Os vampiros que se mordam 2 escrita por Gato Cinza


Capítulo 35
Não é segredo




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Foi um reencontro acidental, ela estava vendo algumas noticias na internet quando bateram na porta, pensou que fosse a xerife que passava por ali pelo menos duas vezes por dia para ver como elas estavam.

— Pode entrar, está aberta – disse com a atenção voltada para a página de um site jornalístico regional.

A porta se abriu devagar e como ninguém entrou ela ergueu os olhos para ver quem era o visitante parado na porta.

— Está viva – a voz de Matt estava carregada de emoção – Você voltou.

Bonnie sorriu um tanto envergonhada como se tivesse sido pega cometendo um vandalismo, ela tinha intenção de sair de casa quando estivesse sentindo-se mais forte e até lá não queria receber visitas de mais pessoas além de Damon e Liz. Ela deixou o notebook de lado e se levantou, foi então que a expressão do humano mudou. A surpresa de revê-la tinha se transformado em cautela e agora que a via direito em horror.

— O que houve? – perguntou caminhando até ela – Está doente?

A bruxa sorriu negando com a cabeça e se permitiu abraçá-lo. O abraço foi retribuído com hesitação como se ele temesse tocá-la.

— Eu estou bem, Matt. Só um pouco... magra.

— Magra? Caroline Forbes é magra, você parece uma daquelas pessoas anoréxicas com menos de 40 kg dos programas de reeducação alimentar. Dá para ver os ossos sob a pele.

Que ela estava com um aspecto ruim, Bonnie sabia, mas ouvir da boca de um amigo aquela comparação a fez estremecer.

— Eu estava pior – disse mais para si do que para ele – Já estou até comendo frutas sem ficar enjoada.

O que não era um avanço muito grande, depois de duas semanas já esperava pelo menos ser capaz de tomar sopa de legumes sem precisar correr para o banheiro – ou pedir desculpas para Damon por sujar o sapato caro dele.

— Bonnie, você voltou quando?

— Uns quinze dias.

— Quinze dias? Por que não me avisou?

— Desculpe-me, Matt. Mas eu sinceramente não queria ninguém aqui. Só a xerife sabe que eu voltei e... Damon.

— Claro.

— Não me leve á mal é que eu não tinha intenções de contar para ninguém até que estivesse bem, só que eu desmaiei algumas horas depois de voltar e Damon me achou. Ele contou para Liz antes que eu lhes pedisse para guardar segredo.

— Entendo – ele parecia entender mesmo – Damon ficou obcecado por suas coisas desde que você sumiu. Se ele precisava ir a algum lugar ele desviava de caminho para passar por frente de todos os lugares que você frequentava, como se de repente fosse te ver.

A expressão perplexa dela fez Matt assentir, era mesmo difícil acreditar que o vampiro tivesse dado ao trabalho de enlouquecer por causa dela.

— Elena terminou com ele por causa disso, ele estava obcecado por sua memória.

— Ele não me contou nada sobre... Espera ai, memória?

— Depois de seis meses sem noticias suas começamos a pensar que talvez tivesse morta.

— Eu estava presa – ela defendeu-se – Num reino mágico bizarro. Ah! Deixa pra lá. Eu estou de volta e estou bem.

— De volta sim – Matt concordou – Mas bem é difícil de acreditar.

Um silêncio constrangedor os pegou fazendo parecer que eram desconhecidos num encontro ás cegas.

— Soube sobre Vicki – ela começou – Lamento.

Matt tentou soar conformado, mas a voz tremeu quando disse:

— Não se preocupe comigo, já aprendi que sempre vou perder para o sobrenatural.

— Sinto muito mesmo, Matt. Eu devia tê-la deixado fora disso, queria ajuda-la e as coisas saíram do meu controle.

— Bonnie, não se culpe. Você nem estava aqui. Aqueles malditos viajantes forçaram Stefan virar um monstro e ele matou minha irmã. Não havia nada que se pudesse fazer, ele é um vampiro e ela era só uma caçadora humana.

— Ainda assim... Eu devia ter imaginado que algo assim pudesse acontecer.

— Como ia saber? Você a salvou das drogas e... deu uma nova chance para ela.

— E a coloquei no meu mundo.

— Melhor saber que ela foi feliz no seu mundo sobrenatural com monstros sugadores de sangue do que lembrar quem ela era antes de sua intervenção... Eu vou embora, só passei aqui por que achei estranho que as janelas estivessem abertas enquanto sei que Damon está no Mystic Grill.

— Hum... antes venha conhecer uma pessoa, já que está aqui.

— Quem?

Matt ficou surpreso com a bebê Hope que estava brincando com os trecos pendurados no berço. Depois de um cálculo correto Bonnie concluiu que sua filhinha tinha cinco meses de idade no momento presente. Não sabia com exatidão o dia em que ela nasceu por que era difícil contar o tempo no mundo de Mina onde em vez de noite havia apenas um período de cinco horas onde os sóis do planeta davam lugar á uma bola incandescente violeta que emitia quase nenhum calor e era muito menos nocivo para ela do que os dois sóis brancos que atingiam altos níveis radioativos e que brilhavam por eternas onze horas. Em geral ela tinha passado mais de dois anos em Taan, foi chocante saber que tinha se passado exatos doze meses desde sua partida até seu retorno.

— Ela não se parece com você – ele disse – Talvez os olhos, mas só.

— Eu acho igualzinha a mim quando era pequena, espera ai.

Levou quase meia hora para achar os álbuns antigos e analisando bem Hope realmente tinha herdado apenas seus olhos verdes e seu tom de pele negro. Depois de concordar que algo nela lembrava os traços do pai, Bonnie convenceu Matt a ficar mais um pouco e contar sua versão do que tinha acontecido no tempo em que esteve fora:

— Damon me contou a versão dele, mas é difícil acreditar nas palavras de alguém que passa tempo demais tomando uísque e que tenta omitir informações.

Bonnie ficou constrangida quando percebeu que seja lá o que tivesse ocorrido aconteceu exatamente como Damon contou, a diferença foram apenas os detalhes que o vampiro preferiu ignorar por ser desnecessário. Sendo dia de folga dele, concordou em ficar para o jantar por que Bonnie queria falar sobre qualquer outra coisa que não fosse as calorias que Damon e Liz tentavam fazê-la engolir.

— Está sendo tão ruim assim?

— Eles estão tentando me manter viva, a preocupação de Liz é reflexo da ausência de Caroline e a de Damon é por achar algo para fazer que não seja ficar bêbado até se esquecer. Eu sinto que vou enlouquecer se ouvi-los falar sobre nutricionistas e médicos.

— Certo eu fico.

O que Donovan estava fazendo ali? Foi a primeira coisa que quis saber quando o viu. Matt respondeu irônico que estava procurando as presas de Hope que estava em seus braços. Por um minuto Damon tentou se convencer que era ridícula a imagem de Matt segurando a bebê e falando daquele jeito bizarro que Liz, Bonnie e metade das pessoas no mundo faziam para falar com bebezinhos que não sabiam falar, só que era difícil achar ridículo aquilo quando Hope abria pequenos sorrisos mostrando os dentinhos que nasciam. Inveja? Não, apenas uma constatação, fazia dias que convivia com a criança e percebeu que não tinha tocado nela nenhuma vez, olhava nos braços da mãe ou de Liz ou no berço ou na cama, mas não tocava nela. Ele não tinha vocação para babá, era isso. Nada tinha contra crianças só não se acostumava com a ideia de que uma coisinha frágil pudesse ser tão dependente.

Matt tinha conseguido distrair Bonnie com uma conversa maluca sobre uma viajem curta que ele tinha feito com Rebekah Mikaelson para o Canadá e um incidente que ela causou com uma vampira bonita que acabou se apegando á eles.

— Eu nunca tinha feito ménage até então.

— E eu não precisava saber disso – disse a xerife tossindo, as orelhas vermelhas.

— Desculpe xerife – pediu Matt ficando mais vermelho do que a orelha da xerife.

— Sério? Agora que a história parecia que ia ficar interessante vai se calar?

— Damon!

Bonnie olhava de um para o outro e ria. Pareciam até pessoas normais tendo um jantar entre amigos.

— Nos vemos quando você voltar? – perguntou Matt quando se despediam.

— Claro.

— Voltar de onde? – Damon quis saber.

— Estou indo passar alguns dias com minha mãe.

— Não sabia que ia sair da cidade.

— Conversei com ela hoje à tarde e como ela tem seu trabalho, preferi ir até ela em vez de pedir que ela venha até mim.

Matt e a xerife foram embora desejando boa viajem para a bruxa. Damon a observava calado.

— O que foi?

— Você está aprontando alguma coisa.

— Não.

Ele estreitou os olhos como se a desmentisse, ela revirou os olhos.

— Preciso passar em Nova Orleans para apresentar Hope á Klaus.

— E?

— E que eu estou com um pressentimento estranho de que devo visitar Klaus. Então já que vou sair de casa é melhor visitar minha mãe também. Não estou tramando nenhuma guerra.

— Está bem, vou com você.

— Não pedi para ir comigo á lugar nenhum.

— Estou entediado aqui, gosto de viajar e você não é má companhia.

— Vai ser uma longa e tediosa viagem.

— Relaxa, eu só viajo de primeira classe.

— Hum... então nos encontramos em Nova Orleans, por que eu pretendo ir de carro.

— De carro? Por que ficar o dia todo dentro de um carro se pode viajar em menos tempo de avião?

— Por que eu não quero derrubar o avião se tiver outro daqueles colapsos. E pare de me olhar assim.

Bem que ele queria, mas era difícil não olhar com desconfiança para ela quando parecia que estava mentindo. Cogitou a ideia de perguntar o que ela estava escondendo, mas achou que ela ia entrar em modo defensivo e dispensá-lo com alguma desculpa boba. E era melhor mesmo acompanha-la, ela tinha apagado toda eletricidade do quarteirão poucos dias depois de voltar do reino de Mina e desmaios, dores de cabeça fortes demais. Apesar de não justificar nada, disse que estava aprendendo a controlar os efeitos colaterais. Efeitos do que? Ela não contou.

Em condições normais ele faria aquela viajem de Mystic Falls para Nova Orleans em menos de doze horas. Mas teve que manter a velocidade dentro do limite de 60 km/h e fazer muitas paradas no caminho, para comerem, para usar o banheiro, para dormir.

— 180 por hora e já tínhamos chegado lá – disse para Bonnie quando se sentavam a mesa de numa lanchonete de beira de estrada perto de um posto de gasolina.

— Hope é um bebê, não vai dirigir feito um lunático com minha filha no banco de trás.

— Sua mãe está falando como uma vovó paranoica – disse ele para a criança que estava dormindo tranquilamente – Olhe para ela, aposto que nem perceberia se estivesse dirigindo em velocidade máxima.

— Não!

Enquanto esperava pelo pedido, a bruxa foi até o banheiro. Ele olhou ao redor procurando alguém em quem enfiar suas presas, viu uma mulher noutra mesa sorrindo para ele enquanto brincava com o canudinho com qual tomava refrigerante. Piscou para ela.

— Sua filha é uma graça – disse a garçonete lhe entregando a torta que pedira – Tem os olhos da mãe.

Ele nem tinha notado que Hope acordara, já tinha percebido que ela chorava pouco considerando o barulho que criancinhas faziam.

— Obrigada – Bonnie respondeu se sentando – Espero que não herde só meus olhos, seria catastrófico se herdasse a personalidade do pai.

— Ele não me parece tão mau assim – a mulher sorriu para Bonnie – Talvez um pouco sério demais, mas pelo menos é bonitão.

Levaram segundos para cair a fixa, quando a mulher se afastou foi que Bonnie entendeu:

— Ela achou que você fosse pai da Hope?

— Ela me achou sério demais, talvez precise de óculos novos.

Enquanto Bonnie comia sua salada de frutas ele saiu gesticulando para a mulher sorridente, vinte minutos depois voltou satisfeito e começou a comer a torta fria.

— Espero que tenha a deixado viva – disse Bonnie olhando para ele com uma expressão zangada.

— Claro que deixei. Não tinha motivos para não deixar... O que foi? Fiz alguma coisa?

— Não. Eu te espero no carro – resmungou saindo com Hope.

— Opção um, seguimos viagem e chegamos à Nova Orleans cedinho ou opção dois, dormirmos por aqui e chegamos lá ao entardecer.

— Dormimos aqui – ela disse torcendo os dedos.

— O que foi agora?

— Nada, só imaginando como vai ser. Não sei se foi boa ideia vir até aqui.

— Podemos refazer a rota e ir direto para a casa de Abby ou voltar para casa.

— E adiar o encontro com Klaus até ele saber que voltei e ir atrás de mim? Não sei se é uma ideia sensata.

Ele a beijou, por alguns segundos ela correspondeu, então percebeu o que estava fazendo e se afastou.

— Temos um acordo, disse que não íamos para cama.

— Eu sei o que eu disse, mas não precisamos usar a cama. Tem a mesa, a banheira, o chão...

— Damon.

— Nada de Damon, você precisa relaxar e não acho que uísque seja a melhor saída.

— E sugere sexo?

— Sim – respondeu encurtando a distancia entre eles e voltando a beijá-la.

Bonnie não ofereceu mais nenhuma resistência á ele.

Acordar ao lado de Damon no quarto de um hotel noutra cidade, por que isso lhe parecia um déjà vu? Saiu da cama, olhou a filha que dormia e foi para o banheiro, o vampiro se convidou á se juntar á ela no banho.

— Já percebeu que ficamos juntos quando não estamos em Mystic Falls? – ela questionou.

— Sério? Deve ser impressão sua.

— Sua memória é assim tão ruim? Miami, São Francisco.

— Hum... Miami... eu lembro. Toda vez que voltamos para Mystic Falls temos algo importante para resolver.

Bonnie desviou os olhos e fingiu interesse no pequeno frasco onde estava escrito shampoo. Teria dito que era por que sempre que voltavam para casa tinha Elena no caminho. Pegaram a estrada logo depois do café da manhã. Quando entraram em Nova Orleans ela pegou o celular de Damon e mandou uma mensagem para que Klaus o encontrasse com urgência no Rousseau.

— Por que não vamos direto para a casa dele?

— Não sei o que vamos achar lá.

Quando chegaram ao pub, o hibrido já estava lá. A expressão dele era de irritação quando viu Damon, como se tivesse sido obrigado á esperar por horas e tivesse outra coisa para fazer, mas então seus olhos recaíram em Bonnie que segurava a filha nos braços. Ele se levantou da cadeira e ficou parado, em pé.

— Olá – foi o que ela disse, imóvel na porta.


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