho vão mudar para aqui ao lado? – Ele se aproximou, envolvendo-a em um abraço e tocando em sua barriga.


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