Kingdom Hearts: Motherland escrita por Kyra_Spring


Capítulo 7
O rei dos tolos




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            O dia seguinte trouxe surpresas inesperadas.

            Sora, Donald e Goofy ainda não sabiam o que fazer para ajudar aquele rapaz, ou a cigana que o havia ajudado. E também não haviam encontrado sinais de Heartless ou Nobodies, mesmo que os relatórios dos sensores da Highwind indicassem que eles estavam lá. Seria algo invisível, algo que somente alguém com grande sensibilidade para as trevas pudesse encontrar? Alguém como...

            Não. Eles iriam se virar, sem precisar disso.

            As ruas estavam tensas e cheias de pessoas assustadas, que observavam os três. Sora sabia que,em algum momento daquela noite, ele teria que lutar, mas não sabia quando e em quais circunstâncias. Por isso, mantinha-se preparado, atento, enquanto buscava sinais da bela cigana e do rapaz deformado. Provavelmente, aquele era Quasímodo, o sineiro de Notre Dame do qual Clopin falou em sua história. E, se ele era o homem, o juiz Frollo certamente era o monstro.

_Minha vontade é ir até o Frollo e descer a Keyblade na cabeça dele eu mesmo! – sibilava Sora, quando se viu suficientemente afastado das pessoas – Eu não sei porque ele fez aquilo, o cara não pode ser humano!

_Poderíamos ir até a torre da igreja – sugeriu Donald – Quasímodo deve estar lá, se for ele mesmo o cara da história.

_Não, não com todos esses guardas – observou Goofy – Viu o jeito que eles nos olham? Na certa, só estão esperando que a gente dê um pretexto pra ir atrás de nós, também.

            Então, uma grande movimentação de soldados e guardas começou, e de repente casas começaram a ser arrombadas e pessoas arrastadas para fora e acorrentadas. Logo, a rua se tornou um campo de guerra, com gritos, choro e xingamentos, enquanto os guardas prendiam pessoas a torto e direito e invadiam qualquer lugar.

            Sora só conseguiu pensar por tempo suficiente para decidir correr e arrastar os outros dois consigo, até achar um beco suficientemente seguro para decidir o próximo passo. De esguelha, ele observava as agressões. Os guardas, violentos, batiam e feriam as pessoas que ousavam se opor. Havia crianças acorrentadas, pessoas feridas, sangue pelo chão. Será que tudo aquilo era apenas por causa da bela cigana insolente?

_Isso é loucura – sussurrou Goofy – Pessoas arrastadas como se fossem monstros, isso é terrível!

_E tudo porque são diferentes! – Sora trincou os dentes, enquanto fazia a Keyblade se materializar em sua mão – Eu vou até lá acabar com isso, agora mesmo!

_Não, você não vai a lugar nenhum! – Donald o segurou pelo ombro – Eles vão matar você se tentar qualquer coisa, não percebe? Precisamos nos esconder e pensar!

_Dez moedas de prata pela captura da cigana Esmeralda, é o que estão dizendo – disse Goofy – Tudo por causa dela! E eles estão lutando para protegê-la!

_Se alguém pedisse justiça para o seu povo, você também não o protegeria? – observou Sora, com um suspiro – Vamos encontrá-la e ajudá-la. Mas, se alguém entrar no caminho...

            Ele não disse nada, apenas colocou sua Keyblade em posição de ataque. Ele não sabia porque aquilo estava mexendo tanto assim com ele, só sabia que precisava ajudá-la. Era algo que não parecia partir dele, mas que o empurrava na direção daquela luta. Então, eles seguiram em frente, até um moinho. Algumas pessoas observavam a cena, e murmuravam aflitas entre si:

_Pobre moleiro! – disse uma mulher, pesarosa – Nunca fez mal a ninguém!

_O que está acontecendo aqui? – perguntou Donald.

_Frollo enlouqueceu! – foi a resposta que um homem deu – Atacando inocentes por causa de uma única mulher...

            Não era possível ouvir o que se passava dentro da casa, então eles só puderam observar o juiz entrando e saindo minutos depois. Então, ele mandou seus guardas trancarem a casa e atearem fogo.

_O quê? – todos os que assistiam a cena disseram, chocados – Por que?

_Com todo o respeito, senhor – eles puderam ouvir o capitão dizer – Não fui treinado para matar inocentes!

_Você foi treinado para cumprir ordens! – replicou o juiz. O capitão apenas lançou a ele um olhar de profunda decepção, enquanto jogava sua tocha na água. Irritado pela insolência, o próprio Frollo pegou uma tocha e ateou fogo no moinho.

_Droga, eu vou lá! – dessa vez, Sora pouco se importava se alguém iria ouvi-lo ou não. No segundo seguinte, ele já disparava na direção do moinho, possuído pela revolta.

            Logo, as chamas engoliram o moinho por completo. O pânico se espalhou, e Sora, movido pela raiva, atirava feitiços de gelo para tentar aplacar as chamas à distância, enquanto se aproximava para resgatar os moradores da casa. Então, encontrou-se com o capitão, e sem que percebessem, os dois afastavam juntos as vigas que caíam, até chegarem ao que um dia foi o interior da casa e retirarem de lá os seus moradores, apavorados, mas vivos.

_Quem é você? – perguntou o capitão, quando finalmente se deu conta da presença de Sora ali.

_Só um amigo, meu nome é Sora – o garoto respondeu – E você?

_Febo, nesse momento, ex-capitão da guarda de Paris – o homem louro sorriu – Mas o que...

            Ele não terminou a frase, porque naquele momento um outro guarda o atacou pelas costas. Então, os guardas partiram para cima de Sora, que começou a esquivar dos ataques das espadas deles e bloqueá-los com a Keyblade, enquanto tentava afastá-los do capitão. Mais e mais apareceram, até que os dois acabaram dominados e sob o fio das espadas.

_A punição para a insubordinação é a morte – disse Frollo, frio, aproximando-se dos dois – Triste, sem dúvida. Você desperdiçou uma promissora carreira... e, você, garoto, jogou fora toda uma vida.

_Essa é a minha maior honra – replicou Febo, enquanto Sora ainda tentava se desvencilhar dos guardas por tempo suficiente para invocar a Keyblade. Não terminaria daquele jeito, ele não podia deixar que terminasse daquele jeito!

            Mas, então, a salvação veio. Na forma de uma pedrada certeira.

            Sem que Sora percebesse, uma pedra atingiu o cavalo de Frollo, assustando-o e criando os dois segundos de distração dos quais ele precisava. Ele e Febo se levantaram, e começaram a lutar contra os guardas, abrindo caminho entre eles.

_Pegue o cavalo dele e vá – sussurrou Sora – Suma daqui, agora!

_E você? – Febo parecia não acreditar no que ouvia.

_Eu sei me virar, agora VÁ!

            Ele obedeceu, pegou o cavalo e disparou, sob as flechadas dos guardas. Sora procurou os amigos com os olhos. Eles estavam por perto, acompanhados de...

_Você? – ele perguntou, pasmo, ao reconhecer a cigana do dia anterior – Mas o que...

_Não dá tempo! – cortou ela – Febo está com problemas, vamos ajudá-lo!

            Então, eles se viraram a tempo de ver o homem ser atingido por uma flecha e cair da ponte, afundando no rio, sob as flechadas insistentes dos guardas, que só pararam com a ordem de Frollo. Ela arregalou os olhos, apavorada, enquanto descia pela margem do rio correndo e era seguida pelos outros. Ela mesma pulou na água e resgatou-o, desacordado e ferido.

_Não... – ela gaguejava, alheia à presença deles – Não, não, não, você tem que ficar bem!

_Tem algum lugar para o qual podemos levá-lo? – perguntou Donald.

_Sim, tem – ela disse, ainda com a voz embargada. Venham, ainda tem um amigo que pode nos ajudar!

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            Riku percebeu que Leene havia visto ele lutar assim que a alcançou.

            Ela o observava de forma intensa, meio assustada. Imediatamente, ele se sentiu tomado pela vergonha. Agora, sim, ele havia conseguido estragar tudo com ela!

_O que foi aquilo? – perguntou ela – Modo Berserker Serial Killer Ultra Evil From Hell?

_Eu não usaria tantos adjetivos na mesma frase, mas, sim, mais ou menos – ele forçou um sorriso.

_Isso é... aquilo que você me contou, na noite da festa?

_Sim – ele confirmou – Uma das coisas. Tem mais. Mas eu não queria mais ter que usá-las.

            Ela não disse mais nada, mas seu olhar já lhe dizia o bastante. Leene era o tipo de pessoa que não se satisfazia com respostas lacônicas, mas que sabia qual era o momento certo de não fazer perguntas. Um dia ela perguntaria, e um dia ele teria que responder. Um dia.

            Eles continuaram subindo a colina, em silêncio. Eles chegaram, então, a uma gruta, e se depararam com uma cena, no mínimo, bizarra.

_Mas o que diabos ela tá fazendo ali? – Riku não conseguiu conter uma risadinha.

            Era Kairi, que lutava contra alguns Nobodies. A técnica que ela usava, porém, era inusitada: era batia nos inimigos como se usasse uma raquete de tênis ao invés de uma Keyblade. Ela sabia se virar, e até estava se saindo bem, mas isso não tornava a luta menos engraçada.

_Caramba, parece que ela tá batendo neles com uma frigideira! – Leene também riu – Acha que devemos ajudá-la?

_Acha que ela precisa? – replicou Riku – Ela tá se virando bem, vamos deixar ela se divertir!

            Eles acabaram decidindo que ela precisava de ajuda. A luta foi curta, e em pouco tempo a caverna estava livre de Nobodies. Kairi parecia bem orgulhosa do que havia feito, e assim que os viu, acenou sorrindo:

_E então, me saí bem?

_Bem, a sua técnica é interessante, sem dúvida – Leene ainda não havia parado de rir – Tá tudo bem?

_Tá, sim – ela confirmou – Encontrei algumas pessoas lá no fundo da caverna, mas tive que dar conta desses Nobodies antes. Vamos lá!

            Os dois concordaram, e dirigiram-se a passos rápidos para o fundo da caverna, onde era possível ver alguns guardas deitados, feridos. Entre eles estava uma jovem mulher, com cabelos negros acetinados e olhos escuros estreitos, que naquele momento cuidava de um homem desacordado:

_Vocês são os amigos do Sora? – ela disse, assim que viu Riku e Leene se aproximando. Ele engoliu em seco, e respondeu:

_Bem, sim, para todos os efeitos – e, depois, disfarçou com uma tossida – Você é Fa Mulan?

_Sim – ela confirmou, levantando-se com dificuldade – Precisamos de ajuda. Esses monstros surgiram do nada, e não conseguimos enfrentá-los. Que bom que vocês chegaram!

_Você tá bem? – Leene estava preocupada, mas Mulan apenas deu uma risada cansada e disse:

_Ah, foi só um arranhão – e voltou suas atenções para o homem desacordado – Cheng está pior, aqueles demônios brancos o acertaram na cabeça e ele ainda não acordou.

_Posso cuidar dele – ofereceu-se Kairi – Eu trouxe umas poções, talvez elas sejam úteis!

_Tem certeza disso? – Mulan estava aflitíssima, e observava Cheng com os olhos cheios de preocupação e medo – Pode ajudá-lo?

_Vou tentar – a ruiva a encarou – Enquanto isso, descanse.

            Riku a ajudou a se levantar, e a levou para o lado de fora da caverna. Agora que não havia mais Nobodies, o lugar estava calmo e deserto. Ele percebeu rápido que o problema de Mulan não era um simples arranhão, e sim um enorme corte na perna, fracamente enfaixado, e a ajudou a se sentar em uma pedra, num ponto mais ensolarado.

_O que está acontecendo aqui? – ele perguntou, com suavidade.

_Tudo começou quando encontramos uma grande porta de bronze, no topo de uma montanha a alguns quilômetros daqui – respondeu ela. “Uma porta de bronze?”, pensou Riku intrigado, “Será que é igual àquela de Pixie Hollow?” – Tentamos tudo o que conseguíamos, mas não conseguimos abri-la. E, então, esses monstros começaram a surgir de todos os lados, e nos emboscaram! O que são eles?

_Nós os chamamos de “Nobodies” – explicou Riku – Eles foram um dia pessoas, mas perderam seus corações, e se tornaram esses monstros.

_Que tipo de pecado leva uma pessoa a perder seu coração? – sussurrou ela, chocada – E o que os atraiu até aqui? O que eles querem conosco?

_É o que estamos tentando descobrir – respondeu ele – Estamos nos espalhando, procurando pistas em todos os lugares. Você deve se lembrar dos Heartless, não é?

_Aquelas coisinhas pretas e horrorosas? Sim, eu me lembro deles.

_No passado, alguém os controlava. Mas agora não é a mesma pessoa. Não, é alguém... diferente, alguém que provavelmente também está controlando estes Nobodies. Temos uma suspeita sobre quem seja, mas não temos idéia dos seus reais motivos, ou de como detê-la.

_E o que eu posso fazer para ajudar? – ela disse, decidida, tentando se levantar, mas o ferimento na perna a derrubou outra vez – Droga... tem soldados lá fora, eu preciso ajudá-los!

_Peça à Kairi para cuidar de você – ele disse – Você disse que quer ajudar... pode nos levar até essa porta da qual você falou?

_Sim, claro – ela concordou – Quero chegar ao fundo disso. Vou levá-los até lá, mas primeiro preciso ver como Cheng está! Pode me ajudar a chegar até a caverna outra vez, por favor?

            Ele concordou, e ajudou-a a ir até lá. Para a surpresa dos dois, o general já estava parecendo muito melhor: estava sentado, conversando com todos, e muito surpreso:

_O que foi que aconteceu aqui?

_É uma longa história – disse Riku – Kairi, pode dar um pouco de poção à Mulan? Ela vai nos levar até a tal porta de bronze que eles viram.

_Se realmente vão até lá, devo adverti-los – replicou Cheng, grave – Tivemos que fugir de lá, pois há muitos demônios brancos naquela região. É como se eles... protegessem algo ali, eu não sei explicar. Por favor, tomem cuidado – e, para Mulan – Você também. Por favor, não se arrisque. Se quiserem, posso ir com vocês até lá!

_Eu vou ficar bem, prometo – ela tentou sorrir – E você precisa ficar e cuidar das tropas. Eles precisam de um líder forte, e nesse momento o líder é você.

            A poção havia dado certo, e o ferimento de Mulan estava quase completamente curado. Onde havia o grande corte, restava apenas uma cicatriz clara. Assim, ela mesma os guiou para fora da caverna, mas uma voz severa os fez parar no caminho:

_Eu vou ser obrigado a discordar disso!

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            Foi realmente surpreendente perceber que o amigo de quem Esmeralda falava não era outro senão o próprio Quasímodo, o corcunda de Notre Dame. Ela, Sora, Donald e Goofy subiram em silêncio as escadas até a torre do sino, e ela mesma os anunciou:

_Quasímodo? Sou eu, Esmeralda. Trouxe alguns amigos, e preciso da sua ajuda!

_Esmeralda? – ele apareceu logo, ansioso – Quem são eles?

_Alguns amigos que me ajudaram a chegar aqui – respondeu ela, e os apresentou a ele. Ele, então, correu até ela e a abraçou, carinhosamente:

_Você está bem! Eu sabia que voltaria! – e, para os outros – Olá para vocês! É um prazer conhecê-los!

_Igualmente – Sora retribuiu – A cidade está um caos, é bom ver que você está bem!

_Você já fez muito por mim, meu amigo – continuou Esmeralda – E agora terei que pedir a sua ajuda mais uma vez.

            Ele concordou na mesma hora. Então, Donald e Goofy trouxeram Febo, ainda desmaiado. A mudança foi brusca: o carinho e a animação no olhar dele deram lugar a uma decepção profunda.

_Este é Febo – ela disse – Está ferido e é fugitivo, como eu. Não pode ir muito longe, e sei que estará a salvo aqui. Pode escondê-lo para mim?

_Por aqui – ele chamou, subindo as escadas e sinalizando para que os outros o seguissem. Febo foi colocado numa cama improvisada, e Esmeralda começou a cuidar dele, desinfetando e costurando seus ferimentos. Ele tentava disfarçar a dor com ironias, mas era visível que estava sofrendo.

            Sora, Donald e Goofy observavam a cena de longe. Os olhares que Febo e Esmeralda trocavam eram inconfundíveis, e cada pequeno gesto era cheio de significado. Cheio de significado também era o olhar de Quasímodo, que naquele momento estava com o coração visivelmente partido.

            Então, os dois se beijaram. E o rapaz parecia querer desmoronar.

_Quasímodo? – Sora se aproximou com cuidado, entendendo a cena – Não... não sei se eu deveria dizer alguma coisa, mas... não fique assim...

_Não, tá tudo bem – ele disfarçou, tentando sorrir – Você é o Sora, não é? Você ajudou os dois a chegarem até aqui...

_Era o nosso trabalho – respondeu ele, dando de ombros – E eu vi o que aconteceu no Festival. Aquilo foi terrível. Não se faz uma coisa daquelas com uma pessoa.

_Acho que fico te devendo uma, então – o outro disse – Talvez eu pague, um dia.

_Pessoal, temos problemas – foi Donald quem deu o anúncio – Frollo está aqui!

            O próprio Quasímodo levou Esmeralda até a saída, e depois escondeu Febo sob uma mesa, enquanto sinalizava para que Sora, Donald e Goofy se escondessem no telhado. Eles o obedeceram, e começaram a observar tudo por uma fresta entre as tábuas. Era visível o cinismo do juiz, ele na certa escondia alguma coisa, e Quasímodo não conseguia disfarçar seu nervosismo. Logo, eles puderam ouvir a voz áspera do juiz, e tigelas se quebrando. E, por fim, o som dos passos cadenciados dele, descendo novamente as escadas. Quando os três se atreveram a descer do telhado, se depararam com o rapaz sentado no chão, os olhos aterrados e tristes, e uma pilha de cinzas no lugar do que deveria ser uma pequena boneca de madeira.

            Frollo sabia onde ficava o esconderijo dos ciganos. E iria destruí-lo, assim como todos os que estavam lá.

_Certo, e agora? – disse Donald – Precisamos fazer alguma coisa!

_Sim – confirmou Febo, saindo do seu esconderijo – Temos que encontrar o Pátio dos Milagres antes do amanhecer. Se Frollo chegar lá antes... vocês vêm comigo?

_Sim! – concordaram Sora, Goofy e Donald na mesma hora.

_E você, Quasímodo? – ele viu a hesitação do sineiro – Pensei que fosse amigo da Esmeralda!

_Frollo é meu mestre, não posso desobedecê-lo de novo!

_Ela defendeu você! Esse é um modo bem estranho de demonstrar gratidão!

            Febo estava irado, e deu as costas a Quasímodo, fazendo sinal para que os outros o acompanhassem. Sora estava com o coração apertado, imaginando a situação difícil em que ele estava. Ele acabaria traindo alguém, de qualquer forma. Mas não havia tempo para hesitação. O garoto olhou de relance para a sacada do campanário, e vislumbrou a imagem de Paris ardendo em chamas, um segundo antes de descer as escadas.

            Mas, quando eles chegaram ao chão...

_Olhe, eu vou ajudá-los – era o próprio Quasímodo – Acho que sei como chegar ao Pátio dos Milagres.

            O grupo seguiu em silêncio, até os subterrâneos da cidade. Logo, chegaram ao Pátio, um grande salão muito colorido e iluminado, apinhado de ciganos que haviam conseguido fugir do expurgo de Frollo. Esmeralda os aguardava, aflita, e Febo se encarregou das más notícias:

_Frollo está vindo para cá!

_O quê? – a voz dela falhou – Mas como?

_Ele disse que vai atacar o Pátio com mais de mil homens ao amanhecer – respondeu Quasímodo – Precisamos tirar todos daqui, o mais rápido possível.

_Vocês não vão a lugar nenhum!

            A voz conhecida fez com que todos se virassem na direção da porta, aterrorizados. Era ele, o juiz, com um sorriso cruel nos lábios finos. Em segundos, todos estavam cercados por dezenas e dezenas de guardas, e foram dominados rapidamente.

_Obrigado, Quasímodo, eu nunca teria chegado aqui sem a sua ajuda – disse ele, enquanto os guardas acorrentavam todos. Ninguém teve a menor chance – Estão todos convidados para uma grande fogueira amanhã de manhã, na praça da catedral... E você – ele segurou o rosto de Esmeralda – será a estrela principal!

            Sora, Donald e Goofy foram jogados numa jaula, e puderam apenas assistir, desolados, a Febo e Esmeralda serem arrastados numa direção e Quasímodo na outra. Sem poder fazer nada, sem poder lutar, e sabendo o destino terrível que aguardava não apenas a eles, mas a todos os outros inocentes do Pátio, eles estremeceram. Eles iriam precisar de um milagre para salvá-los.

            Um milagre... e eles esperavam que o nome do Pátio não tivesse sido escolhido à toa.

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            Foi um tanto decepcionante descobrir quem era o dono da voz.

            Pela voz, Riku esperava alguém grande e imponente, mas o que ele viu foi um bichinho vermelho pouco maior do que um pequeno lagarto.

_Mushu, o que foi dessa vez? – replicou Mulan, aborrecida – Eles me ajudaram, vou ajudá-los!

_Aquele lugar é amaldiçoado! – insistiu Mushu – Vocês não podem ir até lá!

_Qual é a da lagartixa? – sussurrou Leene. Ele, porém, ouviu, e rebateu, irado:

_LAGARTIXA, NÃO! EU SOU UM DRAGÃO, SACOU? D-R-A-G-A-O, DRAGÃO!!!

_Se você diz... – a loura deu de ombros – Então, senhor Dragão, quer nos dizer por que não devemos ir até lá?

_Eu já disse, é amaldiçoado! – respondeu Mushu – De onde você acha que os demônios brancos vieram?

_Ei, ei, ei, espere aí! – cortou Kairi – Eles vieram de lá? Mas como? Encontramos uma porta como essa da qual vocês falaram, e ela estava selada!

_Como se essas coisas precisassem de portas... – sussurrou Riku, para si mesmo – Sério, precisamos vê-la. Está acontecendo algo muito grave, e está se espalhando por todos os lugares. Essa porta pode ser uma peça nesse quebra-cabeça!

_Grave? Tipo aquela louca do chapéu de chifres, ou algo assim?

_É, mais ou menos. E então, vai nos ajudar ou não?

_Ah, tá bem, tá bem – Mushu se decidiu, por fim – Vamos. Mas não digam depois que eu não avisei!

            Eles começaram a subir a trilha, até o topo da colina. No topo dela, havia o que parecia ser um bloco de pedra, com uma grande porta de bronze enegrecido engastada nele. Riku, Leene e Kairi se aproximaram, e perceberam logo que as inscrições eram parecidas com as da porta de Pixie Hollow. Riku a percorreu com os dedos, intrigado. Apesar de haver algumas coisas em comum, como os entalhes, eram iguais, mas ao invés de um poema, havia letras em algum idioma estranho.

_Isso me é familiar... – murmurou Leene – Tenho certeza que já vi isso em algum lugar!

_Dá pra sentir algo vindo dela – o garoto tocou a porta – A mesma coisa que senti em The World that Never Was...

_Será que é aquilo que o Cloud disse? – Leene o imitou – Alguém tentando drenar esse mundo?

_Talvez – confirmou ele – É a mesma energia, a mesma... sombra. E, de qualquer forma, essa porta parece ser a chave.

_O quê? – então, Mulan se manifestou – Drenar esse mundo? Como assim?

_Ainda não sabemos ao certo – respondeu o garoto – Mas esse lugar corre perigo, e temo que não possamos fazer nada para protegê-lo.

_E o que eu posso fazer para ajudar? – retrucou Mulan, decidida – Não vou deixar que essas coisas destruam minha terra!

_Por enquanto, tudo o que podemos fazer é manter a vigilância sobre esse ponto – disse Kairi – Pelo menos, agora que sabemos qual é o cerne, sabemos também para que lado devemos olhar!

            De repente, eles viram o que Mushu havia dito sobre os Nobodies virem daquela porta...

            Eles começaram a surgir, como se brotassem através dela. Logo, toda a área estava tomada por eles, que cercaram o grupo. A luta recomeçou, dessa vez com os reforços de Mulan e Mushu e a ajuda de Kairi. Ela se esforçava para lutar, mas certamente não tinha a mesma desenvoltura das outras duas.

            Mesmo assim, não adiantava: por mais que lutassem, os Nobodies continuavam aparecendo, sem descanso. Riku não podia se arriscar a usar a mesma técnica outra vez, mas também não sabia o que fazer. Leene também não podia usar seus relâmpagos sem ferir os outros.

            Mas foi Kairi quem deu a resposta. Mesmo que sem querer.

            Enquanto lutava, os Nobodies pouco a pouco a encurralavam na direção da porta. Leene percebeu que, à medida que ela ia se aproximando da porta, os entalhes reagiam, e brilhavam de uma forma estranha e intensa. A princípio, ela não entendeu, mas ao prestar atenção na Keyblade...

_É isso! – ela exclamou – Kairi, bata sua Keyblade na porta!

_O quê? – a garota não entendeu – Por quê?

_Faça o que eu estou dizendo, droga!

            Ela obedeceu, e a reação foi a mais inesperada possível. De repente, foi como se uma imensa parede de vidro se estilhaçasse sob a pancada da Moonbeam, fazendo com que uma onda de choque percorresse toda a colina e varresse os Nobodies. Depois do primeiro susto, eles se aproximaram da porta, receosos.

_O que foi que você fez? – Riku não acreditava – Eu ainda os sinto, mas é como se... como se você tivesse selado a porta!

_Ela não a selou. Não definitivamente, pelo menos. – explicou Leene – Agora reconheci as inscrições. Elas são do antigo idioma de Waterfall City, e reagiram à presença da Keyblade da Kairi. Uma Keyblade em formato de lua... Claro, como eu não pensei nisso antes?!

_Isso vai manter os Nobodies afastados? – perguntou Mulan.

_Honestamente, eu não sei – respondeu a loura – Provavelmente sim, por algum tempo. Já vi esses selamentos antes, mas sei muito pouco sobre eles.

_Precisaremos da sua ajuda aqui – disse Kairi – Precisamos que você fique vigilante. Nós estaremos monitorando, mas você também terá que vigiar essa porta.

_Claro, claro – ela concordou na hora – Vamos ficar atentos.

_É melhor voltarmos logo para Radiant Garden – disse Riku – Precisamos reportar o que aconteceu aqui.

            Os três começaram a fazer o caminho na direção da nave, em silêncio. O que haveria além daquelas portas? E o que isso tinha a ver com Waterfall City? Leene era quem mais sabia sobre a cidade, mas ela mesma nada dizia.

            Mas pelo menos uma coisa havia ficado clara: a situação era mais preocupante do que eles pensavam.

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            No dia seguinte, toda a Paris estava reunida na frente de Notre Dame para um terrível show.

            Esmeralda estava amarrada a um poste de madeira, prestes a ser queimada viva, e Sora, sozinho e acorrentado à sua jaula sem possibilidades de invocar a Keyblade, era obrigado a assistir aquela cena aterrorizante de mãos atadas. Aterrorizado, ele assistiu também a Frollo acender as aparas de madeira ao redor da cigana, dando origem a uma imensa fogueira que certamente a consumiria em minutos.

_Precisamos fazer alguma coisa... – ele sussurrava para si mesmo. Mas o quê? O que ele poderia fazer? Estava sozinho, e não poderia ajudar seus amigos...

            E, o pior de tudo, parecia que isso estava se tornando um hábito.

            Mas, então, surgiu uma chance. Um milagre, talvez.

            Sem que ele pudesse ver de onde, Quasímodo surgiu e a resgatou da fogueira, levando-a ao campanário da catedral sob os olhares espantados dos guardas e de todos os que lá estavam. Ele pôde ver que Febo, a alguns metros de distância, sorria, enquanto o sineiro atingia o topo de Notre Dame, e com Esmeralda nos braços, clamava por santuário.

            Ela estava a salvo. Agora era a vez deles.

            Frollo começou a dar ordens aos guardas para que tomassem a catedral. Mas, com o tumulto, Febo conseguiu acertar um dos guardas e roubar suas chaves, libertando a si mesmo e aos outros que estavam presos, e chamando-os a defender Notre Dame e lutar contra o juiz e seu exército. Era por aquele momento que Sora esperava: ele não deixava passar nenhum guarda que entrasse no seu raio de alcance, e logo que reencontrou Donald e Goofy, os três passaram a lutar juntos. Do topo da catedral, Quasímodo também ajudava, lançando pedras e derrubando as cordas que os guardas lançavam para tentar escalar.

_Droga, Frollo está entrando! – apontou Goofy – Esmeralda e Quasímodo estão lá em cima! Vamos ajudá-los!

            Os três entraram na igreja, subindo a passos rápidos as escadas que levavam à torre dos sinos. Quando chegaram ao campanário, encontraram o juiz com um punhal erguido, prestes a matar o sineiro. Donald foi o primeiro a reagir, lançando uma magia de fogo contra o homem, que se virou, completamente ensandecido:

_VOCÊS NÃO VÃO INTERFERIR! – ele começou a tentar acertá-los com sua espada, sendo bloqueado por Sora, enquanto Goofy sinalizava para Quasímodo ir para um lugar seguro.

_NÃO VAI TOCAR NELES! – berrou Sora, e a luta continuou, arrastando-se até a sacada, de onde era possível ver todo o pátio da catedral ardendo em chamas.

            Então, Frollo o empurrou para longe, e voltou suas atenções ao sineiro e à cigana. Eles estavam dependurados em uma das gárgulas, e assim que os viu, ele começou a tentar derrubá-los. Os dois e esquivavam e saltavam, mas a ira de Frollo era um combustível terrivelmente forte, e ele insistia. Depois do primeiro momento de distração, Sora tentou novamente afastá-lo, mas quando se aproximou, o juiz havia empurrado Quasímodo, que naquele momento era impedido de cair apenas por um tecido. A situação, porém, logo se inverteu, e o sineiro, apoiando-se no alpendre, segurava Frollo, também muito próximo de cair.

_QUASÍMODO! – berrou Esmeralda – POR FAVOR, AJUDE-O!

            Os três começaram a tentar puxá-lo de volta para cima, com a ajuda da cigana. Então, o tecido no qual Frollo se segurava rasgou, fazendo-o despencar na direção do chão coberto de fogo. Quasímodo também se desequilibrou, mas quando estava prestes a cair, Febo apareceu e o segurou.

            Finalmente, todos estavam em segurança. Um final feliz. Febo, Esmeralda e Quasímodo se abraçaram, felizes e aliviados. E essa era a deixa para que Sora, Donald e Goofy fossem embora. Eles deram as costas, afastando-se lentamente, até que...

_Ei, esperem vocês três! – era Esmeralda – Vocês não podem ir embora ainda! Provavelmente a essa hora Clopin e os outros devem estar organizando uma festa enorme lá embaixo!

_Precisamos ir – desculpou-se Sora – Ainda tem uma... coisa que eu preciso fazer.

_Não posso deixar que vocês saiam assim depois de tudo o que fizeram por nós – insistiu Quasímodo, indo até eles – Acho que... devo dar algo a vocês.

_Vocês não nos devem nada – replicou Goofy – Só tentem não deixar outro lunático como o Frollo fazer esse tipo de coisa outra vez, OK?

_Ah, com certeza não! – Febo deu uma risada – Por favor, fiquem mais um pouco.

_Sério, não podemos – disse Donald – Mas vamos voltar para visitá-los.

            Só então Sora percebeu que Quasímodo tinha sumido. Esmeralda foi até ele e deu um beijo em sua bochecha, fazendo-o corar com violência.

_É melhor que venham mesmo – ela disse, com um sorriso, e observou a palma da mão de Sora com atenção – Hum... uma longa linha da vida... uma linha de sorte também longa... e, olhe só, sua linha de amor é bem visível! – ele corou ainda mais – Mas... a linha do seu coração não está clara. Você sempre teve um coração forte, mas algo está abalando a sua fé... – ela o encarou – Você precisa manter seu coração forte para enfrentar a tempestade que virá. Muitos dependem disso!

            Sora engoliu em seco. O que aconteceria se ele não fosse forte o bastante?

_Aqui está! – então, a voz de Quasímodo desviou a sua atenção – Eu não vou permitir que vocês partam sem um presente! Esse é o sino mais raro de Notre Dame, e nunca o usamos. Mas tem um entalhe aqui que lembra aquela sua espada estranha, então acho que devem ficar com ele!

            Ele estendeu a Sora um sino, que tinha pouco mais de trinta centímetros de altura. Feito de prata brilhante e polida, com entalhes intricados e um som muito límpido e cristalino, era realmente uma peça belíssima. Ele reconheceu os símbolos que havia visto na porta de Pixie Hollow, além de entalhes numa língua desconhecida. Além disso, havia o mesmo símbolo que ele vira em seu sonho, dois corações sobrepostos, mas dessa vez havia ainda o desenho de uma Keyblade.

_É lindo – ele sussurrou – Obrigado, Quasi! É um presente maravilhoso mesmo!

            Eles se despediram, e seguiram em silêncio até a nave. Sora tinha muito em que pensar. O que aquele sino significava? E a previsão de Esmeralda, o que ela queria dizer com aquilo?

            E, o mais importante, o que dizer a Riku quando se encontrassem novamente?

_Uma coisa eu não entendo! – disse Goofy – As leituras de Heartless aqui continuam altíssimas, mas não encontramos um único Heartless em todo esse tempo! Será que os sensores estão com defeito?

_Eu duvido – respondeu Donald – Podia até não haver Heartless, mas encontramos aqui algo bem destrutivo, também. Não pode ser coincidência.

_E se forem aqueles Heartless que não conseguimos ver? Como os de The World that Never Was? Talvez isso explicasse – observou Goofy – Talvez a presença deles tenha enlouquecido Frollo, talvez.

_Não, nem todos os Heartless do mundo seriam suficientes para deixá-lo naquele estado – respondeu Sora – Precisamos investigar esse sino. Vamos voltar para Radiant Garden o quanto antes.

            A Highwind levantou vôo, e disparou na direção de Radiant Garden. Sora ainda tinha uma última missão, uma coisa que precisava fazer. Só esperava que ainda não fosse tarde demais.

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            Mais uma vez, as duas naves, Highwind e Fantasia, pousaram no hangar de Radiant Garden.

            Sora e Riku foram os primeiros a descer. Eles se encararam, por um instante, antes de Riku sinalizar para que o outro o seguisse. Os dois foram até a fissura de cristal, em silêncio, e assim ficaram por um longo tempo, evitando se encarar.

_O que você espera que eu diga, Sora? – foi Riku quem quebrou o silêncio – Quer que eu peça perdão? Tudo bem, eu posso fazer isso. Mas eu quero ouvir você dizer o que quer que eu faça.

            Sora não respondeu. A vergonha o sufocava.

_Eu sei que errei muito – continuou Riku – E sei que isso é motivo mais do que suficiente para você não confiar mais em mim. Mas...

_Droga, Riku, por que você não confia em mim? – então, Sora o encarou. Havia mágoa em seus olhos.

_O quê?

_É isso mesmo. Por que você não confia em mim? – ele engoliu em seco – Você nunca confiou em mim de verdade! Você não achou que eu fosse forte o bastante para te seguir, e pensou que eu tinha te trocado pelo Donald e pelo Goofy! E preferiu ir sozinho, quando eu quis te ajudar!

_Do que você tá falando?      

_Eu posso não ser o cara mais forte, ou mais inteligente, ou qualquer coisa assim, mas droga, eu sou seu amigo, não sou? – os olhos dele faiscavam – E eu iria até o fim do mundo por você, como você fez por mim! Então, por que não confia em meu julgamento?

            Os dois se encararam. Riku simplesmente não acreditava no que estava ouvindo. De onde diabos Sora havia tirado a idéia de que não confiava nele?

_O que eu vi naquele mundo pra onde fomos... até onde as pessoas estavam dispostas a ir para salvar umas às outras... e você insiste em me deixar de fora! – Sora dava vazão a tudo o que sentia, deixando as palavras fluírem como uma torrente – Você não pode me proteger para sempre. E eu não sou tão fraco assim, sei me cuidar.

_É isso que você acha? – disse Riku lentamente – Que eu não confio em você e te acho fraco?

            E então, ele deu uma risada alta. Sora passou do espanto à irritação em um segundo:

_Tá, qual é a graça?

_É só que eu não acredito que você quase quebrou meu maxilar por isso! – Riku não parava de rir nem por um segundo – Se eu realmente não confiasse em você, acha que eu teria vindo para cá, para começar? Ou teria te contado o que aconteceu em Realm of Darkness?

_Mas...

_Sora, cale a boca e me deixe terminar – o outro o cortou – Pode me acusar do que quiser, menos de não confiar em você.  E eu não te acho fraco, seu imbecil. Você é muito mais forte que eu.

_Então, porque não me levou a sério? Aliás, por que nunca me leva a sério?

_E quem disse que eu não levei? – replicou Riku – Eu só queria que ficassem todos em segurança. Sejamos realistas, nós dois pisamos na bola. Não devíamos ter dividido o grupo, e poderíamos ter nos dado muito mal.

            Eles ficaram em silêncio, mais uma vez. Por fim, Sora murmurou:

_Me desculpe por ter agido como um idiota.

_Cara, se eu ficasse bravo por todas as vezes que você age como um idiota, acho que nem nos falaríamos mais! – Riku deu uma risada – Você só não devia ter falado aquelas coisas sobre a Maleficent. Se isso ainda te incomoda, fale comigo com franqueza, ao invés de jogar isso na minha cara cada vez que discutirmos.

_Foi burrice dizer isso, eu sei – Sora ficou ainda mais envergonhado – E foi injusto, também. Nunca mais vou dizer uma coisa dessas.

_Me desculpe também – disse Riku – Por te fazer pensar que eu te subestimava, e por não ter me controlado.

            Os dois se entreolharam. Já não havia mais ressentimento ou mágoa nos olhares deles, apenas uma compreensão mútua. E, por fim, eles sorriram.

_Tá, mas sem abraços ou coisas do tipo, tá bem? – disse Sora, com as mãos atrás da cabeça – Vamos deixar isso o menos piegas possível.

            Riku apenas riu, enquanto os dois voltavam para a praça de Radiant Garden. Leene, Kairi, Donald e Goofy, que os esperavam lá, sorriram aliviados. As coisas realmente pareciam ter voltado aos seus eixos.

            Foi então que Cid apareceu correndo na praça, esbaforido, dizendo:

_Meninos, venham à sala de máquinas agora. Temos problemas, e dos grandes, e tem algo que vocês realmente precisam ver!

            “Problemas?”, foi a pergunta nos olhos de Riku e Sora, que se encararam um segundo antes de correr na direção da sala de máquinas, com um pressentimento ruim. As coisas ficavam piores a cada segundo – ao mesmo tempo em que eles pareciam entender cada vez menos o que estava acontecendo.


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