Gaara acordou no final da madrugada sem entender muito bem o porquê. Da mesma forma, ele também não entendia o motivo dele ter feito o que fez na noite anterior, e muito menos porque ele havia parado.

Pela fresta da porta, viu que a luz da sala ainda estava acesa, mesmo sendo quase de manhã. Relutou em sair de seu quarto mas, sabendo que não conseguiria mais dormir, foi ao banheiro e tentou dar um jeito nos traços de quem havia acabado de acordar. Cruzou os dedos para que Sakura não estivesse com raiva dele e saiu de seu quarto.

A iryou-nin estava na sacada do apartamento e ele não podia ver seu rosto, mas sabia que ela estava mais pensativa que o normal apenas pelo fato de não se virar para olhá-lo ao sentir sua presença, como ela geralmente fazia.

Se aproximou dela e, finalmente, ela encarou-o, soltando um sorriso não tão verdadeiro quanto os que ela costumava soltar.

— Não consegue dormir? — ela perguntou — eu tive um sonho ruim e não consegui mais, também. Isso geralmente acontece comigo e com o Naruto depois da morte do Sasuke.

— Eu sinto muito — Gaara respondeu com sinceridade. — Vocês três eram muito próximos, não é?

— Durante nossa época como genins, sim. Depois do Exame Chuunin as coisas mudaram muito em relação ao Sasuke. O selo do Orochimaru passou a consumir ele e a amizade do Time Sete em relação a ele passou a ser unilateral. Mesmo assim, eu e o Naruto amamos muito ele até o fim, mesmo com rancor e raiva dele.

O silêncio pairou sobre os dois novamente. Gaara precisava falar algo, queria falar algo, porém não sabia como. Ele e Sasuke nunca se gostaram e isso era muito óbvio, então o que ele poderia dizer para acalentar o coração de Sakura?

Bem, quando ela não soube o que dizer para ele, na Pedra Memorial, ela lhe presenteou com o sorriso mais lindo que ele já havia visto em toda a sua vida. Entendendo que seria melhor expressar seus sentimentos com atos do que com palavras, passou um braço pelos ombros de Sakura, apertando um deles levemente.

Ele não fugiria para o seu quarto daquela vez.

A mulher tensionou com o toque, no início, porém logo relaxou. Ela encarou-o com olhos curiosos. Gaara estava tentando a confortar por meio de toques, que era algo que ela nunca imaginou que ele pudesse fazer. Ele sempre pareceu o tipo de pessoa que oferece apoio por pequenas palavras.

Com medo dele recuar como horas antes, Sakura relutou em mostrar que o contato era bem-vindo. Ela havia entendido que ele havia se afastado na noite anterior pelo mesmo motivo que ela: a atração que ela – e, pelo que parecia, ele também – sentia era estranha. Eles nunca tiveram muito contato e ela parecia ter a cabeça preenchida mais e mais com pensamentos sobre ele a cada dia que se passava, enquanto o normal era a quedinha de cinco anos atrás ter passado junto com a volta dela para Konoha.

Pelo visto, tal atração tinha sido esquecida ao longo dos anos, enquanto ela conhecia novos romances, porém, com a visita de Gaara, ela havia voltado e estava crescendo cada vez mais. Sakura não sabia se era algo bom ou ruim, mas ele parecia sentir o mesmo que ela, visto que ele não havia retirado o braço ao senti-la tensionar.

Quando ela se virou para encará-lo, se surpreendeu por ele já estar a observando, os olhos azuis tentando dizer algo que ela não sabia bem o que era.

Ela sentiu uma grande vontade de beijá-lo.

Sabendo que, se não o fizesse agora, a Sakura do futuro se arrependeria por toda a sua vida, então tirou o braço de Gaara de seus ombros. A expressão dele foi de timidez, crendo que ela havia rejeitado o toque, porém ele logo entendeu que era o contrário ao vê-la se aproximar, passeando a mão pelo braço forte até que suas mãos se tocassem. Os olhos jade o convidavam para acompanhá-la.

Gaara, mais confiante do que da última vez, levou não uma, mas as duas mãos ao rosto da menor, certo de que ele deveria fazer aquilo. Fechando o espaço entre os dois, se inclinou e beijou Sakura.

Sentiu como se a kunoichi esperasse por aquilo por mais tempo do que deixava transparecer. Ela puxou-o para mais perto ao envolver seu pescoço com os braços, sendo retribuída com Gaara depositando seus braços na cintura pequena, as mãos fazendo um caminho lento pelas costas.

Os lábios do ruivo partiram e Sakura acompanhou-o, aprofundando o beijo e tendo arrepios quando as línguas entraram em contato. As mãos da garota passaram a acariciar o cabelo vermelho, resultando no mesmo efeito para o dono dos fios vibrantes.

O beijo, antes cauteloso e delicado, adquiriu uma natureza mais sensual. Sakura conduziu Gaara até a parede e pressionou-o lá, seu busto contra o tórax dele. As mãos do Kazekage passearam pelos quadris e cintura de Sakura. Ao chegarem em seu traseiro, sentiu a respiração de Sakura ficar mais forte e ela se arquear levemente.

Ele gostou daquilo.

Sakura desceu o toque para o pescoço de Gaara e depois para suas costas, apertando-as levemente logo depois dele fazer o mesmo em uma das nádegas dela.

Quando ele passou a mover as palmas para os seios de Sakura, tudo ficou escuro.

Eles se separaram e observaram o breu em uma pequena parte da vila.

— É, a luz caiu — Sakura constatou o óbvio, um tanto quanto sem graça. — Provavelmente não vai voltar tão cedo.

— É uma pena, não é? — Gaara respondeu. Ele não entendia se era pela ausência de energia ou por ter interrompido o momento dos dois.

Vendo que Sakura ensaiava um discurso para se retirar, constrangida e sem saber como lidar com a situação, pegou em sua mão. Ele não queria que ela fosse embora, e muito menos que voltassem à estaca anterior, então demonstrou pelo ato que queria que ela ficasse.

Talvez ele tivesse que lidar com as consequências daquilo mais tarde, mas ele também não poderia mentir que não queria sentir novamente os lábios de Sakura nos seus.

— Já está quase amanhecendo e eu gosto de ver o sol nascer. Você se importaria de assistir comigo?

Sakura deu um de seus sorrisos satisfeitos, os que faziam os olhos cerrarem levemente, e entrelaçou seus dedos nos de Gaara. Se beijaram mais um par de vezes antes do sol finalmente aparecer.