I Want To Be Your Girlfriend escrita por Kyra_Spring


Capítulo 2
You're so fine, I want you mine...




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You're so fine, I want you mine, it's so delicious

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–Gracia, seja sincera comigo. Você me acha bonita? – dias depois, Riza decidiu visitar Gracia Hughes, esposa do tenente-coronel Maes Hughes e uma de suas grandes amigas. Depois de uma ou duas xícaras de chá e de uma conversa pontilhada de amenidades, ela resolveu fazer a pergunta que a levara até lá. Gracia, uma mulher alta e elegante de cabelos curtos e marrons e olhos castanhos, deu uma sonora risada.

–Nunca pensei que ouviria você fazendo essa pergunta! Pode me contar, quem é o cara?

–Que cara? Do que é que você está falando? – Riza respondeu com um risinho inseguro, mas ao ver o olhar profundo da amiga, suspirou e disse – Ah, não dá pra mentir pra você, né? Tá, tem um cara, sim, mas eu não posso dizer quem é.

–E por quê não? – agora, Gracia estava especialmente interessada naquela conversa. De repente, ergueu uma sobrancelha – Ah, não, vai dizer que ele é casado!

Não! – a loura praticamente berrou – Quer dizer, não ainda pelo menos. E é isso que está me deixando maluca. Acho que a noiva dele é uma ridícula, e que eu sou dez vezes melhor que ela.

–É o Roy, não é? Você está de cabelo em pé porque descobriu que ele vai se casar e só agora percebeu que não pode viver sem ele. – e a morena gargalhou sonoramente.

–Pelo amor de Deus, não fale disso com ninguém! – a oficial praticamente implorou – Se alguém sonhar com isso, eu perco com o meu emprego! Se você contar para o Maes, eu juro que...

–Ah, não se preocupe, pela minha boca ninguém vai saber de nada – a amiga dela acenou com a cabeça, tranqüilizando-a – Na verdade, eu sempre desconfiei que você tinha uma quedinha por ele. E agora que ele vai se casar, você percebeu que pode perdê-lo para sempre, não é?

–É isso mesmo, e não sei o que fazer... – Riza suspirou profundamente – Quando ele arrumava uma daquelas namoradas de dois dias, eu nem me importava, mas agora que ele vai se casar, percebi que precisava fazer alguma coisa. É sério, eu preciso tirar a noiva dele de campo.

–Não acha que é um pouco tarde demais, não?

–Antes tarde do que nunca. Tem alguma idéia?

–Bem, na verdade tenho sim. Eles vão jantar aqui em casa no fim de semana. Você pode vir, mas pelo amor de Deus, não faça nenhum tipo de escândalo na minha casa!

–Não, pode ficar tranqüila, eu vou me comportar bem. Só quero conhecer a minha rival, para saber quem eu preciso derrotar.

–Está bem, está bem – Gracia concordou – Quinta, sete e meia da noite. E venha elegante, os pais do Roy também virão e você sabe bem o que isso significa.

–Tá de brincadeira, né? – Riza revirou os olhos, sentindo-se mal de repente – Sabe que a minha história com a família do Roy não é das melhores. Mais especificamente, com uma pessoa da família dele, se é que você me entende.

–É exatamente por isso que você tem que causar uma excelente impressão neles, dessa vez – a amiga foi enfática – Acho que você se lembra do que aconteceu quando vocês se conheceram...

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Oi! Como você se chama?

Ela olhou para o lado, sem entender. Lá estava um garotinho, miúdo, magro e franzino, com uma massa espessa e despenteada de cabelos escuros e olhos negros e estreitos. Ele vestia uma roupa típica de menino almofadinhas: sapatos polidos, calças sociais e camisa branca alinhada. Então, o encarou, e ele estendeu a mão, sorrindo:

Bem, se você não fala, eu falo. Meu nome é Roy Mustang, e vim da Cidade do Norte. E você é...?

Riza Hawkeye, e você acaba de chegar à Cidade Central – ela disse com enfado, e fez com que Roy arregalasse os olhos.

Caramba, quer dizer que você é uma menina

O choque do menino era perfeitamente justificável, porque quem visse Riza não diria, a princípio, que ela era uma garota. Os cabelos louros eram cortados bem curtos, e ela usava short e uma camiseta folgados, tênis grandes, além de um boné com a aba para trá joelhos estavam esfolados, e ela tinha um band-aid no queixo e um estilingue no bolso de trás do short.

Ah, qual é, é tão difícil assim perceber? – mas não pôde deixar de sorrir – Bem, por que você veio para a Cidade Central, cara?

Sou filho de militares, sabe? Qualquer transferência e eu tenho que me mudar, também... é uma droga – respondeu ele, visivelmente aborrecido – É por isso que, quando eu crescer, vou ser jogador profissional de futebol.

Tenho família no Exército também, mas nenhum parente próximo – disse ela, amena – Sempre morei aqui, e garanto que você vai adorar o lugar. Tem muita gente legal morando por aqui, bons amigos de quem você vai gostar.

Vamos brincar? – Roy estava ansioso por brincar com outra criança. Nas últimas mudanças da família, ele morou em lugares onde não havia nenhum candidato a amigo por perto. E agora vinha Riza e dizia que havia várias crianças morando ali...

CLARO! – ela concordou efusivamente, ficando em pé – Vamos brincar de polícia-e-ladrão? Só vou chamar a galera e a gente começa – e disparou rua afora, gritando ao longe – E eu sou o ladrão, tá bem?

Minutos depois, a rua se encheu de meninos e meninas de idades variadas, que formaram uma roda ao redor de Riza. Ela parecia exercer alguma liderança sobre eles, pois dava as instruções da brincadeira e todos acatavam.

Vamos dar ao novato uma boa recepção. As regras são as seguintes: todos vocês têm que me encontrar, e quem conseguir será o próximo ladrão – encarou o menino profundamente – Vamos ver qual é o seu poder de reação, Roy Mustang da Cidade do Norte. Um... dois... três...

Esse é o código pra cada um se preparar para correr – sussurrou um menino ao ouvido de Roy, com um sorrisinho – Ela sempre faz isso, a gente dá dez segundos de vantagem e ela só corre no oito...

Quatro... cinco... seis...

E ninguém pega ela? – Roy estava maravilhado.

Só quando ela deixa – respondeu o outro menino – E, antes, ela faz todo mundo achar que está perto. Essa garota é o máximo!

Sete... oito... – ela foi se afastando rapidamente, e antes de sumir correndo gritou – NOVE... DEZ!

Ninguém viu para onde ela correu, então todos passaram a procurá-la desesperadamente, por todas as direções. Roy resolveu procurar nos terrenos baldios da rua, sendo seguido de perto por duas garotas risonhas. Ele teve a impressão de vê-la correndo para aquele lado, mas não tinha como ter certeza de nada. Então, no meio das latas de lixo, entulhos e mato alto, ouviu algo...

Seria uma respiração ofegante?

Ele fez um gesto para as duas meninas que o seguiam se calarem, e cautelosamente se aproximou de um dos latões velhos do lugar. Era de lá que o som parecia vir. Ele foi andando, lentamente e com tanta leveza que nem mesmo os pedacinhos de gravetos secos sob seus pés se partiam. Então...

AAAAAAHHHHHHH! – Um grito, e ela saltou sobre eles como uma ginasta, desaparecendo de vista entre as casas da frente! Ele acabou caindo para trás, sobre uma poça de lama, mas rapidamente se levantou e disparou a correr atrás dela. Ele era rápido, mas os sapatos o impediam de correr muito. Mas ele percebeu algo que mexeu com seu orgulho...

Ela sempre se virava para trás, rindo a não mais poder! Era praticamente um desafio, e se existe no mundo uma coisa que mexe com os brios de um menino de nove anos é um desafio bem-feito, em especial se quem o propõe é uma garota.

EU TE PEGO! – ele berrava, mas ela respondia:

Pode tentar, gracinha, mas você só me pega se eu deixar! – então, mudou de direção, e foi para a rua. Ele o seguiu, tropeçando, mas sem diminuir o ritmo um minuto sequer.

"Caramba, essa menina tem rodinhas nos pés!", ele pensava, tentando fazer de conta que aquilo o aborrecia, mas na verdade ele nunca havia se divertido tanto. De vez em quando, dava uns encontrões violentos com outras crianças brincando, mas sempre que olhava, todos riam à beça. E, aparentemente, ninguém se preocupava muito em pegar Riza.

De repente, então, apareceu a chance. Do lado da rua, havia uma trilha que se elevava aos poucos. Do outro lado da rua, havia uma cerca alta, com arame farpado. Ela estava na calçada, e ele, então, começou a subir pela trilha. Ela percebeu, e começou a correr mais rápido ainda. Ele começou a rir bem alto, enquanto corria, até que...

...a trilha acabou, e ele não percebeu! Do outro lado, havia apenas um barranco, e sem conseguir frear, ele caiu rolando e batendo a cabeça na terra endurecida, até chegar ao nível da rua, todo ralado e sujo de terra. Ele olhou para a rua, e viu que Riza continuou correndo, e tentou se levantar para alcançá-la, mas não conseguiu. Ela percebeu, e começou a correr na direção oposta, até ele, dizendo:

Ai, droga, você já é o quinto que usar esse truque! Pelo menos os outros param no fim da trilha!

Olá pra você também, Riza – ele se forçou a sorrir – Quedinha legal, não?

Deixe eu ver se você se machucou – ela se ajoelhou do lado dele, erguendo as mangas da camisa e as barras da calça – Esse barranco é traiçoeiro, sabe? Eu...

Você está presa – só então, ela percebeu que o garoto segurava o pulso dela, com um sorriso.

Você...? Mas... Ah, cara, que golpe baixo! – ela riu, dando um tapinha leve no ombro dele – Isso foi injusto! Não quero mais saber de brincar com você!

Eu não consigo nem correr mais, depois desse tombo – respondeu o menino – Você pode me ajudar a chegar até a rua de onde saímos?

Ela concordou, e o ajudou a se levantar. Ele fazia questão de gritar pelos quatro ventos "Peguei a ladra! Peguei a ladra!", e todos se viravam para ver.

Sinto muito, Roy, mas parece que ele é que pegou você – disse uma menina, rindo, ao perceber o estado dele, com a roupa toda suja e rasgada.

Ele caiu naquele mesmo barranco do qual todos vocês já caíram – Riza saiu em defesa dele – E foi uma captura totalmente justa. Pela primeira vez, alguém me pega sem eu deixar antes.

Você dá conta de ser o próximo ladrão, Roy? – perguntou um menino grandalhão – Riza está eliminada, e não vai poder voltar nesse turno. Por você ter feito uma coisa que a gente tenta fazer há dois anos, vamos te dar vinte segundos de vantagem.

Tá bem, tá bem – ele se recompôs, rindo, e começou a contar – Um... Dois... Três...

RODNEY ARISTARCUS MUSTANG, VENHA JÁ ATÉ AQUI! – de repente, uma estridente voz de mulher gritou, vinda de uma das casas.

Ai, droga... – a voz dele sumiu, e levou junto a cor do rosto – É a minha mãe...

Sua mãe?! Caramba, o que foi que você fez? – Riza ficou chocada com a voz da mulher.

É que hoje é um almoço muito importante, e eu não podia ter me sujado desse jeito! – ele estava totalmente desesperado, e dizia com uma voz que lembrava o ganido de um filhote de cão – Ela vai quebrar meu pescoço! Eu preciso fugir, eu preciso...

Venha comigo, Roy, vamos falar com a sua mãe – decidida, a menina tirou o boné, revelando uma franja discreta, que se insinuava sobre a testa – Ela tem que entender, você só estava brincando!

Ficou doida?! – ele disse, quase sem ar – Ela vai te colocar pra fora de casa a vassouradas!

Não seja bobo, vamos lá – e o puxou até a casa dele, a maior da rua. Ao chegar perto, porém, algo a fez recuar, meio assustada. A mulher era baixa, roliça e troncuda, e tinha cabelos escuros presos num coque tão esticado que seria capaz de fazer uma bala ricochetear. Os olhos eram estreitos como o filho, e ela vestia uma roupa muito parecida com um uniforme do exército, só que preta. Apesar da pouca altura, ela impunha medo a todos.

RODNEY, JÁ PARA DENTRO! – gritou a mãe, e o menino disparou em direção à casa. Depois, ela se virou para a garota e a observou de cima a baixo, um olhar ao mesmo tempo inquiridor e maldoso – E você, quem é?

Ri-Ri-Riza Hawkeye, senhora – a menina recuou uns passos, mas manteve a voz firme – Eu sou uma... uma amiga do Roy, e vim aqui perguntar se a sen...

A senhorita sabe quem sou eu? – a mulher deu um passo a frente – Você está falando com ninguém menos que a general Odete Mustang, e o meu filho Rodney – ela fez questão de frisar bem o nome dele – será o futuro Marechal desta grande nação. E quem são seus pais, hein, garota?

Meu pai é médico e minha mãe é dona-de-casa – respondeu ela – Por que esse interrogatório?

Será que você ainda não entendeu? – a voz da sra. Mustang foi abaixando até virar pouco mais que um sussurro – O que você acha que está fazendo com meu filho? Ele é filho da nata do Exército amestriano, e você é só uma garota levada e desclassificada que está se aproximando dele por puro interesse.

A senhora está me ofendendo! – o sangue começava a subir à cabeça de Riza – Eu só vim aqui para pedir para a senhora deixá-lo brincar comigo e com a galera aqui da rua! Que mal há nisso?

Meu filho não se mistura a essa gentalha daqui, isso é o que há de mal! – retrucou Odete – E principalmente com você. Olha só como essa brincadeira selvagem o deixou! Ele está todo sujo, as roupas destruídas, os sapatos em petição de miséria...

Você não teve infância, não? – a cada palavra da mulher, a garota ficava mais nervosa – Ele não sabia o que é polícia-e-ladrão! E a senhora sabe que é impossível brincar sem se sujar um pouco!

Não me importa! Não quero saber de você chegando perto do meu filho outra vez, ouviu bem? Agora fora daqui! FORA! – por fim, a mãe de Roy enxotou a menina da porta de casa.

Riza nunca se sentiu tão humilhada em toda a sua vida. Engolindo as lágrimas mais dolorosas e cheias de ódio que era capaz de ter, afastou-se rapidamente da casa. Outras crianças, que haviam assistido à cena, ficaram solidárias a ela, mas nada a tornaria capaz de perdoar a ofensa suprema que a mãe do seu mais novo amigo havia feito a ela.

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–É claro que me lembro, Gracia, mas se aquela bruxa da mãe dele fizer qualquer insinuação a meu respeito, juro que meto a mão na cara dela – Riza, depois de reviver o seu trauma de infância particular, retrucou decidida – Mas você me conhece, sabe que eu sei manter a classe, não sabe?

–Eu confio em você, amiga, só não sei se dá para confiar na sua futura sogra – observou Gracia – De qualquer forma, você é sempre muito bem-vinda em minha casa, e ficarei muito feliz em tê-la aqui no quinta para jantar.

As duas se despediram, e Riza voltou para a casa. Assim que chegou, Black Hayate a esperava pacientemente na porta, com o rabinho abanando e a coleira na boca. A oficial sorriu ao vê-lo e disse, como se estivesse conversando com uma pessoa:

–Você sabe bem o que quer, não sabe? Vamos para o parque, e lá você me ajuda a escolher o que usar no jantar na casa do Maes.

Corte para quinta à noite:

–Ai, que droga, eu odeio esses malditos brincos!

E lá estava ela, a nossa militar favorita, na frente do espelho, travando uma luta mortal com um brinco de pedrinhas. Era um mero detalhe, mas como ela buscava a perfeição absoluta, já fazia quase dez minutos que ela tentava colocá-lo na orelha. Por fim, acabou conseguindo, e deu uma voltinha no espelho. Ao ver que Black Hayate estava lá, ela o encarou e disse:

–E então, o que acha?

Ele a analisou de cima a baixo (nota da autora: O.O) e abanou o rabinho, feliz. Ela sorriu, satisfeita, e também achou que estava muito alinhada. Também, não era para menos: a moça usava um vestido azul na altura dos joelhos, sem mangas e com um comportado decote. As unhas estavam feitas, o rosto exibia uma maquiagem suave e discreta, os cabelos estavam presos num penteado elegante, os sapatos tinham um salto alto sem ser vulgar, enfim, ela parecia uma autêntica lady. Calmamente, dirigiu-se até a casa de Maes (sendo escoltada até a porta por Blackie), e, lá, foi recebida calorosamente por Gracia:

–Ora, ora, ora, senhorita Hawkeye, você está linda! Entre, entre!

Ela foi até a sala de jantar, onde estavam esperando Maes, Elysia e a irmã mais nova de Roy, Melissa. As duas haviam se conhecido tempos atrás, e se tornaram amigas. A moça, uma bela mulher alta de olhos azul-safira, cabelos negros, sedosos e lisos alcançando sua cintura, parecia mais uma modelo do que uma respeitada alquimista federal do Quartel-General do Oeste. Trajando um belo vestido púrpura tomara-que-caia bem justo, ela fazia com que Riza parecesse uma mera bibliotecária impossível de notar na multidão.

–Fiquei sabendo que você passou no exame de alquimista federal, Mellie – apesar da natural inveja feminina, Riza cumprimentou a amiga calorosamente – E qual é o seu título?

–Alquimista de Mármore – respondeu Melissa, e ao ver a expressão atônita de Riza, explicou, com uma risada semelhante ao chilrear de um pássaro – Minha especialidade é em manipular rochas, é claro que meu nome tinha que ser algo relacionado a isso.

–E o Roy, como reagiu? – perguntou Gracia, entrando na conversa.

–O Roy? Ele quase pirou! – a srta. Mustang deu uma gargalhada alta – Ele não sabia se ficava feliz por mim ou se dizia "desista dessa idéia, isso vai acabar matando você!". Por fim, ele aceitou que é isso que eu quero fazer, e prometeu me ajudar. Até conseguiu uma transferência para mim! A partir de semana que vem, já vou trabalhar aqui, na Cidade Central.

–E por que ele ainda não veio? – foi a vez de Riza perguntar.

–Ele foi buscar meus pais no hotel – de repente, Melissa fechou a cara – Eu não acredito que a minha mãe veio para esse jantar! É o fim! Ela só me faz passar vergonha. Como se a babaquinha da noiva do Royie já não fosse mico suficiente para mim!

–Como é a noiva dele? – de repente, a loura sentiu uma tentação irresistível de perguntar.

–Ridícula – a irmã de Roy parecia ter urticária só de falar na sua futura cunhada – Ela é irritante, arrogante, melosa e burra! Eu não acredito que o meu irmão não se casou até agora para ficar com uma mulherzinha insignificante como a McLamure!

Então, a porta se abriu, mostrando o próprio Roy. Riza quase parou de respirar: ele estava lindo, vestido num elegante terno preto sobre uma camisa branca sem gravata. Os cabelos pretos espetados estavam molhados e brilhantes, dando a ele um ar ainda mais encantador. Ao lado dele, o senhor Adrian Mustang, seu pai, também alto e elegante, quase idêntico ao filho, com exceção dos cabelos grisalhos e de algumas rugas. E, ao lado deles...

A primeira-tenente teve certeza de que, na sua frente, estavam as duas mulheres que ela mais odiaria em toda a sua vida. Uma ela já conhecia: era a senhora Odete Mustang, ainda mais atarracada, mais gorda e mais intragável do que da última vez que a vira. E a outra era uma ruiva branquela e magricela, absurdamente insossa. "Então essa é a minha rival?", a loura teve que usar todo o seu autocontrole para não rir. "Vai ser muito fácil... E nem mesmo a irmã do Roy quer saber dela, já tenho até uma aliada". Lançou um olhar discreto para Mellie, que estalava as articulações dos dedos totalmente furiosa.

–Srta. Hawkeye! Há quanto tempo! – o sr. Mustang pai era amabilíssimo, e sempre que via a tenente a cumprimentava animadamente – E como você está bonita! O Exército tem feito muito bem a você – depois, se virou para Mellie – Filha! Que saudade! E olha só para você, a mais nova alquimista federal! Como estou orgulhoso!

Eles se abraçaram forte. Roy, depois, também cumprimentou a irmã, e Riza. Foi um cumprimento normal, idêntico ao que ele lhe fazia toda manhã quando chegava ao quartel para trabalhar. "Que ódio, será que me produzi desse jeito para nada?".

–E o Arthur, não veio com vocês? – perguntou Maes – Hoje mesmo ele ligou confirmando que vinha jantar conosco... Será uma pena se ele não comparecer.

–Ele já vem, Maes – respondeu Roy – Na verdade, já deve estar chegando.

Nessa hora, a porta se abriu com força, revelando a última pessoa que estava faltando. Ele era descolado – não havia outra palavra para defini-lo – e estava exatamente oposto a Roy. A começar pelo cabelo, preto com reflexos louros, pelas roupas coloridas e chamativas e, por fim, pelo brinco que usava na orelha esquerda. O rosto não deixava mentir: ele era um Mustang, mas com certeza era o mais exótico da espécie.

–Acho que vocês conhecem meu irmão Arthur – disse Roy, rindo – Ele é ator, sabem? No momento está encenando uma peça na Cidade Central.

–Olá, pessoas e não-pessoas! Tudo bem? – Arthur cumprimentou todo mundo efusivamente, embora as pessoas presentes na mesa tenham ficado meio confusas em relação ao que ele queria dizer com "pessoas e não-pessoas".

Arthur Mustang era a ovelha negra da família. Era o primeiro em muitas gerações que não seguia carreira militar, usava um visual extravagante e, principalmente, nunca obedecia à matriarca Mustang. Todos sabiam que era ela que mandava na família, por isso Arthur e Odete não se falavam há anos. Não só ele: Melissa também havia desobedecido à mãe e sido riscada da lista de convívio familiar, por isso a sra. Odete também não falava com ela.

O jantar começou. Gracia havia preparado um de seus excelentes assados com batatas, acompanhado de salada de folhas e risoto. Todos comiam e conversavam animadamente, mas ninguém precisava ser Einstein para sentir que um clima pesado se insinuava sobre a mesa. Odete e Melissa trocavam olhares fulminantes o tempo todo. Riza sentia-se sufocada a cada besteira sem sentido que Trista falava. A gota d'água veio quando a sobremesa foi servida:

–Olha, Royzinho! – a loura olhou discretamente para a amiga morena, que fez um gesto de enfiar o dedo na garganta – Pudim de morango, aquele que você diz que não é tão doce quanto eu...

–É isso mesmo, fofinha – respondeu Roy, aparentemente hipnotizado e com um tom meloso de dar nojo na voz – Você é mil vezes mais doce.

"Eu tenho que fazer alguma coisa", pensou Riza, rapidamente, e discretamente puxou um pouco o vestido para baixo, evidenciando o decote. Arthur, sentado ao lado dela, percebeu e disse:

–Meu Deus, Riza, como você está bonita! Sabe, a gente poderia sair qualquer dia!

–Talvez – a oficial corou, mas ao ver que Roy também havia ficado vermelho, resolveu entrar na encenação – Vai ter um festival de música no parque semana que vem, quer ir?

–Com certeza! – o Mustang caçula concordou na hora – Sete e meia?

–Sete e meia. E esteja lá. Vai ser ótimo, ouvir boa música sob as estrelas. Eu seria capaz até de dizer que vai ser muito romântico – ela pôs o máximo de ênfase que podia na última palavra.

–NEM PENSE NISSO, ARTHUR! – para satisfação de Riza, deleite de Mellie e aborrecimento total de Trista, Roy interveio – Ela é uma oficial do exército, onde está o seu respeito?

–Relaxe, Roy, é só música – Mellie, que havia percebido a brincadeira, também embarcou – Eu apóio totalmente. Vocês devem ir, sim.

A sra. Mustang também havia percebido qualquer coisa no ar. A ela, agradava muito o casamento com uma moça rica e de boa família como Trista McLamure, herdeira única de uma cadeia de restaurantes de comida de Xing. Num tom cínico, disse:

–Parece que você entrou no exército, não é, Hawkeye? E qual patente, cadete?

–Primeira-tenente – corrigiu Riza, decidida a impedir que bruxa malvada do norte acabasse com o seu dia – E estou pleiteando uma promoção para major.

–E você pretende dar em cima de quem para conseguir isso? – Odete continuou a provocar, mais cruel que nunca – Se, arrastando a asa para o meu filho, você já conseguiu ser tenente...

–Para começar, senhora – a loura soltou o garfo sobre o prato – eu não precisei dar em cima de ninguém. Cheguei aonde cheguei pelo meu próprio mérito, e não vai ser a senhora que vai tirá-lo de mim. Quanto a dar em cima do seu filho, esqueça, nossa relação é estritamente de amizade e cooperação profissional, nada além disso.

–Você deveria se casar, Riza – agora Trista entrava na conversa, sem ser chamada – Fazer como eu, sabe? Arrume um bom marido, é melhor para você.

"Estou tentando arrumar um bom marido, querida", pensou a outra, imaginando-se batendo a cabeça da ruiva contra uma parede de concreto. "O seu marido, que tal?".

–Sinceramente não sei o que você está fazendo num jantar apenas para amigos, senhorita Hawkeye, mas aqui não é o seu lugar – a mãe de Roy não dava trégua – Siga o conselho da Trista, a futura senhora Mustang – era impressão ou a senhora Mustang atual queria jogar na cara de Riza que ela havia perdido Roy? – Case-se e suma das nossas vidas.

–Odete, pare com isso! – foi a vez de Adrian intervir – Não a ofenda, ela é uma moça adorável.

–É uma qualquer, isso sim – retrucou a mulher – E me deixe em paz!

Mas Riza não ouvia mais. Ela prestava atenção em Trista, cheia de dengos para cima de Roy, e teve vontade de acertar a cara dela. Na verdade, teve vontade de acertar a cara de todos os presentes. Resolveu comer o pudim que Gracia havia preparado: estava estupendo, como sempre, mas havia qualquer coisa amarga naquela noite, e não era a comida. Ela viu que Mellie fez menção de dizer qualquer coisa, e não a deixou abrir a boca.

–Preciso ir embora – ela se levantou, voltando a ajeitar o vestido – Amanhã tenho uma missão de campo e preciso estar bem disposta. Obrigado pelo ótimo jantar, Gracia, até mais – despediu-se cordialmente de cada um dos presentes, tendo o cuidado de evitar Odete e Trista.

Quando já estava na porta, ouviu Melissa explodir:

–Por que você tem que ser sempre tão cretina?

–Não se meta, garota! – ouviu a voz possante da mãe da morena – Vocês se merecem mesmo!

Então, ouviu o som de passos calçados em um sapato de salto alto vindo em direção à porta, seguidos de passos de mais duas pessoas, calçando sapatos baixos. Voltou para a porta, e viu que eram a própria Melissa, o senhor Adrian e ele.

–Desculpe pelo que a minha mulher lhe disse, Riza – desculpou-se Adrian, com uma educação e uma gentileza impecáveis. "Ainda bem que o Roy saiu ao pai e não à mãe", ela não pôde deixar de pensar – Ignore o que ela disse, todos sabem que você é uma pessoa extraordinária.

–É, Riza, minha mãe exagerou – continuou Roy – E sobre aquela história de você dar em cima de...

–Esqueçam isso, está tudo bem – cortou ela antes de dar chance do outro terminar a frase – E obrigado por se importarem, significa muito para mim. Ela vai me odiar pelo resto da vida, eu devia saber que seria um erro vir aqui.

–É um jantar para amigos, não é? Como a minha melhor amiga poderia não estar presente? – disse ele, abrindo um sorriso irritantemente lindo – Obrigado por vir, a gente se vê amanhã. E pode deixar que eu me explico com o Maes e a Gracia.

–Vou dormir na sua casa hoje, Riza – só então Mellie se manifestou – Não dá pra ir pra casa hoje, a mamãe vai ficar lá e eu não quero saber da presença dela. Posso?

–Claro – a outra concordou, acenando a cabeça, e as duas foram embora, em silêncio.

"É isso que você pensa de mim, Roy? Você me vê só como uma amiga?". O comentário dele, mesmo com toda a gentileza, havia a ofendido mais do que tudo que havia ouvido aquela noite toda. "Eu vou provar para você que sou a mulher da sua vida. Você vai me querer, eu juro. E a sua noivinha que vá para o quinto dos infernos, e que de preferência leve a bruxa da sua mãe junto". Com passos decididos, rumou para sua casa, pronta para começar a colocar em prática o plano para fazer com que Roy ficasse totalmente louco por ela.


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