No More Secrets: Segunda Temporada. escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 4
Outono.




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Um peso vertiginoso despenca sobre as suas costas. Dipper caminha, fazendo o caminho de volta. Seus passos se tornando automáticos. O mundo parecia se reduzir a quatro paredes nas quais estavam se fechando em torno do garoto, prendendo-o numa caixa na qual ele não via luz nem espaço suficiente para respirar. A chuva havia pesado, porém nada que atrapalhasse comparado ao pandemônio que era a sua sina, e o tempo havia escurecido e as árvores de folhas que já eram incolores pareciam terem ficado ainda mais desbotadas. Assim como o coração dele. Dipper voltava para casa com uma dose de ansiedade se prolongando entre as suas veias que estavam quase inválidas de cumprirem a função de bombear sangue para seu organismo, todo o seu corpo deixando de funcionar, como se a sua própria capacidade de racionalizar houvesse simplesmente desistido de tentar processar tantos dados de uma só vez e desligasse como um computador. Dipper divagava diversas vezes, todas elas sempre levavam a uma frustração final: “Por que toda vez que eu tento fazer alguma coisa certa, ela dá errado?” Ele havia acabado de recomeçar a sua nova vida, o novo ele, estava começando a se acomodar com aquilo tudo. Com a chance de um desfecho tranquilo, nem precisaria ser feliz, apenas tranquilo.

Nem nisto a sorte pareceu colaborar para ele.

“Por que essas coisas decidiram acontecer comigo?”

“Por que eu? Por que logo comigo?!”

Parava por alguns momentos para recuperar o ar que parecia ter se perdido em meio das infindáveis voltas que era o labirinto dos seus tormentos. Era muita coisa para fazer ao mesmo tempo. Lembrar-se de respirar, de andar, de achar o caminho pra casa, de ter que fingir um semblante de “está tudo bem” para os seus familiares, de aceitar o que ele teria que fazer, de relembrar todas as dores que o fizeram fazer o caminho que ele havia tomado, de criar coragem para destruir a única prova que restava para alertá-lo de que ele não tinha tido um sonho estranho e simplesmente acordado naquela nova realidade, a única prova que mostrava que ele havia atravessado uma batalha e vencido a guerra.

Pelo menos era isso que ele pensava.

“Será que eu venci a guerra, ou apenas a batalha...?”

*

— Dipper! Que surpresa, chegou cedo. — a mãe abafa uma exclamação de surpresa assim que o vê arrancar para dentro da casa, já pulando para as escadas. — Tá tudo bem, que pressa é essa?

Dipper estanca no lugar.

— Nada... demais. — “Não é exatamente uma mentira.” Pensou numa tentativa de evitar que o pânico dentro dele se agigantasse.

— Dipper tá namoraaandoo... — Mabel surgiu cantando na parte de cima da escada como um personagem secundário de desenho animado surgindo do nada apenas para provocar o principal.

— O que aconteceu? Vocês por acaso brigaram? — o semblante da mãe foi de surpreso para preocupado numa assustadora fração de segundo.

“Ela percebeu.” Dipper só faltava revirar os olhos.

— Não, não foi isso. — Dipper adiantou, voltou a subir mais alguns degraus, sendo impedido pela irmã logo no final da escada.

— O que foi então? — indagou exultada. — Ele disse que te amava muito cedo? Vocês vão se casar? Ele te pediu em casamento? É por isso que você tá com essa cara? Tava chorando? Tava emocionado?

Mabel! Saí da minha frente!

Por mais que não parecesse, Dipper havia sido a pessoa dali na qual havia ficado mais espantada com o berro que reverberou nas paredes daquela casa, estabelecendo um silêncio absurdo e constrangedor. Parou por um instante vendo a face da irmã ir de atônita para confusa, para perceber a razão: Dipper nunca havia brigado de novo com Mabel desde quando ele havia voltado de Gravity Falls, desde quando ele havia voltado daquela realidade alternativa na qual ele tinha aprendido tanto a valorizar a irmã alegre e única que tinha. Nunca tinha ao menos levantado a voz para ela nos últimos 4 anos.

Um dévà ju assustador passeia pelas percepções de Dipper, fazendo-o estremecer.

Ele passa direto por ela e se atocha para dentro do seu quarto, fechando, em seguida, a porta por trás de si. Se apoiando sobre ela assim que se lembra, pela última vez, de encher os pulmões de ar e soltá-lo calmamente logo após. Se alguém estivesse vendo aquela cena, poderia ver a ansiedade de garoto modo tangível. Apoiado na madeira, tendo ninguém no mundo que entendesse o tamanho do seu mártir — literalmente ninguém —, apenas tendo aquela porta como o seu único meio de permanecer em pé naquele instante, a mão pousada ali era o seu único eixo. Seu único trêmulo e instável eixo.

Vira-se, olhando ao redor. O seu quarto era também um dos contrastes entre a sua antiga e nova vida. Uma cama grande e aconchegante, o lençol azul marinho estendido sobre o colchão, livros organizados nas gôndolas, uma luminária grande o suficiente para abranger toda a intimidade daquele espaço... era bem diferente de um porão empoeirado, vazio e opaco. Aquele cômodo era “organizado” como a sua vida.

Na verdade, Dipper sabia muito bem que aquela aparente ordem e limpeza escondia sujeiras por debaixo do tapete... literalmente!

Empurrando a cama de casal para o lado, Dipper se apoiou no chão com os seus joelhos dobrados, tateando o piso encoberto pelo carpete marrom. Quando encontrou o espaço que procurava, puxou o tapete felpudo para cima e seus dedos avançaram até irem de encontro com a madeira bruta da construção. Ali, entre as tábuas, havia um fundo falso.

Levantou a tampa improvisada pela tábua solta e viu a poeira subir, pipocando no ar e reluzindo contra a luz vinda de fora. Estendeu os dedos para dentro do pequeno compartimento secreto e tirou o seu pequeno tesouro.

Era como desenterrar um cadáver e ressuscitá-lo.

Soprando para longe o manto de terra e sujeira que cobria os pertences, Pines viu o resultado físico dos seus fantasmas tomar cor e forma diante dos seus olhos.

Um caderno de capa roxa, com um pinheiro e uma mão de seis dedos de contorno dourado, exibia um número “1”. Já no canto dele, um pequeno dispositivo quadrilátero de metal, pequeno e pesado que Dipper havia usado uma vez e apenas uma única vez há muito, muito tempo. A fita métrica do tempo.

O vislumbre daqueles pertences começa a fazer uma lembrança desabrochar na mente de Dipper.

E a memória vai crescendo e crescendo, tomando espaço e mergulhando todo aquele mundo em um mar inavegável de ressentimentos.

~ ~ ~

Anos atrás, em outra linha temporal.

Um vento mistral frio, porém brando, repercutia através das frestas da Cabana do Mistério.

As folhas amareladas corriam pelo ar, planando livremente enquanto evidenciavam o clima mesclado entre frio e calor. O outono havia sugado tudo.

Dipper estava sentado sobre as tábuas puídas do palanque que havia por cima do telhado da casa (próximo ao grande letreiro que exibia o icônico ‘Mystery Shack’), observando o andar da tarde enquanto balançava — sem parar — as pernas que pendiam no ar, essas mesmas estavam cobertas por um longo par de meias 7/8 listrada em preto e roxo que subiam até as suas coxas. O sol descera, mergulhando tudo numa bruma de laranja e relento.

— Achei que você me ajudaria. — a voz de Ford ressoou por detrás do garoto, repercutindo no seu interior que era completamente vulnerável àquela voz rascante e grossa. O tio avô estava passando a vassoura por cima do telhado, as folhas mortas sendo repelidas para longe do letreiro.

— Eu já tirei o pó embaixo, estou só dando uma pausa. — Dipper deu sua desculpa esfarpada enquanto bebia, de bocado em bocado, o seu suco de maça de caixinha. Fazendo barulhos irritantes de propósito ao mordiscar o canudo.

Stanford se aproximou, brandindo o cabo da vassoura que cutucou na nuca de Dipper.

— Preguiçoso. — provocou de forma brincalhona e estendeu a mão até o menino, desarrumando o cabelo castanho dele que já estava penteado pelas mãos do vento. O corpo de Dipper ponderou sobre o parapeito do telhado e ele sentiu o seu interior chacoalhar, despertando as borboletas no seu estômago.

Pines se virou, ficando sobre os joelhos, ignorando as farpas e mostrou a língua para o tio. Ford retribuiu o gesto, para, em seguida, soltar um suspiro cansado e despencar na beirada do telhado ao lado do garoto.

— Eu não te culpo, sabia? — disse Ford, o rosto dele coberto por gotículas de suor reluzia como se sua pele estivesse sob mica. — Todo esse trabalho com esse clima só me deixa menos motivado.

— Eu prometo que vou limpar o resto pra você assim que eu terminar isso aqui. — Dipper levantou a mão, mostrando a caixa de suco (que já tinha acabado).

— Jura? — com um quê duvidoso, Ford jogou uma sobrancelha arqueada para o sobrinho.

— Juro. Palavra de escoteiro. — o menino teve que suprimir uma risada.

Ford se empertigou, vindo para cima do menino, fingindo intimidação.

— Mas você nunca foi escoteiro, seu espertinho. — de uma só vez, agarrou Dipper pela cintura, dedilhando as costelas saltadas do garoto de forma ávida e sem piedade. Fazendo cócegas.

Dipper explodiu numa gargalhada.

— Ha, ha, ha...! T-tio Ford! N-não! Para-ha, ha, ha! — ele quase se dobrava de tanto rir, tentando se livrar do ataque surpresa do tio de forma cautelosa, estava a poucos metros da borda e não tinha para aonde correr.

— É isso que garotinhos mentirosos como você merecem. Não vou te deixar fugir. — e as cócegas continuavam, pela barriga, pelos braços, abaixo das pernas... e Dipper não para de se debater, o corpo dele extasiado naquela sensação de querer/não querer.  Por mais que estivesse se divertindo e rindo horrores, o seu corpo pedia misericordiosamente por redenção.

Pines conseguiu virar bruscamente e começou a se arrastar para fora da armadilha de Stanford, mas o tio avô foi mais rápido e puxou o menino de volta, o segurando por trás. As pequenas e delicadas costas de Dipper prensadas contra o peitoral exposto de Stanford que estava coberto de suor do trabalho que havia durado a tarde inteira.

— Me solta! — Dipper tentou parecer durão, mas foi impossível sua voz se firmar no meio daquela risada compulsiva. — Você tá todo sujo, tivô.

— Nós dois estamos, Dipper... — Deu uma pequena trégua para que o menino pudesse voltar a conseguir respirar, mas sem se soltar do corpo dele. Pousou o queixo sobre a cabeça dele.

— Eu não, não fiz tanto esforço assim, não gosto de ficar sujo. — Mesmo não vendo o rosto do tio, Dipper sabia que a face dele tinha de aberto num sorriso malicioso; o garoto tinha entregado mais um dos seus pontos fracos. — Ah, não... nem vem! — adiantou, já entendendo as intenções do tio.

— Então quer dizer que você não gosto de ficar sujo? — e, com isso, Ford puxou-o para mais perto de si, e seus braços cobertos por suor e poeira começaram a deslizar por todas as partes do corpo de Dipper que ele podia alcançar.

— Maldito! — ele se debateu mais uma vez, ansiando a sua liberdade, com repulsa. — Não é justo-argh!Que nojo!

O homem soltou uma risada prolongada, alta e doce ao mesmo tempo. O menino corou.

— Acho que tem um banho esperando por nós dois agora, Dip. — Ford disse, passando as pernas por cima das de Pines.

— Ah, não! — Dipper balbuciou. — A água e o tempo estão muito frios para isso. Tenha piedade.

— Você já fugiu demais, garotinho. Daqui a pouco faz uma semana que você não vê uma banheira. Agora, você não tem escolha. — esfregou o queixo no espaço entre o pescoço e o ombro de Dipper, fazendo-o se contrair mais ainda. — Está tão fedido quanto eu. — Levantou-se, levando o menino ainda preso junto aos seus braços, caminhando de volta para dentro da cabana.

— Não, não, não! Por favor! Água gelada, não! — ele implorava num misto de veracidade e encenação.

— Anda logo, Dipper. Não me faça ter que te dar um banho à força igual uma criança! Ah, não, espera... você ainda é uma. — importunou com um sorriso bobo.

— Não sou uma criança! Tenho treze anos, tecnicamente um adolescente. — retorquiu.

Ford revirou os olhos, começando a descer as escadas. As tábuas antigas gemendo sob os seus passos pesados. Virou na direção do banheiro, Dipper usou a sua última arma:

— Por favor, só mais um dia. Eu juro que faço o que você quiser.

O que eu quiser, é? — Ford deu um sorriso afetado.

Dipper assentiu.

— Qualquer coisa.

— Então tome logo um banho, Dipper! — fechou a cara.

O menino suspirou em redenção enquanto o homem que o carregava fechava a porta do banheiro por de trás dele. Ford tampou o ralo assim que ligou a torneira, deixando a água correr, enchendo aquela banheira livremente. Largou o menino sobre a privada. Dipper cruzou os braços, se segurando para não fazer um bico.

— Anda, tira a roupa. — frisou o mais velho, já terminando de desabotoar o cinto.

— Me obriga. — balbuciou baixinho, sem fazer menção de que o outro escutasse.

— O que foi que eu ouvi? — colocou a mão sobre o ouvido, ainda de modo brincalhão.

— N-nada.

Antes mesmo que Dipper pudesse pensar, Ford já estava diante dele, tentando puxar a camiseta dele para cima.

— Levante os braços, Dipper. Tira a camisa logo.

— Não.

Ford passou os dedos próximos da barriga do sobrinho mais uma vez e Dipper deu um sobressalto ao ataque de cócegas, erguendo as mãos até à cabeça involuntariamente. Aproveitando a oportunidade, o tio tirou a camisa de uma só vez.

— Golpe baixo. — reclamou, ainda recuperando o fôlego.

O outro deu de ombros, chutando a calça recém-tirada para perto do cesto de roupas sujas. As mãos de Dipper começaram a suar, rezando para que ele não enrubescesse diante da roupa íntima do tio avô. “Controle-se, Dipper, isso é normal. Até parece que você não usa cuecas.”

— Não acredito que estou fazendo isso para um menino da sua idade. — Ford continuava fazendo o papel do inconformado enquanto puxava o short curto de Dipper apenas pelo cós. Ele já tinha admitido para si mesmo, Ford gostava de tudo aquilo, gostava de ter que cuidar de Dipper. Era como se pudesse dar carinho para algo que nunca teve, dar o afeto que nunca teve para alguém.

O garoto engoliu em seco, fitando a sua cueca brief estampada em muitas cores e com personagens de desenhos animados. Aquilo era tão constrangedor.

— As meias. — lembrou Ford enquanto fechava o registro, espalhando espuma pela água gelada. Chapinou pelo piso encerado do banheiro, de joelhos, se equiparando à altura de Dipper. Fez um gesto para que o garoto descesse do assento. Com a hesitação estampada no rosto, Dipper desceu, as meias ainda contornavam as suas pernas. Ford as observou; aquele padrão listrado horizontalmente criava uma impressão de que as coxas do menino estavam mais acentuadas e, de certa forma, Ford odiava admitir aquilo para si... sedutoras. O homem estagnou por um breve instante ao perceber o quão aquele toque seria íntimo, Dipper só tinha treze anos, mas ele sabia que, na cabeça de um garoto como ele, esse tipo de pensamento já devia ser corriqueiro. “Será que ela vai achar esse toque muito... constrangedor?” Ford pensou resistente, incapaz de encontrar uma palavra melhor. As mãos ásperas dele avançando cada vez mais rápido para as pernas do garoto, sua mente fazendo tudo reduzir à câmera lenta. “Será que ele já não está achando isso muito estranho?”

“Talvez eu devesse...?”

Tarde demais.

Quando Stanford deu por si, suas mãos já jaziam sobre o algodão macio da vestimenta do sobrinho.

“Droga” praguejou.

Eram meias 7/8, ou seja, subiam quase ao final das pequenas coxas do garoto.

Logo abaixo da sua roupa íntima.

Tudo que separava os dedos de Ford de um contato com a virilha de Dipper era muitos poucos centímetros.

Dipper prendeu a respiração.

Ford desceu a primeira meia de uma vez, só conseguindo voltar a soltar o ar assim que a mesma estivesse fora do pé dele.

Foi direto para a outra. O silêncio nunca foi tão absoluto. Até as piscadas de suas pálpebras pareciam serem explosivas. A mão do tio avô repousava na coxa esquerda, os dedos longos roçaram leve e brevemente na virilha do sobrinho. A água da banheira gorgolejando sendo a trilha sonora. Dessa vez, ele desceu a meia devagar. Os pelos de Dipper se içaram: era aquele toque do Ford, delicado e cauteloso, mas que era possível sentir o eco do movimento nas suas entranhas.

— Vamos logo. Cachorro molhado. — brincou Ford, bagunçando o cabelo do moreno mais uma vez. Pines nem sequer tinha visto quando a última peça de roupa que o separava do tio foi retirada. — Já pro banho. — então, de súbito, o menino se viu sendo erguido no ar e atirado na banheira.

Dipper deu um berro de susto. A água congelante havia o trago de volta à realidade. O líquido correu em volta dele na medida em que todos os seus ossos tremiam, fazendo bolhas.

— Por que fez isso?! — vociferou, agora realmente irritado. — Eu ia entrar no banho de qualquer jeito.

Ford riu. A gargalhada tão icônica e familiar foi como ter ascendido um fósforo dentro daquela água gelada para Dipper, seu coração se aqueceu e derreteu, misturando-se naquele apinhado de espuma.

— Eu te conheço, Dipper. Você iria custar a entrar nessa água fria. Seria uma meia hora inteira só para você conseguir se enfiar até o joelho. — explicou camaradamente.

Em seguida Ford entrou, o volume da água aumentou, subindo até a altura do nariz de Pines, molhando a barra dos seus cabelos emaranhados. O tio se acomodou numa extremidade da banheira enquanto o garoto chapinou para a outra, sentindo o tecido da sua cueca ficando encharcado e cada vez mais grudado contra a sua pele; suas curvas mal desenvolvidas ficaram à mostra. Stanford sacudiu a mão propositalmente, jogando água contra os olhos de Dipper.

— Ei!

Dipper rebateu o ataque.

Logo começara uma guerra de água. Os dois ficaram se provocando, fazendo insultos bobos propositais ao espirrarem espuma um no rosto do outro. Riram. Riram até cansarem e decidirem tomar um banho de verdade.

— Você não sabe mesmo como lavar o cabelo. — Ford pontuou assim que observou as tentativas falhas do sobrinho de tentar fazer espuma nas mechas. — É por isso que eu sempre acho restos de sabão seco na sua cabeça. Faz isso direito.

— Você se acha muito esperto, né, nerdão?

— O maior nerdão que você respeita. — rebateu abafando um riso.

Dipper mostrou a língua. Friccionou o couro cabeludo mais algumas vezes com truculência, amaldiçoando o fato de nem uma espuma sequer brotar dali não importasse o quanto ele tentasse.

— Céus, vem cá! Me deixa fazer isso. — puxou o menino com agilidade antes que ele pudesse protestar com sua teimosia. O segurou pelo ombro. A água que não parecia mais tão gélida correu, se acomodando em volta dos dois como um manto volúvel às necessidades deles. Stanford pegou mais um pouco de shampoo e esfregou nas mãos, afofando o cabelo do garoto logo a seguir. — Viu? — indagou taxativo assim que a espuma começou a se avolumar entre os seus dedos. Dipper estava de frente para ele, encarando-o com aqueles olhos obliquamente atrevidos cintilando uma juventude que fazia Ford se sentir tão... vivo. Massageou a franja do rapaz, os seus seis-dedos passando vaporosamente por cima da marca de nascença dele. — Preciso lavar atrás. — avisou.

Dipper se virou, o coração alucinado como um compasso desritmado. “Por que eu estou me sentindo assim?” Dipper se perguntou, o rosto ficando cada vez mais quente a ponto de explodir de sentimentos que corriam dentro dele como se estivessem numa corrida sobre as suas veias.

Stanford se empertigou sobre ele, começando a espalhar a espuma próxima a sua nunca, acarretando numa sinfonia de arrepios na espinha do garoto. Deixando um rastro de sensações na sua pele. Dipper sentiu o corpo leve, a água o empurrando para trás. Até que... suas costas se acomodaram no peitoral molhado de Ford. Os dois corpos se aninhando num encaixe perfeito.

— Sabe, Dipper, nós deveríamos sair alguma vez.

As palavras sumiram da garganta do garoto.

— Como assim? — sua voz estava baixa.

— Eu acho que você fica muito tempo dentro dessa casa velha, você... você é muito jovem. — aquela colocação provocou um estranho arroubo no qual Ford não conseguiu entender o porquê. — Precisa sair daqui, ver pessoas da sua idade, conhecer gente nova, aproveitar enquanto é tempo.

“Eu não preciso de mais nada além de você.” As palavras eram firmes e fortes, mas não se atreveram a saírem da garganta de Dipper. Então ele permaneceu calado.

— Entende o que eu digo? — insistiu. Pressentindo que ainda não haveria resposta, Ford se focou na espuma. — Sabe, Dipper... às vezes... às vezes eu penso que ter pedido para ficar aqui foi... um erro — ele finalmente havia dito, algo que o perturbava por tanto tempo, remoendo-o.

— Não. — Dipper cortou brusco antes mesmo de Ford terminar, “Ter escolhido ficar com você foi a melhor escolha que eu poderia ter tido.”, pensou, porém, mais uma vez as palavras acabaram se perdendo no caminho sinuoso que era aquele labirinto de sentimentos dentro dele, ficando no âmago da sua alma, fadadas a nunca encontrarem uma saída.

Os movimentos de Ford no cabelo ensaboado pararam.

O tio encarou o pequeno menino que estava acomodado entre as suas pernas, feito um pequeno passarinho que se aconchegava num ninho no qual havia desejado tanto estar. Um ninho no qual se sentia seguro. E foi ali que o peso da sinceridade da negação de Dipper o atingiu, e Ford percebeu que era real, ele tinha alguém a dar carinho. Pela primeira vez há muito, muito tempo...

Sorriu, abaixando a cabeça próxima à de Dipper, fechando os braços e pernas em torno dele. As bochechas se tocaram, com os rostos lado a lado e a boca de Stanford tocando a orelha de Dipper.

— Obrigado, Dip. — murmurou no lóbulo do garoto, aquela palavra soltada juntamente com aquele suspiro cálido servia como um pavio para a circulação sanguínea de Dipper que havia subitamente se tornado álcool, seus hormônios pegam fogo.

O peito de Pines começa a esquentar, ele pensou que a qualquer momento a água ferveria.

Um comichão incomum despertou dentro do menino, descendo até a suas pernas... entre elas.

“Ah, não!” Dipper começou a se desesperar.

Levou a mão discretamente até a área onde estava a sua cueca, apenas para se certificar daquilo, e teve de se segurar para não deixar a exclamação de susto eclodir.

— E-eu preciso ir. — respondeu precipitadamente, arrancando-se para fora da banheira.

— D-Dipper, o que foi?! O que aconteceu?! — não entendendo nada, tentou esticar a mão na direção dele. Em vão. Em questão de minutos, o garoto saiu encharcado para fora do banheiro, batendo a porta por trás de si.

Pines correu, pulando alguns degraus da escada para que pudesse chegar mais depressa ao sótão. Fechou a porta, encostando-se no batente, deixando que a água escorresse para fora dele livremente. Contou até três, criando coragem para olhar para baixo. Quando finalmente fez, encarou a realidade: tinha tido uma ereção.

Um volume — pequeno, porém visceral — despontada na sua cueca molhada. O tecido estava colado à virilha de Dipper, o que deixava tudo mais evidente.

“Preciso terminar com isso.”

Deixou que seus dedos enrugados pela água deslizassem pela sua pele lubrificada e reluzente. Descendo lentamente até a base, ele tocou aquilo. O membro se contraiu de imediato. Tudo naquela idade era tão sensível e intocado. Dipper grunhiu baixinho. A respiração começou a ficar mais pesada e incontrolável. Passou as mão para debaixo da cueca e o seu pequeno pênis se ergueu.

“Vamos lá... vamos lá...” tentou se controlar. Concentrou-se em todas as garotas que já tinha visto. Todas as garotas que já havia considerado ter sentido coisas. Pensou em tudo isso quando iniciou os movimentos. Acariciando por cima da glande. Ficou assim por um bom tempo, após investida com investida. Nada. Tentou se esforçar mais uma vez. Pensou nas mesmas garotas só que, desta vez, nuas. Fechava os olhos, tentava produzir aquilo com mais vigor, com mais ímpeto, mas, para o seu pânico, as imagens que sua mente evocava viravam névoa. As garotas desapareciam. E suas percepções eram preenchidas por imagens de outras memórias. O toque nas coxas. O calor dos corpos unidos. As atitudes que denominavam o grau de intimidade. A água correndo, deixando os corpos colados. A barba por fazer roçando incessantemente no seu pescoço. Uma mão de seis dígitos percorrendo os lugares mais delicados do seu desejo.

Ford.

Dipper parou, percebendo aonde aquilo estava indo.

“De novo, não.” Lamentou, mas era inevitável.

Todas as vezes em que Dipper tinha que se masturbar ele acabava voltando para ele.

Ele sempre voltava para ele.

“Ok, essa será a última vez. A última vez.”

Voltou a investir contra o seu membro, seu corpo inteiro se enrijeceu, as sensações novas o surpreendendo, dominando-o... Dipper deixou-se levar por aquela onda de prazer. Permitiu-se perder. Os arquejos se avolumando, tornando-se sussurros e gemidos a cada novo movimento, a cada nova fantasia.

Até que chegou num ponto no qual ele já não conseguia mais parar. Não era mais um ato de alívio, e sim uma necessidade. Um prazer real. Voluptuoso, irresistível. Pecaminoso, mas, todavia, inacreditavelmente gostoso.

O ápice chegou, irrompendo nos sentidos do garoto. Seus pés ficaram-se no piso, numa tentativa de controlar os espasmos. Ele se obrigou a abafar o enorme gemido que fez a sua garganta tremer, mandando-o de volta para as inúmeras voltas que suas emoções reprimidas tinham. Jorros e jatos dispararam, aquecendo a sua barriga ainda com a sensação térmica da água da banheira.

Dipper soltou um suspiro final, escorregando lentamente até ficar sentado no chão; a cabeça repousada contra a parede, virada para cima. Arquejou até a capacidade de formular frases e falas voltasse para ele.

“Ah, não...”

Foi quando ele percebeu. O momento que ele teve a maior certeza da sua vida.

A sua benção e maldição:

“Eu tenho uma queda pelo meu tio-avô.”

~~~

O ruído das folhas secas se arrastando pelo vidro da janela dispararam Dipper de volta para o presente como um estilingue.

Ainda aturdido, ele permanecia encarando o diário roxo e o par de alianças diante dele.

“Preciso terminar com isso.” Pensou. “Precisa ter um fim.”

Antes de sair do quarto — carregando os únicos pertences que poderiam causar a destruição dele e de todos mais uma vez, os pertences que ele tanto guardava com zelo. Sua benção e maldição — ele não deixou de notar o movimento lá fora.

Folhas e asfalto.

Dipper era uma minúscula ilha solitária no meio de um oceano infindável de laranja e cinza.

Seus olhos estavam focados numa folha seca que era jogada de um lado pro outro pelas mãos do vento. A similaridade entre ele e aquela estação chegava a assustar: caído de um galho que costumava o sustentar, para a partir daí ser destinado a ser levado pelo o acaso, deixando-se levar pelo ar, incerto de que teria um pouso tranquilo.

Dipper era aquela folha.

“Outono realmente é a minha estação.”

 


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