No More Secrets: Segunda Temporada. escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 15
Débâcle (Parte 1)




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— Dipper, o que houve? — Ford perguntou desesperado, vendo o garoto soluçando ao pé da escada. — Está tudo bem?

O menino se levantou num pulo, passando reto por ele, avançando para o carro.

— Dipper?! — ele insistiu.

Pines pulou para dentro do veículo e fechou a porta imediatamente, antes que Stanford o alcançasse, ele travou as duas portas.

— Dip! — Ford berrou assim que percebeu que não adiantava puxar a tranca. — Abra a porta! Por favor, vamos conversar! Dipper! Me deixe entrar!

Os sons foram silenciados pela mente conturbada de Mason, que deu a partida, afastando-se dali. Manobrou o carro descontroladamente para fora do concreto, saindo da pista e acelerou. Acelerou sem parar.

Stanford ficou lá, tentou correr atrás do automóvel, mas era inútil. Inerte e entorpecido, ele observou o carro desaparecer aos poucos, o menino sair do seu alcance sem que ele pudesse evitar. Um sentimento de impotência atingiu Ford em cheio e ele tocou o próprio peito, sentia tantas coisas ao mesmo tempo: preocupação, medo, fraqueza... tudo aquilo por causa do que sentia por ele. Do que sentia por Dipper.

As portas da frente se abriram com um estrondo absurdo por trás de Ford, e Evum saltou para fora do prédio como um animal raivoso.

— Onde está ele?! — rugiu.

— Ele se foi. — respondeu Ford baixo. — Só pegou o carro e foi embora sem dizer uma palavra.

— Nós precisamos encontrá-lo! — o pânico na voz de Evum era palpável, e a aura de um medo culminante penetrou Ford assim que ele tocou-o no ombro, tomando sua atenção. — Stanford, é sério!

O homem olhou para o professor.

— Evum, o que aconteceu?

O outro pareceu engolir a seco, o olhar conturbado e perdido tentando se focalizar no chão, ele andou em torno de si mesmo por alguns segundos e, por fim, teve coragem o suficiente para voltar a encarar o cientista olho a olho:

— Stanford... tem uma coisa na qual você precisa saber.

 

*

 

Dipper dirigiu sem parar por um instante, sua mão no volante e nem seu pé no acelerador relaxaram até que ele reconhecesse a rua em que estava e avistasse a residência da família de Wirt.

Estacionou a Picape torta na calçada e pulou para fora do veículo, deixando a porta aberta e a chave na ignição. Com violência, escancarou a portinhola da cerca branca e passou por cima do gramado, destruindo a plantação e jardinagem.

— Wirt! — chamou, recebendo o silêncio de volta. — Wirt! — insistiu, mais alto.

— Ele não chegou. — respondeu uma vozinha baixa e inocente próxima à varanda.

Dipper varreu o local com os olhos até encontrar o garotinho de estatura baixa com o macacão e a chaleira.

— Greg! — disse aliviado, aproximando-se nele. — Onde está o seu irmão?

— Saiu.

— Isso foi agora ou mais cedo?

— Mais cedo.

“Deve ter sido quando ele saiu pra me encontrar na escola.”

— E ele falou quando voltaria? Ele ao menos disse se voltaria?

— Anham. — ele assentiu, colocando o dedo no lábio inferior, pensando um pouco. — Ele falou “em breve”.

— Então ele está voltando pra cá?

O menino assentiu.

— Okay. — Dipper, finalmente, soltou o ar que estava preso no seu pulmão desde a escola. — Eu vou esperar aqui então.

Sentou-se na varanda ainda coberto de pensamentos, tentou espairecer aquilo tamborilando o pé no chão enquanto aguardava.

— Eu vou esperar por você, Wirt.

 

*

 

“Onde ele está?”

Wirt não sabia onde estava com a cabeça.

Primeiro, tinha resolvido jogar todas as suas responsabilidades da rotina no lixo e ido atrás do namorado na própria escola para, em seguida, dar as costas e ir embora. Ele não sabia mais o que estava fazendo, de onde estava vindo todos aqueles impulsos recentemente, de fazer coisas que ele não entendia, de falar coisas por pura inércia... tudo por causa daquele garoto.

Durante a tarde, ele passara todo o seu tempo vagando pelos arredores da Piedmont High, tentando rearrumar os cacos e juntá-lo no quadro de possíveis soluções do que ele poderia fazer em seguida, enquanto se isolava do resto do mundo. O sol já estava terminando de se por, e a escuridão que vinha que ele combinava exatamente com a forma que ele se sentia: uma gavinha de sombras estava a crescer cada vez mais e mais dentro dele, esmagando o seu coração num torvelinho de heras com folhas de navalha.

Em uma hora a festa de Halloween começaria. “Dipper já deve estar lá”, pensou ele. Wirt não estava planejando encontrar o garoto tão cedo, nem mesmo depois dele ter lido a mensagem que ele havia lhe mandado, porém, depois daquela confissão, daquela mísera frase escrita por Mason, algo dentro dele mudou, e ele ficou matutando sobre o resto do dia, toda hora chegava aos portões do colégio, olhava lá dentro, a frase flutuando nos seus pensamentos, e, em seguida, voltava, ainda sobre as rédeas do medo e da indecisão.

 

‘Eu te amo.’

 

Wirt respirou fundo e abriu o celular, já tinha lido aquelas pequenas três palavras diversas vezes, como se aquilo fosse capaz de fazê-las parecerem mais reais, tangíveis no meio de tantas coisas abstratas que o atormentavam.

A única coisa que ele tinha na sua segurança era aquilo:

 

‘Eu te amo.’

 

Depois de ainda esforça-se em espairecer, finalmente chegou a uma conclusão. Iria encontrar-se com Dipper, pois, por mais que a situação entre os dois estivesse entrando num conflito estranho que nem mesmo ele parecesse entender, Dipper era a única coisa fixa na qual ele poderia se sustentar naquele momento.

O pensamento fez o incômodo peculiar na sua testa voltar a se sobrexceder mais uma vez e ele levou a mão de leve ao curativo, suprimindo um guincho de dor.

“A hora está chegando”, uma voz sibilou dentro da sua cabeça. No instante seguinte, ele fechou as duas mãos em punhos e deu um passo à frente, cruzando os domínios da escola. Ele iria se encontrar com ele.

Após se situar de todas as decorações do local, e do volume de adoelscentes que começava, aos poucos, se aglomerar pelos arredores, Wirt mergulhou de cabeça naquela incógnita. Olhava para todos os lados, procurando por qualquer sinal do namorado. A única iluminação do local era dos pisca-piscas nas árvores e muitos dos convidados estavam com máscaras do Dia das Bruxas, o que fazia a tarefa de enxergar alguém ali naquele meio uma tarefa árdua. A música, que de pouco em pouco ia progredindo para melodia mais altas de acordo com que os convidados chegavam.

Parou um pouco para pensar: Dipper disse que estaria trabalhando ali, então só podia estar nos bastidores, junto com o resto da equipe.

Dando meia volta, ele foi para a parte de trás das mesas de comes e bebes e caixas de som, e se deparou com o som de uma voz feminina procurando pela mesma coisa que ele:

— Dipper! Dipper! Oh, gente, alguém viu o Dipper? — era uma garota de cabelos coloridos, carregando algumas caixas no que parecia ser a contragosto enquanto perguntava para várias pessoas encarregadas sobre o paradeiro do sujeito. — Ei, você viu o meu irmão por aí?

Todas as respostas eram as mesmas: cabeças balançando negativamente em silêncio e vários e vários “nãos”.

— Você está procurando pelo Dipper? — perguntou Wirt, aproximando-se dela. A menina se virou imediatamente e Wirt pegou na mesma hora as feições similares que ela tinha do garoto.

— Sim. Sabe dele?

— Você é a Mabel, né? A gêmea dele? — “Finalmente estou conhecendo ela.”

— Eu mesma. — sorriu. Wirt correspondeu o sorriso sinceramente, a irmã do seu namorado tinha uma energia tão poderosa quanto o próprio; ele, prontamente, sentiu o coração ficar mais leve em contato com ela.

— Parecidíssimos.

— Conhece ele, então.

— Sou um amigo. Também estou procurando por ele. Não consigo encontrar ele em lugar nenhum.

— Isso faz dois de nós. — suspirou ela. — Era pra ele estar trabalhando aqui, mas como ninguém encontrou ele, eu estou fazendo sua parte. Típico, né. É do feitio do Dippy sempre deixar as obrigações dele pra mim.

Wirt riu em voz alta pela primeira vez no dia.

— Quer ajuda?

— Nossa, quero! Vou mentir, não! — gargalhou ela, passando uma das caixas para o colo do novo colega. — Me ajuda a arrumar os copos e bebidas, por favor.

— Okay. — e começou a segui-la para outra parte do pátio. Apenas aquele tempo com ela já havia sido o suficiente para fazê-lo sentir-se melhor, Mabel o lembrava muito de Dipper mesmo os dois sendo tão diferentes, e Wirt estava feliz por se sentir assim num dia tão conturbado.

— Esqueci de te perguntar: qual é o seu nome, mesmo? — Mabel olhou para ele por sobre o ombro.

— Ah, Wirt... — antes que ele terminasse o nome, ela fez um gesto de displicência para ele.

— Não há necessidade de um sobrenome, vou te chamar de Wirt.

Ele corou.

— Que foi? — Mabel continuou. — Tô ligada que te conheço só há um minuto, mas de todas as pessoas por aqui, você foi a que mais me ajudou até agora. Então te considero por isso. — ela abriu a caixa sobre uma das mesas, tirando o conteúdo de dentro: garrafas de bebidas alcoólicas enquanto a Wirt era de copos de papel. — Você bebe? — deu um olhar atrevido a ele.

— Mais do que eu deveria. — assumiu Wirt confiante por estar sob a postura dela.

— Perfeito! Vamos brindar a isso, então! — ela bateu palmas tirando dois copos da caixa e uma garrafa de vinho. Serviu para ambos e, após, ergueu o copo dela. — A amizade estranha do Dipper na qual eu nunca ouvi falar e que, esperançosamente, eu espero ter uma também.

— Não sou uma amizade estranha. — retrucou ele, dando um pequeno gole no drink após bater os copos com Mabel. O líquido quente e amargo desceu rascante pela sua garganta, deixando, no seu interior, um confortável rastro entre frio e calor. Beber aquilo novamente o fazia se lembrar do namorado mais ainda; era o mesmo vinho que tinha bebido quando eles se conheceram pela primeira vez.

— Bem, eu nunca tinha ouvido o Dippy falar de você antes.

— Tem certeza que ele nunca me mencionou?

— Eu lembraria de alguém tão gentil. — o menino se sentiu constrangido diante do elogio, Mabel percebeu e então prosseguiu. — Mas eu não o culpo, também tem coisa sobre muita gente que eu não conto pro meu irmão.  — deu de ombros.

— Ah, é? Tipo o quê? — ele começou a organizar os copos no formato triangular de uma pirâmide sobre a toalha da mesa, enquanto a outra dispunha das garrafas num canto.

— Só entre nós?

— Só entre nós. — afirmou Wirt, assentindo a cabeça pra ela.

— Eu e minha mania de confiar em estranhos, mas vamos lá: eu estou namorando, ninguém sabe ainda.

— Quem é ele? — demonstrou interesse, terminando de virar a bebida.

— É ela. E ela não é daqui, mora em outra cidade.

— Ah... entendi. — serviu-se de outro copo. — Mas por que você está escondendo isso do seu irmão? Ele mesmo não é gay? Ele super entenderia.

— Eu sei. A questão é que eu não entendo eu mesma. — olhou para longe, suspirando. — Eu ainda não sei o que eu sou.

— Bem, você sabe que gosta de meninas, senão não estaria namorando uma.

— Eu sei, mas eu acho que também gosto de meninos.

— Bissexualidade, talvez?

— Talvez... — terminou de beber do seu copo e estendeu-o para que Wirt o enchesse de novo. — Acho que eu talvez deva estar sobrestimando muito o Dipper, é verdade o que você falou, não seria difícil de fazê-lo entender uma coisa dessas. Ainda mais do jeito que ele anda ultimamente... tão... polêmico... o meu relacionamento não seria nada perto do que ele vem aprontando.

Wirt parou de beber e olhou para ela.

— Como assim?

— A história dele com o namorado. Ele tentou manter como um segredo de mim, e com razão, mas eu descobri tudo quando peguei os dois anteontem.

Uma interrogação subiu acima da cabeça de Wirt.

— O quê...?

— Ele não te contou também, né?

Wirt estava sem palavras, sem ver aonde aquilo estava para chegar, “Do que ela está falando? O namorado dele sou eu”. Então, Mabel prosseguiu:

— De amigo dele para amigo dele: você não vai contar isso pra ninguém, não é?

Ele balançou a cabeça como um não. Os olhos de Mabel se encheram de um brilho de animação contida e ela se aproximou de Wirt, olhando para os lados para se certificar de que ninguém ouvia a conversa, e, assim... assim... ela sussurrou para ele:

— O Dipper está pegando o professor de literatura.

 

*

 

“Onde é que ele está?”

— Ele costuma demorar assim? — Dipper já estava cansado de esperar na varanda. A noite já havia caído, horas haviam passado, e ele mal havia movido um músculo de onde estava sentado.

Diferente de Greg, quem se divertia com tudo, havia, durante todo aquele tempo, brincado sozinho horas a fio. O menino parou por um instante e negou em silêncio com a cabeça. Dipper soltou um suspiro de frustração, ficando de pé.

— Okay, até mais, Greg. — passou reto, voltando para onde havia estacionado a Picape. “Era pra eu estar na festa. Será que ele vai estar lá? Eu mandei uma mensagem para que ele aparecesse. Se ele não me odiar a esse ponto, eu sei que ele vai estar lá.”

Entrou de volta no veículo. Miraculosamente, tudo continuava no mesmo lugar. Tirou o celular da mochila, deparando-se com diversas mensagens preocupadas de Ford e ligações perdidas, mas nenhum sinal a mais de Wirt. Jogou o aparelho de volta para a bolsa e bateu a porta, acionando a ignição logo em seguida.

“Lá vamos nós.”

 

*

 

— Tente de novo, Stanford! — instou Evum impaciente enquanto os dois se enfurnavam cada vez mais nos corredores desérticos da instituição.

— Eu estou tentando há horas, ele não atende! O que mais você espera que eu faça?! Eu já fui na casa dele e ele não estava lá. Eu não sei mais onde ele poderia estar. — reclamou, apertando o nome do sobrinho na tela pela enésima vez.

— Chega! — deu um basta, pegando o homem pelo braço. — Nós vamos procurar nessa festa.

— Você francamente acha que conhece o Dipper mais do que eu?! Sei que ele é um adolescente, mas você acha mesmo que, com tudo que você me contou, ele estaria no humor para festejar?!

O demônio sorriu com provocação.

— É aí que você se engana. Eu sei da grade curricular dele, ele vem se voluntariando para aulas extras, era lá que os estudantes se reuniram para planejar a festa. Se a minha dedução estiver certa, ele devia estar muito bem trabalhando em algum estande ou ajudando na equipe técnica.

— Por que você não me disse isso antes?! — vociferou Ford pra cima dele, sacudindo-se para fora da mão do outro, tomando sua própria direção.

— Primeiro: você é teimoso e obstinado, é irritante. Segundo: eu sou um “professor” e você um homem de meia idade, o quão estranho seria pra nós dois simplesmente invadirmos uma conferência de jovens? Pior ainda, uma na qual é composta dos meus estudantes e dois sobrinhos seus.

— Não importa agora! Situações desesperadas, medidas desesperadas! — andou até a porta dos fundos, trancada pelo horário das aulas já ter terminado há tempos. — Abra isso!

Cipher suspirou, girando a chave na tranca; todos os funcionários do colégio tinham um maço delas. Assim que a porta se abriu, a atenção de alguns convidados foi tomada para lá, que fizeram expressões de espanto diante da presença de duas figuras de aparente autoridade.

— Relaxa, relaxa... — Bill revirou os olhos para alguns deles. — O que vocês fazem aqui não é da minha conta e eu não me importo!

— Desculpa, só estamos de passagem. — emendou Ford mais educado.

Começaram a atravessar a multidão de modo impetuoso, checando o rosto de todos, procurando por feições denunciadoras por trás de muitas máscaras. — É impossível achar alguém aqui. — reclamou Ford no meio do som alto.

— Porque não estamos procurando no lugar certo. — exasperou-se Cipher, puxando homem pela gola do suéter na direção onde estava menos movimentada, perto das mesas e das caixas de som. — Por aqui.

Assim que cruzaram a linha entre a festa e os estandes, Stanford reconheceu de imediato as mechas coloridas da sobrinha e virou na direção dela.

— O Dipper está pegando o professor de literatura.

— Mabel! Aí está você!

Assim que foi para se aproximar, esbarrou com um menino parado no seu caminho, ele deixou o copo que segurava cair, o vinho se apossando angustiosamente em volta de todos pelo chão, o vermelho da luz neon que vinha da pista de dança só acentuando a sua coloração, assemelhando-se a uma poça de sangue que só crescia.

— Tivô Ford! — Mabel cobriu a boca em pânico, pega desprevenida. — O que está fazendo aqui?!

— Não há tempo para explicações, onde está seu irmão?!

O menino que havia derramado o drink se virou, assim que o homem o reconheceu deu um passo atrás. Wirt carregava um olhar que ele tinha visto poucas vezes na vida: acompanhado de um rosto perfeitamente pálido, os olhos estavam emoldurados numa pintura de mais puro choque e abalo, a mão dele – ainda inerte na posição em que segurava o copo – começara a tremer junto com o seu lábio inferior.

Evum veio logo, saindo por detrás de Stanford. Wirt teve de usar de todo o seu esforço para erguer o olhar até ele, assim que o fez, seu rosto foi de espanto à ira em questão de segundos. Assim que Cipher localizou o menino, sua espinha gelou e ele recuou.

— Você! — gritou Wirt, apontando para o professor feito um animal selvagem.

— Você... — gaguejou Cipher, olhando para ele.

— Eu venho procurando por você! — Wirt avançou pra cima dele, aniquilando o foco inicial da conversa. Bufando feito um louco desvairado.

— Esse é...? — Ford perguntou, olhando em choque para Bill. O professor olhou de volta para ele e assentiu, um nó claramente visível na sua garganta.

— O que está acontecendo aqui?! — Mabel exclamou, os olhos dela indo de encontro à face de todos, sem conseguirem decidir em quem parar, tamanha era a confusão.

— É o que eu também gostaria de saber. — uma voz carecida por todos ecoou a alguns metros da cena, os quatro se viraram na direção dela ao mesmo tempo.

Dipper apareceu parado ali. O olhar de receio e a voz trêmula.

Wirt começou a rir, rir alto, gargalhar. Dipper nunca o vira daquele jeito, fosse lá o que tivesse ocorrido antes dele chega, havia despertado um lado do namorado que ele ainda não conhecia... e com um bom motivo. Algo dizia a Pines que ele não estava preparado para ver o que estava para acontecer.

— Sou eu quem pergunto, Mason. — satirizou ele. — Não tem nada pra me contar?!

— Wirt, você... você veio...

— Sim. Eu vim. E foi o maior arrependimento da minha vida!

— O que você está querendo dizer? — Dipper olhou para o tio-avô e o demônio: — O que vocês dois fizeram?!

— Vamos sair daqui. — apressou-se Bill. — Não é apropriado, não vamos causar um barraco.

— Que barraco?! — inquiriu Dipper, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha.

— Ah! Você é muito inocente mesmo, né, Mason?! — a forma com que Wirt dizia aquilo, de forma tão vil e ácida, não era do feitio dele, e assustava o Pines profundamente.

— Pra dentro. Agora! — Ford enxotou os três para longe. Quando Mabel tentou ir atrás, ele a deteve. — Mabel, fique aqui. É sério.

Ela hesitou por um momento, porém ficou calada e parada. A mão no peito batendo forte, sentindo que fizera algo que só aumentara a complexidade de um possível enredo que estava ocorrendo entre aqueles quatro há muito, muito tempo. O que a fez não querer prejudicar mais, apenas obedecendo.

Cipher escancarou a porta para um dos corredores desérticos do prédio, depois que todos passaram para dentro, ele fechou a passagem por trás de si.

— Respostas, Mason. Agora! — Wirt entrou batendo o pé, a voz dele maior do que todo o edifício.

Intimidado pela postura do outro, Dipper se adiantou:

— Okay, okay... eu vou explicar tudo.

— Huhum! — negou Cipher na mesma hora, evitando-o de prosseguir. — Você não deve contar nada revelador demais a ele, Dipper!

— E quem é você agora?! — Wirt virou a cabeça para o de terno e gravata na mesma hora. — O Dipper é a porra do meu namorado! Na verdade... — arduamente, olhou de soslaio de volta para o dito cujo. — Eu nem sei mais o que ele é meu, ou o que eu sou dele.

Dipper arregalou os olhos e deu um passo à frente:

— Que conversa é essa agora, Wirt?!

— Não finja que não saiba! — rugiu, a voz uma cacofonia atribulada pelos soluços. O rosto dele agora estava vermelho e com lágrimas correndo por cima dos hematomas. — Eu estou cansado de ouvir as suas mentiras. De ouvir só o que você quer que eu escute de você. — as palavras se materializaram num malho, golpeando Dipper bem nas costas, fazendo tropicar na própria culpa e deixando-o tonto e desequilibrado momentaneamente. — Era pra eu ser seu namorado. Era pra você acreditar em mim o mesmo tanto que eu acreditei em você desde o início. Você poderia ter aberto o jogo comigo mais cedo que eu entenderia. Mas, não... você preferiu fingir que estava tudo bem. Que não havia com o que eu me preocupar. E o trouxa aqui acreditou. — tomou um tempo para se recompor e, por fim, disse: — Eu sinto que eu só vivo em uma metade da sua vida. A metade em que tudo é perfeito e do jeito que você quer. Enquanto eu te permiti fazer parte das minhas duas, eu fui estúpido e deixei você ver os meus melhores e piores lados... Eu fui estúpido.

— Wirt... eu não sei o quanto você sabe, mas eu tenho certeza de que não é tudo. Se você tiver paciência...

— Mas esse é o problema. — ele soluçou. — Eu não sei tudo... porque o que eu já sei já foi o bastante.

Dipper olhou para o tio e o professor: — Eu vou contar tudo a ele.

— Nem pensar! — protestou A. Evum de prontidão.

— Ele tem razão, Dipper. — falou Ford com uma voz cansada.

— O quê...? — encarou o tivô com a voz trêmula. — Ford, você não sabe com quem está concordando!

— E você não sabe com o que está lidando, Dipper! — exclamou ele em resposta. O tom agressivo e advertivo do rompante abalou o garoto mais ainda. Em seguida, Stanford se acalmou, respirou fundo e olhou no lugar mais denso do sobrinho, vendo através dos seus olhos, e Dipper dos dele. O mesmo olhar que eles se deram no carro pela manhã. — Olha... eu não vou te obrigar a esconder nada das pessoas que você acredita amar. Porque eu quero voltar a acreditar naquilo que eu te disse pela manhã, Dip. Eu quero acreditar que aquele garoto maduro e responsável ainda está aí dentro, em algum lugar, e que ele vai saber tomar a decisão certa. Dessa vez realmente a decisão certa. Por isso, a escolha é sua. Mas, se você decidir ser essa criança impetuosa que eu venho notando ultimamente, então eu espero que o mundo me perdoe... pois ter escolhido te permitir o benefício da dúvida ao invés de assumir o meu papel como um adulto e escolher a decisão no seu lugar terá sido o meu maior pecado com todas as pessoas que eu amo... incluindo você.

Todas as palavras, todas as míseras palavras que saiam da boca daquele homem significavam o mundo para Dipper. E, naquele momento, aquelas exatas palavras foram pesadas, o que fez o seu mundo praticamente ser jogado nas suas costas. Dipper agora tentava se manter em pé enquanto segurava desajeitadamente o destino de todos ali nas mãos.

— Se você ama ele... você sabe o que deve fazer. — finalizou Ford. — Você soube comigo.

O menino fechou os olhos, respirando fundo. Quando os abriu, caminhou lentamente, passando por Wirt, deixando-o por suas costas. Ele encarou agora com veemência os dois: Stanford e Bill Cipher. E, com toda a convicção do seu ser, deu sua resposta:

— Sai daqui.

Wirt se virou para os dois na mesma hora:

— Ha! Viram só?! Isso é entre nós dois! — colocou a mão sobre o ombro do namorado. — O que estão esperando? Não ouviram ele?! Saiam logo dessa merda dessa sala!

— Não... — a voz de Dipper era extremamente baixa, mas a quantidade de dor impregnada nela era o suficiente para fazê-la gritante, o que silenciou o outro imediatamente. — Eu estou falando com você. — ele se virou para o seu mais novo antigo namorado, e ele pôde ver o rosto de Mason na mais pura mácula, arrasado. — Por favor, sai da sala, Wirt.


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