Hello Sunshine! escrita por Allan Ortiz


Capítulo 2
Uma garota sabe a hora certa de se desculpar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/723733/chapter/2

Fazia quarenta minutos que estavam andando pela escola e o assunto passou de refeitório para quadra de esportes, depois piscina e em seguida corredor das salas de aula. Owen não queria parecer um total veterano estupido para a garota nova, mas ele simplesmente não conseguia sentir-se à vontade com a presença daquela menina, talvez Vanille estivesse fazendo aquilo de propósito. 

Será? 

Aquele ano sua preocupação deveria ser apenas Yale, seu objetivo de vida, se cada ser humano possui uma missão na Terra, ingressar em Yale era a de Owen, e ele não iria parar por nada. Se tudo corresse como o planejado ele e Rhys entrariam e poderiam ficar juntos para o resto da vida, talvez precisasse de algum esforço por parte de Rhys, afinal seu namorado não era do tipo que buscava as coisas sozinho. 

Owen nasceu em Newport e foi criado ali junto com Rhys e Constance, os três eram melhores amigos desde sempre e não conseguiam ver suas vidas sem ter um ao outro, isso era algo impossível. Aos doze anos, no aniversário de Constance, Owen e Rhys deram o primeiro beijo e começaram a namorar naquele mesmo dia. Pode parecer loucura, mas deu muito certo, pois estão juntos até hoje. Desde então Owen passou a planejar passo a passo de seu futuro, embaixo de sua cama existe uma caixa com o passo a passo de toda a sua vida, um desenho onde ele e Rhys estão de mãos dadas na formatura do ensino médio, uma planta do campus de Yale e onde poderá estar seu possível dormitório. Um rascunho de seu discurso como orador da turma, as possíveis perguntas para a entrevista com o reitor de Yale e alguns pertences de Rhys. Basicamente o loiro não conseguia fazer planos sem incluir seu namorado neles, um não poderia viver sem o outro. Por sorte o universo estava a seu favor. St. Matthews High School oferecia cartas de recomendação para apenas dois alunos que desejassem entrar em Yale, e como o universo estava sorrindo para o loirinho, ele e Rhys eram os melhores candidatos, pois ninguém mais de toda St. Matthews iria ousar tentar. 

— E esta é a saída. – Disse Owen agradecendo a Deus por aquilo ter terminado. Poderia ter sido mais divertido, mas a ruiva não falava muito e pelos corredores as pessoas só olhavam para ela. Ele geralmente poderia colocar a culpa nas roupas, mas ambos estavam de uniformes. 

— Nós somos vizinhos, poderemos ir juntos para casa. – Vanille tinha uma voz angelical, mas Lúcifer também era um anjo.  

— Eu prefiro morrer. — Disse Owen, assustando-se em seguida e balançando a cabeça em negativa. — Quer dizer... Eu preciso correr, tenho alguns formulários de Yale para preencher. — Apressou o passo, estava praticamente correndo, seus olhos iam de um lado para o outro, em busca de um ser divino que ele pudesse chamar para que o ajudasse a se livrar daquela menina. 

— Que ótimo, também pretendo entrar em Yale. – O coração de Owen parou naquele instante e ele estava prestes a sofrer seu primeiro AVC aos dezessete anos de idade. 

— Infelizmente Saint Matthews High School oferece cartas de recomendação para apenas dois alunos que pretendem entrar em Yale. – Deu uma pausa. Ele não queria parecer um completo cretino, afinal a menina não tinha culpa de ter sonhos impossíveis. – E os dois alunos já estão escolhidos. – Deu um sorrisinho doce e simpático, seu cabelo loiro estava mais seco do que o necessário devido a maresia, mas ele não ligava, só esperava que um carro atropelasse Vanille ali mesmo, ele estava sufocando. 

— Bom, talvez este ano abram uma exceção para uma terceira pessoa. Já pensou na sua entrevista? o que vai dizer? Tenho trabalhado minha vida toda para isso. – Vanille falava de maneira afobada para tentar acompanhar os passos de Owen que iria vomitar na próxima esquina, mas para sorte do garoto o motorista de Constance surgiu com a loira dentro do carro do outro lado da rua. Mais uma prova de que o universo estava a favor dele e que Deus realmente existia. 

— Com licença. – Owen tele transportou-se para onde Constance estava e entrou em seu carro. 

 

••

 

Vanille Le Roux veio da França apenas com seu pai, pois sua mãe havia ficado lá. Ela não sabia muito bem o motivo e também não perguntava, além de não ter questionado muito o motivo da mudança repentina, a única informação que importava era a escola que iria ingressar e quais as melhores universidades da América. Foi fácil encontrar a informação na internet, pois quanto mais aclamada é a escola, mais informação é encontrada. Owen e Constance estampavam a página como alunos modelo da instituição, Owen havia ajudado refugiados da Síria com um programa de apoio e Constance se destacava com os eventos criados pela mesma. Seu último evento foi um desfile de moda com peças de Vera Wang, patrocinado pela Vogue e com direito a primeira página na revista e no New York Times. 

A ruiva sabia de tudo isso e com as informações que tinha não poderia ser tão difícil se enturmar, pois nunca teve muitos amigos em sua antiga escola e as pessoas se afastavam com frequência. Apesar de não estar constando em sua ficha curricular, seu histórico de vida inclui drogas, álcool, vandalismo nas ruas e roubo de lojas a mão armada. Ela não estava armada, mas seu ex namorado sim, estavam em um grupo de quatro pessoas quando assaltaram uma loja de conveniências e roubaram algumas cervejas e salgadinhos das prateleiras. Tudo só por diversão. 

Como foi largada por Owen depois da escola a garota decidiu tomar um rumo diferente na direção para casa. O porto de Newport não ficava muito longe dali e naquele início de tarde o Sol estava bastante quente, vários barcos chegavam com as pescas do dia e aquela era uma visão bastante tranquilizadora. Alguns barcos estavam à venda na margem, mas chamou sua atenção a imagem de um garoto que escolhia seu preferido de longe, ele estava fumando um cigarro e vestia um moletom, mesmo no calor. O rapaz moreno lembrava um pouco seus amigos da França e talvez tenha sido este o motivo de ela ter focado seus olhos nele por quarenta segundos, sem pestanejar a ruiva caminhou até lá. 

— Tem um cigarro? – Perguntou sentando-se no apoio de madeira ao lado dele. O garoto retirou uma carteira amassada do bolso e em seguida um cigarro para a garota, ela o levou até a boca encarando-o para esperar uma próxima reação, mas nada aconteceu. – Eu preciso de fogo também, se não se importa. – Ele riu baixinho e acendeu o cigarro de Vanille utilizando o fogo do seu próprio. 

— Desculpe. – O rapaz voltou a olhar para os barcos. – São lindos, não são? – Apontou para o último do lado direito. – Eu comprei aquele ali. – Era um barco de cor azulada e um pouco descascado, não o mais bonito, mas combinava com seu estilo. 

— Não é o mais bonito, mas aposto que tem um motivo especial. – Ela notou que o rapaz estava com a gravata do uniforme da St. Matthews por baixo do moletom e presumiu que ele estudava lá. – Vai na festa de hoje? – Perguntou Vanille para o estranho. – Já tem um par? Se é que essas coisas de par ainda existem por aqui. – Riu da própria piada enquanto tragava o cigarro. 

— Eu não sei se existe par para os bailes daqui, mas eu já tenho. – Deu uma pausa. – Eu preciso fingir que vou com uma pessoa, mas na verdade eu vou com outra. – Respirou fundo. – Você é a menina nova? Vanille? – Perguntou soprando a fumaça pelo nariz. 

— A própria. – Sorriu ao dizer. – E qual é a do barco? Por que comprou? – Estava realmente curiosa com a história do rapaz, talvez ele fosse seu primeiro amigo. Ou mais que isso. 

— Minha família espera que eu seja bom em alguma coisa para me ajudar no futuro, não sei bem como isso de futuro funciona. – Tragou novamente seu cigarro. – A propósito, me chamo Rhys, seja bem-vinda a St. Matthews. – Rhys levantou-se e esticou a mão para ajudar a garota a se levantar. – Talvez você possa ser meu par de mentira, se não se importar. – Deu seu sorriso amarelo para a garota e jogou a bituca de seu cigarro no chão. 

— Claro, será um prazer fingir ser seu par. – Vanille levantou-se e retribuiu o sorriso. 

 

••

 

A organização para a festa estava indo muito bem e como o planejado, a única coisa que estava bastante fora do comum era o estado da organizadora que vestia uma roupa toda suja de tinta e mantinha lantejoulas e papel picado presos no cabelo crespo. 

— John, a sereia precisa ficar no centro, aí não é o centro. – Falou Constance cambaleando até a sereia de vidro que estava posicionada na direita. A decoração era com a temática aquática, os papeis no teto davam as luzes o efeito de estar no fundo do mar, e os peixes flutuavam de um lado para o outro, havia um castelo de aquário em tamanho humano no canto direito do salão e estrelas do mar estavam espalhadas como poltronas pelo espaço bem iluminado. – John, sabe onde deixei o polvo gigante? Ele precisa parecer estar atacando o navio pirata, pode ver para mim por favor? – Pediu educadamente marcando um “Ok” em sua lista de deveres para a festa, e o item “Sereia de vidro” estava Ok. O restante dos itens estava em branco. 

— Está divertido? Deve ser muito bom ficar na escola mesmo depois do final da última aula. – Roger chegou com uma prancha embaixo do braço, estava usando um macacão de surf que deixava seus músculos mais visíveis no corpo. Constance virou-se com o susto e precisou readequar seu ar com os pulmões, pois não esperava ver Roger naquela roupa. 

— Realmente não é divertido. – Deu de ombros. – Mas é o que eu sei fazer. É como você com o surf. – Apontou para a prancha dele. Felizmente (ou não) Roger estava seco. 

— Mas o surf é divertido. – O rapaz abriu um sorriso de canto. 

— Este é um bom argumento. – Constance cruzou os braços e enrijeceu os olhos. – Mas por que veio aqui? Não veio ajudar, suponho, porque até onde eu sei a praia fica para o outro lado. – 

— Sobre o seu convite para o baile, bem... – Roger não era muito de festas da escola. Desde que sua mãe passou a namorar o pai de Owen a sua vida mudou bastante, pois ele não era exatamente o tipo de cara que faz planos para a vida toda, afinal de constas ele já fazia o que amava, surfar. O rapaz aprendeu a surfar com seu pai antes de sua morte, e aquilo foi realmente um choque, é como se ele conseguisse se comunicar com o pai enquanto está no mar, uma conexão que ainda permanece. De início negou o convite para o baile por pensar que estaria traindo seu pai não indo à praia, mas um dia de aula foi o suficiente para fazê-lo mudar de ideia e agora pediria para que Constance o acompanhasse. 

— E aí gata, preparada para hoje à noite? – Um dos jogadores de basquete aproximou-se de Constance e a agarrou pela cintura, beijando sua boca e fazendo com que as pernas da menina amolecessem com o tal comportamento. Roger perdeu todas as palavras que diria em seguida e ficou os vinte segundos do beijo olhando a boca dos dois se unificarem em uma só. – E aí cara, beleza? – Perguntou o pegador que interrompeu o pedido de Roger. – Surfa? – Disse olhando para a prancha. 

— Não, é que já estou pronto para a festa e essa é a minha fantasia. – Respondeu em tom de ironia. Constance riu. 

— O que ia me dizer, Roger? – A garota ainda estava entre os braços do rapaz estranho. 

— Bacana a decoração, meus parabéns. – Falou e olhou ao relógio. – Preciso ir, até mais e bom baile. –. 

 

••

 

Estar preso dentro de um quarto se arrumando para a festa de início das aulas costuma ser uma tarefa divertida para a maioria. Brianna Redfield já havia separado a fantasia perfeita para Owen e Rhys, e o loiro já a guardava em perfeito estado fazia um mês dentro de um espaço separado dentro de seu closet. Constance SaintClaire usaria um vestido baseado na princesa Ariel de A pequena sereia, mas não tão armado. E Vanille Le Roux um vestido mais justo de cor preta.  

O Sol estava se despedindo de Newport e isso indicava a hora de ir para o baile, mas para Roger Estheim esta era o melhor horário para surfar. 

A campainha da mansão vitoriana de Rhys tocou e os barulhos de salto alto pelo corredor ecoaram pelo quarto do rapaz, ele precisaria ouvir sua mãe dizer que estava orgulhosa pelo filho ter chamado uma garota para o baile que não fosse a Constance. Desde que ele começou a namorar Owen era este o plano, Constance fingia ser o par romântico para o baile de Rhys e quando chegassem lá deveria encontrar Owen esperando em algum local marcado. Naquela noite o ponto de encontro seria na sereia de vidro. Brianna recebeu Vanille e Rhys conseguiu ouvir os cumprimentos exageradamente formais, ele enrolou tempo suficiente para ouvir sua mãe se dirigir até seu quarto enquanto Vanille esperava na sala. 

— Filho, muito linda a garota, mas achei que iria com a Constance. – Brianna Invadiu seu quarto enquanto Rhys ajeitava a gravata com certa dificuldade. 

— Vanille é nova na escola e precisava de um acompanhante. – Respondeu saindo dali em seguida. Ele estava bastante ansioso para se encontrar com a garota, assim que desceu os primeiros degraus da escada e conseguiu ver a ruiva parada em frente à sua porta com aquele vestido, os seus olhos se arregalaram. Rhys namorava Owen desde os doze anos, mas ainda assim ele sentia uma certa atração carnal por garotas, talvez isso fosse normal. 

— Está muito bonita. – Na verdade ele queria dizer gostosa, mas não seria apropriado. 

— Pode dizer que estou gostosa. – Falou Vanille enganchando seu braço no dele, sua maquiagem escondia um pouco as sardas de seu rosto, mas ela adorava aquelas pintinhas e fazia questão de mostrar ao mundo.  

— Você está muito gostosa. – E os dois saíram. 

Pegaram o carro e seguiram em direção até a escola, Rhys não se lembrava da última vez que havia dado tanta risada, com Vanille ele podia rir e falar sobre coisas que não consegue com Owen ou com Constance, talvez pudesse se aproximar de Roger, mas eles não tinham tanta intimidade. Com Vanille era diferente, a garota contou sobre sua história na França e da vez que roubaram as cervejas de uma loja, também contou sobre as brigas e as intrigas, onde morava o melhor traficante da cidade e da vez em que conseguiu ficar mais chapada. Ela era exatamente o tipo de amiga que Rhys estava precisando e estava feliz por ter encontrado. Por alguns minutos ele conseguiu não pensar em Owen. 

Beberam duas garrafas de cerveja cada um no caminho até a escola, e quando o assunto perdeu um pouco de ritmo Vanille sentiu-se à vontade de perguntar mais sobre a vida do garoto. Até porque a cerveja havia acabado. 

— Então, pode me contar quem é o par verdadeiro, mocinho? Qual o nome dele? – Quis mostrar que ela havia notado sobre a sexualidade de Rhys, mas também queria deixar claro que ele poderia confiar nela. 

— Bom, é o Owen, já deve ter visto. – Rhys ficou um pouco sem graça, mas mesmo assim sentiu-se à vontade para falar. – Eu o amo, muito, ele é o amor da minha vida. Mas minha família não pode saber, eles me matariam. – O garoto respirou fundo e tentou esconder a frustração. – Pretendo contar depois que terminar o ensino médio, quando for para a faculdade. – Os dedos batiam um a um no joelho direito, em um ritmo perfeitamente calculado. 

— Pretende ir para a faculdade? – Vanille lembrou-se de sua conversa com Owen, sobre Yale e tudo mais, era óbvio que ele queria arrastar Rhys para Yale junto. Vanille não pode deixar de pensar no azar de Rhys por ter Owen acima de tudo em sua vida, aquilo a incomodava. 

— Bom, Yale. – A voz de Rhys falhou com a resposta, na verdade ele não havia parado para pensar em mais opções e aquela escolha havia partido de Owen. 

— É uma ótima faculdade. – Vanille sorriu. 

 

••

 

— Rhys está demorando. – Owen esperava impacientemente embaixo da sereia de vidro ao lado de Constance. – Será que ele derrubou café na calça de novo? – Bufou e cruzou os braços com a espera, olhando incontáveis vezes a hora em seu celular. 

— Quem liga para o Rhys? Eu não aguento mais o Michel atrás de mim! – Constance já havia fugido de seu acompanhante pela quinta vez, mas ele sempre a encontrava. – Só porque eu dormi com ele uma vez, ele acha que pode segurar em meus peitos! – Constance protestou e bebeu um longo gole de seu ponche. 

— Ninguém mandou você recusar o convite de meu irmão e trocar por um cara do time de basquete com quase três metros de altura. – Owen pegava seu celular do bolso enquanto falava, iria mandar a oitava mensagem para Rhys. 

— Do que você está falando? – Constance virou-se para Owen, sua pele negra reluzia com as luzes daquele salão, e as cores do vestido da princesa Ariel davam um destaque que a fazia ter luz própria. – Mas ele nem... – Então ela lembrou-se da visita de Roger e do momento embaraçoso com o Michel aparecendo de surpresa. – Então era por isso que ele havia aparecido hoje mais cedo... – Constance respirou fundo e olhou para a saída. – Preciso ir, depois nos encontramos. – Ela beijou no rosto de Owen e sorriu para o melhor amigo. – Você o chamou de irmão? – E então Constance saiu, o que era bastante normal a anfitriã deixar a sua própria festa sozinha no primeiro dia. 

— Postiço. – O loiro corrigiu-se, ignorando o fato de que a anfitriã estava se retirando. 

Trinta minutos de espera se passaram e Rhys estava atrasado. Mas vê-lo chegar com risadas escandalosas ao lado de Vanille foi o suficiente para fazer Owen se desencostar da sereia de vidro e se dirigir até a saída enquanto revirava os olhos. Qualquer estudante de Saint Matthews em sã consciência saberia quando o garoto ficava bravo, e os passos pesados que seguiam em direção a saída chamavam uma certa atenção.  

— Owen, onde você vai? – Perguntou Rhys quando viu seu namorado cruzar o caminho oposto até a saída. 

— Onde você estava? – Owen estava com os olhos direcionados em Vanille, se ele fosse o ciclope dos x-men aquela menina estaria morta. – Era para você vir com a Constance, como o combinado! Sabia que tinha algo de errado quando vi ela chegando sozinha. – Owen notou que Vanille estava um pouco bêbada e que Rhys tinha seus dedos enganchados nos dela. 

— Esta é Vanille, passamos no Riverfront para comprar isto. – Ergueu uma caixa de cerveja na mão direita. – Festa de escola não tem bebida alcoólica, então achei que poderia ser mais divertido. – Revirou os olhos novamente e agradeceu a deus por não estar armado naquele momento.  

— Eu sei quem ela é. – Owen olhou nos olhos de Rhys e enquanto fazia isso esperava deixar claro que não gostava daquela menina. – Mas cansei de esperar e estou indo embora, divirtam-se. –  

Rhys segurou o braço de Owen com força, foi o suficiente para fazer com que o menino parasse por alguns segundos e então o olhasse nos olhos. Todos naquela escola poderiam dizer que Owen Roberson estava com raiva, e os fofoqueiros comentavam isso em voz alta. Mas Rhys Redfield o conhecia, e aqueles três segundos congelados foram o suficiente para que entendesse que na verdade, aquele olhar de Owen significava a mais profunda decepção. 

 

••

 

O vestido de Constance voava com o vento enquanto ela caminhava descalça pela areia da praia, segurava suas sandálias na mão direita e com a esquerda erguia a bainha para que a calda do vestido não tocasse no chão. Era bastante perigoso surfar a noite, mas a garota sentiu uma necessidade enorme de se desculpar com Roger pelo ocorrido mais cedo, mesmo que isso significasse sair da própria festa. 

Não foi muito difícil achar o rapaz, visto que era o único surfando naquele horário. O vento batia na nuca de Constance e seu cabelo crespo era iluminado pela lua. Estava bastante frio para estar ali, mas mesmo assim poderia ficar horas assistindo Roger dançar com as ondas. Era um prazer enorme estar ali, sentou-se sobre uma pedra e deixou que aquele momento a vestisse com a mais pura paz, respirou fundo e apoiou a palma de suas mãos sobre na areia, enquanto via o irmão de seu melhor amigo sair das águas como um tritão e caminhar na sua direção. 

— A festa estava tão ruim assim? – Roger estava com a prancha embaixo do braço, seus olhos focalizaram a silhueta perfeita de Constance na praia, como um anjo vestido em roupa de princesa. 

— Eu devo desculpas a você. – Soltou-se da pedra e foi caminhando no encontro de Roger, de alguma forma aquela parecia ser a coisa certa a fazer. O surfista parecia ser a única coisa boa diante de toda aquela imensidão escura e infinita do oceano.  

— Acho que deve desculpas ao cara que deixou sozinho lá na festa. – Roger andava como se soubesse o que estava fazendo, levou as mãos até o cabelo para tirar o excesso de água e fez com que o canto direito de seus lábios se curvasse em um sorriso sedutor. 

— O Michel vai entender. – Constance chegou perto o suficiente para perceber as gotas de água escorrer do rosto ao peitoral de Roger, ela nunca havia notado como ele era bonito e gentil. – E aqui parece estar mais divertido. – Seu coração passou a bater de uma forma que antes nunca havia acontecido. 

Roger segurou a loira pela cintura e fechou os olhos. O vestido molhou-se com as ondas e a prancha caiu ao chão quando o beijo aconteceu. Constance segurou-se na nuca do rapaz e naquele momento ela não sentia apenas a boca dele tocar a sua, pela primeira vez ela sentiu seu coração viver. 

 

••

 

Owen não havia fugido para casa, mas sim para o píer. Não achava ser justo o que estava acontecendo, mas percebeu que talvez pudesse ter sido um pouco egoísta. O loiro já parou para pensar algumas vezes em como seria a sua vida sem Rhys e aquele era um exercício impossível. Ele sabia a comida preferida do garoto, sua cor favorita, seu programa de televisão predileto, banda que mais gostava, música que mais ouvia, a quantidade de comida que Rhys coloca no prato, e a forma como ele odiava fechar todos os botões de uma camisa polo. Sabia que a maneira que o garoto pegava em um garfo e levava até a boca era incorreta, da dificuldade de fazer um nó de gravata perfeito. Sabia que Rhys sempre pulava a faixa número seis do American Idiot e que as vezes ouvia Sum41 de madrugada. Owen poderia saber mais coisas sobre Rhys do que o próprio Rhys, e isso não era um exagero. 

Sentiu seus pulmões gritarem por ajuda e respirou fundo, poderia começar a chorar a qualquer momento, então abraçou o próprio corpo e fixou seus olhos na direção do oceano pacífico. Aquela vista era muito mais movimentada durante o dia, onde poderia ver pescadores navegando e trabalhando, mas durante a noite era algo intenso e poético, as estrelas refletiam no mar em um diálogo perfeito.  

A primeira lágrima escorreu e Owen foi obrigado a secar com a manga de sua camisa de pirata, naquele momento não se importava mais com a fantasia, na verdade ele só queria ir para casa. 

— Por que é sempre no píer? – Ouviu a voz mais familiar do mundo, mas não se virou, na verdade permaneceu em silêncio. – Eu nunca vou fazer nada para magoar você, Owen Arthur Roberson. – Rhys apoiou seu queixo no ombro de Owen e segurou sua mão direita. – Eu te amo e você é o amor de minha vida, quero que saiba que não queria estar com mais ninguém neste momento a não ser com você. – Rhys beijou o pescoço do loiro e o abraçou pelas costas, em seguida o fez virar o rosto para que suas bocas pudessem se tocar. Era como a melodia de uma canção, seus lábios dançavam em um ritmo lento e doce, do jeito que deveria ser. – Espero que tenha espaço para velejar nesta sua agenda cheia. – Falou durante o beijo. 

— Como assim? – Owen afastou-se curioso, mas já estava sorrindo novamente. Ver o sorriso de Rhys e perceber que ele escondia algo mexeu com o ponto fraco do garoto, a curiosidade. – Você comprou um barco? – Perguntou sem esconder a animação, dando um longo beijo na boca do namorado enquanto o abraçava. 

— O que acha de esperar o Papai Noel no meio do oceano? – Rhys apontou para o pacífico diante dos dois. – Sei que vai estar frio, mas temos uma cabine quentinha no barco e aquecedor, você pode fazer nossa comida com os peixes que eu pescar. – Owen adorava cozinhar e inventar receitas novas, se considerava um bom cozinheiro e nas festas de fim de ano já era praticamente tradição deixar o peru para que ele temperasse e assasse.  

— Mas você não veleja já faz uns dois anos, Rhys! – Owen protestou, lembrou-se de quando Rhys aprendeu a velejar com o pai, depois disso o loiro nunca mais viu seu namorado tão feliz novamente. Já haviam saído para o mar algumas vezes, mas nunca durante muito tempo. 

— Eu preciso ser bom em alguma outra coisa além de amar você. – E os dois se beijaram novamente. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, espero que gostem ♥ e comentem por favor.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hello Sunshine!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.