I Want To Be Your Girlfriend escrita por Kyra_Spring


Capítulo 1
Hey, hey, you, you, I dont like your girlfriend




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–VOCÊ NÃO PODE ESTAR FALANDO SÉRIO!

–Ah, qual é, não pode ser tão inacreditável assim.

–EM SE TRATANDO DE VOCÊ, É SIM!

–Você quer parar de berrar, seu cretino? Eu ainda não quero que todo mundo saiba. A coisa toda ainda é muito recente, é melhor não falar nada ainda.

–Eu estou dizendo, se fosse você espalharia a novidade para os quatro cantos bem rápido.

–Dá um tempo, beleza? Com você isso não aconteceu, você conheceu aquela coisinha fofa da Gracia e...

–Olha o respeito, hein? Ela é minha mulher!

–...como eu ia dizendo antes de ser brutalmente interrompido, você a conheceu e logo teve certeza do que queria. Comigo não é assim. Eu ainda preciso pensar um pouco.

–Ah, fala sério, você tá querendo cozinhar a moça até ter certeza do que quer?

–Não tem conversa com você, mesmo.

–Você é que fica com essa frescura toda. Que mal vai ter em contar de uma vez? Cedo ou tarde, todo mundo vai saber, e é melhor que seja por você mesmo.

–Mas eu tô com medo! O que eles vão pensar de mim?

–O que poderiam pensar?

Num dia particularmente calmo no QG da Cidade Central, duas pessoas cochichavam entre si numa sala. Eles eram Roy Mustang, coronel e dono da sala em questão, e Maes Hughes, tenente-coronel e melhor amigo de Roy. Os dois discutiam um assunto de suma importância para o primeiro, que já começava a perder noites de sono com aquela história.

O que eles não perceberam é que, sorrateiramente, mais uma pessoa havia se esgueirado na sala e ouvia parte da conversa. Essa pessoa era Edward Elric, o Alquimista de Aço, o mais jovem cão do exército da história. Eles só perceberam a presença do garoto quando este começou a rir feito um bobo, atraindo para si os olhares dos dois homens.

–Ah, olá, coronel, há quanto tempo! – cumprimentou Edward, debochadamente – O que está discutindo com o tenente-coronel Hughes? Está pensando num jeito de confessar para o quartel todo a sua homossexualidade?

–Olá, do Aço – Roy devolveu o cumprimento entre os dentes – Será que ninguém nunca ensinou a você o significado de "conversa particular"?

–Relaxa, tá bem? Você mesmo me disse para vir aqui imediatamente quando voltasse – o garoto atirou uma pasta na mesa do coronel – Tá aqui o meu relatório. Eu derrubei suco de laranja na página 5, mas acho que as letras não borraram muito. Pelo menos dá para ler.

–Tá, tá, tá, obrigado. Agora SE MANDA! – o tom de Roy era quase o de uma sentença de morte, e ele quase atirou o porta-canetas na cabeça do garoto, quando ele deu as costas. Por sorte, Maes foi rápido o bastante e segurou o braço do amigo a tempo. Por precaução, também trancou a porta.

Eles continuaram a discussão importante deles, sem serem perturbados. Maes insistia que Roy contasse a tal novidade a todos o mais breve possível, mas o segundo hesitava, e achava que, se alguém soubesse antes da hora, tudo seria posto a perder. Realmente era algo muito importante o que eles discutiam, algo que mexeria com todo o quartel, de uma forma ou de outra.

Mas Ed pouco se importava com o que seu superior pensava. Ele havia ouvido o suficiente da conversa para saber do que se tratava, e havia entendido que ele não queria que isso fosse espalhado tão cedo. Seria ótimo infernizar o coronel um pouco mais, e o melhor é que o quartel teria algo para fofocar por muito tempo.

Ele correu até o refeitório, mais precisamente na mesa em que se sentavam os oficiais mais próximos do coronel, e anunciou com voz solene:

–Gente, eu tenho um comunicado a fazer. É sobre o coronel.

Algumas cabeças atentas se viraram em sua direção. Uma delas era a de Riza Hawkeye, primeira-tenente, uma loura alta e bonita, mas tão austera e dedicada ao exército que às vezes ele até se esquecia que ela era uma mulher. Outra era a de Kain Fuery, um oficial rechonchudo e delicado, que adorava animais. Havia ainda as de Jean Havoc, um cara que passava metade da vida à procura de uma namorada, Vato Falman, Breda, e de mais alguns outros.

–Anda logo, fala! – Kain o apressou – O que foi que ele fez?

–Não é o que ele fez, é o que ele vai fazer – Ed estava saboreando o momento ao máximo – Meus amigos, eu vim comunicar que o coronel Roy Mustang vai se casar.

Silêncio. Depois...

...risadas! Todos na mesa começaram a rir, fazendo com que Ed corasse violentamente. Riza era a que mais ria, e foi ela quem disse:

–Bela tentativa, Edward, mas se queria lançar um boato sobre ele deveria ter inventado qualquer outra coisa. Todos aqui sabem que é mais fácil o coronel se transformar num cacto do que se casar.

–Eu estou falando sério – ele insistiu, e de repente as risadas cessaram – Acabei de sair da sala dele. Ele está lá, conversando com o tenente-coronel Hughes, tentando decidir se conta para vocês ou não. E, aparentemente, a noiva é da Cidade do Leste.

Riza ficou estranha de repente. Ela ficou pálida, muito pálida e um pouco trêmula, como se a notícia fosse um soco no estômago. Mas seu rosto permanecera impassível, sério e calmo como sempre. Os outros ficaram chocados, e começaram a fazer várias perguntas, como quem era a noiva, como essa história começara, por que ele não queria contar... Somente a moça permanecia calada, absorvendo lentamente aquele fato.

–Bem, agora vocês ficam encarregados de contar pra todo mundo, hein? – Ed continuou, depois de contar o que ele sabia – É sério, em uma hora o quartel inteiro já tem que estar falando.

Aquela missão era a mais fácil de todas, até porque os caras que trabalhavam para Roy passavam a maior parte do tempo falando da vida dos outros. Em questão de milésimos de segundo, eles já haviam desaparecido pelos corredores. O garoto riu consigo mesmo, e já estava se levantando quando sentiu que alguém o segurava pelo ombro. Era Riza, e ela disse:

–Por favor, Ed, diga que isso é só uma história que você inventou.

–Infelizmente não, tenente – ele deu de ombros – Hughes já está quase o convencendo a fazer o anúncio formal hoje, e eu só estou apressando as coisas. Me desculpe.

–Não... não tem nada a ver com você – ela disse, e de repente pareceu distante e distraída. Ele resolveu deixar pra lá e saiu, deixando-a com seus próprios pensamentos.

Meia hora depois, na porta da sala do coronel, ele dizia ao amigo:

–Bem, você me convenceu. Eu vou fazer o anúncio agora mesmo. Já pedi para a secretária avisar para todos esperarem no refeitório. Mas, pela última vez, tem certeza de que isso é o certo?

–É lógico! – Maes foi superpositivo, como sempre – O que poderia dar errado?

No refeitório, assim que Roy entrou, todos bateram continência e ficaram em posição de sentido. Ele passou todos em revista, mas percebeu que, sempre que deixava uma pessoa para trás, ouvia risadinhas quase imperceptíveis ou murmúrios. "Diabo, do que será que eles estão rindo?", ele pensava, enquanto conferia sua roupa e o cabelo. Quando terminou a revista, colocou-se na frente da tropa, e se preparou para falar.

–Meus amigos, estou aqui para fazer um anúncio.

Risadinhas pipocaram por toda a área, interrompendo-o. Ele olhou feio, e o silêncio voltou a dominar. Ele tentou começar de novo. Mais risadinhas, e um assobio alto e estridente que pareceu partir de três ou quatro pessoas. Na terceira vez, ele perdeu a cabeça e berrou:

–AFINAL DE CONTAS, QUAL É A GRAÇA?! – mas, de repente, tudo ficou claro. Uma veia começou a latejar e a pulsar violentamente em sua têmpora, e foi com uma voz quase gutural de tão rouca que ele disse – Edward, venha aqui imediatamente.

Ele foi, caminhando despreocupado, e se colocou na frente dele, encarando-o com um deboche espetacular. Estava na cara que o maior desejo de Roy era quebrar o pescoço daquele moleque linguarudo ali mesmo, mas controlou seus impulsos assassinos e disse, na voz mais calma e controlada que foi capaz de fingir.

–Me diga, Edward, até onde você ouviu minha conversa com o tenente-coronel Hughes?

–Acho que ouvi o suficiente, senhor – ele respondeu, polidamente.

–E você contou para alguém? – agora o rosto do coronel estava vermelho como um pimentão, e a veia de sua têmpora mais parecia uma cobra tendo um infarto.

–Hum, deixe-me lembrar... É, acho que contei – ele sorriu – Mas me desculpe, senhor, eu só ouvi qualquer coisa sobre fazer o anúncio o mais rápido possível, e tentei ajudar.

O coronel parecia uma panela de pressão prestes a explodir. Seu rosto parecia atravessar todos os tons de vermelho possíveis, e quase havia fumaça saindo das orelhas. Ed afastou alguns passos, levemente assustado, e se preparou para, se preciso, bater nele. Tá certo, se não fosse preciso e ele tivesse a chance, também, mas principalmente se fosse preciso.

–Se você não se importa, Eddie, aquilo era algo que eu mesmo deveria ter resolvido – ele sibilou, entredentes, como se estivesse usando todo o seu autocontrole para não explodir a cabeça dele.

–"Mas eu tô com medo! O que eles vão pensar de mim?" – Ed repetiu uma das frases que Roy havia dito para Maes (este, por sinal, estava ao lado do coronel e ria quase convulsivamente de toda aquela situação), fazendo com que todo o quartel explodisse em gargalhadas.

–É incrível, mas ele ficou... idêntico... a você... – Maes ofegava, dividindo-se entre falar, rir e respirar. Roy ficou mais vermelho que um tomate maduro, em parte pela humilhação, em parte pelo ódio mortal que ia crescendo dentro dele.

–Maes, cala essa boca – ele sussurrou ao amigo, que imediatamente parou de falar e tentou (inutilmente) parar de rir. Depois, dirigiu-se ao pelotão, berrando a plenos pulmões – E DO QUE VOCÊS AINDA ESTÃO RINDO, SEUS MOLUSCOS ANENCÉFALOS?

De repente, o silêncio voltou a reinar. Só Ed continuou rindo, mas quando ele levou um cutucão de Al (que havia ido até lá para impedir o irmão de fazer uma burrice, sem sucesso), olhou em volta e percebeu os rostos assustados dos presentes, além da cara de serial killer do coronel, percebeu que tinha feito besteira. Engolindo em seco, ficou encarando-o.

Eu vou... matar... você! – e avançou um passo. Imediatamente, Ed andou um passo para trás, antes de sair correndo e gritando porta afora, sendo seguido por Alphonse. O coronel até que tentou ir atrás dele, estalando os dedos a cada passo que o garoto dava (provocando uma série de buracos chamuscados no assoalho do refeitório), mas Maes e Falman sabiamente o detiveram, e o impediram de continuar aquela perseguição assassina.

–Eu bem que te avisei, não foi? – Hughes dizia, enquanto Roy chutava e dizia todo os palavrões que conhecia em todas as línguas – Se você não tivesse ficado cheio das gracinhas, nada disso teria acontecido. E espero que você conserte o chão daqui ainda hoje.

Depois dos ânimos acalmados (Ed, muito sabiamente, não voltou a aparecer e resolveu ficar escondido pelo resto do dia), o alquimista das chamas pôde enfim fazer seu anúncio:

–Como todos vocês já devem saber, eu estou noivo e pretendo me casar em breve – assobios e aplausos soaram por todo o recinto, além de um maroto "já tava na hora, hein?" do qual nunca se descobriu a origem – A minha noiva vive na Cidade do Leste e se mudará para cá em breve, e o nome dela é...

–...a futura amante do Havoc! – disse Falman bem alto, atraindo para si olhares de todos. O de Roy era naturalmente raivoso, mas havia algo nos olhos de Havoc que parecia com "nossa, boa idéia!".

–Mais uma gracinha sua, Falman, e vou providenciar pessoalmente para que você passe o resto da vida limpando latrinas – disse o alquimista – Como eu estou tentando dizer há uma hora, a minha noiva e futura senhora Mustang se chama Trista McLamure, e vocês vão conhecê-la em breve – os olhos dele brilhavam insanamente.

Aplausos soaram de todas as partes, muitos assobios, parabéns e todo tipo de comemoração. Todos pareciam muito felizes pelo seu superior ter finalmente desencalhado, mas havia uma pessoa, escondida atrás de todos os outros oficiais, que não compartilhava de nem três centésimos daquela empolgação toda. Ela parecia estar em outro planeta, como se não pudesse acreditar no que ouvia.

Os leitores mais atentos talvez já tenham percebido que esse alguém era Riza Hawkeye, e que ela simplesmente odiava a idéia do tal casamento. E, se o tal leitor é fã e aposta firmemente no casal Roy Mustang / Riza Hawkeye pode entender o motivo de tal desaprovação. Ela o queria livre e desimpedido para ela, só para ela, e que o resto se danasse. E a idéia de ser trocada por uma mulherzinha ridícula da Cidade do Leste era demais para sua cabecinha loura e levemente perturbada pela situação. Sem poder suportar por mais um minuto toda aquela empolgação sem fundamento, saiu e se enfurnou em sua sala.

"Eu não vou abrir a gaveta", ela pensou assim que se fechou no escritório. "Vamos lá, Riza, você é uma mulher racional e equilibrada e não precisa disso para clarear as idéias. Além do mais, você prometeu parar". Mas suas mãos coçavam de vontade de virar a chavinha que pendia da primeira gaveta da sua mesa. "Eu não preciso disso, esse é um vício que eu tenho que abandonar. Não vou abrir. Não vou abrir... Ah, que se dane, eu preciso de unzinho agora mesmo!".

Ela abriu a gaveta sofregamente, sentindo o suor lhe escorrer pela testa. Ela estava a ponto de ter uma crise de abstinência, fazia mais de três dias que ela não desfrutava dos prazeres que o conteúdo de sua gaveta lhe proporcionava. E, nessa desintoxicação, ela até que estava indo bem, até receber aquele chute na cara. Sem poder resistir mais um segundo sequer, pegou um dos pacotinhos, desembrulhou-o e o jogou inteiro na boca, mastigando-o e deixando que toda a serotonina que ele produzia impregnasse seu cérebro e a deixasse se sentindo melhor. Depois, mais calma, pegou outro bombom da gaveta e o desembrulhou, comendo com mais calma.

(Nota da autora: O que você estava pensando que ela escondia na gaveta, hein?)

Riza tinha uma compulsão doentia por chocolates desde os 15 anos. E sua compulsão também surgira graças a um garoto que a havia magoado. Mas, que droga, já fazia tantos anos, já era hora de superar... Naquela hora, porém, ela não queria superar nada, apenas ingerir o máximo de calorias que fosse capaz. Comeu um, dois, três ao mesmo tempo, e quando já desembrulhava o quarto bombom alguém abriu a porta da sua sala com estrondo.

–Tenente, eu preciso... da sua... assinatura... – era Sciezka, a jovem encarregada da biblioteca, que precisava da sua assinatura para documentos oficiais e observava, apaspalhada, a pilha de papéis de bombom sobre a mesa e as enormes bochechas sujas de chocolate da oficial – Se me permite a pergunta, senhora, o que diabos está acontecendo aqui?

–Ah, olá, Sciezka – encabulada, Riza engoliu o mais rápido que pôde e limpou as mãos na roupa displicentemente – Não está acontecendo nada, não. Tem algo para mim?

–A senhora tem certeza? – a bibliotecária ergueu uma sobrancelha castanha – Se quiser conversar, eu posso...

–Não é nada! – a tenente disse rispidamente, assinando depressa os documentos – Agora se me dá licença, tenho muito trabalho a fazer.

"Eu tenho que aprender a manter essa maldita porta trancada!", ela vociferava para si mesma em pensamento, enquanto batia a porta às costas de Sciezka e começava a rabiscar relatórios nervosamente. Qualquer coisinha a mais naquele dia seria o suficiente para ela dar um tiro no primeiro pobre diabo que lhe aparecesse na frente. E se esse "primeiro pobre diabo" fosse Roy Mustang, melhor ainda. Ela adoraria ver a cara da noivinha intragável dele viúva antes do casamento, ah, como adoraria.

"Não, espere um pouco", ela se interrompeu, e de repente percebeu a gravidade do que estava passando pela sua cabeça. "Por que eu estou pensando essas tolices? Ah, que se dane, não é da minha conta com quem o coronel se envolve ou não. Por mim, ele pode se casar com quem ele quiser que eu não vou me intrometer.".

"Riza, você mente tão mal...", uma vozinha na sua cabeça, que vamos chamar de Consciência da Riza, zombou, debochada.

"Vá pro inferno, o que é que você sabe sobre mim?", retrucou Riza, com enfado.

"Eu sou a sua mente, lembra-se?", a vozinha riu ainda mais. "Sei tudo sobre você, seu passado, seu presente... e seu futuro, se você me ouvir. Admita, você gosta dele."

"O QUÊ?", ela tentou parecer surpresa com a afirmação mas, admitamos, todo mundo sabe que essa é mais uma conversa para boi dormir.

"Você gosta dele, eu sei. Admita, é por isso que você não quer que ele se case".

"De onde você tirou essa afirmação absurda?"

"Ninguém tem que ser um gênio para descobrir."

"Eu não gosto dele".

"Gosta sim."

"Ah, não gosto não!".

"Gosta sim!"

"EU JÁ FALEI QUE NÃO GOSTO DELE!"

"E eu sei que você gosta dele."

"Ah, tá, tá, você venceu! Digamos, hipoteticamente, que eu gosto dele. O que eu poderia fazer? Ele já está de casamento marcado, e já perdi qualquer chance que eu pudesse ter".

"Ah, quanta descrença... eu a ajudo a pegá-lo de jeito".

"E a noiva?"

"A gente dá um jeito nela?"

"Sem assassinatos, eu espero".

"É, provavelmente sem assassinatos".

"Como assim provavelmente?"

Mas Consciência da Riza não quis mais responder. (Nota da autora: se você percebe que, de repente, alguém está falando sozinha e ouvindo vozes, encaminhe-a a um psiquiatra imediatamente). E a dona da consciência, já irritada com aquela conversa consigo mesma, decidiu esquecer tudo aquilo e voltar a se concentrar no trabalho.

Horas depois, ela estava no escritório de Roy, preenchendo relatórios. Mas o dono do escritório não fazia nada além de ficar em sua poltrona rodeado dos vagabundos que ele chamava de subordinados, exibindo a eles a foto da noiva.

–Fala sério, ela não é linda? – disse o coronel, num tom que lembrava incomodamente o que Maes usava ao exibir fotos da filha.

–Sinceramente, eu acho que ela é muita areia para o seu caminhão – respondeu Havoc, sem tirar da cabeça a brincadeira de Falman – Será que ela tem alguma irmã ou melhor amiga?

–E o senhor já escolheu os padrinhos? – perguntou Fuery, com um brilho esperançoso no olhar.

–Por enquanto, só o Maes – respondeu o alquimista das chamas – Na verdade, ele se convidou para ser meu padrinho e eu deixei passar. Mas ainda nem pensei nisso.

–E quando vai ser a despedida de solteiro? – indagou Havoc, animado – E vai ter aquele lance da mulher bonitona saindo de dentro do bolo e tudo o mais?

–E você acha que uma coisa dessas iria faltar logo na minha festa pré-algemas? É lógico que sim! E todo mundo vai estar convidado. A senhora está um tanto quieta, tenente Hawkeye. Por que?

–Por nada, senhor, só acho que seria um pouco inconveniente que eu falasse de uma coisa da qual eu nem posso participar – ela respondeu, friamente – Além do mais, creio que o senhor já está sendo bem assessorado em relação a isso.

–Você está muito estranha hoje, minha cara – observou Mustang – Está quieta, mais distante do que de costume, tem certeza de que está bem?

–É claro que tenho – ela respondeu mais rápido e rispidamente do que gostaria – Se me dão licença, preciso sair mais cedo hoje, tenho que resolver uns assuntos.

Aquilo sim era estranho. Riza praticamente morava no quartel, e para ela não existiam fins de semana, feriados ou saída do trabalho às seis da tarde, como uma pessoa normal. Mas como ninguém fez objeção à saída dela, e o próprio coronel a autorizou, ela apenas pegou sua pasta e foi embora, fazendo questão de não se despedir de ninguém.

Foi para casa a pé. Sua casa – um lugar simples, com sala, um quarto, cozinha e escritório, além de um jardim imenso que ela fazia questão de manter sempre impecavelmente bem cuidado – ficava a apenas algumas quadras do QG, e estava situada numa das ruas mais nobres e movimentadas da Cidade Central. Mas ela não teve cabeça para olhar o jardim, e estava totalmente distraída quando afagou Black Hayate, seu cãozinho, antes de se trancar dentro de casa e se jogar no sofá. Nem se deu ao trabalho de tirar o uniforme ou as botas, apenas ficou lá, esborrachada, pensando na vida e, principalmente, em todos os aspectos dela que incluíam Roy Mustang.

Black Hayate sabia que, quando a dona chegava daquele jeito, uma coisa inteligente a se fazer era só se aproximar quando ela já tivesse guardado os revólveres no armário, mas naquele dia ele abriu uma exceção. Cautelosamente, ele se apoiou no sofá e encarou a dona, observando-a longamente.

–Eu fui meio distante com você hoje, não fui? – ela o chamou para seus braços – Mas hoje eu pareço estar em outro planeta. É que tem tanta coisa acontecendo, sabe, e eu... eu...

Nessa hora, ela percebeu que estava falando com um cachorro. Tudo bem, Blackie poderia ser o cão mais inteligente da Cidade Central, mas ela ainda não tivera a oportunidade de ouvi-lo falar. Mesmo assim, tinha algo estranho... ele a encarava, como se dissesse: "vamos, pode contar pra mim, eu não vou sair por aí espalhando mesmo...".

–Eu devo estar ficando louca... – e começou a contar toda a história do casamento de Roy, terminando com – ...e agora eu estou mega-confusa, não sei se gosto dele ou não, não sei se quero que ele se case... Estou um caco, Blackie, e é uma pena que você não saiba falar, porque se soubesse adoraria um conselho seu.

Ele nada disse (nota da autora: ainda bem, porque se dissesse é sinal de que ou temos uma quimera à solta ou precisamos de um psiquiatra) e ela resolveu ligar um pouco o rádio. Depois de duas ou três propagandas, começou a tocar uma música rápida e animada. A princípio, Riza fez menção de desligar o aparelho, mas quando já estava com a mão no botão, começou a prestar atenção na letra.

Hey hey , you you (Hey, hey, você, você)
I don't like your girlfriend
(Eu não gosto da sua namorada)
No way no way
(Sem chance, sem chance)
I think you need a new one
(Acho que você precisa de uma nova)
Hey hey, you you
(Hey, hey você você)
I could be your girlfriend
(Eu poderia ser sua namorada)

Ela olhou o cachorro, que devolveu o olhar. Ao invés de desligar o som, aumentou um pouco o volume e ouviu a música inteira, concentrando-se ao máximo na letra. Ela falava de uma garota que não gostava da namorada do cara de quem ela gostava, e que ela era estúpida e ridícula e que não o merecia. Em algumas estrofes, ela procurava convencer o rapaz de que ela era melhor que a atual namorada dele. E então, uma luz se formava na cabeça de Riza, enquanto certas coisas se esclareciam pouco a pouco.

Primeiro: ela gostava de Roy Mustang (nota da autora: você não queria que eu falasse isso só no último capítulo, né? Mas, para quem acha que essa suprema revelação foi feita muito cedo, calma que isso vai influenciar toda a história). E ela gostava muito, demais, era totalmente apaixonada por ele, mas tantos anos de tratamento respeitoso e formal não deixaram que ela percebesse isso. Segundo: ela sabia que ele também não era totalmente indiferente a ela (também pudera, ela era a única mulher que trabalhava diretamente com Roy e com quem ele convivia todos os dias) e que, se usasse o truque certo, ela poderia fazê-lo perder a cabeça. E terceiro: a tal Trista McLamure, fosse quem fosse, não era páreo para ela, nem nunca seria.

Ela sorriu perversamente consigo mesma, e pôde perceber que sua consciência também sorria do mesmo jeito. Ah, tirar aquelazinha da Cidade do Leste do caminho poderia não ser nada fácil, mas ela faria questão de fazer disso a coisa mais divertida que já foi feita por alguém algum dia. Ah, seria...


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Notas finais do capítulo

N/A: bem, é isso, primeiro capítulo, espero que gostem. E deixem reviews, please! Beijos! =***



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