No More Secrets: Segunda Temporada. escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 5
Take me to the rivers bend...


Notas iniciais do capítulo

Será que ainda existe alguém lendo isso?
Será que ainda tem alguém aqui interessado em continuar a ler essa história.

Espero muito que sim X(

Eu estava com tanta saudade de escrever NMS.
Pode não parecer, pelo tempo que eu fiquei sem escrever, mas eu sentia falta.
Acabei de sair de uma fase extrema (ainda bem) e espero continuar estável o suficiente para continuar trazendo mais capítulos com mais frequência. Me desculpem pela demora. Em compensação, fiz um capítulo bem divertido para vocês.
Eu quero me desculpar com as pessoas que eu não respondi nos capítulos anteriores, eu prometo responder a todos vocês nesse. Juro.
AGRADECIMENTO ESPECIAL: um agradecimento especial vai para minha leitora, usuária SacarsmOfStiles, que fez uma fanart WirtxDipper MUITO fofa baseada na fanfic e postou no twitter della (@spixeypool) deem uma olhada e sigam ela! TE AMO, SUA LINDA!



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Meses atrás, antes de Dipper conhecer Wirt.

— Vamos, Dipper! — a sua irmã insistia enquanto o puxava contra a porta do seu quarto. — Saí logo desse quarto, você passou o verão inteiro aí! Tente ter pelo menos um pouco de diversão, liberte esse adolescente rebelde dentro de você e vamos pra festa!

— Mabel, pela enésima vez, eu já te falei que eu não gosto de festas! Ainda mais uma na qual o convite veio de você, imagina o nível do pessoal de lá.

— Ah, me poupe, garoto. — retrucou ela, persistindo para garoto saísse da cama. — Já disse que as pessoas de lá tem a nossa idade e são os alunos que vão estar na nossa sala nova no próximo ano letivo. Imagina só a oportunidade de já poder conhecer as pessoas que vão estudar com a gente ano que vem, e, ainda por cima, já indo fazendo amizades...

Pines revirou os olhos. Ele não tinha vontade alguma de estar num lugar como aquele. Ele já tinha se acostumado demais com a antiga vida que tinha tido em Gravity Falls última linha temporal. Estava acostumado com a permanência da solidão, os dias frios dentro de quatro paredes, tendo como a única voz — além da dele — os uivos dos ventos. Por isso, qualquer lugar que descrevesse abranger um grande número de pessoas e sons soava assustador para ele.

— Dipper, estou falando com você!

— Hã... o quê? Ah! Desculpe, o que você havia dito?

Mabel suspirou.

— Eu prometo lavar a sua parte da louça essa semana se você sair dessa cama agora. — ela chantegeou.

Dipper soltou um riso em escárnio que foi abafado pelo travesseiro em que ele afundava a face.

— Eu não me vendo tão fácil assim, Mabs. Tá pensando que eu sou quem?

— Ah, é? Então... que tal o mês inteiro?

Dipper parou por um instante, analisando os benefícios da oferta. Ele tinha passado o verão inteiro apenas levantando-se da cama para lavar a louça e fazer outros afazeres domésticos. Apenas um hábito como o de lavar uma louça já era insuportável para alguém nas condições de hibernação vegetativa dele (que piorava durante qualquer folga da escola). Se ele deixasse Mabel lavar a louça pra ele pelo resto do mês, significaria mais tempo para que ele pudesse dar espaço para a sua preguiça, e ele teria menos trabalho no resquício que lhe sobrava das férias — e até um pouco depois da volta às aulas.

—  Dippy...? Então, o que me diz? — Mabel insistiu, imitando a voz de um leiloador. — Dou-lhe uma, dou-lhe duas...

— Vendido! — ele declamou, saindo dos lençóis com um pulo. Encontrando a irmã com uma expressão de choque.

— Eu não pensei que você sairia por isso... eu estava brincando... — admitiu ela, ficando vermelha.

— Tarde demais, irmãzinha. A louça é sua agora. Vamos para festa ou não?

*

A camiseta vermelha xadrez sentia-se familiar no corpo de Dipper depois de tanto tempo sem um devido uso. Ele andava pelas áreas mais distantes das partes residenciais de Piedmont com Mabel ao seu lado cantarolando a irritante música hit do verão daquele ano. Dipper se distraía chutando o caco de um tijolo solto avulso das ruas pelo caminho, enquanto a noite caía sobre eles. A lua estava cheia, com pequenas linhas de nuvens cobrindo-a de cima a baixo, como se fossem curativos tentando cobrir um hematoma de luz no meio do céu de escuridão. Tudo estava coberto pela sua aura violácea, fazia Dipper se sentir dentro daquelas fotografias aesthetics do Tumblr de algum artista underground alternativo.

A casa onde aconteceria a suposta festa emergiu por detrás dos carvalhos do final da estrada, como se saísse de um oceano de cimento na medida em que os dois se aproximavam. Luzes freneticamente sortidas nas mais diversas cores brilhantes despontavam através de todas as janelas do casarão, destoando a rua da sua decoração tranquilizante de roxo. A música rompia tão alto que era impossível distinguir o que era a letra e o que era a melodia, fazendo o som ser apenas vibrações inaudíveis que reverberavam no solo, fazendo as estruturas da construção estremecerem como se a casa estivesse viva sendo um grande coração pulsante.

O rosto de Mabel se iluminou na presença daquela vibe festeira, ela adorava aquilo. Puxou o irmão pela mão imediatamente, cansada de esperar mais um minuto de fora daquela comemoração sem motivo aparente. Dipper admirou a tapeçaria de copos vermelhos plásticos amassados que margeava o pórtico da casa, enquanto pulava os degraus para a entrada. Tropeçou em alguns adolescentes desmaiados na sala assim que entrou, Mabel não pareceu perceber eles (ou talvez ela estaria acostumada demais com aquele cenário a ponto de pessoas em coma alcoólico serem como um requisito essencial para um cômodo bem mobilhado). Chegaram na sala principal, era como entrar num caleidoscópio. Tinha milhares de globos, luminárias e pessoas dançando com roupas fluorescentes por todos os lados, girando em torno dos dois, pintando uma constelação psicodélica. O lugar cheirava a madeira, plástico, fumaça e álcool. Balões amarelos redondos em formatos de emojis de rostinhos felizes revoluteavam por cima dos adolescentes, alguns presos por fita adesiva no teto, outros sendo suspensos por gás hélio. Ficaram um tempo naquele formigueiro de formigas de purpurina reluzentes, Mabel buscando por pessoas que ela conhecia, enquanto Dipper permanecia imerso em seus devaneios sobre aquela imagem que se erguia diante de si.

O lugar transpirava juventude. Uma mistura palpável de despreocupação e preocupação. Incertezas e júbilos.

“Eu estou velho demais para isso. Eu estou experiente demais para isso.” Refletiu Pines. “Esse não é o meu lugar. Eu sofri demais para estar comemorando. Eu sofri demais para estar comemorando num lugar como este! Eu viajei através do tempo. Eu salvei o mundo mais de uma vez. Eu me apaixonei por um membro da família. Eu lutei contra uma criatura de outro mundo. Eu lutei contra monstros. Eu sou um Índigo. Eu sou Mason fucking Pines! Eu não mereço estar aqui. Eu não mereço essas pessoas. Nessa linha temporal. Eu não mereço estar nessa miséria. Eu não...”

— ...ipper...! — a voz estava distante, fisgando a audição dele naquele mar de sons altamente indistinguíveis.

— Dipper! — a voz insistiu. Era Mabel.

— Que foi? — ele perguntou, quase gritando, com os sentimentos ainda combalidos.

— Eu acabei de encontrar o pessoal da minha turma. A gente vai...

— Pode ir.

— Mas você nem esperou eu terminar de dizer...

— Pode ir, Mabel. Divirta-se. Acho que eu ouvi uma pessoa da minha sala do ano passado me chamando agora mesmo. — apressou-se, “eu preciso sair daqui!”

Mabel estreitou os olhos, estanhando o irmão, sabia que algo estava errado, mas, o que quer que fosse, era abstrato e distante demais para que ela pudesse sequer oferecer uma gota de ajuda a ele, então ela respondeu a coisa mais inteligente que ela poderia responder numa situação como aquela:

— Tá.

Deixou para lá.

E sumiu na multidão, deixando o garoto na pista.

Dipper suspirou, deixando se levar pelo seu instinto mais aguçado de todos: o de achar uma saída num lugar cheio. Virou à esquerda, deparou-se com a porta para a varanda aberta. “Bingo!” Ele nunca falhava, suas escapadas discretas e rápidas eram melhores do que a do próprio Houdini.

Assim que saiu, respirou o ar bem fundo. Engraçado como nós só damos valor às pequenas coisas que estão sempre conosco, como respirar, quando nossa vida já é colocada em risco mais de uma vez. Aproximou-se do balcão, admirando a variedade de bebidas alcoólicas que aqueles adolescentes conseguiam arranjar sendo menores de idade. Era de fato impressionante. “Eu vou precisar bastante disso para conseguir sobreviver essa noite.” Pensou ele, enquanto aproveitava que estava sozinho para se apossar de uma garrafa de vinho. Descendo o deck, indo para o jardim dos fundos, Dipper notou como o conteúdo da garrafa ainda estava cheio. Enquanto outras bebidas, como vodca, whisky e cerveja estavam praticamente vazias de seus recipientes, o vinho estava quase completamente cheio. Alguém tinha tirado a rolha e servido uma quantidade suficiente para encher um copo e deixado lá, mas ninguém mais tinha tocado na garrafa pelo resto da festa. Dipper soltou um som em deboche ao sentir o peso da realização cair sobre suas costas: a geração dele era careta, eles não bebiam outras coisas, como vinho, pois era ‘coisa de velho’. Estremeceu. “O que é que eu estava pensando? O que eu achei que iria conseguir de bom vindo até aqui a não ser pelo um mês sem lavar louça?”

O movimento agitado começou a dispersar quando ele foi se afundando na vegetação dos fundos da casa. O quintal estava repleto de casais se pegando, os que estavam nas bordas, mais próximos à casa, experimentavam-se com timidez, trocando beijos sem tocar o resto do corpo um do outro, enquanto mais no fundo, no meio das plantas e nas reentrâncias das árvores escuras, aconteciam quase orgias ao ar livre. Teve uma menina que levantou tanto a saia — que já era curta antes — que Dipper jurou ser capaz de ver as tubas uterinas dela.

Segurou-se para não rir, tirou os fones do bolso, que estavam plugados ao celular já com sua playlist de bate pronto, e os encaixou nos ouvidos. O tipo de música que ele escutava era repleta de indies e dreampops, sons muito baixos para serem escutados perto de uma casa com uma eletrônica tão alta. Dipper se afunda mais nas árvores, rezando para não pisar numa camisinha usada e ser respingado. Até que chega em uma clareira. Tinha um celeiro de arquitetura moderna que podia ser visto pelos inúmeros pisca-piscas que estavam pregados ao seu telhado. No terreiro, haviam alguns bancos de jardinagem de madeira pintados de branco, todos eles estavam ocupados por casais mais reservados e quietos, que estavam apenas conversando baixo, em silêncio a observar a estrelas ou compartilhando um cigarro. Eles pareciam não ligar para a influência exterior, já que ninguém sequer se moveu quando Dipper entrou no local.

“É aqui mesmo que eu vou ficar.” Pensou aliviado.

Correu o olhar em volta do território, procurando miseravelmente algum lugar para se fixar. Todos estavam ocupados. “Droga” praguejou, já estava a ponto de se sentar no piso de cimento na entrada do celeiro quando percebeu uma outra coisa ao longe. Havia um garoto sentado sobre um tronco velho num lugar um pouco mais distante da pequena praça improvisada, embaixo de uma treliça tomada por plantas de jardinagem. Ele estava sozinho. Tinha um lugar sobrando. “Tomara que não seja do tipo brigão.” Pensou Dipper, se conduzindo até o assento improvisado do menino.

— Com licença, o lugar está ocupado...? — perguntou, indicando o lugar com o movimento dos olhos.

O menino levantou o olhar e Dipper pode analisar seus olhos. Quase perfeitamente redondos, grandes e amendoados. Escuros e profundos. Demonstravam uma posição acanhada e indiferente ao mesmo tempo. Fragilidade e impassividade ao mesmo tempo. O cabelo liso escorrido dele era repicado em rebeldia, com as pontas desalinhadas se dispersando por sua franja e pelos lados do rosto. Ele usava um suéter delicado cinza, com a gola de uma camisa social saindo pelo colarinho, e calças pretas de linho fino com dois sapa-tênis marrom escuro, enquanto segurava um copo descartável vermelho com bebida. Uma combinação estranha, de um jeito bom, algo que intermeasse a juventude e a maturidade, Dipper achou ótimo encontrar algo diferente naquela multidão de pessoas iguais.

— Não... — o garoto deu de ombros, respondendo simplesmente ao escorregar para o lado, dando mais espaço para que Dipper se acomodasse. A voz dele era para dentro, mas firme e direta. Será que isso faz algum sentido? Enfim, Pines sentou-se imediatamente, forçando-se a relaxar e não se convencer de que era tão estranho e desconfortável estar sentado sozinho ao lado de um estranho. Mas, ei!, ele não devia achar tão estranho assim, não é? Afinal, os dois estavam sozinhos. E os dois pareciam procurar um pouco de sossego. Foi isso que Dipper achou assim que percebeu que o menino também usava um fone por debaixo do cabelo que cobria a orelha.

Suspirou.

Dipper tirou o cantil porta-bebidas vazio que levava consigo no bolso do jeans e encheu-o até a borda com o vinho logo em seguida. Deu um gole longo e demorado. Ele estava de braços, pernas e coração abertos para a bebida, ele não estava nem aí em ficar bêbado sozinho, contanto que, com isso, ele fosse capaz de ver um pouco da graça que as outras pessoas estavam vendo em estarem ali naquela noite. Mas ele não podia ficar horas e horas parado na mesma posição até o sol raiar, ou até Mabel cansar de ficar socializando, e nem, muito menos, mantendo aquele silêncio perturbador entre ele e aquele menino por toda uma noite.

— Então... — ele começou, era preciso começar. — O que você está ouvindo?

O menino pareceu reagir com surpresa inicialmente, depois respondeu de modo furtivo.

— Você não entenderia.

Era o tipo de resposta que Dipper dava quando perguntavam o gosto musical deles.

— Acho que entendo, sim. Vaporwave, talvez?

— Boa jogada, mas Vaporwave já tá meio que ficando popular.

“Então você é do tipo underground, hein?” Dipper analisou internamente, teimando contra a sua vontade de dizer em voz alta.

Never shout never?— zombou amigavelmente.

— Muito hipster de myspace pra mim.

— Okay, então... música de anime, então? J-pop. A opening 16 de Naruto, talvez?

O menino riu genuinamente.

— Acreditaria se eu te dissesse que foi uma das últimas coisas que ouvi recentemente? Mas, não, não agora.

Dipper arriscou, finalmente.

— Indie?

O menino sorriu. E Dipper segurou o ar.

Dreampop, mais exatamente. Você é bom. Belo chute. — admitiu.

— Não brinca...

— O quê?

— É o que eu estou ouvindo agora.

— Sério? — o menino levantou uma sobrancelha, dividido entre a timidez e a acidez.

— Sério. — Dipper tirou o fone, passando para a orelha vaga do garoto sem perceber o quanto íntimo era aquele toque, o menino se afastou por um momento da mão de Pines, mas depois refestelou-se. Os olhos dele se ampliaram.

— É Rivers Bend do The Doorbells? — surpreendeu-se ele, reconhecendo a música.

— Você conhece?!

— É o que eu estou escutando agora! — antes mesmo de dar tempo o suficiente para Dipper questionar a veracidade da afirmação do garoto, ele já tinha tirado o fone por debaixo de cabelo e passado para o ouvido de Pines, que abafou um grito. Era mesmo a mesma música.

— Impossível...! — não conteve o riso.

— Exato, quais eram as possibilidades, não é mesmo? Já é difícil pegar duas pessoas ouvindo ao mesmo tempo esse hit irritante do verão de agora, quem diria a mesma música underground de garagem.

— Né? — Dipper fez um gesto avulso em concordância com a mão vazia. O menino tirou o fone do ouvido dele e Dipper fez o mesmo com o dele. — Qual o seu nome?

— Wirt. E você?

— Pode me chamar de Dipper.

— Okay. — desviou o olhar, e o assunto se perdeu mais uma vez.

— O que mais você escuta nessa veia da música? — insistiu Dipper.

— Nada específico, as vezes as músicas surgem no meu feed, eu as escuto, se eu gostar, é isso aí. As últimas bandas, que eu me lembre de nome, que eu gostei muito foi Cyberbully Mom Club e Blonde Tongues.

— Já ouviu Best Friends?

— Sim, eu gosto muito daquela: Cold shapes.

Silêncio. Dipper tomou mais um gole farto do seu cantil, ele não tinha certeza se era o álcool ou não que estava fazendo as coisas naquela noite repercutirem melhor nele, mas ele sabia que estava gostando, então deu mais um gole rápido para acabar com a dose e levantou a garrafa para reencher o refil.

— Ah, que bom que você trouxe, põe pra mim também. — disse Wirt, esticando o braço com o recipiente descartável assim que bateu os olhos na garrafa. Dipper parou por um instante e observou o fundo do copo do menino. Tinha um resto da bebida roxeada que ele tanto gostava e que tanto era desprezada pelas pessoas que tecnicamente “tinham a idade dele”. O seu coração deu um salto. Wirt era o misterioso adolescente da festa que tinha tirado a rolha do vinho e o único a digerir um pouco do seu conteúdo. Se segurou para não exclamar. — Tava com uma preguiça enorme de ter que voltar lá só pra pegar mais um pouco disso.

— É um vinho muito bom para uma festa de quem não bebe vinho. — comentou Dipper, virando o conteúdo no copo de Wirt.

Wirt deu de ombros.

— Não tenho a experiência o suficiente para dizer quando um vinho é bom ou não. Só sei que eu amo e por isso saio bebendo qualquer um que me oferecem. — riu. — Gente da nossa idade é escrota demais.

— E quem disse que eu tenho a sua idade? Você que parece mais maduro. — Dipper só foi perceber o que tinha dito depois das palavras saírem. “Ah, é.” Lembrou. “É pra eu ter 16, não 23”.

— Você é mais velho? Sério?! Mas parece tão novo.

— Não... er... — corou. — Eu só estava brincando com você. Tenho dezesseis, mesmo.

— Ah, tá. — riu rápido por educação, sem entender direito a tal piada do garoto Dipper. — Você também é o misfit da turma?

— Como?

— Misfit. O diferentão chato da turma que não se encaixa. Eu fui arrastado aqui hoje pela minha amiga normie, Sara. E você? Quem te arrastou para cá? Tenho certeza de que não está aqui porque quer.

— Minha irmã, Mabel.

— Ela espera algo de você?

— Não sei. Acho que só quer que eu saia mais nas férias, mas eu não ligo.

Os dois beberam juntos, compartilhando de um silêncio, agora, agradável.

Ouviram os grilos e cigarras cricrilando na mata densa, as luzes laranjas dos pisca-piscas serem ofuscadas pouco a pouco pelo brilho austero do céu estrelado, e o frio que tomavam as pontas dos dedos expostas dos dois sendo absorvido pelo calor do álcool que se aglutinava no sangue.

De repente, quase que sem querer, Dipper se pegou admirando Wirt. A face dele, pálida e cheia de marcas, como a lua. Os olhos destacados, o cabelo desarrumado, a maturidade incomum que exalava dele... profundamente atraente. Dipper não podia mentir falando que não o achava bonito. Achava, sim. Ele era uma gracinha. Pines rechaçou aquela ideia da mente, afinal das contas, nem sabia direito a sexualidade do garoto e já estava fantasiando sobre beijar ele.

Deixou o cantil de lá por um momento.

— Wirt...

— Quê? — virou o rosto na direção dele.

Mason sentiu o peito se encher de coragem. Ele tinha que admitir, boa parte daquela coragem era proveniente do fundo de uma garrafa na qual ele estava prestes a alcançar. Não era como se ele estivesse exatamente bêbado. Ou estava? Não saberia dizer ao certo com a sua mente embaralhada de pensamentos e sensações adormecidas que estavam começando a se levantarem da cama, mas havia algo especial em aquilo tudo — a solidão, a música suave sendo sussurrada nos seus ouvidos, o cheiro do vinho e da terra molha... — que lhe abrandava e fazia-o sentir a necessidade de fazer tudo que desejava fazer antes que fosse “tarde demais” e a sua vida efêmera terminasse. Então, com toda emoção do seu ser, ele perguntou:

— Tu curte pau?

— OI?! — Wirt pareceu atônito, mas, assim que viu a expressão de pânico aparecendo no rosto de Dipper, evidenciando o lampejo dele de lucidez, começou a gargalhar.

— Desculpa, tô nervoso... — Coçou a nuca, envergonhado. — e bêbado. — completou.

— Percebe-se. Relaxa, também tô assim: mais pra lá do que pra cá. — tentava parar de rir, sem sucesso.

— Mas você não respondeu a minha pergunta. Quero dizer, era para ser uma pergunta séria. — Mason esforçou-se.

Quando Wirt finalmente conseguiu se conter, prosseguiu:

— Por quê? Tá a fim de me pegar, é? — a voz dele tinha uma tonalidade que Dipper e nem o próprio Wirt conseguiram identificar se era sério ou de brincadeira. Talvez fosse apenas uma insegurança.

— Tô. Você é mó fofo.

Wirt fez um “tsc” companheiro com o canto dos lábios, se encolhendo em vergonha no canto do tronco.

Dipper se aproximou, era possível sentir as vibrações de ansiedade de Wirt sem nem mesmo tocar nele.

— Então você é o ukezinho do tipo tímido...

— Eu juro que vou te bater se você continuar a me cantar brega desse jeito. — disse o garoto no suéter.

— Você só conseguiu ficar mais fofo bancando o bravinho. — e puxou o queixou dele antes que o garoto pudesse raciocinar.

Os lábios se tocaram.

A boca de Wirt era rígida e relutante, mas a suavidez dos toques de Dipper amoleceu a barreira entre os dois, e ele o invadiu com sua língua quente. O interior de Wirt era gelado e o de Dipper quente. O beijo tinha gosto de uva e nicotina (Mason não tinha certeza se era ainda dos cigarros que ele tinha fumado antes de sair de casa ou se Wirt era fumante, o que ele duvidava muito).

E, pela primeira vez em muito tempo, havia sido perfeito.

Não era como se tudo na vida de Dipper tivesse, subitamente, se organizado de uma hora para outra, mas foi como se seus problemas tivessem dado uma pausa naquele beijo. Foi uma experiência agridoce. E Dipper estava contente, afinal, naquele dia ele tinha ganhado um vale livre de lavar louça por um mês e um namorado.

Quem não estaria?


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Notas finais do capítulo

Foi isso, espero que tenha arrancado pelo menos alguns sorrisos de vocês.
Mais capítulos no mês que vem.
Nos próximos dois episódios haverá uma aparição do nosso querido Bill Cipher (não me digam que não estavam com saudades dele, né?) pq já tá na hora de um BillDip pra apimentar essa treta. E também haverá um reencontro inusitado entre o Dipper e o Ford (*corações flutuando*)

Mais uma vez, obrigado pelo apoio daqueles que me permitem a palavra.



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