Cirela escrita por Roberta Pereira


Capítulo 3
Capítulo 3




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Isabela acabara de chegar à escola, e já se encaminhava para a sua sala. Como sempre, entrava na escola muito tempo antes da sua aula começar; podia então conversar com seus amigos, ler um pouco, jogar joguinhos de Alpacas no seu celular, terminar a lição que não teve tempo de completar na noite anterior... Chegar mais cedo quase sempre rendia algo. Entretanto, essa manhã, ela era uma das primeiras a entrar na sua sala, era uma segunda. As janelas estavam fechadas, as cortinas cobriam a luz do lado de fora, apenas um filete de luz iluminava o ambiente. Só havia uma única pessoa lá.

Com a cabeça deitada sobre os braços na mesa, Ciro estava adormecido. 

Ela se aproximou, pisando leve no chão, tentando ao máximo não acordá-lo. Nem sabia o motivo de estar fazendo esse esforço, nunca havia se preocupado com isso. Mas afinal, qual o problema daquele piso? Era muito oco! Fazia um estrondo a cada passo que ela desse, não importava se ela estivesse quase flutuando de tão fraco que seus passos eram. Quando cruzou a sala e enfim chegou a sua carteira, colocou sua mochila atrás da cadeira e se sentou, respirando aliviada. 

Abriu minuciosamente o zíper da sua mochila, retirou o livro que estava lendo de lá e começou a ler; até que reparou que estava na mesma frase havia um minuto. Virou e encostou-se no apoio de braço da cadeira, e tentou retornar a leitura. Quando chegou no meio da página, não fazia mais ideia o que aquelas palavras expressavam. Ela só conseguia prestar atenção em uma coisa.

Involuntariamente, tentou acompanhar a respiração lenta do colega na sua frente. Seguia os movimentos do torso dele, até seus pulmões ficarem completamente confusos e começar a puxar ar desregulamente. Com todo o seu movimento, seu livro escorregou da sua mão e caiu no chão. O que foi aquilo, uma explosão? 

Isabela fechou os olhos com força, temendo que Ciro olhasse para ela e ficasse assustado em ter uma única pessoa o observando na penumbra. Passados alguns segundos, abriu as pálpebras lentamente, e o encontrou com os olhos semi-abertos. 

"Droga!"

—B-bom dia? - Isabela pronuncia as únicas coisas que vem na sua mente. O outro ri. 

Ele se levanta e se estica, bocejando.

—Bom dia! - Esfrega os olhos, sorrindo. - Por que está aqui tão cedo?

—Eu sempre chego a essa hora, por que você está aqui tão cedo? - Sorriu.

—Eu precisei vir mais cedo. Quer dizer, eu acho que não precisava, eu estava dormindo.

Ela entrou em silêncio, olhando para seu livro no chão, enquanto entrava num transe temporário. Ficou um tanto constrangida pelo acontecido. Isso para ela era algo muito esquisito, afinal, acordou o garoto e ele ainda provavelmente tinha percebido que ela estava encarando-o.

“Por que tudo está tão bizarramente e assustadoramente estranho nos últimos dias?!”

—Você deixou cair isso. – Ciro pega o livro do chão e entrega para ela, esfregando a sujeira da capa. – Tá tudo bem? – Perguntou, analisando seu rosto pensativo.

Em resposta, começou a mexer a cabeça em sinal positivo, rapidamente.

—Ah, sim, claro, tudo. Obrigada. – Isabela afirma.

Ciro sorriu, levantou da sua cadeira e se dirigiu para fora da sala. Ao perdê-lo de vista, Isabela respirou aliviada por ele ter ido embora. Nunca tinha sentido o ar tão pesado antes! Guardou o livro de volta na mochila, pretendendo não lê-lo de novo aquela manhã, aquele dia, aquele ano. Cenas como aquela jamais deveriam ser permitidas de novo.

Puxou do seu bolsinho especial seu celular. Pretendia mandar mensagens para os amigos, pra disfarçar e evitar qualquer conversa que ele pretendesse puxar sobre o que ela estava fazendo. Nem se fosse para ficar olhando para a tela inicial e avaliando os aplicativos. Mas antes que pudesse pensar em quantas estrelas dar para a Calculadora, Letícia e Roberta entraram na sala.

—Que escuro é esse, credo. – Letícia reclama, acendendo todas as luzes. – Nem pra ligar as lâmpadas quando chega, Isabela.

—OLÁAA – Roberta entrou saltitando. – Acabei de ver o Ciro saindo daqui um sorrisinho SA-PE-CA! O que estava rolando nesse escurinho, hein?? – Sorriu maliciosamente, animada pela resposta.

—Eu não sei... É... Tava um clima pesado. Só isso que eu consigo pensar. – Isabela respondeu, desligando a tela do aparelho.

—Mais pesado que a Roberta impossível. - Leticia gargalhou. – Desculpa, foi inevitável.

—Hilárias suas piadas sobre meu peso. – Roberta desdenhou, em resposta. – Mas explica logo isso, meu coração de shipper não aguenta.

—Calma, não aconteceu nada. Só ficou um clima estranho mesmo.

—É bom que não tenha nada mesmo. – Letícia falou. – Você sabe o que eu acho sobre você ter qualquer tipo dessas relações com outras pessoas.

—Sim, eu sei. Eu também acho que é meio ridículo a gente ficar pensando em namoro agora. Mas e aí, o que... – Isabela disse, tentando mudar de assunto.

—Como você é chata. – Roberta interrompeu, chateada. – É legal shippar os dois, eu não tô nem aí pro que as duas pensam.

As três amigas continuaram a conversar, trocando de assunto. Algumas outras pessoas chegaram à sala, conforme o horário de aula se aproximava mais. Até que Oscar também entrou e se aproximou da cadeira de Isabela, pedindo às meninas para conversarem à sós.

—Mas que droga, você tá mesmo pedindo pra gente parar nossa conversa pra você? – Letícia perguntou.

—Acho melhor deixarmos. – Roberta sorriu. – Vamos ver se tem lição, se tiver você vai me passar.

As duas se retiraram da sala, deixando os dois amigos sozinhos. Oscar sentou-se na carteira em frente da Isabela. Ficou em silêncio por alguns segundos, apenas olhando para cada detalhe do rosto dela. Observou seus cachos perfeitos que caiam sob o ombro; para seus olhos castanhos brilhantes; noticiando cada músculo que...

—Oscar? O que foi? – Isabela perguntou, abrindo um pequeno sorriso.

—Ah... na verdade, não é nada de mais... Eu só queria te perguntar se...

Um barulho impede-o de continuar sua frase. Alguém coçou a garganta perto deles.

—Ei. – Uma voz pronunciou em seguida, chamando a atenção dos dois. – O que estão falando? É importante?

—Oi Gustavo! O Oscar estava me dizendo alguma coisa, mas não terminou.

—O que você quer Garcia? – Oscar perguntou completamente ríspido. – Estamos numa conversa importante.

—Eu preciso... –Gustavo começou, não sabendo o que precisava. Só tinha certeza que queria tirar o amigo dali. – Falar com você.

—Agora eu não posso. Já falei que é uma conversa importante. – Oscar se levanta.

—Eu tenho certeza que a minha é mais que a sua. Vamos, agora! – Nervoso, ele responde.

—Escuta aqui, eu não sou-

—Ok, ok, calma, por favor. Olha, por que vocês não vão pra sala de vocês, que daqui um minuto o sinal vai tocar. Tá bom? – Isabela interrompeu a briga eminente, mostrando o relógio para os dois. – Oscar, depois da aula, fala primeiro com ele e depois você vem e pergunta o que quiser pra mim, tá?

Os dois afirmaram com a cabeça, silenciosamente.

 


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Notas finais do capítulo

risos rs



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