Kingdom Hearts: Motherland escrita por Kyra_Spring


Capítulo 5
O segundo coração




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            O grupo continuou voando em silêncio por muito tempo. Parte disso se devia ao próprio espanto deles: em menos de uma hora, haviam passado por campos floridos e ensolarados, florestas de folhas secas e douradas, prados verdes brilhantes, e agora entravam num domínio coberto de montanhas nevadas. E parte se devia à expectativa do que as fadas de Pixie Hollow pretendiam lhes mostrar.

–Os domínios do inverno ficam quase na divisa do Refúgio com o resto de Neverland – explicou Silvermist – Existe uma caverna na fronteira. Essa caverna está selada com algum tipo de magia muito antiga, e a rainha Clarion nos proibiu de entrar lá.

–Não é uma ordem que ela precise repetir, claro – replicou Iridessa – É um lugar assustador só de se olhar por fora. Mas, com o que está acontecendo, precisamos ir até lá.

–Mas alguém já entrou lá? – perguntou Sora – Quer dizer, não faz sentido temer algo que nem se conhece!

–Existe uma lenda muito antiga entre nós – disse Fawn – Há muitas centenas de anos, foi dito que nasceria no continente uma criança que, de acordo com uma profecia, seria a responsável por mudar o mundo, e teria um grande poder. A mesma profecia também dizia que nasceria outra criança, poucos anos depois, que também seria a portadora de um incrível poder, e que as duas se envolveriam numa luta de vida ou morte, e estariam em lados opostos.

–Sempre acreditamos muito nas profecias – continuou Tinkerbell – Por isso, as fadas ficaram vigilantes. Tudo estava mudando tão rápido... todos sentiam que algo grande e terrível estava prestes a acontecer, e nós sabíamos que muito provavelmente as duas crianças de quem a profecia falava estariam envolvidas.

–E foi então que começou uma grande guerra – Rosetta seguiu contando – Uma guerra terrível, que trouxe o caos a vários mundos. Não sabemos muito sobre o que aconteceu ou sobre a relação dessa guerra com a profecia, mas sabemos que tudo foi selado naquela caverna, para ser revelado quando necessário. Honestamente, acho que essa é a hora.

–Mas e se não for? – Kairi estava preocupada – O que pode acontecer?

–A caverna não se abrirá – respondeu Tinkerbell – Foi um feitiço que a rainha da época, Amarantine, colocou, para evitar que o que estivesse lá dentro caísse em mãos erradas.

            Eles então chegaram a uma grande montanha, com uma imensa caverna escura. Iridessa produziu um facho brilhante de luz e foi a primeira a entrar, pedindo que todos a acompanhassem. Apesar de a entrada ser imensa, eles não foram longe: alguns metros depois, uma imensa porta de bronze entalhado e coberto de azinhavre impediu que eles continuassem.

–Ótimo... e agora? – disse Donald – O que a gente faz?

–Existe uma senha – respondeu Silvermist – E apenas a pessoa certa poderá abri-la.

–Esse é o grande motivo pelo qual chamamos vocês aqui – disse Tink – Sora é o portador da Keyblade, talvez ele possa abrir a porta.

–Bem, não custa tentar – ele deu de ombros, e começou a procurar uma fechadura. Não encontrou: a porta era apenas uma peça maciça de metal. Ele tentou bater com a Keyblade, lançar feitiços, riscar, todo tipo de coisas, apenas para no final, cansado e frustrado, descobrir que ela não havia se movido um milímetro sequer.

–Valeu a tentativa, meninas, mas acho que a coisa não é tão simples assim – disse Riku, pensativo, encarando a porta. Foi então que ele teve uma epifania – Espere um pouco... Iridessa, pode fazer o favor de iluminar um pouco mais?

            Ela concordou, sem entender, e projetou sobre a porta um jato de luz muito mais forte. Foi então que todos viram uma inscrição, já meio apagada, mais ou menos no meio. Leene se aproximou e leu rapidamente, dizendo:

–Sei lá... parece um poema. Sora, por que você não dá uma olhada?

            Ele concordou, aproximando-se, e leu em voz alta. Era um poema curto, e algumas letras estavam apagadas, mas mesmo assim era possível ler até o final.

 

"Eu nasci entre as cascatas lilás

Eu era fraco, ainda não era abençoado

Morto para o mundo, vivo para a jornada

Uma noite sonhei com uma rosa branca que murchava

Um novo nascimento afogando-se em uma vida de solidão

Sonhei com todo o meu futuro, revivi meu passado

E testemunhei a bela e a fera"

 

–Gawrsh, eu não entendi! – disse Goofy, intrigado – Tem mais alguma coisa?

–Rosas entalhadas, folhas, essas coisas – Sora percorreu toda a porta com os olhos – Não faz o menor sentido!

–O que não faz sentido nenhum é isso estar aqui! – disse Fawn – Não usamos metal, e não fazemos coisas desse tamanho! Por que isso está aqui?

–A bela e a fera... a bela e a fera... pode ter a ver com a Belle que salvamos da Maleficent – Sora murmurava para si mesmo – Cascatas lilás... droga, o que é uma cascata lilás? Aaaaaaargh! Eu não sei o que isso quer dizer!

–É melhor voltarmos – disse Silvermist – Logo vão dar pela nossa falta, e podem pensar que fomos seqüestrados também. Então, é melhor...

–Bem, se eles pensarem isso, então pensarão certo! – então, eles ouviram uma voz de zombaria às suas costas – E quantas fadinhas desavisadas temos aqui hoje! A mestra vai ficar muito feliz!

            Eles se viraram bruscamente, se preparando para o combate. Antes que pudessem pensar, estavam todos prontos para o ataque, armas em punho. Mas não foi difícil perceber que a vantagem não estava com eles.

–Pobres tolos... – disse a voz, rindo – Ainda tentam lutar. Mas não será necessário. Apenas... durmam.

            E então, uma névoa branca preencheu toda a caverna, e a última coisa da qual Sora se lembrou foi a de ver um par de olhos vermelhos e gulosos o observando com atenção, antes de mergulhar para um sono profundo.

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–Yuffie, eu já te disse que esse é um plano muito estúpido? – enquanto isso, em Traverse Town, Leon estava sob o sino da torre do Segundo Distrito, berrando para Yuffie, que estava no telhado.

–Algumas vezes – ela apenas riu, e depois falou pelo rádio – Tifa, está pronta? – e, virando-se para o outro lado – E você, Aerith?

–Pelo amor de Deus, o que você pretende fazer? – ela ouviu a voz aflita de Aerith, a alguns passos de distância – Isso é loucura!

–É por isso que vai funcionar! – a ninja riu outra vez.

–Canhões a postos – disse Tifa – Fique à vontade para fazer o que quer que você esteja pretendendo.

            Então, a ninja acionou um interruptor que desligou todas as luzes do Segundo Distrito, ao mesmo tempo em que Tifa acendia as luzes da nave. De repente, Heartless começaram a surgir de todos os lugares, e alguns voadores começaram a seguir Tifa. Ela atirava em quem podia, para desviar a atenção da torre.

            Enquanto isso, Leon dava cobertura a Yuffie, impedindo que Heartless chegassem ao topo da torre, o mais silenciosamente possível. O escuro não ajudava em nada, e ele não conseguia afastar da mente o pensamento de que aquela era, com certeza, uma das idéias mais idiotas com as quais já havia concordado.

–Não é pressão nem nada, mas... quanto falta para você terminar aí? – ele disse, deixando transparecer na voz uma sutil nota de desespero – Estão aparecendo mais, sabia?

–Paciência é uma virtude! – cantarolou a garota – Estamos quase acabando.

–Então, se não for pedir demais, será que vocês poderiam ir um pouquinho mais rápido? – e, falando pelo rádio – Tifa, está tudo bem?

–A nave está falhando, acho que eles conseguiram me interceptar – respondeu ela, tensa – Se eu cair, posso acabar batendo na torre onde vocês estão! Andem logo, por favor!

–RÁPIDO, YUFFIE, QUE DROGA! – berrou Leon, por fim – ELES NÃO VÃO PARAR DE APARECER, E EU NÃO CONSIGO AFASTAR TODOS!

–AGUENTE UM POUCO MAIS! – berrou Yuffie, de volta – SÓ MAIS UM POUQUINHO!

–DIGA ISSO PARA ESSE MONTE DE HEARTLESS SUBINDO A TORRE, ENTÃO!

            Yuffie desviou sua atenção por um segundo do que estava fazendo, para se deparar com uma cena assustadora: dezenas e dezenas de Heartless de vários tipos atacavam Leon que, desprotegido, tentava afastá-los o máximo que podia com sua Gunblade.

–Maldição! – praguejou ela – Me dê mais alguns segundos, eu estou quase terminando! Aerith, por favor, me ajude aqui!

–O feitiço já está pronto, agora é só combiná-lo com o cristal – respondeu Aerith e, depois, ela gritou para Leon – Proteja-se, o impacto vai ser violento!

–Agora, Tifa! – ao mesmo tempo, Yuffie dava os comandos pelo rádio – Não deixe nenhum escapar!

            A ninja e a florista se encararam por um instante, antes de ela posicionar o cristal sobre a preparação mágica. No instante seguinte, uma onda de luz e choque varreu toda a cidade, jogando as duas no chão. Por alguns instantes, todos ficaram parados, estáticos, e toda a Traverse Town ficou mergulhada numa escuridão silenciosa e tensa. Por fim, veio uma voz pelo rádio:

–Tá todo mundo bem aí embaixo? – era Tifa, preocupada – Esse cristal é mesmo poderoso! A nave toda balançou aqui em cima!

–Nossa, você não faz idéia de como é bom ouvir a sua voz! – disse Yuffie, aliviada – Parece que não tem Heartless por aqui. Vocês estão bem?

–Isso depende do seu conceito de “estar bem”! – respondeu Leon – O que foi isso?

–Algo que limpou Traverse Town para nós! – respondeu Aerith – É isso que importa, não é?

–Vamos voltar para o Primeiro Distrito – disse Yuffie, se levantando – Esse é só o começo, agora temos montes de coisas para fazer. Fico me perguntando como Sora e os outros estão...

–Eles estão bem, você vai ver – retrucou Leon – Cid me contou sobre o mundo para o qual eles foram. As fadas moram lá, que tipo de problemas poderia haver?

–Espero que você esteja certo... – disse Aerith, com o olhar distante e um mau pressentimento no coração, antes de se levantar e se dirigir para o Primeiro Distrito de Traverse Town.

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–Ai, minha cabeça... – Sora se levantou com dificuldade, e sentiu a cabeça doer e o corpo formigar. Demorou um pouco até a visão voltar a entrar em foco, mas quando voltou ele percebeu que estava preso numa jaula em algum lugar escuro e cheirando a mofo – Que lugar é esse?

–Sora, é você? – para seu alívio, ele ouviu a voz de Tinkerbell, não muito longe – Você tá bem?

–Acho que sim – respondeu ele, tocando as barras – Onde estão os outros?

–Donald e Goofy estão aqui do meu lado – disse ela – Vi a Kairi e a Leene aqui perto, mas não encontrei o Riku e as meninas.

–Argh, que lugar é esse? – então, eles ouviram a voz de Iridessa, ao longe – Tink? Silvermist? Fawn? Onde vocês estão?

–Dessa, estamos aqui! – disse a fada – Onde estão as outras?

–Rosetta e Riku estão aqui comigo, mas o pobre rapaz ainda está desacordado – respondeu Iridessa, consternada – Agora não sei onde estão a Fawn e a Silvermist.

–Aqui! – disse a fada ruiva – Estamos aqui! Vocês estão bem?

–Acho que sim, mas estamos presos! – respondeu Sora – Será que dá pra jogar algum feitiço ou algo assim nas barras?

–Não! Na verdade, não consigo nem voar aqui! – respondeu Tinkerbell – O que houve?

–Tem um bloqueio mágico aqui – eles ouviram a voz de Leene – Alguma coisa não deixa nossa magia funcionar. Eu e Donald tentamos todos os feitiços que conhecíamos. E Kairi tentou usar a Keyblade dela, mas também não deu certo. Essa gaiola foi criada sob medida para nos manter aqui dentro.

            Presos, no escuro e sem magia. Que maravilha. As coisas não podiam estar piores.

            Sora até tentou bater nas grades com a sua própria Keyblade, mas teve tanto sucesso nessa tarefa quanto teve ao tentar abrir a porta de bronze da caverna selada. Logo desistiu, exausto e muito irritado, e jogou-se no chão, fixando os olhos em pequenos reflexos de luz vindos de algum lugar próximo. Logo, sua mente voltou para a inscrição na porta. Era estranho, aquelas palavras lhe soavam familiares, e apesar de não conseguir compreendê-las, era como se elas fizessem todo o sentido.

            Alguém fraco, alguém que não foi abençoado... alguém morto para o mundo e vivo para a jornada...

            Uma rosa branca... um futuro sonhado e um passado revivido...

            Como as peças se encaixavam? Por que elas pareciam ter tanto significado para ele?

            “Sora...”

            Era a mesma voz, outra vez. Mas ela não trouxe dor, e sim um sentimento estranho de calma, paz e silêncio. Ele não disse nada, apenas fechou os olhos e deixou que as palavras preenchessem sua mente.

            “Sora... você sabe o que isso quer dizer, não sabe?”

            “Eu sei?”, ele respondeu mentalmente. “Desculpe, eu não sei. Estou tentando, mas...”

            “Você sabe. Está tudo aí, na sua mente”, a voz o interrompeu. “Mas ainda não é a hora de você entender. É como um vitral, ele só fará sentido com todas as peças em seus devidos lugares. Eu posso levá-lo até lá, eu posso ajudá-lo a salvar o mundo outra vez”.

            “Quem é você?”, perguntou Sora. “Por que está me ajudando?”

            “Você só receberá essa resposta ao fim da sua jornada”, ele pôde perceber uma risada. “Mas eu sei o que irá acontecer, e sei que você irá lutar até o fim para impedir”.

            “Mas o que irá acontecer?”

            “Eu não posso lhe dizer isso. Você terá que encontrar essa resposta por conta própria. Mas eu posso lhe mostrar uma coisa, uma pista. Talvez ela seja útil”.

            E, então, foi como se ele deixasse de ser Sora, e passasse a ser uma outra pessoa, sem contudo perder a consciência de que ainda era Sora. Ele se viu parado em frente a uma imagem, que retratava uma rosa e dois corações sobrepostos. Ele tentava olhar em volta, mas seu corpo não obedecia. Aliás, depois de algum tempo ele percebeu que aquele não era o seu corpo. E ele percebeu que estava segurando uma mão pequena, delicada e trêmula. Seu coração estava disparado, e uma mistura explosiva de medo e teimosia tomava conta dele, se sobrepondo à dúvida e ao choque.

–Não tem mais volta a partir daqui – ele disse, mas aquela não era a sua voz – Por favor, volte. Você é a princesa de Waterfall City, eles não te farão nada se você não estiver comigo. Eles querem a mim, só a mim! Não se machuque por minha causa!

–Eu não vou deixar você seguir sozinho – ele ouviu uma voz feminina, determinada, que provavelmente pertencia à dona da mão que estava segurando – Viemos até aqui juntos, e vamos chegar ao fim disso juntos.

–Você sabe como isso vai terminar. Eles vão me matar quando me alcançarem, e vão matar quem quer que esteja comigo – a voz dele saiu mais tensa – Só quero terminar isso antes que eles me encontrem. Você tem uma vida pela frente, um reino para proteger... não se destrua por minha causa.

–Eu não tenho medo. Prefiro que tudo acabe aqui, ao seu lado, mas salvando a todos, a ter que passar o resto da vida assistindo a esses malditos destruírem o meu lar!

            Sora sentiu o coração pular, ao mesmo tempo em que aquele que estava parado em frente à porta respirava fundo, tentando se acalmar. Era estranho, ele sentia tudo o que aquela pessoa sentia, mas nem por isso deixava de perceber os próprios sentimentos! E ele sentia medo, e raiva, e uma certa excitação agressiva...

            E havia algo mais. Um sentimento bom, flamejante. Algo que fazia o coração dele bater na mesma freqüência do dela.

–Me perdoe por te arrastar para isso – ele sussurrou, abraçando-a. Sora não conseguia enxergá-la, por alguma razão, mas sentia o calor dela, a maciez de sua pele... um raio de sol em pessoa – Eu devia ter te protegido, essa era a minha missão! Não quero que se machuque, não quero...

–Shhh, tá tudo bem! – ela sussurrou de volta – Eu não me arrependo. Obrigada por me dar a chance de realmente fazer algo importante pelo meu povo. E obrigada por estar aqui, comigo, agora.

            Sora pôde sentir a dor e a aflição que pesavam sobre o coração daquele rapaz. E sentiu, também, que ele estava disposto a tudo para não deixá-la se ferir.

–Vamos – ela disse – Vamos terminar isso logo.

            Ele se virou para a imagem, e tocou os corações sobrepostos. Nesse momento, eles foram engolidos por uma rajada de luz branca, e tudo desapareceu. Levou algum tempo até que Sora percebesse que estava de volta à jaula escura e empoeirada, e que estava sozinho outra vez.

            “O que acontece depois?”, ele perguntou. “Por que não me deixa ver o resto? Aliás, por que não pára com os enigmas e me conta de uma vez o que está havendo?”

            “Eu não posso”, respondeu ele. “Eu só posso ir revelando as pistas aos poucos. Tudo irá fazer sentido no final, eu prometo. Procure aquele que tem o segundo coração. Adeus...”

            “Ei, espere aí! Como assim ‘adeus’? Você ainda me deve explicações! Volte aqui!”

            Mas a voz não respondeu outra vez. Agora, além de cansado e frustrado, Sora estava confuso. O que havia sido aquilo? O que diabos era esse “segundo coração”? Foi real, ou não? E quem era aquele rapaz? Por que Sora conseguia sentir o mesmo que ele? As perguntas aumentavam exponencialmente a cada segundo.

–Sora! Está me ouvindo? – ele ouviu a voz de Riku – Você tá bem?

–Eu é que pergunto! – retrucou ele – Você demorou para acordar, eu fiquei preocupado.

–Descobrimos que as outras fadas também estão aqui – disse o primeiro – Eles nos contaram que fomos capturados por uma bruxa chamada Orda. Ela é uma velha inimiga das fadas, e desde sempre quis o poder delas.

–Quem mais está aí? – eles ouviram uma voz que certamente não conheciam – Nos deixem em paz!

–Vidia? – replicou Tinkerbell, confusa – Estamos aqui há horas, como não percebeu?

–Ah, é você – a voz de Vidia assumiu um tom de desprezo – Que ótimo. Como chegaram aqui?

–Na verdade – explicou Fawn, com uma risadinha sem-graça – viemos aqui para salvá-los.

–É, deu pra perceber o ótimo trabalho que vocês fizeram – a fada veloz ironizou.

–Querem guardar as pedras? – Leene interveio – Se quisermos sair daqui, precisamos pensar juntos! Eu tive uma idéia, mas todo mundo vai ter que ajudar. Agora, ouçam, vamos fazer assim...

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–E então, Cid, alguma notícia dos meninos? – em Radiant Garden, o rei Mickey conversava com Cid na sala de máquinas. O engenheiro observava os monitores do novo sistema de comunicação com atenção, enquanto digitava rápido no teclado do computador principal – Eles já foram há algum tempo, já era hora de terem mandado algum retorno...

–Ainda não... – respondeu Cid, na mesma voz áspera de sempre – Mas não estou tão preocupado assim com Sora e os outros. Quer dizer, eles levaram a Leene, e ela pode ser uma arma de destruição em massa às vezes, mas eles sabem se virar. Estou preocupado de verdade é com o Leon e os outros. Traverse Town se tornou um dos lugares mais perigosos pra se estar, e eu não tenho certeza se eles vão dar conta dos Heartless sozinhos. Tomara que... ei, espere, eles estão fazendo contato!

–Traverse Town contatando Radiant Garden – eles ouviram a voz de Yuffie – Radiant Garden, responda! Alguém na escuta?

–Nunca pensei que diria isso mas, garota, como estou feliz em ouvir a sua voz! – respondeu Cid, animado, pelo rádio – Como estão as coisas aí?

–Melhor, impossível! – respondeu ela, efusiva – Tifa conseguiu descobrir um jeito de mandar todos os Heartless para o espaço! Agora, a proteção da cidade está mais forte do que nunca!

–Deve ser aquele cristal que ela encontrou nas escavações... – murmurou o rei, pensativo – Yuffie, posso falar com o Leon por um instante, por favor?

–Claro! – ela concordou, e no instante seguinte, eles ouviram a voz grave do rapaz ao rádio.

–Leon na escuta. O que foi, majestade?

–Preciso que você e os outros pesquisem a respeito desse cristal – disse Mickey – É evidente que ele é poderoso, mas precisamos descobrir a natureza desse poder. Aerith disse algo sobre ele?

–Ela disse que ele emana algum tipo estranho de energia, mas que definitivamente não é nada maligno ou sombrio – respondeu Leon – Está bem, vamos fazer isso. Está tudo bem aí? Teve alguma notícia de Sora e dos outros?

–Ainda não – disse o primeiro – Que bom saber que vocês estão bem! Mas não baixem a guarda, meninos, nunca se sabe quando as trevas voltarão a atacar. Cuidem-se, e até logo! Câmbio final.

            Mickey desligou o rádio, sentindo-se apreensivo. Por um lado, estava feliz em saber que Leon e seu grupo estavam bem, mas por outro estava preocupado com Sora. Se seus temores estivessem certos, se todas as lendas e histórias fossem verdadeiras, então aquele seria o maior desafio de todos para o mestre da Keyblade. Um desafio que, no final, ele teria que superar sozinho, por mais que isso partisse o coração do rei.

            Aliás... no final, provavelmente todos teriam que lutar sozinhos.

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O plano de Leene despertou diversos tipos de sentimentos nos prisioneiros de Orda.

–Acha mesmo que isso vai funcionar? - perguntou a ministra do Inverno, cética – Ela tem todas as armas, e estamos numa desvantagem tremenda. Se formos pegos, estamos perdidos.

–Não necessariamente! – replicou Silvermist – Todos nós conhecemos Orda. Ela não pensaria num plano desses sozinha, é óbvio que tem alguém mais inteligente que ela dando as coordenadas. Se nos juntarmos, poderemos derrotá-la!

–Ela tá certa! – concordou Donald – Não se trata de força bruta, e sim de inteligência!

–Além do mais, sabemos o que está nos deixando sem poderes – explicou Leene – É aquele círculo no chão. É só rompê-lo, e eles voltarão.

–Shhhh, ela tá vindo! – sussurrou Iridessa – Preparem-se. Tink, você está pronta?

–Claro que sim! – ela disse – Tomara que funcione!

            Eles assumiram suas posições, ao mesmo tempo em que a porta se abria. Quem entrou foi uma mulher baixa e atarracada, com cabelos grisalhos e desgrenhados e olhos vermelhos flamejantes. Sora, então, começou a sua parte no teatro, batendo furiosamente nas grades com a Keyblade e gritando:

–EU QUERO SAIR DAQUI! ME DEIXEM SAIR! ME DEIXEM SAIIIIIIIIR!

–Cale-se, Keyboy – disse a bruxa, azeda – Pode gritar e bater o quanto quiser, pois aqui você não tem poder algum!

–Qual é a sua, hein? – disse ele – Por que nos prendeu aqui? O que você quer?

–Digamos que a minha chefe tem alguns planos para vocês todos – respondeu Orda, com um sorriso cruel nos lábios – E as fadas, bem, são um bônus para mim!

–Nem a Maleficent, nem a Organization conseguiram nos vencer – foi a vez de Sora sorrir – O que faz você, ou a sua chefe, pensarem que podem?

–Ah, garoto, você realmente não sabe com quem está lidando! – a bruxa riu alto, enquanto se aproximava das grades – E você realmente é bom para falar, mas o que pode fazer? Tão pequeno, tão indefeso, preso numa gaiola...

–Você não deveria subestimar os pequenos... – ele sibilou – TINK, AGORA!

            Então, Tinkerbell, Donald e Goofy empurraram sua própria jaula com todas as forças, fazendo-a cair diretamente na cabeça da bruxa. Orda se desequilibrou e caiu, e as barras da gaiola se soltaram com o choque. Sora fez o mesmo com a sua própria gaiola, assim como os outros. Só então o fato de todos terem menos de quinze centímetros se mostrou um inconveniente: eles tinham que andar, e uma pequena distância parecia uma imensidão.

–Rápido, quebrem o círculo! – disse Goofy – Eu não sei por quanto tempo ela vai ficar apagada, então é melhor andarmos logo!

            Eles começaram a tentar apagar as marcas com o que tinham, mas elas eram muito resistentes e não saíam de forma alguma. Sora começou a ficar aflito: se ela acordasse antes que eles terminassem, todos estariam perdidos. Orda começava a se mexer, mas então os ministros das estações também jogaram sua jaula contra a cabeça da bruxa, mantendo-a desacordada.

–Ei, esperem! Tive uma idéia! – disse Kairi, por fim – Não precisamos apagar as marcas, só precisamos criar marcas novas, e o círculo ficará inutilizável do mesmo jeito!

–Brilhante! – disse Donald – Ela tá certa, o círculo não vai funcionar se as marcas forem diferentes! Esse círculo foi feito com uma tinta especial, deve haver mais em algum lugar por aqui!

            Riku começou a escalar a mesa, até o topo, e encontrou um pote com uma tinta vermelha brilhante que cheirava a ferrugem. Empurrou-o com dificuldade até a borda e avisou:

–Eu vou ter que jogar. Afastem-se todos!

            Assim que não havia mais ninguém, ele empurrou o pote com todas as forças mesa abaixo. Logo, ouviu um som de vidro se quebrando, e quando olhou novamente, o círculo intricado estava coberto por um enorme borrão de tinta vermelha. Ao mesmo tempo, sentiu a diferença em si mesmo: um formigamento começou a percorrer seu corpo, vindo pelos pés, subindo até o peito, estendendo-se às asas. Arriscou um vôo curto, e conseguiu.

–Deu certo! – vibrou ele. Iridessa e Silvermist vieram em sua direção – Agora podemos fugir!

–O que acha de uma carona? – disse a fada da água – Sabemos que você ainda não está muito seguro para voar – Riku corou furiosamente, e as duas riram, enquanto o conduziam mesa abaixo.

            Quando chegaram ao chão, todas as gaiolas já estavam abertas, e todas as fadas pairavam sobre Orda, ansiosas. Sora começou a dar os comandos:

–Saiam o mais rápido que puderem, e procurem a rainha Clarion. Contem a ela tudo o que viram e ouviram aqui, assim talvez possamos descobrir quem é o verdadeiro responsável por trás disso. Vamos manter Orda neutralizada até que vocês estejam em segurança. Tink, pode levá-las, por favor?

–Nada disso, eu vou ficar e ajudar! – protestou a fada-artesã – Eu também quero saber quem é a “chefe” dessa bruxa horrível!

–Não questione, Tinkerbell – disse o ministro da primavera – Você precisa nos ajudar a levar todos em segurança até o Refúgio. Por favor, venha.

            Ela ainda ensaiou um protesto, mas as outras não deixaram. Então, aborrecida, ela começou a guiar as fadas na direção da porta, até que todas sumiram de vista. Apenas Sora e os outros permaneceram, ainda voando sobre Orda. Donald apontou o seu cajado para ela e começou a murmurar uma série de estranhos encantamentos.

–Feitiço da verdade – explicou ele – Agora ela irá responder a qualquer coisa que perguntarmos, sem nem se dar conta disso – e, para a bruxa – Quem é a sua chefe?

–Erinia – murmurou ela – O nome é Erinia.

–Quem é ela? O que ela quer? – foi a vez de Riku perguntar.

–Ela quer... os mundos... todos... ela quer... o poder deles...

–Maleficent está com ela? – disse Goofy, ansioso.

–Sim...

–E que história é essa de envelhecer mundos? – perguntou Sora – Como ela faz isso? Por que ela faz isso?

–Destruir... para recriar... destruir... para recriar...

            Eles se entreolharam por um instante. Mais um enigma acabava de se materializar bem ali, na sua frente.

–Ela não deve saber muito mais do que isso – disse Leene, por fim – É melhor irmos logo.

            Então, inesperadamente, Orda se levantou e agarrou Sora com as mãos. Seus olhos vermelhos brilhavam de ódio, enquanto ela vociferava:

–SEU INSETO INSIGNIFICANTE! VOCÊ VAI ME PAGAR POR ISSO, KEYBOY!

            Ela o esmagava com as mãos, e em muito pouco tempo ele quase não conseguia respirar. Os outros tentavam fazê-la soltá-lo, mas ela estava movida pelo ódio, e não se movia. Quando ele já estava quase desmaiando, uma voz estranhamente doce e gentil disse:

–Solte-o, Orda, e deixe-o ir. Ele passou no nosso teste.

–Ele me desafiou, Erinia! – urrou a bruxa – Não vou deixá-lo fazer isso impunemente.

–Eu disse para soltá-lo – a voz da primeira ficou mais firme, e Orda obedeceu-a de má vontade, soltando-o. Levou algum tempo para Sora voltar a respirar normalmente, mas quando voltou e viu quem era Erinia, seu fôlego foi levado embora novamente.

            Ela era linda, sem dúvida, mas parecia uma criatura atemporal, como um fantasma ou alguma antiga estátua de mármore. Alta, delicada e muito pálida, tinha longos cabelos prateados e olhos negros penetrantes e intensos, que emolduravam um rosto fino. Suas roupas, um manto escuro sobre um vestido negro num corte aparentemente muito antigo, reforçavam a impressão de eternidade, de atemporalidade, que ela transmitia.

–Você é Erinia? – Sora conseguiu esconder todo o seu fascínio numa voz neutra e firme – É você quem está envelhecendo os mundos?

–Tudo a seu tempo, meu jovem Sora, tudo a seu tempo – ela sorriu – Vocês realmente são fortes, crianças, e isso é muito bom. Tudo está correndo como o previsto.

–Sabe que nós vamos impedi-la, não é? – replicou Kairi, raivosa, apontando a Keyblade dela – Você não irá destruir mais mundos, sua bruxa!

–É isso mesmo! – Leene deu um passo à frente – Não vamos te deixar fazer nenhum mal a mais ninguém!

–Ora, se não é a gentil Kairi demonstrando um espírito forte e guerreiro – Erinia sorriu mais – Se bem que isso não é surpresa vindo de você, Leene. Você sempre foi assim, combativa.

–Como sabe de tudo isso? – sussurrou Riku – Quem é você, afinal de contas?

–O que foi, Riku? Você já viu tanta coisa no Reino da Escuridão, isso realmente o surpreende? – a voz dela continuava doce e gentil, mas agora era possível sentir o veneno por trás do mel – Essas perguntas serão respondidas depois. Por ora, vamos dizer apenas que passado, presente e futuro são conceitos que não significam nada para mim – então, seus olhos voltaram a pousar em Kairi e, mais intensamente, sobre a Keyblade dela – Uma arma interessante, essa sua. E parece que você nem faz idéia do significado dela...

–AH, CHEGA! – berrou Donald, por fim – AGORA VAMOS TE COLOCAR PRA CORRER! FIRAGA! FIRAGA! FIRAGA!

–Já terminou? – Erinia perguntou, e só então Donald percebeu que nenhum dos seus melhores feitiços de fogo tinha sequer a arranhado – É muita sorte a de vocês eu não querer lutar agora. Mas ainda vamos lutar, isso eu prometo!

            E, então, ela desapareceu numa névoa prateada, levando Orda consigo. Por algum tempo, eles ficaram apenas encarando-se mutuamente, atônitos, e por fim Riku disse:

–Vamos voltar para o Refúgio logo. Eles já devem estar preocupados conosco.

            Eles foram saindo um a um, ficando Sora e Riku por último. O primeiro sussurrou, tenso:

–Como eu devo interpretar o que aconteceu aqui?

–Eu não sei – respondeu o segundo, sincero – E, pra ser bem honesto, eu estou com medo. Quem é ela? E por que ela não lutou conosco aqui? E como ela sabia tudo sobre nós? – suspirou, cansado – Vamos voltar logo e tentar falar com Radiant Garden.

Sora concordou, ainda apreensivo, e saiu. Quem era Erinia? O que significava aquilo? Que teste era aquele? Surgiam novas perguntas a cada minuto, e isso o estava irritando. Será que já não estava na hora de pararem as perguntas e começarem as respostas?

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            Naquela noite, foi dada uma grande festa em comemoração ao retorno das fadas ao Refúgio.

            Todos estavam comemorando, felizes, e pelo menos aparentemente Sora havia deixado um pouco de lado os enigmas e temores de antes. O único que realmente não estava no espírito da festa era Riku, que naquele momento estava observando a noite de Pixie Hollow de um dos galhos da Árvore do Pó Mágico. Era, realmente, um belíssimo espetáculo, e o brilho pálido e prateado da lua sobre os campos milimetricamente cuidados contrastava com o brilho quente e dourado da cascata de pó mágico que jorrava da Árvore. Se tudo aquilo realmente fosse capaz de acalmar seu espírito...

–Olha só, você conseguiu voar até aqui! – ele ouviu uma voz zombeteira às suas costas, e virou-se, para ver Tinkerbell, sorridente, acompanhada da Rainha Clarion – E então, já tá mais seguro no ar?

–Mais ou menos, as aterrissagens ainda são um problema – ele sorriu – Está tudo bem?

–Graças a vocês, sim – respondeu a rainha – Precisamos conversar, Riku.

–É, eu sei – ele disse, desviando o olhar – Acho que lhe devo um pedido de desculpas pelo que aconteceu daquela vez em Neverland, Tink. Sei que fiz coisas horríveis, e você deve pensar o pior possível de mim. Me perdoe.

–Bem, não – ela ficou sem-graça – Quer dizer, eu fiquei surpresa quando te vi aqui, com o Sora. Surpresa, e assustada. Eu não sabia se podia confiar em você ou não. Mas... você parecia triste quando chegou aqui. Era como se... como se você brigasse consigo mesmo por alguma razão.

–Então, Tinkerbell me procurou antes de eu falar com vocês – continuou Clarion – Você tem um bom coração, rapaz, não há dúvidas quanto a isso. Eu percebi quando falei com vocês. Mas ficar se torturando por erros passados só abrirá seu coração à tristeza e à dor. Lembre-se dos erros para não repeti-los, mas não os fique remoendo.

–Eu ainda sinto, sabe? – ele sussurrou – Essa sombra, esse... buraco negro dentro do meu coração. Tenho medo de ele voltar a tomar conta de mim. E tenho medo de não conseguir protegê-los, se as coisas ficarem piores. Não sabemos quais são os reais planos dessa tal de Erinia, nem os poderes dela. “Destruir para recriar...” O que ela quis dizer com isso?

–Vocês não irão mais lutar sozinhos – replicou Tinkerbell, decidida – Pixie Hollow está com vocês para qualquer situação. E tentaremos descobrir mais sobre aquela porta.

–Não tenho dúvidas de que Sora irá abri-la – disse a rainha – Acho que ele não conseguiu porque ainda não é a hora certa, mas quando for, ele saberá. E, quanto a você, seu coração é forte o bastante para resistir a mais essa batalha.

–E não pense mais no que aconteceu em Neverland, Riku – disse Tink, com um sorriso – Todos erram. Você conquistou a amizade de todas as fadas de Pixie Hollow, e principalmente a minha. É só daqui para frente você escolher melhor as pessoas com quem anda, e não sair seguindo ninguém que use roupas pretas e um chapéu de chifres, ou qualquer coisa do gênero, OK?

            Ele riu, e ficou surpreso ao perceber que realmente estava rindo com sinceridade. Olhando daquele prisma, talvez as coisas fossem mais fáceis do que pareciam. Quem sabe, um dia, tudo aquilo realmente fosse verdade... Mas até lá, ele seguiria em frente tentando fazer o seu melhor pelas pessoas. Era a sua maneira de buscar redenção. Se iria valer a pena ou não, ainda era cedo para dizer, mas era o melhor que poderia fazer, naquele momento.

–Ah, então aí está você! – então, do nada, Leene surgiu na sua frente – Tá todo mundo te procurando, a festa tá ótima!

–Eu só estava dando uma olhada aqui – ele disse, sorrindo – A vista aqui é maravilhosa!

–É mesmo... – ela disse, olhando também – Vocês realmente fazem um trabalho de primeira linha aqui!

–Obrigada! – disse Tinkerbell, rindo – Agora, se não se importam, vou voltar para a festa! Tchau!

–Eu também vou indo – a rainha também se despediu e se afastou – E lembre-se do que eu disse, Riku, e siga em frente.

            Enfim, ele ficou sozinho com Leene, e de repente ficou apreensivo. Ele não poderia fugir das perguntas dela para sempre.

            Aliás, ele não queria fugir das perguntas dela para sempre.

–Riku... deve ser difícil para você falar sobre isso – ela começou, sem jeito – Você deve ter passado por muita coisa, e sei que não é justo eu te fazer perguntas, mas...

–Tudo bem – ele disse – Tá tudo bem. Acho que te devo uma explicação, mesmo.

            E, então, começou a contar o que aconteceu desde que saiu de Destiny Islands até o encontro deles, sem omitir nada. Ela não o interrompia, não mudava a expressão facial, apenas ouvia, atenta, ele contar sobre tudo o que havia feito, todas as escolhas, todos os riscos. Terminou com:

–É por isso que pretendo ir com Sora até o fim dessa história. É algo que eu devo a ele, e à Kairi. É claro, eu cometi muitos erros, mas estou tentando consertar todos eles. E vou entender se não quiser mais falar comigo ou qualquer coisa assim. Na verdade, deveria ter te contado isso antes até de sairmos.

–Riku, cale a boca – ela disse, encarando-o. Seus olhos faiscavam, intensos – Eu não me importo com isso, OK? O que é importante para mim é o que você está fazendo agora. Você está lutando ao nosso lado, não está? Isso me basta. Eu queria que você me contasse para que passasse a confiar em mim, porque eu confio em você!

–Sério? – ele arregalou os olhos – Quer dizer, você não está brava nem nada assim?

–Brava? Eu? – e, então, ela riu – Eu ia ficar brava se você ainda andasse com a Maleficent, o que não é o caso! Você é um cara legal, quando vai se convencer disso?

            Ele não conseguiu responder, surpreso pela reação dela. Sério, a garota era mesmo um tipo raro.

–Agora, o que acha de voltarmos lá para o salão e ensinar a essas fadinhas como se dança? – disse ela, puxando-o pelo braço – Vamos, vai ser legal.

            Por fim, ele aceitou, sem esconder uma risada. É, talvez ela estivesse certa. Talvez ele fosse mesmo um cara legal, afinal de contas.


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Notas finais do capítulo

Nota da autora: Bem, gente, é isso. Eu diria que o próximo capítulo será um pouco... tenso. E, como eu disse, esperem por um mundo da Disney que já nasceu clássico. Bem, gente, é isso. Beijos a todos, babies, e até mais!



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