Kingdom Hearts: Motherland escrita por Kyra_Spring


Capítulo 4
Fé, confiança e pó mágico




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A chuva desabava com força sobre Twilight Town quando eles chegaram ao ponto de reunião.

Assim que eles apareceram, Kairi correu até eles, surpresa, e disse:

–Vocês voltaram muito cedo, o que houve?

–As coisas estão piores do que pensávamos! – respondeu Riku – Alguma coisa está drenando aquele lugar, se alimentando da sua energia. E não sabemos o que é!

–Encontramos alguém lá – emendou Sora – Cloud Strife, de Radiant Garden. Ele disse que não é a primeira vez que isso acontece, e que outros mundos também estão assim. E, se quer saber, acho que... argh, isso dói! – então, sentiu o ombro fisgar – Acho que ele não nos contou tudo o que sabe. Mas, pelo menos, uma coisa ficou muito clara: temos problemas, e dos grandes.

–Gawrsh, Sora, você se machucou! – Goofy correu até ele – O que aconteceu?

–Bati num muro – ele preferiu não entrar em detalhes – Acho que desloquei o ombro, ou algo assim. E quanto a vocês, descobriram algo de novo?

–Estamos tentando criar um padrão – respondeu Pence – As ações desses monstros não são tão aleatórias quanto pensávamos. Ainda não conseguimos refinar esse padrão o suficiente, mas eles estão seguindo alguma diretriz.

–Recebemos uma mensagem de Radiant Garden, também – continuou Goofy – O grupo de Leon que foi para Traverse Town mandou notícias, e disse que a cidade está quase sendo tomada por Heartless. Parece que Tifa Lockhart foi para a cidade estabelecer uma base por lá.

–Tifa? – Sora ergueu uma sobrancelha – Mas ela não tinha ido embora de Radiant Garden?

–Bem, aparentemente ela voltou numa hora muito apropriada – respondeu Donald – Nem foi preciso pedir a ajuda dela.

–Isso é bom, não é? – disse Leene – Quanto mais ajuda melhor, certo?

–Isso é verdade – concordou Kairi – Até porque essa é a única boa notícia do dia.

–Como assim? – Riku, Sora e Leene perguntaram ao mesmo tempo.

–Yen Sid não estava! – Donald levou as mãos à cabeça – Quando chegamos à torre dele, só encontramos um bilhete – e, imitando uma voz grave – "Precisei viajar para investigar algo. Não sei quando voltarei". Que droga!

–Não teremos muita coisa para levar para o Rei – suspirou Kairi – Espero que Leon e os outros tenham mais sorte do que nós...

Sora tentou se levantar, mas a dor no ombro estava forte demais. Kairi percebeu, e foi até ele.

–Caramba, como você conseguiu isso? – com cuidado, ela puxou a camisa dele para que pudesse mostrar o ombro – Isso tá muito inchado... Olette, pode me trazer um pouco de gelo, por favor?

A garota concordou, e sumiu correndo, para voltar minutos depois com uma grande bolsa de gelo. Murmurando um "deite-se aí e não mova um músculo", ela apoiou a compressa gelada sobre o ferimento do garoto, fazendo o possível para não fazer com que a dor aumentasse ainda mais. Não adiantou: assim que o gelo tocou a sua pele, Sora fez uma careta.

–Vamos precisar recolocá-lo no lugar – ela disse – E isso vai doer um bocado.

–Nossa, isso é muito animador – gemeu ele – Está bem. Você consegue fazê-lo voltar ao lugar?

–Acho que não...

–Eu consigo! – Leene se ofereceu, numa animação que deixou Sora seriamente preocupado. Kairi e Riku o ajudaram a se levantar, e ela se aproximou – Isso vai levar só um segundo, OK?

E, no instante seguinte, com um movimento rápido, ela reposicionou a articulação em seu devido lugar. Realmente, foi rápido... mas a sensação foi parecida com a de um atropelamento por um tanque de guerra. Por um segundo, o ar fugiu dos pulmões de Sora, enquanto ele travava os dentes com violência.

–Nunca mais se aproxime de mim, sua psicótica! – foi a primeira coisa que ele disse, assim que conseguiu voltar a articular os pensamentos.

Ela apenas riu, enquanto estendia a bolsa de gelo a ele novamente. Depois de algum tempo (e de uma boa quantidade de analgésicos), a dor foi enfraquecendo, até ficar num nível perfeitamente suportável e controlável. Eles continuaram conversando a respeito das descobertas daquele dia.

–Acho que Yen Sid já deve ter descoberto alguma coisa, e saiu para investigar – opinou Donald – É a única explicação. Ele não sairia da torre a menos que fosse por alguma razão realmente importante.

–O mais estranho é que tudo está aparecendo assim, de repente – disse Sora – Depois que derrotamos Xehanort, ficou tudo em paz, então de uma hora para outra essas coisas horríveis começaram a aparecer. Não deveria ter alguns sinais mais sutis antes?

–Quem pode saber? – Riku deu de ombros – Seja o que for, eles conseguiram nos pegar de surpresa, e isso é perigoso. Não sabemos ao certo com o que estamos lidando, e se seremos suficientes.

–Acho que a próxima parada do roteiro é Traverse Town, então – observou Goofy – Eles devem precisar de toda a ajuda possível.

–Então, vocês vão mesmo, né? – disse Hayner – Mesmo com todos os monstros lá fora.

–Precisamos ir – explicou Sora – Eles precisam da nossa ajuda. Aliás, precisamos de toda a ajuda disponível.

–Toda a ajuda disponível? – então, Hayner sorriu, olhando para Pence e Olette e, depois, encarando o grupo – Então, está decidido! A partir de hoje, está oficialmente formada a Central de Informações de Twilight Town!

–O quê? – Kairi não pôde conter uma risada.

–É claro! – o garoto continuou – Nós seremos os responsáveis por manter uma base de operações na cidade e mantê-los informados sobre o que acontece por aqui.

–Obrigado, mas isso não é necessário – disse Riku – Vocês acabariam se expondo demais, e poderiam acabar se machucando.

–Nada disso! – retrucou Pence – Vocês não precisam de toda a ajuda disponível? Então... nós somos uma ajuda disponível!

–É mesmo! – concordou Olette – A gente pode até não saber lutar com armas bacanas ou fazer feitiços ou qualquer outra dessas coisas legais que vocês fazem, mas conhecemos essa cidade com a palma da mão. Podemos descobrir qualquer coisa fora do comum que acontece aqui, e podemos monitorar. Por favor, nos deixem ajudá-los!

–Se é tão grave quanto vocês dizem – continuou Hayner, a voz mais baixa – é nossa obrigação lutar também, da nossa maneira. Afinal de contas... se qualquer mundo pode envelhecer, e eventualmente morrer, o que garante que isso não acontecerá com Twilight Town? – e, encarando Sora – Se você pudesse proteger sua terra natal, não protegeria?

Sora engoliu em seco. Eles realmente tinham razão naquele ponto.

–Tudo bem – disse ele, por fim – Realmente, Twilight Town é um ponto estratégico que precisa ser observado de perto. Vamos precisar de todas as informações que conseguirem levantar. Se puderem trabalhar naquele padrão que vocês disseram, será ótimo. Mas, por favor, tomem cuidado. Não queremos que ninguém se machuque aqui.

–Combinado! – Olette sorriu – Vamos trabalhar duro!

"Se todos tivessem tanta empolgação assim...", pensou Sora, que, apesar de tocado pelo entusiasmo dos amigos, estava apreensivo. É claro que aquele era um esforço muito útil, mas ainda assim perigoso. Eles não sabiam ao certo com o que estavam lidando.

Mas... pensando bem, será que alguém sabia?

Foi então que Sora olhou para a janela. Entre as nuvens de chuva, ele divisou um sinal brilhante, e no segundo seguinte a Keyblade reagiu, disparando um raio luminoso na direção do sinal. Alguém, em algum mundo, precisava da ajuda deles naquele momento, e eles precisavam partir outra vez. Despedindo-se de todos, o grupo saiu, mas antes que chegassem à rua, ainda ouviram a voz de Hayner, dizendo:

–Tratem de não sumir, está bem? Venham nos visitar logo!

–É claro! – respondeu Sora – Viremos buscar os relatórios de vocês!

–Positivo, capitão! – disse Olette, rindo – Eles estarão aqui!

Então, os seis foram até a nave, ainda sob a chuva forte. Eles não se falavam, ainda frustrados pela viagem pouco produtiva, mas pelo menos agora já tinham algum rumo a seguir. Quando chegaram à nave gummi, havia uma mensagem de Cid.

–Meninos, descobrimos um novo mundo – ele disse, na sua voz áspera de sempre – Há sinais de Heartless por lá, mas sabemos ainda muito pouco, então precisamos que vocês vão investigar. Já enviei as coordenadas, então não será difícil encontrá-lo. E tomem cuidado, não sabemos o que podemos encontrar lá.

–Espero que dessa vez a gente realmente encontre alguma coisa útil! – suspirou Donald, ainda aborrecido – Onde está aquele mago caquético?

–Não fale assim, ele foi o mestre do Rei – observou Riku – Tenha um pouco de respeito.

–Ah, tá – ironizou o mago – Então, o que acha de, quando voltarmos, você pedir ao rei para contar uma história envolvendo um caldeirão, um chapéu e uma vassoura enfeitiçada? Aí vamos ver exatamente o respeito que é possível ter.

–Podemos discutir isso depois – interveio Kairi – Podemos ir?

–É pra já! – disse a outra garota, enquanto ligava a nave – Aparentemente, esse mundo não fica longe daqui, então é melhor irmos rápido. Segurem-se todos!

E então, a nave partiu, com o seu já costumeiro barulho ensurdecedor.

Enquanto isso, Traverse Town estava um completo caos.

Tifa desembarcou da nave sem saber ao certo o que esperar. Os relatórios da equipe de Leon eram descontínuos e incompletos, mas indicavam que a cidade havia se transformado numa zona de guerra. E ela própria teve essa idéia, quando chegou e encontrou a praça do Primeiro Distrito completamente tomada por Heartless. As antigas lojas estavam todas depredadas e destruídas, e os monstros negros estavam por todos os lados.

–Mas o que diabos está acontecendo aqui? – ela disse, sem conseguir acreditar no que estava vendo.

Dava para ver a nave de Leon, parada na praça principal. Ela se aproximou, receosa. Se a nave estava ali, provavelmente eles estavam próximos. E, se eles estavam no meio daquela bagunça...

–TIFA, SE ABAIXE! – ela só conseguiu ouvir o som da voz de Yuffie, pois no segundo seguinte já se lançava ao chão. Foi o tempo exato de uma shuriken passar ventando por sua cabeça e atingir em cheio um Heartless. Logo, ela própria já estava lutando, acertando qualquer coisa que entrasse no raio de alcance do seu punho.

–O que está acontecendo? – ela perguntou para Leon, que também estava ali – De onde todos eles vieram?

–É o que estamos tentando descobrir – respondeu ele – Aerith está trabalhando numa barreira para afastá-los da cidade, como da última vez. Mas nada do que tentamos está funcionando! Eles estão mais fortes do que antes, e mais atrevidos. É um pesadelo!

–Bem, se isso serve de consolo, eu vim ajudar – disse ela, esquivando-se de um Shadow.

–Realmente, estamos precisando de toda a ajuda que pudermos encontrar – respondeu ele – Mas, não me leve a mal, mas precisamos de mais do que uma só pessoa.

–Sei disso – ela retrucou – Mas é exatamente por isso que eu vim. Tive uma idéia, e preciso falar com vocês. Vamos para um lugar seguro, agora mesmo.

Enquanto isso, os tripulantes de Fantasia se deparavam com uma cena que só poderia ser definida como absolutamente encantadora. Eles chegaram a um lugar lindo, com campinas e riachos que pareciam ter saído de um livro de contos de fadas. As reações deles foram as mais variadas possíveis, enquanto eles tentavam descobrir que lugar era aquele e, o mais importante, por que foram chamados até lá.

–Que lindo! – disse Kairi, sorrindo – É quase como se tivesse sido feito à mão!

–Olha só, eu tenho asas! Legal! – disse Sora, percebendo as mudanças em si mesmo e dando uma pirueta. Ele deu uma olhadinha em Riku, que não parecia nada confortável – O que foi?

–Eu tenho cara de fadinha, por um acaso? – ele olhava para si mesmo, intrigado – E além disso, eu não gosto de alturas!

–Não seja bobo, isso é divertido! – Leene também se divertia com a nova situação – É só bater as asas no ritmo certo e... e... AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH!

Ela se desequilibrou, e foi preciso que Donald e Goofy a segurassem pelos braços para impedi-la se de esborrachar no chão muito distante. Ela se recompôs no instante seguinte, corando furiosamente e fazendo os outros rirem.

–Ora, ora, ora, veja só quem veio nos visitar! – então, eles ouviram uma voz límpida e zombeteira às suas costas. Sora tinha certeza absoluta de não tê-la ouvido em lugar nenhum, mas de alguma forma ela parecia muito familiar. Virou-se rapidamente, e descobriu que era...

–Tinkerbell? – ele ergueu uma sobrancelha – É você mesma?

Então, a fada deu uma sonora gargalhada, e o abraçou, dizendo:

–Nossa, é tão bom vê-lo de novo! Eu estava preocupada – e, depois, para os outros – Olá! Sejam bem-vindos a Pixie Hollow, o refúgio de todas as fadas.

–Espera aí, desde quando você fala? – Donald interrompeu, intrigado. Tinkerbell, então, fechou a cara, e aproximando-se dele, retrucou, aborrecida:

–Como assim "desde quando você fala"? Eu sempre falei! O que acha que eu sou, algum tipo de ogro burro? – e deu as costas, altiva. Goofy sussurrou a ele:

–Acho que nós é que não conseguíamos ouvi-la... ela era tão pequena...

–O que aconteceu, Tink? – perguntou Sora – Recebemos o seu chamado. Peter está com problemas?

–Ah, não, ele está bem! – ela deu de ombros – Mas Pixie Hollow não está, por isso eu tive que deixá-lo por algum tempo e ajudar minhas amigas. Há algum tempo, fadas estão desaparecendo.

–Desaparecendo? – as duas garotas disseram juntas, e Leene acrescentou – Tipo, indo embora?

–Não, sendo seqüestradas mesmo – respondeu a fada – Algumas das nossas companheiras mais talentosas. Quem está fazendo isso deve estar atrás do poder do Refúgio. Por isso eu os chamei aqui, para descobrir o que está havendo e resgatá-las.

–Tudo bem, vamos ajudá-las – concordou Sora – Mas precisamos de mais detalhes. Podemos falar com as outras?

–Ah, sim, claro, estão todas esperando na Árvore do Pó Mágico – ela concordou – Aliás, a própria Rainha Clarion, soberana de Pixie Hollow, quer falar com vocês. Mas... – e, então, ela lançou um olhar de esguelha na direção de Riku, e estremeceu – Por favor, sejam rápidos. Nossas irmãs estão desaparecendo, e todas estão com medo de ser as próximas. Nos ajudem.

–É claro que sim – foi o próprio Riku quem disse – Vamos ajudá-las.

Os dois se encararam por um instante. É claro que ela ainda se lembrava. Da última vez em que se encontraram, os dois estavam em lados opostos.

–Venham – ela disse, por fim, afastando-se – A Rainha Clarion os espera.


–Tá legal, Tifa, agora pode nos contar qual é essa sua idéia milagrosa? – em Traverse Town, Tifa, Yuffie e Leon estavam reunidos com Aerith no porão da antiga loja de acessórios. A ninja a encarava intensamente – Como podemos reconquistar a cidade?

–Com isso – então, ela colocou sobre a mesa um grande cristal azul-pálido que refletia a luz das lâmpadas da sala – Eu encontrei em algumas ruínas numa escavação nos arredores de Disney Castle, mas é óbvio que isso não veio de lá.

–Escavações? – Leon ergueu uma sobrancelha – Foi por isso que você sumiu?

–É, mais ou menos – respondeu ela – Fiquei sabendo da descoberta de artefatos estranhos em escavações em Disney Castle, e fui checar. E encontrei isso. Aerith, você tem alguma idéia do que seja isso?

–É inegável que tem algum tipo de energia mágica sendo emitida daí – respondeu ela, observando o cristal com atenção – Mas como exatamente isso pode me ajudar?

–Eu não sei como, mas descobri que ele tem o poder de afastar Heartless – disse a outra – É como se a energia dele fosse insuportável para os Heartless. Se descobrirmos uma forma de amplificar esse poder, poderemos limpar Traverse Town inteira.

–Acho que devemos tentar – opinou Yuffie – Mas como faríamos isso?

–Bem, eu tenho uma idéia. Se nós o colocarmos no sino do Segundo Distrito, e tentarmos usar de novo aquele feitiço que usamos da última vez, podemos proteger a cidade.

–Faz sentido – argumentou Leon – O sino é o ponto mais alto da cidade toda. Ele poderia ser o centro do escudo. Mas será que realmente vai funcionar?

–Eu não sei – suspirou Tifa – Mas temos que tentar. Ah, a propósito, o Cid terminou de montar o sistema de comunicação. Com um pouco de sorte, podemos criar uma rede entre Disney Castle, Traverse Town e Radiant Garden. Nossas comunicações estão terríveis, o que é perigoso. Podemos acabar ficando isolados uns dos outros e, num ataque, não conseguiremos pedir ajuda.

–De qualquer forma, será arriscado demais – observou Leon – Precisamos de um plano. E não podemos errar, ou não teremos outra chance.

–Eu acho que tenho uma idéia – a ninja então se levantou, empolgada – Vai ser perigoso, mas podemos tentar. Tifa, os canhões da sua nave estão funcionando bem?

–Estão, mas o que tem isso?

–Você vai ver – Yuffie deu um sorriso divertido – Logo, logo, você vai ver...


Sora ficava cada vez mais fascinado com Pixie Hollow. E os outros compartilhavam do seu entusiasmo.

Eles chegaram a uma imensa árvore frondosa, da qual escorria uma cascata dourada e brilhante. Havia muitas fadas por ali, todas belíssimas, voando por ali e os observando com curiosidade, enquanto eles acompanhavam Tinkerbell até uma plataforma, onde várias delas estavam reunidas. Dava para perceber a apreensão em seus rostos, e ver que elas cochichavam entre si.

Ao centro, estava uma figura bela, dourada e imponente, que parecia emanar a própria realeza. Ele ficou a observando por alguns instantes, embasbacado, até que...

–Faça uma reverência, seu tonto, ela é a rainha! – sussurrou Tink, puxando-o para baixo. Ele, então, se curvou numa reverência desajeitada, mas a rainha apenas riu e disse:

–Ah, não se preocupe, está tudo bem. Obrigado por tê-los trazido até aqui, Tinkerbell – e, virando-se para o grupo – Ela nos falou muito sobre vocês. Ainda somos muito gratos pelo que fizeram a Neverland. Sabe, o que vocês vêem aqui é apenas uma pequena parte de um mundo bem maior, e igualmente ameaçado. E nossa magia talvez não seja suficiente para afastar essa nuvem negra que está ameaçando cobrir o nosso mundo.

–Tink nos falou sobre o desaparecimento de algumas fadas – disse Goofy – Pode nos dizer algo mais a esse respeito?

–Sim, claro – a rainha engoliu em seco – Algumas das fadas com os maiores e mais raros talentos entre nós vêm desaparecendo há mais ou menos quatro meses. Os primeiros foram as fadas velozes, e logo depois os ministros das estações. Tivemos que indicar outros às pressas, para que pudéssemos levar as estações ao continente na época certa. E, depois deles, vários outros também desapareceram. Não sabemos o que os está capturando, e estamos assustadas – ela abaixou o rosto e continuou, num tom angustiado – A alma de Pixie Hollow são as fadas que aqui moram. Nossos amigos, nossos irmãos! E estamos levando nossa magia ao continente desde sempre, e eles também dependem de nós. Entendem por que é tão importante que consigamos encontrá-las? Não é só pelas estações do ano, ou por qualquer coisa assim... Nós somos as responsáveis por levar a magia ao mundo. Eles precisam de nós. E nós precisamos de vocês.

Sora não conseguiu responder nada. Era visível que a rainha Clarion estava muito abalada, mas também era fácil perceber que ela estava tentando manter o controle sobre Pixie Hollow e seguir em frente com suas obrigações. Era uma responsabilidade muito grande.

–É claro que vamos ajudar! – não foi Sora quem respondeu, e sim Riku – Vamos descobrir quem está por trás disso, e vamos trazer seus amigos de volta. É uma promessa!

–É bom ouvir isso, meu jovem – a rainha sorriu, visivelmente cansada – Mas vocês devem estar exaustos da viagem. Tinkerbell irá levá-los aos seus aposentos, e vocês poderão buscar informações com qualquer um de nós. Descansem bem e, pela manhã, nós pensaremos num plano de ação.

Ela o encarou intensamente, e Riku hesitou. Será que as fadas podiam ler mentes?

–Ah, sim, poderiam enviar lembranças ao Rei Mickey por mim? – ela disse, antes de ir embora – Eu gostaria imensamente de falar com ele novamente, ele é uma companhia muito agradável. Até mais.

Depois de ela sair, Tinkerbell acenou para eles a seguirem. Riku era o último da fila: ainda não se sentia nem um pouco seguro para voar e nada lhe tirava da cabeça a possibilidade de suas asas falharem a qualquer momento e ele se espatifar no chão lá embaixo, agora muito mais distante do que quando ele tinha um tamanho normal. Sora e Kairi, por outro lado, começavam a se empolgar e a dar piruetas pelo ar. As outras fadas mais experientes riam ao ver essa cena.

–Isso é vergonhoso... – disse Leene, voando devagar com os braços abertos para ficar estável – É como andar de bicicleta sem tirar as rodinhas de auxílio! Sério, Tink, como se faz isso?

–Prática – respondeu a fada, rindo – Não se preocupe, todos os novatos são assim. Mas, no fim, todo mundo aprende a voar muito bem. Ah, ali está a vila das artesãs! É onde eu moro!

Eles olharam para baixo e se depararam com um charmoso vilarejo quase todo feito de folhas e cascas de árvores, à sombra de uma árvore frondosa. Riku e Leene se encararam, engolindo em seco. Se voar já era difícil, como seria a aterrissagem?

–Vamos juntas, que tal? – Kairi segurou a loura pelo braço, gentil – É só continuar planando.

–Quer que eu te leve também, Riku? – debochou Sora – Eu posso segurar sua mãozinha até lá embaixo.

–Sora, quer fazer o favor de bater a cabeça numa árvore e morrer? – ele estreitou os olhos na direção do outro, e tentou imitar Tinkerbell. Por sorte, todos pousaram em segurança, sem quedas e sem bater em árvore nenhuma.

Eles caminharam até uma das casas de folhas. Ela era ampla, iluminada e muito confortável, e todos os móveis recendiam a pinho. Era muito acolhedora e aconchegante. Logo, eles perceberam que tudo era feito das coisas mais inusitadas: bules feitos com bolotas, pratos feitos com cascas de noz, camas de paina, cortinas de folhas de plátano secas... se tudo aquilo era mesmo trabalho das fadas artesãs, então elas realmente eram boas naquilo que faziam.

Então, eles ouviram batidinhas na porta. Tinkerbell abriu, revelando outras quatro fadas, que se apresentaram rapidamente:

–Meu nome é Silvermist – disse a primeira delas, que tinha cabelos de um azul escuro e acetinado, bem longos e usava um vestido azul – Sou uma fada da água. Viemos ajudá-los.

–Eu sou Iridessa, fada da luz e dos arco-íris – a segunda delas era negra e usava um vestido cor de girassol – Estas são Rosetta, das flores – apontou para uma que vestia vermelho e tinha cabelos também vermelho-vivos – e Fawn, dos animais – apresentou uma que tinha longos cabelos acobreados trançados e usava marrom – Tink nos contou tudo sobre vocês, e esperamos poder ajudar. Temos algumas teorias, mas ficamos com medo de contá-las à rainha Clarion.

–Medo? Mas por quê? – Donald ergueu uma sobrancelha – Ela está tão preocupada, vocês deviam ajudá-la se sabem de alguma coisa! A menos que ela...

–Não, não é nada disso! – Fawn o cortou na hora – Confiamos nossas vidas à rainha! É só que... de uns tempos para cá, ela está cheia de segredos... some por dias, quase não a vemos...

–Estamos achando que ela pode estar sendo vigiada, ou perseguida... – continuou Rosetta – Ou talvez até mesmo traída. Pode ser que... – ela hesitou e engoliu em seco, antes de continuar – Pode ser que alguém daqui do Refúgio esteja passando informações para quem está seqüestrando nossos amigos.

–Ótimo... está bem, vamos nos acalmar aqui – disse Goofy – Sentem-se e contem tudo para nós.

–Tudo começou há quatro meses, com o desaparecimento das primeiras fadas – disse Iridessa, com a voz não muito firme – Era um grupo de fadas velozes. Esse é um talento muito raro, sabe?

–Não que alguém vá sentir muita falta da Vidia, é claro – murmurou Tinkerbell, mas ela levou uma cotovelada de Silvermist.

–Pois bem, depois que elas desapareceram, todas as fadas do Refúgio ficaram apavoradas – continuou Iridessa – E a coisa ficou pior depois que eles pegaram os ministros das estações. Aí, Pixie Hollow virou um caos. Foi então que a rainha Clarion foi viajar, dizendo que iria averiguar o que estava acontecendo.

–Ela demorou mais do que devia nessa viagem – disse Tink – Alguns dos nossos entraram em pânico, e começaram a dizer que ela também tinha sido capturada, além de criar montes de teorias malucas. Graças aos céus que ela voltou em segurança, ou então Pixie Hollow iria se tornar um caos.

–Mas vocês tem alguma idéia de quem poderia fazer isso? – perguntou Kairi.

–Tudo o que temos é apenas outra teoria – respondeu Rosetta – Mas não adianta apenas explicarmos. Venham conosco, tem algo que vocês precisam ver. Talvez isso tenha a ver com você também, Sora.

Ele ergueu uma sobrancelha, intrigado, mas preferiu não fazer perguntas. Elas teriam que ficar para depois – mas seria melhor se as respostas aparecessem logo. E, ainda sem dizer nada, ele as acompanhou, voando rápido para algum lugar que, talvez, contivesse as respostas que precisava.

Ou que, talvez, só trouxesse mais perguntas ainda.

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