No More Secrets: Segunda Temporada. escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 16
Débâcle (Parte 2)




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Naquele momento, ele entendera tudo.

Tudo que ele sempre soube, mas só agora tinha confirmado.

Tudo que ele sempre soube, mas que, talvez, tivesse medo de assumir.

Dipper percebeu que tentar se agarrar em algum tipo de normalidade seria tão inútil quanto tentar segurar um punhado de areia: não importasse o quão forte ele segurasse, eventualmente ela acabaria escapando por entre os seus dedos.

Ele tentara manter Wirt a salvo, a salvo daquele caos, daquela bagunça... a salvo dele. Mas não adiantou. Havia sido quando ele menos percebeu.

Eventualmente, contra a sua vontade, mais cedo ou mais tarde, Wirt também acabaria sendo corrompido por toda aquela loucura que assolava a vida de Pines.

Por isso ele decidiu terminar as coisas ali mesmo, cortando o mal pela raiz antes que ele se propagasse. Seria o melhor a fazer, não só para Wirt como para ele mesmo.

— Wirt, sai da sala. — repetiu, incerto em identificar se o som alto que retumbava pela escola era da música lá fora ou do seu coração se quebrando em mil pedaços.

O ar entre os dois engrossa com o peso das palavras não ditas, estendendo-se por vários segundos que pareceram minutos inteiros.

Por fim, Wirt suprimiu uma risada nervosa, bufando:

— Heh... Então essa é a sua resposta, não é, Mason? — respirou fundo. Dipper continuou parado na mesma posição, sem se atrever a ver a expressão do garoto atrás dele ou ao menos se sentindo digno de estar na presença dele naquele instante. — Tudo bem... acredito que eu não deveria esperar menos, afinal, eu não pertenço a essa parte da sua vida na qual você decidiu escolher, não é?

Se Dipper pudesse desaparecer dali, ele teria.

— Adeus, Dipper.

Wirt deu um passo à frente e saiu do prédio.

Quando o baque das duas portas se abrindo e fechando soou pelo corredor, Dipper se viu sozinho ali, mesmo ainda na presença de Bill e Stanford. Respirou fundo, obrigando as lágrimas a ficarem dentro dele. De um momento para o outro, fitou os dois com uma expressão determinada:

— É melhor vocês dois terem um boa razão para me fazerem ter feito isso.

— Você não sabe o perigo que corria... — Bill começou, dando um passo à frente.

— O perigo que eu corro?! — Dipper explodiu na direção dele com um berro irônico.

— Dipper, você vai precisar escutar ele... — disse Ford apaziguado, porém com uma crescente ansiedade perceptível.

— Preciso?! — virou-se ao tio-avô, o seu surto tomando conta de cada fibra do seu corpo. — Ele é Bill Cipher, Stanford! É isso! A. Evum está sendo possuído por Bill Cipher e vem tentando nos enganar esse tempo todo!

Aevum e Ford se entreolharam em silêncio. Bill assentiu e o tio abaixou a cabeça e disse para o sobrinho sem encará-lo, num sussurro acoimado:

— Eu sei.

Nova taquicardia. O coração de Dipper parecia fraco demais para suportar todas aquelas emoções num espaço tão curto de tempo, no entanto, o choque da revelação desceu sobre ele como um raio, eletrizando-o e injetando nas suas veias epinefrina, o que o fez capaz de persistir em exclamações de incredulidade.

— Você sabe?!

— Sim. Sim, Dipper, eu sei. — continuou ele a assumir. — Ele me contou tudo.

A cabeça de Pines se virou num rompante para encarar Bill com raiva:

— Então o que estão esperando para descerem o cacete um no outro?! Anda! Não tá vendo o quão sério isso está sendo?! Por que estão tão amiguinhos assim?!

— Porque a situação é mais complexa do que isso, Dipper. — falou Cipher, o rosto dele, uma vez mais visível para o outro, estava cheio de vincos; as sobrancelhas enviesadas em curvas de preocupação. — Era pra você ter me contato que tinha os meus poderes bem antes! Se você tivesse me contado e confiado no que eu tinha te dito, tudo seria melhor!

— Do que caralhos você tá falando, Cipher?!

— Eu já te disse, estou cansado de te dizer: estou fazendo o que estou fazendo pelo bem, seu bem.

— Ford! — Mason se virou para o dito, apontando o dedo para quem acreditava ser seu inimigo. — Ele é quem vem mandando os monstros para me atacarem! Ele foi a criatura que sugou a magia da barreira de Gravity Falls e assustou os seus monstros a ponto deles virem tirar satisfação comigo! Seja lá o que ele tenha te contado, você precisa se lembrar de que ele é um manipulador de primeira!

— Não, Dipper. Não foi ele. Acredite ou não, é até difícil para eu dizer isso, reconheço, mas eu posso te provar que Cipher não estava por trás disso. O verdadeiro vilão dessa história não é quem pensamos que é. — suspirou. O modo absurdamente convicto com que ele tinha dito aquilo era novo para Dipper, o que o assustou profundamente; ele via o quanto o outro estava a falar a sério.

— Que história é essa...?

— O mindscape.— recomeçou Ford. — Há trinta anos atrás, quando eu trouxe Bill para essa dimensão pela primeira vez, ele me contou sobre o sistema de governo da dimensão natal dele. No Mindscape, Bill Cipher vem da raça menos favorecida de seres, ele é o mais fraco da espécie deles.

— Bill Cipher o ser mais fraco?! Não me faça rir, ele quase causou o fim do mundo mais de uma vez! Como vocês esperam que eu acredite nisso?!

— Exatamente, para você ver o que uma criatura com o nível de poder acima do dele poderia fazer. Mas a questão é a seguinte: Bill Cipher não é o responsável por suas ações, a raça dele não é independe.

— O que isso quer dizer...?

— Quer dizer que ele é um escravo. Um fantoche de um títere maior de poder.

Dipper lançou o olhar na direção do demônio, ele estava encolhido, abraçando a si mesmo, a expressão de culpa e inferioridade em evidência. Mason se lembrou da maneira com a qual ele tinha olhado para ele do mesmo jeito quando questionado sobre enviar os gnomos para matá-lo, “Ele estava... falando a verdade? Ele era de fato inocente?!”

— Os eventos que vem ocorrendo desde o verão de 2012 até então não vêm sido executados por Bill em si, e sim por alguém que usa ele como peça, alguém que não pode sair do Mindscape numa forma humana própria e precisa de um recipiente para atuar através, no caso Bill. Alguém que quer realmente ver o mundo em chamas. — continuou Ford.

— Isso não faz sentido! — berrou Pines, virando-se para Cipher. — Se você está mesmo sendo usado por alguém contra a sua vontade e não tinha intenção nenhuma de fazer nada disso desde o início, então porque não nos contou logo, porra?! Por que só não abriu o jogo de uma vez?!

— Porque ele não pode. — falou Ford. — Veja bem, agora mesmo ele não disse uma palavra até agora. Nem para mim ele pôde. Eu só sei disso pelo o tanto de tempo em que eu vivi no Mindscape quando fiquei acidentalmente preso no portal por décadas. Eu sei das coisas horríveis que acontecem naquele lugar, mas nunca imaginei que fosse Bill um dos que sofressem com isso. — ele se aproximou do sobrinho e o tomou pela mão. — O Bill Cipher é um escravo, Dipper. A ordem do seu superior, do seu dono, é automaticamente realizada no sistema dele sem que ele possa impedir; eu acredito que o superior dele tenha pedido para que ele ficasse em silêncio sobre o verdadeiro plano e quem ele realmente era esse tempo todo, ou seja, os lábios de Bill sobre esse assunto estão literalmente selados. — Ford não pôde evitar lembrar-se da cena de anos atrás, quando transou com Cipher e, após segui-lo para dentro do portal, vê-lo conversar com uma criatura bem maior e mais intimidadora do que ele: “eu fiz tudo que você me mandou fazer”, era o que o triângulo havia dito um pouco antes de ele invadir a cena... aquilo fazia tanto sentido agora... — Porém, ele pôde me revelar que era Bill no corpo de um professor agente do tempo. Foi o que ele fez hoje mais cedo e a ficha caiu: o motivo de eu ver que tinha uma criatura se regenerando nos meus estudos mesmo com Bill já ter retornado há muito tempo num corpo humano, era...

— Era porque não era Bill retornando, era outro alguém. — Dipper completou a frase do tio, atônito e sentindo as pernas fraquejarem. “Era isso que aquele demônio, Tom, estava falando com ele mais cedo sobre ‘tentar fugir da guarda’?”

— Exato. E ele está aqui, hoje era o último dia para ele se formar completamente. Tememos que seja tarde demais.

— Então, quem é esse ser? Por que todo esse ódio comigo? Por que ele queria me matar? Ou até mesmo todos no mundo? — Dipper colocou as mãos na cintura. — Quem mais poderia ser mais poderoso e ser a fonte de toda a maldade de Bill Cipher?

Ford estava pronto para abrir a boca e responder quando, subitamente, o som lá de fora aumentou. Não a música, mas as vozes dos convidados. Gritos. Todos eles altos, não de euforia, mas de desespero, pânico. E o som de passos fortes ecoava sobre o piso de concreto; pessoas correndo. — O que está acontecendo lá fora? — Ford se virou, tomando um susto.

— Ah, não... — Bill gemeu, saindo pela porta primeiro do que todo mundo.

Dipper e Ford ficaram por um tempo lá dentro, se entreolhando com confusão e, em seguida, a curiosidade teve o melhor deles e os dois arrancaram para o exterior.

O que Dipper viu em seguida ele jamais iria esquecer.

Despeito a aura palpável de um frisson coletivo de medo e descontrole vindo dos jovens que saiam apressados por todas as partes, alguém estava parado no centro de toda a festa; de costas e pleno, como se observasse algo que mais admirasse em êxtase. Esse alguém controlava a fiação dos pisca-piscas que – ao comando mágico dos poderes dele – haviam se arrebentado, caindo sobre as toalhas das mesas, iniciando um fogo que foi seguido através das teias de aranha e bandeirolas de halloween que propagaram, rapidamente, as chamas por todas as partes. O som dos alto-falantes falhava ao ser lentamente danificado pelo calor e o plástico do equipamento pingando e derretendo tudo ao redor. Era a mesma música que Dipper havia ouvido no rádio do seu carro – Titanic Sinclair, ‘Going to Hell’ –, dessa vez distorcida e com modulações desarmônicas que, unidas ao resto do cenário, completava a desgraça da tragédia de maneira agourenta:

 

Esse lugar estar indo para o inferno,

Eu gosto do fogo

Eu conheço esse sentimento muito bem, yeah

Eu estou morrendo

 

E não era só isso. Havia coisas perseguindo os convidados, seres pequenos, Gnomos – todos eles estavam com os globos oculares completamente negros e, embora avançassem para cima das pessoas como animais selvagens, suas ações pareciam estranhamente calculadas, como se estivessem programados a fazerem aquilo. Aliás, as árvores mortas das decorações, aparentemente, não estavam tão mortas assim: as suas raízes se moviam acima do gramado como serpentes, os seus troncos se contorceram e os vincos da madeira se revelaram rostos, todos eles deformados e demoníacos. Eram as mesmas árvores-monstro que Dipper havia encontrado uma vez que esteve na Bolha da Mabel durante o verão de 2012.

Bill deu mais dois passos para se aproximar daquela pessoa que orquestrava aquilo tudo:

— Mestre — ele disse, submisso, ajoelhando-se num sinal de inferioridade aos pés dele. — Você voltou.

O superior de Cipher se virou, encarando Dipper profundamente nos olhos.

Aquela pessoa... com a calça social, a gola da camisa saindo por cima do seu suéter perfeitamente limpo – como o resto da sua personalidade antes era –, acompanhado pelo o seu antigo rosto, perfeito como a circunferência lunar, agora maculado por hematomas e um sorriso ofídico que, se Dipper pudesse, nunca desejaria ver no rosto de alguém que tanto amava anteriormente.

— Agora eu sou bom o suficiente para combinar com o resto da desgraça da sua vidinha, Dipper? — indagou Wirt mordaz.


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