No More Secrets: Segunda Temporada. escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 10
Descontrolar para controlar.


Notas iniciais do capítulo

Oi, amadas.
Como prometido, capítulo novo bem em breve.
Aproveitem!

OBS SOBRE A IMAGEM DO CAPÍTULO: Essa é uma fanart feita por uma das leitoras de NMS, a art é inclusive baseada em NMS1 (cena do capítulo 8), vocês podem ver mais arts maravilhosas no perfil do twitter dela (@gabrillaz) ♥ são todas maravilhosas quanto essa! ♥



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— Faz muito tempo que eu não te vejo, não é? Mas, qual é, não envelheci tanto assim, envelheci? — a voz ficou familiar de repente. — Você cresceu tanto, Dip.

 

Deitado, sobre a sua cama, o teto do seu quarto parecia ser a única coisa imutável no caos desgovernado das viravoltas do seu dia a dia. Sempre o mesmo teto sendo a primeira e última coisa que ele via todos dias, ao acordar e ao dormir. Subitamente, a companhia dos seus cobertores não havia parecido tão agradável. Toda aquela estabilidade na qual ele sempre procurava; aquele quarto, naquele momento parecia ser o mais próximo daquilo. No silêncio da alcova, Dipper jazia encolhido no seu canto, incapaz de fisicamente chorar... aquilo tudo ia muito além das suas lágrimas.

Ford está de volta.

Aquela certeza ecoava intensa nos seus planos, ruindo impiedosamente os alicerces de qualquer saída da situação dele que pudesse dar certo. Quanto mais o tempo passava, mais a sua situação parecia se complicar.

Tique-taque!

O som do relógio da sala de Evum cochicha dentro da sua cabeça, fazendo-o relembrar de outro impasse: Bill também estava de volta na sua vida, chegou sem aviso prévio, e agora, despertando mais outra novidade. Dipper guardava os seus poderes.

“Como isso tudo aconteceu?”, perguntou-se, fitando, sob a aura obscura das persianas fechadas e das dobras do edredom drapejando sobre sua cabeça, a sua mão que ainda formigava, não só pela sensação incomum de sentir a magia fluir por eles, mas também por todos os imprevistos desnorteantes recém-ocorridos – o corpo do seu professor de literatura possuído por Cipher, a notícia de Mabel, o incidente que o levou à enfermaria, os gnomos terem invadido sua escola, e seu deus ex-machina: Stanford.

Suspirou.

“O que eu vou fazer agora? Eu conto pro Ford sobre Bill ter voltado? Eu conto sobre estar com os poderes dele? Será que ele já sabe de pelo menos uma dessas coisas? Foi por isso que ele voltou aqui? Para um confronto? Ou a situação de Gravity Falls está realmente tão alarmante assim?”

Eram muitos pontos de interrogação, e a falta de preenchê-los com pontos finais incomodava Dipper profundamente. Ele ainda se lembrava de, mais cedo, quando viu a luva de seis dedos do motoqueiro, e o modo com que Ford retirou o capacete, saudando-o. O cabelo grisalho dele a reluzir, o sorriso torto fazendo a sua covinha no queixo saltar... O garoto queria dizer que tinha conseguido manter a postura após se deparar com a presença tão eletrizante de sua antiga paixão, mas, lógico, nem isso saiu como ele planejava – ele tinha sentido o estômago embrulhar, os olhos se encherem de lágrimas, e ele saiu correndo para o arbusto mais próximo da encruzilhada em que eles haviam parado, vomitando tudo que tinha comido naquele dia. Eu estou bem, ele havia dito assim que ouviu os questionamentos preocupados que seu tio-avô havia feito sobre a saúde dele, continuando a vomitar.

A forma com que o rosto de Ford foi capaz de ressuscitar todos os fantasmas do passado havia sido surpreendente, perigoso até. Tudo veio de uma só vez, entrando em Dipper de uma maneira tão veloz e intrusiva, como um parasita ou uma bactéria letal – as colinas, o jeito que eles haviam se beijado pela primeira vez, as brigas, o quanto o abraço dele era quente e o fazia se sentir seguro, o mantra, a morte... “você está comigo?” – que seu sistema imunológica não foi capaz de aguentar, necessitando fisicamente de colocar aquelas ansiedades para fora.

A memória da cena grotesca o faz se contrair embaraçosamente no colchão, rechaçando aqueles pensamentos inóspitos da mente.

O seu celular vibrou, pegando-o desprevenido. Ele pega o aparelho e, ao ligá-lo, a luz da tela ofusca a escuridão reinante do aposento. Era uma mensagem de Wirt. Dipper sorriria se fosse capaz. Apenas aquela presença distante dele era suficiente para que seu coração se aquecesse com a certeza de que, naquele momento, Wirt era o único ali por ele, sem conturbações e sem entraves.

Ele nunca quis tanto dizer que o amava igual naquele instante.

 

WIRT: A Sara me contou sobre um aluno que desmaiou na escola dela. Fiquei chocado quando descobri que era você. Está tudo bem?

 

“Não. Não está tudo bem”, e digitou a resposta:

 

DIPPER: Está sim, não se preocupe.

 

WIRT: O que houve, Dipper?

 

Dipper sentiu o senso da razão caindo sobre ele. Ele estava mentindo para o seu namorado na cara dura. “Vamos lá, Dipper”, deu uma bronca em si mesmo. “Ele é o seu namorado! Ele é a pessoa na qual você deve confiar e guardar.”

Antes que a consciência retornasse, Wirt mandou outra mensagem, como se sentisse, pela demora da resposta, o pesar do outro:

 

WIRT: Você sabe que pode confiar em mim sempre, não é?

 

Dipper quase explodiu num choro compulsivo. Aquilo era tudo que ele mais precisava ouvir de alguém naquela hora.

 

DIPPER: Wirt, tem algo horrível acontecendo comigo. Eu não consigo mais esconder.

 

WIRT: Quer que eu te ligue? Quer conversar sobre isso?

 

DIPPER: Não.

 

O silêncio que se estendeu fazia Dipper cogitar a possibilidade de ter feito uma besteira, ele tentava decifrar aquela falta de resposta de Wirt das formas mais destrutíveis possíveis: talvez ele tivesse ferido os sentimentos de Wirt e agora ele estava magoado, talvez ele houvesse se cansado dos jeitos displicentes que Dipper mantinha e tivesse decidido o ignorar... Antes que ele ficasse doido pensando naquelas possibilidades dilacerantes, Dipper completou a sua resposta com outra mensagem:

 

DIPPER: Não quero falar por telefone...

Preciso de você aqui.

Comigo.

 

Ele nunca sentiu um maior alívio na vida igual quando viu aqueles três pontinhos subirem, evidenciando que o namorado escrevia uma resposta.

 

WIRT: Tem certeza que você está bem para se encontrar comigo hoje?

 

Ele tinha razão, pensava Dipper.

 

DIPPER: Não sei.

 

Havia sido sincero.

 

WIRT: Que tal amanhã então? Podemos sair depois da aula, seja lá o que estiver te perturbando, talvez um passeio longe da cidade, ou algo assim, te distraia disso tudo e te faça melhor.

 

Dipper queria aplaudir de pé e beijar o menino por ter sido capaz de fazê-lo sorrir tão naturalmente numa situação como aquela.

 

DIPPER: Ta ótimo pra mim ☺

 

WIRT: Okay, então. Qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, pode me chamar, ok?

 

DIPPER: Tá bom.

 

Uma sequência de batidas suaves sobre a porta ecoa pelo quarto, tirando Dipper da sua corrente de pensamentos.

— Dipper, possa entrar? — era a sua mãe.

— Pode sim. — esforçou-se para levantar a voz.

A mulher entrou atarefada no aposento, carregando uma cesta de roupa enquanto o cheiro do seu afobamento invadia Dipper. — Já está se sentindo melhor?

— Estou sim, obrigado. — mentiu, pouco se mexendo por debaixo da coberta.

— Tem certeza de que não quer que eu te leve no hospital?

— Não mãe, sem problemas. Sério.

Ela suspirou, Dipper sentiu o peso do desalento nas palavras dela. Não importa o quanto ele tentasse, ele nunca conseguia ser convincente o suficiente para a sua mãe, mas ela não parecia se importar nem um pouco, diferente de Mabel, ela reconhecia o quanto o filho era responsável, e o quanto de força e determinação (de origens desconhecidas para ela até então) emanava da alma dele; o que, muitas vezes, a fazia ficar tranquila com qualquer entrave no qual ela visse o garoto inserido. O que ela disse em seguida só pareceu reforçar mais isso.

— Ótimo, pois quero que você ajude a sua irmã a acomodar os nossos hóspedes devidamente. Acha que pode fazer isso por mim? — perguntou cuidadosa, perto da cama.

“Acomodar Ford... por que não?”

— Okay, mãe. — empertigou-se, maquiando o esforço que fazia para sair da sua zona de conforto.

— Se acabar se sentindo mal de novo, pode parar, ta? E me avise. Não quero te ver se gastando enquanto passa mal. Aqui — entregou para ele o cesto vazio, Dipper o pegou espontaneamente. —, leve isso para o quatro de visitas e recolha o que for preciso. Vamos! Ao trabalho, rapaz. — voltou à porta, acendendo o interruptor. Apenas quando Dipper se levantou para ir atrás dela, ela lembrou — Ah! Depois vá até a varanda, estão todos lá fora comendo e conversando. O seu tio Stan não te viu ainda e está louco para te ver.

— Tudo bem — falou, arrastando a voz e os passos pela escada. Atravessou o lobby e a sala de visita, as suas passadas tão quietas e caçadas quanto o resto da casa, até chegar diante da porta perto da lavanderia, onde residia um segundo lance de degraus para o cômodo à parte. Entreabriu a porta, cansado, uma nesga da luz exterior varreu a escuridão do quarto que cessou completamente assim que ele apertou o interruptor.

Era uma suíte simples com duas camas separadas, os papeis de parede estavam gastos e, na janela saliente, as cortinas de seda cerradas, transportando, para dentro da alcova, uma nuance brilhosa que vinha dos postes de luz da rua a tentar iluminar, baldiamente, aquela noite que parecia mais escura do que o normal. As malas dos seus tios-avôs estavam ao lado de cada leito – algumas já reviradas – e a porta do banheiro difundia uma sensação de umidade pelo seu interstício, mostrando que já havia sido utilizado para um banho de água quente. Ele caminha para dentro do toalete, indo até o cesto de roupas sujas e recolhendo-as, passando para o seu cesto vazio apoiado sobre a bancada da pia.

Enquanto as conduzia de um receptáculo para outro, tentava admirar o que restara de sua aparência física, depois de todos os seus abalos, através do espelho; entretanto, o reflexo havia sido danificado pela condensação do calor da água. Dipper não limpa o vidro, uma vez que a imagem, mesmo opaca, reproduz exatamente como ele se sente estar: embaçado.

Talvez ele só não devesse ver como estava, só pela precaução de não piorar as coisas destruindo também sua confiança estética.

Não pôde deixar de notar o desenho de uma pequena equação matemática feita sobre o canto inferior direito da espessura condensada do espelho. Ainda estava recente. “Ford foi o último a usar esse banheiro”, percebeu por fim, só não refletiu mais porque sentiu sua mão agarrar o vazio dentro da cesta de roupas usadas. Ele inicialmente acreditou ter terminado de recolher todas elas, quando aproximou o rosto do fundo da bacia, viu que ainda restava uma única peça de roupa...

Um suéter vermelho jazia no final do cesto.

Dipper se curvou para pegá-lo com as duas mãos. Ele não ligava mais para a sua mente combalida invocando sentimentos sem a sua permissão, ele tinha ligado o foda-se pelo resto do dia, então, permitiu-se sentir a melancólica nostalgia de segurar aquele casaco. E, por alguma razão estranha, ter se permitido sentir por Ford e por ele surgiu um efeito bom. Era uma sensação tênue, bem no cantinho esguio da sua alma, mas, mesmo assim, era uma sensação boa... aquela roupa, o dono dela. Dipper queria se sentir melhor ainda. Foda-se. Se era assim que o destino ia brincar com ele, mostrando o quanto sua vida nunca seria como ele queria, então ele iria ser o melhor jogador. Iria usar suas melhores cartas na manga e se divertira na brincadeira. “Foda-se”. Ele abraçou o suéter com força, quase acreditando que o homem que em uma outra realidade existiu, correspondendo e aceitando os sentimentos que ambos nutriam um pelo outro, pudesse se materializar de dentro daquela roupa e abraçá-lo de volta.

Tivô... — chamou ele baixinho por aquela memória coagulada naquela peça.

Passou o tecido pelo rosto que se aquecia, sentindo, ao fazer, o cheiro ainda presente na roupa. Dipper nunca seria capaz de se esquecer daquele cheiro. Ainda era o mesmo, ele não acreditava. O mesmo cheiro do cosmético que o seu tio-avô costumava usar para criar a espuma dos seus banhos de banheira na cabana do mistério. Uma combinação sofisticada do sabão de baunilha com a colônia dele. Era uma fragrância tão complexa e exclusiva que Dipper, um belo dia, discreto dentro de sua própria mente, a batizou com um nome para que nunca se esquecesse: Stanford.

“Stanford” era o seu perfume predileto.

Seu gosto predileto.

Sua sensação predileta.

— Por que as coisas tiveram que terminar assim...? — sussurrou antes de finalmente deixar a blusa de lado, odiando ter que reprimir o anseio de vesti-la.

Após deixar a roupagem usada na lavanderia, Dipper deu meia volta e marchou, guinando até onde estava a área exterior do sobrado. A cada passo se preparando para usar a sua feição mais convincente de indiferença e socialização. No que empurrou a porta de correr dos fundos, o sopro da brisa mistral terebrou por entre o seu cabelo arrumado, criando um novo penteado – desgrenhado, rebelde – mais condizendo com o íntimo do garoto. Parte de sua família estava reunida mais ao final do palanque, em torno de uma mesa de praia circular, jogando conversa fora entre risos descontraídos.

Os olhos de Mason escanearam todo o lugar, à procura automatizada pela presença de Ford. O encontrou no balanço de madeira montado no fim da marquise, logo abaixo da treliça arquitetônica do quintal que sustentava uma hera, enroscada por entre as carlingas, fazendo uma cama de gato elegante composta por gavinhas e pequenas folhas. Ele estava com toda a sua atenção vidrada num livro que carregava, a sua feição charmosa de pura concentração à mostra. O som das rodilhas enferrujadas da porta que Dipper acabara de abrir atraíra a atenção do cientista, fazendo com que ele levantasse o olhar para captar a sua chegada, erguendo as sobrancelhas como se dissesse claramente “ah, aí está você” e voltou a se imergir na leitura imediatamente.

O menino se deparou, em seguida, com os olhares receptivos de Mabel e Stanley sentados lado a lado.

— Eu sei que todos piram quando eu chego — começou a brincar Stanley com seu modo vivaz, levantando-se para ir até o sobrinho. —, mas não é pra tanto, né, Dipper? Não desmaie de novo ao ver o seu maior ídolo ao vivo.

Dipper riu, casualmente educado, se aproximando para o abraço do tio avô.

— E aí, Stan?

— E aí, rapaz? — abraçou-o com dificuldade. — Tudo bem com você?

— Espero que sim. — sorriu. — E você, como está?

— Em choque, na verdade. Você espichou! Está tentando competir comigo? Ou você e sua irmã continuam com aquela rixa de ver quem consegue ficar mais alto?

Embora sendo o gêmeo, Dipper já aprendera a identificar, pelo grande tempo que passara ao lado de Ford, as diferenças entre os dois irmãos. Stanley era mais acochado, a gravidade da idade parecia pesar mais nele do que em Stanford, o rosto arredondado e o corpo adunco. Diferente do de Ford, que era mais robusto, definido, proeminente e firme – sem esquecer de mencionar a marca da covinha no queixo, não existente em Stan.

— Um pouco de cada, eu acho. — ele respondeu e ouviu Mabel sendo incapaz de segurar uma risada, ele adorava a risada contagiante dela.

— Dippy, não está com fome não? Toma. — disse ela, empurrando a travessa discreta de nachos e molho do seu lado da mesa e levando até a borda.

— Ah, valeu. — agradeceu ele, puxando uma cadeira desocupada, lembrando-se de modo irônico que precisava se alimentar. Não tinha comido nada desde o macarrão com queijo no horário do almoço no colégio, e, ainda por cima, vomitara horrores. Como se todo o seu psicológico estivesse se restabelecendo, sua barriga roncou.

 

*

Já na cama, inevitavelmente, Dipper colocou-se a voltar a pensar na sua situação delicada. Perguntas sobre como ele reagiria em algumas poucas horas, quando o sol se levantasse, e ele teria que voltar no colégio, flutuavam sobre a sua cabeça. Teria ele mais imprevistos em relação a criaturas mágicas, como os gnomos daquele dia? Qual seria o próximo passo de Bill? Como ele planejava usar Dipper para encontrar os seus poderes?

Bem... Dipper já havia os encontrado.

Só não podia contar para Cipher.

E nem explicar como eles foram parar onde pararam, e, pior, como Bill iria pegá-los de volta caso descobrisse o seu paradeiro.

Apenas o pensamento do demônio o chantageando com as memórias das pessoas da realidade anterior era muito para ele aguentar. Grunhiu, virando mais uma vez pro lado oposto da cama, quando um pensamento tão inusitado e absurdo foi capaz de atravessar a sua névoa mental de reflexões, dissipando-a:

E se eu usasse os poderes de Bill contra ele mesmo?

Ficou sentado no colchão repentinamente, impressionado com a possibilidade que acabara de encontrar.

“E se eu o fizesse provar do próprio veneno? E se eu usasse isso para me defender?”

— Quem sabe...? — segredou ele estupefato, olhando para as duas mãos abertas diante de si. Lembrou-se do instante em que evocou acidentalmente a magia sobre Jeff, procurando nas suas memórias algo que remetesse a uma alavanca que colocasse os poderes em funcionamento. Mas ele não sabia como tinha feito nada daquilo conscientemente, ele apenas desejou, no pique da adrenalina do momento, que algumas coisas acontecessem e elas aconteceram.

“Eu tenho ‘todos os poderes do universo’...”, refletiu ele. “O que isso quer, ao menos, dizer? Que eu posso realizar, literalmente, tudo? Eu posso controlar objetos inanimados, movê-los com a força da mente, ler pensamentos, voar...??”

— Acende! — falou em voz alta, apontando para o abajur desligado ao lado da sua cama, esperando que o ímpeto funcionasse. Nada aconteceu. A lâmpada do abajur continuou desligada e o quarto sob a mera luz da lua. “Mas foi exatamente isso que eu fiz naquela hora na escola... talvez, tenha algo faltando... algo que me influenciou subconscientemente a despertar isso...”

Recapitulou, armagamente, tudo que havia ocorrido naquele dia. Ele só conseguia lembrar de quanto tinha se sentido mal, o quanto as suas emoções estavam indiscretas estando à flor da pele de maneira constante...

“Espera...!”

“E se os poderes do Cipher ocorressem de acordo com a intensidade das emoções?”

Fazia todo sentido. Era uma epifania. Uma vez humano, Cipher só podia recuperar os seus poderes tendo consumado emoções carnais com um Índigo, conectando-se a outra pessoa de forma sentimental. Sem contar o modo espantoso de, quando possuía e usava os seus poderes, Bill sempre mantinha a sua postura nervosa, sempre com raiva e impulsividade.

Dipper conseguiu usar o poder num momento de abalo emocional, movido pela adrenalina provocada pelo perigo.

Era isso!

“A emoção é o grande combustível para usar a magia de Bill!”

Sentando-se na beirada da cama, habituando-se na ideia da sua teoria, Dipper encarou o abajur mais uma vez, e fechou os olhos.

— Emoções fortes... — mentalizou, respirando fundo. Como mais cedo, ele se permitiu levar pelas memórias e pelos impulsos reprimidos. Pensou no modo que Bill havia invadido a vida dele, o quanto aquilo o incomodava, puxou com todas as forças as suas inseguranças e medos do futuro e os coagulou num só pensamento desnorteante. Seu ombro direito começou a arder curiosamente, uma sensação nova que parecia fluir naquele espaço entre o ombro e o pescoço. Dipper hasteou as mãos na direção do abajur. Por último, esforçando-se ao máximo para não quebrar a sua própria concentração, pensou em Ford, pensou no quanto ele o amava e em todos os motivos pelo qual ele não poderia tê-lo, reviveu assisti-lo morrer diante dos seus olhos, a promessa quebrada, o olhar vazio... O seu ombro começou a inflamar insuportavelmente, como se aquelas lembranças, de tão dolorosas, pudessem ser capazes de impelir uma dor física na anatomia do garoto. No instante em que ele sentiu, passageiramente sob a sua testa, a marca de nascença formigar de modo tímido, porém marcante, foi quando ele sabia que aquele era o momento certo – como se a marca da ursa maior fosse um epíteto palpável que administrava a sua intuição certeira.

Acenda!

Primeiro, sua audição desapareceu na medida em que seu encéfalo fora preenchido por um som quietamente ensurdecedor, como se tivessem correntes de estáticas chiando dentro dos seus ouvidos. E, em seguida, ao voltar a escutar o mundo real ao redor dele, foi recepcionado pelo zunido discreto de uma corrente elétrica, seguido pela claridade que transpassou pelo interior das suas pálpebras fechadas.

Abriu os olhos e, lá estava, a lâmpada a pipocar com flashes discretos de luz faiscando, como se passasse por um mau contato na fiação.

Dipper sorriu perversamente.

“Peguei o jeito.”

A sua ruína seria sua salvação!

Ainda inserido no seu arroubo de euforia por ter conjurado tal feito, Dipper persistiu, mentalizando a ideia de ver aquela lâmpada brilhar mais ainda, na medida em que se preenchia pelos eventos desgostosos da sua vida que, ironicamente, só o motivavam a seguir em frente com seu objetivo.

A fiação do aparelho esquentou, e a corrente elétrica pareceu ecoar por todas as conexões do quarto cada vez que Dipper se esforçava para manter a luz acesa, pois todas as outras lâmpadas do cômodo oscilaram, piscando freneticamente.

Parou um pouco, incapaz de segurar mais o ar, e o efeito da magia passou, recolocando o quarto de volta aos eixos. Em seguida, ele se vira para o outro lado do quarto, pensando no que mais aquela nova habilidade poderia o oferecer. Uma ideia se implantou na sua mente assim que ele se encontrou com as pilhas de livros espalhados próximo à escrivaninha.

Repetindo o mesmo processo anterior, permitindo-se perder o controle sobre suas emoções para obter o controle dos seus objetivos, ele lançou os dedos da direção dos livros.

Para cima!

Obedientes como uma sombra, os livros se levantaram.

Agora, de olhos bem abertos, Dipper podia ver, ao mesmo tempo em que sentia, o singular halo azulado de energia desconhecida escorrer pelas conexões de suas juntas, tendões e articulações, espalhando-se nas direções do quarto que ele queria que estivesse, como se fossem linhas fantasmas de uma marionete que tinha Pines como seu títere. Tudo ao seu redor era o seu fantoche. Pela primeira vez em muito tempo, ou talvez na primeira vez de toda a sua vida, Dipper se sentiu poderoso, imbatível, depois de anos falhando miseravelmente em fazer as suas decisões agirem ao seu modo, ter algo que genuinamente obedecia às suas vontades era revigorante. Glorificante. Singular.

Ele sentia como se pudesse fazer qualquer coisa.

Quando deu por si, viu o teto da casa se aproximando cada vez mais da sua cabeça, e chegou à conclusão de que ele também estava a fazer a cama em que estava sentado flutuar junto com os livros.

Um lampejo de lucidez lhe atinge e Dipper saí daquele estado catatônico de admiração e esplendor, e perde o controle do seu adjuro encantado. A gravidade magna do planeta terra tomou conta, puxando tudo de volta ao chão com seu magnetismo implacável. Ao descer rapidamente, o estômago de Mason esfria e se contraí com o susto. A cama acerta o mogno do piso com força. Ele se restabelece à nova realidade, temendo que as pessoas que dormiam nos quartos aos lados do dele despertassem, mas, milagrosamente, o carpete fofo abafou o possível estrondo de ecoar pela casa.

Com o coração disparado, Dipper esquadrinha pé ante pé a distancia entre ele e a sua janela. Ele puxa o trinco, abrindo o vidro, permitindo que a mesma brisa insistente da noite irrompesse no semblante dele – e, ao invés de parecer fria e dilacerante como mais cedo, o vento parecia fresco e encorajador, um bálsamo para o novo ele que viria a surgir. O lado de fora, encharcado pela madrugada, era silencioso e solitário. As mechas encaracoladas de Dipper a chicotearem o vazio quando ele colocou os dois pés para fora, ficando em pé no telhado.

Fechou os olhos mais uma vez, concentrando-se dentro de si e do que ele queria fazer. Estava curioso sobre algo que já vira Bill realizar milhares de vezes.

Dipper tentaria voar.

Ele sentia a presença do Poder correr sob a sua pele, como um segundo organismo vivendo dentro do dele. E aquilo só ia aumentando, e aumentando, aumentando...

— Dipper?!

O estampido do chamado incrédulo o desconcentra e o garoto quase vacila na beirada da calha. De certo modo, ele sente alívio por estar de volta ao mundo real, pensando agora o quanto aquela ideia pudesse terminar em tragédia. No entanto, o alívio dura muito pouco quando ele reconhece o portador da voz. Era inconfundível.

Stanford.

— O que está fazendo aqui a essa hora? — ele disse assim que Dipper se virou para encará-lo. O seu tio avô também estava no telhado, sentado do outro lado, a alguns metros de distância, próximo à janela do seu respectivo aposento. Ele segurava, no colo, uma espécie de notebook com engenharia modificada, tinha uma mini antena satélite a girar e apontar por um dos lados do teclado.

— E o que você está fazendo aqui?

Ford sorriu diante da resposta, o tão adorável sorriso torto que só não fez o coração de Dipper se derreter por causa do incessante frio do clima.

Touché — falou, voltando a encarar a tela do seu equipamento que emanava uma luz esverdeada sobre a sua face. — Bill Cipher. — revelou. — Ele está me mantendo acordado.

Se Dipper vivesse dentro de uma história em quadrinhos, essa seria a hora em que um balãozinho com um ponto de interrogação irônico surgiria no topo da sua cabeça.

— O q-quê...? — questionou, a trepidação da sua voz não só identificando a sua falta de compreensão sobre a informação recebida, como também pelo nervosismo de praxe sobre estar solitário diante da presença de Ford.

— Esse computador — começou a explicar. —, eu o elaborei para que pudesse identificar a frequência de ondas magnéticas interdimensionais. Ondas essas que só podem provir dos poderes intergaláticos de Cipher. Onde o poder dele estiver, lá está ele também.

Dipper ficou sem palavras por um instante. Sua garganta secando e se fechando antes de ele, finalmente, dizer:

— E você... captou alguma coisa?

— Por mais que eu não quisesse estar dizendo isso, mas, sim. O computador detectou algo agora há pouco. — sustentou o olhar até o do sobrinho, que perdurou por bastante tempo. — É estranho e assustador, Dip. Acho que Bill conseguiu sair de Gravity Falls e está atrás da gente, não fisicamente, claro, mas a minha teoria é que ele esteja usando os seus poderes para nos rastrear enquanto se regenera no mindscape.

“Passou longe”, lamentou o outro, segurando para não dizer aquilo em voz alta. “Ele já está aqui. E quem está usando os poderes dele sou eu.” Dipper se aproximou do outro, pensando sobre tudo que acontecia ao seu redor, e percebeu que precisava de um plano. Um plano que garantisse que ele terminasse com tudo aquilo sem prejudicar ninguém incluindo ele. E, gratificantemente, ter obtido os poderes de Bill havia lhe dado uma vantagem. Mas também havia trazido um dilema: se ele tentasse usar o poder contra Bill, ele com certeza iria liberar as memórias perdidas da outra linha temporal, e Ford e os outros acabariam por lembrar de tudo que tinha acontecido antes de Dipper voltar no tempo; mas, se ele não contasse nada dos poderes para alguém, ele teria que ajudar Bill, de algum jeito, a encontrá-los, uma vez que estava sendo chantageado por ele. Mas e se Bill acabasse descobrindo que o poder estava dentro dele o tempo todo? E como ele iria fazer para tirá-lo de novo? E se...

— Por que você voltou no tempo?

O coração de Dipper para. Ford o fitava com olhos condescendentes. A hesitação dos dois perdura ao canto noturno das cigarras.

— Eu não estou bravo com você ou algo do tipo, Dipper. — corrigiu. — Sendo o garoto responsável que eu conheço, tenho certeza que foi por algo importante.

“Você não imagina o quanto, Stanford... você não imagina o quanto.”

— Mas eu esperava que você, ao menos, se lembrasse de que não deveria trazer coisas de uma linha temporal para outra quando se usa um artifício igual à linha métrica. Pode causa algumas desventuras preocupantes. O que você ao menos trouxe de lá pra cá que causou isso tudo? Você ao menos deu o trabalho de destruir aquilo, não deu?

Dipper estagnou por um instante, sentindo a realidade congelante colando os seus pés no telhado. Ford não se lembrava de nada, mesmo. Nunca houve nada entre os dois. Nenhum resquício. Nenhum beijo, nenhuma declaração, nenhum sentimento, nenhuma verdade, nenhum carinho... O único elo vivo que mantinha as boas lembranças florescidas era o próprio Dipper. E apenas ele.

Sozinho.

Sozinho no mundo inteiro.

Como de costume.

— Esse é o problema! — o grito saiu mais espontaneamente do que ele esperava.

— O quê...? — Stanford ergueu uma sobrancelha em confusão. Dipper tentava dizer. Nada lhe saía. Ford começou a olhar para ele, assustado, como se tentasse entender o verdadeiro significado das suas palavras. — Dipper... por que está chorando?

“Chorando?”

Ele passou os dedos sobre a bochecha. De fato, havia uma lágrima. Ele havia soltado seus sentimentos tão diretamente que nem veio a perceber que chorava esse tempo todo. Aquilo precisava ter um fim.

— Toda vez... toda vez que eu tento melhorar as coisas, elas só pioram. — deixou que os seus sentimentos desenrolassem como uma gaze, suas percepções girando; ele estava chorando e sendo sincero diante do próprio Ford, aquilo tudo soava irreal demais, parecia distante demais...

— Ei, ei...! — Ford disse com uma voz calma, consoladora, colocando o computador de lado e caminhando até o garoto. Colocou as mãos sobre os ombros dele, enquanto Dipper tentava se controlar (sem êxito). — O que houve? Por que você está assim.

— Tudo. — respondeu Dipper num rompante, mal sabia Ford o quanto de verdade havia naquilo tudo. — Eu tentei consertar as coisas... eu juro que tentei... mas eu não sei o que eu faço de errado que as pessoas sempre acabam se machucando no final.

— Dipper, você está falando sobre ter modificado o tempo? Está dizendo que o que você fez foi um erro? Estava tentando ajudar alguém com aquilo? — ele tentava a todos os custos socorrer o sobrinho, esforçando-se para compreender o motivo do seu ataque. Dipper começou a ficar sem ar, o seu tio percebeu e se prontificou: — Ok, é melhor a gente se sentar, ok?

Ford guiou o garoto até uma dobra da arquitetura do telhado, com o coração apertado, ele sentia, no fundo do seu âmago, que ele tinha mais a ver com aquele surto de Dipper do que ele imaginava. Aquilo o incomodava profundamente. “Estranho”, achou o cientista, se deixando guiar pelo ímpeto compulsório de querer proteger aquele garoto imediatamente.

Logo os dois estavam sentados um de frente ao outro, sob o luar e cacofonia dos soluços de Pines. Os joelhos se tocavam, a mão de Ford era protetora e quente sobre o ombro de Dipper, o contato, sobrenaturalmente, irradiava uma calmaria que ia aumentando gradualmente no íntimo do garoto, fazendo-o readquirir a capacidade de articular falas e pensamentos claros.

— Quer me contar sobre o que está acontecendo? — perguntou, tentando esconder o desespero nas suas palavras, ver Dipper daquele jeito o deixava desconcertado como nenhuma outra coisa havia deixado.

— Não dá... não posso... é muito... difícil. — “Você não entenderia”, falou num pensamento concretizado, querendo que ele chegasse ao conhecimento de Ford, esperando que a força na qual ele tinha pensado aquilo fosse maior do que a que ele não tinha para dizer em voz alta .

— Bem, saiba que eu estarei aqui, Dip. Para sempre. E você pode sempre contar comigo, ok? Qualquer que seja a situação, eu vou estar pronto para te escutar quando você estiver pronto para me dizer.

Dipper sustentou o olhar, encontrando-se com o do seu tio, logo acima do seu sorriso idêntico ao da lua minguante que estava no céu – tanto no formato quando no brilho fulgurante – e disse para si mesmo o que evitar dizer durante tanto tempo.

Disse que ele não podia negar.

Disse que não podia mais fingir que não estava vendo.

Dipper podia mudar os cursos do universo, os ponteiros divinos do tempo, fechar os seus ouvidos para o que não queria escutar, fechar a sua boca para o que não queria dizer, fechar os seus olhos para o que não queria ver, mas não podia fechar o seu coração para o que não queria sentir.

Sua vontade de dar um abraço naquele homem na frente dele era incontrolável, então, ele fez o que tinha prometido a si próprio há pouco tempo – “Foda-se”, ele apenas seria capaz de ter de volta o controle da sua vida, se permitisse a ele mesmo se descontrolar – pulou no colo do seu tio-avô, cingindo seus braços em volta dele com muita vontade. A hesitação e surpresa de Ford não pareceram durar nem um minuto, pois o abraço foi retribuído na mesma hora.

E, ali, nos braços do elemento chave no enredo da sua vida, Dipper teve o que talvez seria a resposta mais óbvia que cansara de passar tanto tempo buscando:

O segredo para esquecer o seu passado, o seu antigo ele, não era tratar o seu passado ou a pessoa que ficou na linha temporal passada como outro alguém, como algo que passou, e sim algo presente. Não era repudiar tudo que aconteceu, e sim aceitar. Era aceitar que o seu passado estava vivo no seu presente. Dipper ainda era sim aquele mesmo garoto, aquele mesmo alguém apaixonado pela última pessoa que deveria se apaixonar, e isso era bom. Ele não era alguém que batia muito bem da cabeça, ele já sabia isso, e, sim, ele deveria aprender a conviver com aquilo. Pois, a única pessoa que ele tinha certeza de que teria que conviver o resto de sua vida com ele, era ele mesmo – então, por que apenas não deixar pra lá e aceitar que ele era assim contra a vontade dele?

Uma aberração.

Uma linda aberração.

“Eu sou o cara mais fodido do mundo. Eu estou fodido para o resto da minha vida e aceito isso!”

— Dipper... sua roupa... — Ford quebrou sua corrente de pensamentos.

— O que tem ela? — perguntou displicente com o fato de ainda estar agarrado a ele como um koala.

— Está molhado, no seu ombro... — ele parou de falar como se tivesse sido interrompido por algo ou alguém conflitante. — Dipper, você está sangrando!

— O quê?! — saiu do abraço, empertigado pelo sobressalto. Passou as mãos sobre o ombro direito e sentiu os filetes escorrerem do que parecia ser uma ferida recente. “Que isso?”, ele sentia que a resposta parecia tenebrosa demais para ele.

Parecia, não. Era!

— Tire a roupa. — assim que Ford ordenou, ele se retesou, mas não deu tempo suficiente para protestar. A preocupação excessiva no tom do seu tio gritava mais alto. Ele passou as mãos grandes de seis dedos por baixo da blusa de Dipper, palpando o seu abdômen. O toque gera um comichão indesejado na virilha do garoto, e Ford tira a camiseta com um só puxão. Máculas de sangue estavam frescas no verso. Stanford se aproximou do ombro direito do garoto, como se averiguasse uma inconsequência de um dos seus experimentos de laboratório, e disse:

— Tem uma mordida aqui.

O cérebro de Dipper entra em curto-circuito.

“Uma mordida? Mas, quando?!”

Foi então que ele se lembrou da hora em que estava a conjurar os feitiços com base no poder de Bill. Tinha acontecido todas as vezes: aquela dor no ombro direito seguido pelo formigamento da sua marca de nascença.

A mordida...

Como num flashback cinematográfico, Dipper se viu de novo no dia em que voltou no tempo. No dia em que havia transado com Bill Cipher.

Durante o sexo, Bill havia dado nele uma mordida no ombro direito!

A memória era clara e certeira, ele também se lembrara de ter visto o sangue escorrer pela grama, a dor que sentira na hora, Bill ter lambido o sangue...

Os poderes terem parado dentro dele.

Não se devem trazer coisas significativas de uma linha temporal para outra.

“Oh, não!”


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Notas finais do capítulo

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