Hello Sunshine! escrita por Allan Ortiz


Capítulo 3
Uma garota sabe muito bem escolher a cor certa.




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Duas semanas que as aulas haviam começado e mesmo com um certo desequilíbrio as coisas pareciam ter voltado ao normal. Talvez nem tanto se por acaso uma certa vizinha ruiva francesa e com sardas estiver sorrindo e dando oi para o seu namorado por todos os lados dos corredores da escola, ou ainda se esta vizinha for da sua turma em metade das aulas. Mas são apenas detalhes dispensáveis, no momento a maior preocupação de Owen é com sua torrada no café da manhã. 

— Seu pai ligou e eu disse que estava tudo bem. – Martha surgiu na cozinha com uma nuvem de incenso que se espalhou pela casa toda, Owen precisou torcer para que ninguém da região chamasse os bombeiros. Ela estava parecendo uma múmia no vestido que usava, além do rosto de defunto que tinha devido aos remédios. – Dispensei os empregados hoje, portanto terá de me ajudar com as tarefas de casa. Corte de custos. – Owen olhou para ela com olhos de sono. Era óbvio que aquele papo de corte de custos não funcionava. 

— Claro, se eu te ajudar significa: eu fazer tudo enquanto você assiste novelas antigas na televisão como faz todas as vezes. – Abriu um sorriso simpático e esnobe, coisa que apenas este loiro conseguia fazer. – Cadê o Roger? – Perguntou em seguida. 

— Seu irmão ainda está dormindo e irá surfar a tarde, por isso não pedi para que ele ajudasse. – Martha pegou um panfleto de cima da mesa para ler. – O que é isto? –. 

— O Condor da Califórnia está em risco de extinção. – Owen explicou o panfleto e levantou-se da mesa em um salto. – Assim como esta família. – E dirigiu-se para seu quarto com sua panqueca na mão direita. 

Era um caso rotineiro as tarefas de casa e Owen não ligava em ajudar, mas era bastante explicito o que estava acontecendo ali. Seus pais se divorciaram quando ele tinha nove anos, sua mãe foi para Nova York com outro homem e dispensou Owen totalmente dizendo que não teria tempo de cuidar do filho, deixando-o com seu pai, Arthur. Na época não foi tão ruim, mas Avery Roberson nunca ligou para saber se estava tudo bem, o único contato que ambos tinham era pelas redes sociais, mas não era o suficiente. Para piorar a situação seu pai casou-se com uma bruxa má e trouxe um irmão ogro de brinde, Roger Estheim. 

Owen sempre quis que seus pais fossem felizes, mas aceitou a separação muito bem, pois na época ele só tinha nove anos e não queria separar-se de Rhys e Constance que eram seus melhores amigos. Porém, quando Martha Estheim começou a ganhar espaço ele precisou repensar várias vezes sobre aparecer em frente ao apartamento de sua mãe com as malas prontas. A madrasta adorava dar tarefas domésticas para o enteado e fazia-se de vítima para o marido, dizendo que seu filho Roger era um pobre coitado que cresceu sem ter o que Owen sempre teve, e que Owen trata seu irmão muito mal e precisa aprender mais sobre os verdadeiros valores da vida. Uma troca muito justa. 

— Então este é o irmão de plástico? – Disse uma menina com uns quinze quilos acima do peso saindo de dentro do quarto de Roger. A mistura do cheiro do quarto de Rhys com o cheiro de incenso era algo surreal. 

— Ai meu Deus. – Disse Owen sem reação. A menina estava enrolada em uma toalha e com o cabelo parecendo os galhos de uma árvore, enquanto Roger vestia apenas uma cueca branca destacando sua ereção. – Ai meu Deus. – Disse novamente. 

— Irmãozinho, esta é.... – Ele olhou para a garota. – Como é mesmo o seu nome? – Estava envergonhado e sem jeito, e de alguma forma a garota dos quinze quilos parecia gostar deste comportamento. Ela mordeu o queixo de Roger e alisou os músculos de seu peitoral. 

— Se esqueceu, é melhor ficar sem saber, peixão. – E então a garota deu um beijo de sete segundos na boca de Roger e saiu dali.  

— Martha, onde está o desinfetante? – Disse Owen. 

 

••

 

Depois de meia carteira de cigarros e dois baseados, Vanille queria entender o motivo de sempre ir para a escola pelo caminho do porto. Desde o baile ela não havia conversado com Rhys e esperava encontrá-lo próximo ao seu barco. 

Talvez este fosse o motivo. Afinal os olhares e cumprimentos no corredor não são o suficiente, é preciso atitude. 

Mas naquela manhã algo não estava normal com os barcos atracados no mar, o que pertencia a Rhys estava alguns metros a mais para a direita, isso significava que ele havia navegado recentemente e que talvez ainda estivesse lá. Só havia uma forma de descobrir, Vanille estacionou seu carro próximo dali e caminhou na direção do barco. 

Sem camiseta e com uma garrafa de cerveja nas mãos o rapaz surgiu de dentro da cabine do comandante acenando para a garota, abriu um sorriso de orelha a orelha e então olhou no relógio. 

— E aí. – Cumprimentou. Para qualquer um que entende da situação, é fácil perceber que Rhys também não estava cem por cento sóbrio. – Eu vi você de uniforme e me lembrei que preciso ir para a aula. – O rapaz abriu um dos armários do barco, retirando os restos de um uniforme escolar, começando a se vestir ali mesmo. 

— Se quiser eu dou uma carona. – Vanille apontou para o carro enquanto nem se dava ao trabalha de disfarçar os olhos em Rhys se vestindo para a escola. – Mas antes me diga o que estava fazendo. –  

— Escolhendo a cor. – Rhys ergueu duas latas de tinta para mostrar sua intenção de pintar o barco. 

— Azul marinho. – Opinou Vanille. 

— Mas acho que Owen iria gostar mais do creme. – Respondeu Rhys. 

— Até nisso ele controla a sua vida? – Vanille bufou e revirou os olhos. Rhys ficou em silêncio e terminou de se vestir. 

— Estou pronto. – Engancharam-se nos braços um do outro e caminharam pela areia em direção ao carro da ruiva. 

 

••

 

As aulas começaram de forma diferente naquele dia, St. Matthews reuniu todos os alunos no pátio para dar uma informação importante. Ninguém sabia do que se tratava, talvez seria a abertura de algum novo pavilhão ou queriam anunciar alguma doação de famílias importantes. 

Constance estava ao lado de Owen, ambos mantinham o olhar fixo na diretora Dinah VanMortter esperando não tão ansiosos pelo anúncio. 

— Roger estava com outra garota hoje de manhã. – Disse Owen sem olhar na direção da melhor amiga, tentando fingir um interesse naquele anúncio, mas sem sucesso. 

— Ok. – Respondeu Constance com o olhar fixo na diretora, estavam testando o microfone e as caixas de som.  

— Como assim, Ok? – Owen virou-se para a melhor amiga perplexo, aumentou o tom de voz. – Você é louca? Não estão juntos? – Os olhos se estreitaram. Por que as pessoas de repente enlouqueceram? 

— O que? – Constance virou-se para Owen, também aumentando o tom de voz e percebendo que algumas pessoas em volta já estavam com os olhares voltados no casal de amigos. – Não! – Deu uma pausa. – Foi só um beijo, relaxa. – 

— Bom dia queridos alunos. – A diretora se pronunciou naquele instante, interrompendo a conversa entre Owen e Constance, mas Owen deixou claro com um olhar que aquele assunto iria continuar. – É com muito prazer que venho anunciar que a St. Matthews High School servirá como ponto de encontro para os reitores de grandes universidades dos Estados Unidos. Será um evento privado apenas para os alunos veteranos da St. Matthews e outras escolas próximas de Newport Beach, iremos recebê-los com muita honra e dedicação, pois temos orgulho de formar alunos prontos para ingressar nestas universidades. – A diretora parecia mais ansiosa do que o necessário. – O evento acontecerá em uma semana e será uma grande oportunidade para os veteranos se apresentarem para os reitores de suas universidades de interesse. – Dinah pigarreou. – Vale lembrar, que os vestibulares serão aplicados em breve e que as notas valerão muito para que ingressem nas instituições que lhe interessam. – Alguns aplausos aconteceram em alguns cantos e então a diretora encerrou. – Obrigada e espero que tenham um ótimo dia de aula. – 

Owen olhou para Constance, parecia um fantasma de tão branco, o primeiro passo para o futuro precisava ser antecipado. Mil maneiras de impressionar o reitor Peter Howard passavam pela sua cabeça.  

— O Condor da Califórnia está em risco de extinção. – O loiro cruzou os braços. – Precisamos de uma festa para arrecadar fundos e ajudar na preservação da espécie. Concorda? – A loira abraçou o melhor amigo. 

— O reitor de Brown vai adorar tanto quanto o de Yale. – Constance comentou. — Eu não sei como essa sua cabecinha funciona tão rápido, você é um gênio. — Constante deu um beijo na testa de seu melhor amigo. 

— Você já está em Brown desde que nasceu Constance. – Owen retrucou. — Literalmente. —  O pai de Constance é amigo de infância do reitor de Brown que prometeu uma vaga para a garota como presente de seu nascimento. Alguns simplesmente tem sorte. 

— Mas eu faço por você. – E de mãos dadas ambos foram para a aula. 

 

••

 

O intervalo estava bastante agitado, os alunos estavam eufóricos com o anúncio mais cedo e só sabiam falar disso. Bem, nem todos. 

— Então estava com outra garota hoje cedo. – Constance surgiu como uma rainha diante dos olhos de Roger que conversava com alguns amigos surfistas. Todos mexeram com a morena que riu e cruzou os braços na defensiva. 

— Eu me esqueci do nome dela. – Comentou Roger encarando os olhos de Constance. Uma clássica forma de provocação. — Mas do seu eu não consigo esquecer, Constance. — Roger parecia bastante provocador quando em grupo, mandou um beijo para a menina levantou-se do banco em que estava sentado. 

O grupo conversava na sombra de uma árvore, o bosque de St. Matthews era famoso por servir de refúgio para alguns alunos, por ser um local calmo e tranquilo. É claro que alguns alunos utilizam deste local para se beijar e usar drogas escondido. 

— Está tudo bem, foi só um beijo afinal de contas. – A garota deu de ombros e sentou-se ao lado de um dos amigos de Roger. – Não é? –Perguntou virando-se para Roger. 

— Claro, foi só um beijo. Nada sério, você é a melhor amiga do meu irmão e nada minha. – Desviou os olhos de Constance e voltou-se para seus amigos. 

— Nada sério. – Ela respondeu puxando um dos amigos de Roger pela gravata e beijando a boca do rapaz com tanta intensidade que seus pulmões pararam de fazer a troca de O² para CO² por alguns segundos. 

 

••

 

Rhys não estava muito ansioso para conhecer os reitores das universidades, afinal de contas Owen iria dar um jeito de colocar os dois em Yale, portanto isolou-se de todos durante as aulas. Mas a ida foi bastante divertida, afinal, Vanille era engraçada, com ela o garoto não precisava se preocupar com todas as coisas que o pressionavam. Mas infelizmente ele não encontrou com a nova amiga durante o dia na escola, e também foi bom ficar longe de Owen naquela manhã, ele poderia dizer que estava ocupado com o barco, o que em partes era verdade, afinal seus planos para a tarde era pintar o barco de azul marinho. 

Em seu bolso estava seu último baseado, precisaria comprar mais a qualquer momento. Não conseguia parar de pensar nas cervejas que estavam escondidas na cabine de seu barco, talvez aquela tarde passasse a ser boa em um determinado momento. Owen jamais aceitaria ajudá-lo a pintar, e também deveria estar pilhado com a visita do reitor e organizando alguma coisa para o evento na próxima semana. Pensou em chamar Vanille para ajudá-lo com a pintura, mas achava que estaria forçando a barra, então resolveu que faria aquilo sozinho. 

Não aguentou esperar chegar até o porto para acender o cigarro de maconha então o fez enquanto caminhava, quando estava se aproximando conseguiu notar uma certa diferença na fileira de barcos atracados no porto. Seu barco não estava lá. 

Rhys correu tão rápido que esqueceu de tragar seu baseado, perdeu o fôlego e quando chegou perto o suficiente percebeu que seu barco estava lá sim, mas de outra cor. 

— Surpresa! – Gritou Vanille saindo de dentro da cabine com o uniforme de Saint Matthews todo sujo de tinta azul marinho. 

— Nossa! – Rhys jogou a maconha no mar e pulou para dentro da cabine. – Ficou muito foda! – O garoto abraçou Vanille tão forte que conseguiu sentir os seios dela em sua barriga, mas ignorou este fato e deu uma risada baixinha. – Não sei como posso agradecer por isso tudo. — 

— Talvez possa dividir comigo aquelas cervejas que achei escondidas lá dentro. – Por dois segundos a garota olhou nos olhos de Rhys e ele retribuiu o olhar. Vanille conseguia conquistar nele algo que Owen não conseguia, um lado selvagem e rebelde. 

— Por isso não vi você na escola hoje. – Rhys abriu duas garrafas de cerveja e entregou uma para Vanille. – Passou o dia todo aqui? – 

— Eu vi o anúncio dos reitores, pulei o muro e corri pra cá. Foi divertido pintar seu barco, ainda mais com aqueles vídeos pornô que encontrei no armário. Pornô gay é muito bom. – A menina deu uma gargalhada e Rhys ficou sem graça. – Mas você precisa ver pornô hétero também. – Vanille deu um longo gole na cerveja. 

— Eu já vi pornô hetero. – Rhys arrotou baixinho e continuou sua frase. – Mas aceito o convite de assistir pornô com você. – 

— E tem outra coisa. – Vanille posicionou-se na cabine com uma postura mais séria. – Quero que conheça os reitores das universidades, tenho certeza de que alguma vai interessar você. – 

— Mas Owen já.... – 

— Owen sabe o que ele quer para ele — Vanille sorriu. – Você precisa descobrir o que quer para você, Rhys. – Vanille deu uma pausa. – Aliás, eu já sabia da visita dos reitores porque meu pai está envolvido no projeto, portanto estou preparando um evento para recebê-los. Já conversei com a diretora e está tudo certo. –. 

— Vou fazer o possível. – Rhys respondeu. 

— Obrigada. –. 

 

••

 

Owen navegava na internet para pesquisar mais sobre o Condor da Califórnia. 

— Sabia que o Condor da Califórnia atinge a maior idade aos seis anos? Não me surpreende estarem quase extintos. Além disso, os machos, por serem maiores e mais fortes, dominam as fêmeas. É tão triste. – E realmente era. 

— Cadê o Rhys? – Perguntou Constance sem encarar Owen. A garotava tentava se concentrar nas revistas para escolher o melhor bufê para o evento. Afinal os dois iriam recepcionar os reitores das universidades, o futuro de ambos estava em jogo. Talvez só o futuro de Owen. 

— Ele me disse que estava pintando o barco novo dele. Mas ele utilizou um ponto final na frase, portanto estou meio receoso. – Deu uma pausa. – E você? Como está com meu irmão? – 

— Você o chamou de irmão de novo? – Constance perguntou rindo, rapidamente encarou Owen e viu que ele também estava rindo. – Bem, hoje ficou claro que o beijo não foi nada sério, porque beijei um cara na frente dele. – Deu de ombros e Owen deu um salto na cama gargalhando. 

— Você o que? – E riu novamente. – Ele deve ter ficado com muita raiva! – O loiro respirou fundo e estalou o pescoço. – Mas não é só isso, minha madrasta está fazendo aquela coisa de empregado da casa de novo. – Parou sua pesquisa por um segundo e abriu sua rede social, olhou rapidamente para Constance e franziu os olhos. – Mas meu pai está voltando para o nosso evento, portanto vou focar nisso. – Enquanto passava pela linha do tempo de seu perfil, Owen notou uma coisa. – Ai meu Deus. –. 

— Odeio quando você fala isso. – Constance fechou a revista e voou na direção de Owen para ver a mesma coisa que ele estava vendo. Tratava-se de uma foto de Vanille com um sorriso doce no rosto divulgando um evento de caridade para recepcionar os reitores das universidades. "Salvem os crustáceos!" Estava escrito em uma caligrafia perfeita sobre um convite dourado e com estampas de conchas marinhas. 

— Ela quer parar com a pesca de crustáceos? Ela é louca? Eu a vejo comprando frutos do mar o tempo inteiro! – Owen deitou-se na cama, claramente passando mal e desejando morrer. Mas seu celular tocou com três mensagens naquele mesmo instante, a primeira era uma foto do barco de Rhys pintado com a legenda “Eu te amo”, a segunda uma mensagem de vídeo de seu pai dentro de um aeroporto “Príncipe, estarei chegando amanhã pela manhã” E a terceira sua madrasta gritando por áudio, “Seu pai chega amanhã e você nem começou a limpeza da piscina! Onde você está? Vou ter que dizer para meu marido o quão malcriado você tem sido?” 


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Notas finais do capítulo

Ps: O Condor da Califórnia realmente está em extinção na Califórnia :(



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