Another Way to Die escrita por Claire Smith
Notas iniciais do capítulo
Olá, de novo.
Quanto tempo, né? Eu sei.
Perdoem a demora, meu pc resolveu não ligar e isso atrasou tudo kkkk.
Espero que gostem da leitura e enjoy :)
Molly Hooper
Ao acordar na manhã seguinte, após uma ótima noite de sono, fui assombrada pelo pensamento de que o alarme não tocara e que deveria estar atrasada.
Eu odiava estar atrasada para o trabalho. Ainda mais quando o dia anterior havia sido de dispensa.
Droga.
Durante o tempo que levei ao me arrumar, enumerei as coisas que precisava fazer hoje. Passei um batom e estava terminando o coque lateral no cabelo quando o aroma de café preencheu o quarto. Meu estômago se revirou mostrando o quanto estava faminta.
— Isso é ótimo – ouvi Agatha falar animada ao me aproximar da cozinha. – Tenho certeza que ela vai adorar.
— Quem vai adorar o quê? – quis saber ao vê-la tomando café com um Sherlock sem casaco, sem paletó, com os punhos da camisa branca levantados e com os cabelos negros ainda mais bagunçados. – Quando criou esse ninho? – perguntei divertida.
Ele corou levemente, mas foi Agatha quem respondeu.
— Parece mesmo um ninho, só que de um jeito fofo e mais interessante.
— Não quis dizer que não está bom, apenas que está diferente. Geralmente ele aparece assim na Baker Street quando fica alucinado por algum caso.
— Isso! – ela pontou Sherlock que se assustou. Seus olhos iam de uma para a outra como num jogo de tênis. – Alucinado. Bela escolha de palavra, Molly.
— Obrigada. Então, vão me contar quem vai adorar e o quê vai ser adorado?
— Ah, uma moça na padaria que vai adorar saber que será pedida em casamento – Agatha disse.
— E o futuro noivo simplesmente contou isso a você? – Sherlock passou o café para mim.
— Não. Sherlock deduziu.
Parei a xícara a poucos centímetros da boca.
— Vocês foram à padaria juntos?
Ambos assentiram.
— Você fez deduções cotidianas e comuns em uma padaria? Com a minha irmã? – encarei Sherlock.
— Fazer deduções não é algo que possa ligar e desligar, Molly. Todos os sinais estavam lá quando observei os quase noivos, já que ele não parava de dar tapinhas no bolso do casaco e os dois estavam comprando muita comida para um café da manhã, indicando uma comemoração. Ele se mostrava afoito para propor ali mesmo, contudo teve o bom senso de esperar um pouco mais, por um local mais reservado. Aposto que já estão noivos nesse momento.
Algo me dizia que aquela não era a informação completa.
— Vocês estão bem? – mordi um bolinho.
— Ótima – Agatha respondeu.
— Claro, claro. Perfeitamente bem – Sherlock disse rápido. – Agora coma, Molly. Sua alimentação não está regulada a mais de 24 horas, e ao vê-la de camisola ontem, tenho certeza que não se alimentou tão bem nos últimos dias – ele disse num fôlego e de forma tão rápida que quase não entendemos.
Quase.
— Camisola? – Agatha me observou.
Quase cuspi o café.
— Sim. Sua irmã. Numa camisola azul escuro, com detalhes em renda branca. Ontem à noite, após finalmente conseguir abrir a maldita janela – me perguntei como ele não se enrolava na própria língua. – A propósito, Molly, as novas trancas são belas, mas ainda não são perfeitas. Vou indicar um local onde poderá comprar algumas mais resistentes.
— Foi você que arrombou – o acusei.
— Espera aí – Agatha pediu. – Quer dizer que você entrou pela janela dela e não pela porta?
— Claro – Sherlock merecia ser chamado de alucinado. – Ela me deixou entrar porque sentia frio.
— Como é que é? – um brilho de malícia e diversão se espalhou pelo rosto dela.
Eu devia estar vermelho escarlate agora.
— Definitivamente, não dá para tomar café com vocês – me levantei para embrulhar os bolinhos e comer no caminho. – Você dormiu? – perguntei a Sherlock.
— Como um anjo – respondeu. O que era engraçado, pois ele parecia muito com um anjo rebelde no momento.
— Sei, e deixou os meus livros numa bagunça enquanto os lençóis ao lado do sofá estão intactos.
— Arrumo quando voltar – vestiu o paletó.
— Aonde vai?
— Acompanhá-la ao hospital – disse com naturalidade.
Tradução: ser minha babá.
— Ah não, não, não, não mesmo – empurrei-o em direção aos quartos. – Por favor, arruma para mim – joguei o saquinho dos bolinhos para Agatha que assistia a tudo. Devíamos ser um programa muito divertido.
— O que está fazendo Molly? – Sherlock perguntou enquanto o puxava pelo braço.
— Você vai dormir – abri a porta do quarto de hóspedes.
— Esse quarto não está pronto para mim.
— Como assim não está? Apenas Agatha dormiu nele.
— Exato – cruzou os braços para dar ênfase a sua lógica.
— Então? – questionei.
— Prefiro outro quarto – e marchou para o meu, porque não havia outra opção.
Abriu a porta e sentou-se na cama feita.
— Perfeito.
Onde se encontrava aquele Sherlock calmo que a toda hora me pedia desculpas ontem à noite?
Peguei minha bolsa para sair do quarto quando sua mão envolveu meu pulso me mantendo no lugar.
— O que foi agora?
— Quero fazer um pedido – disse.
— Você não está em condições de pedir.
— Isso é sério, Molly.
Suspirei.
— Diga.
— Almoça comigo hoje?
Sherlock Holmes podia não ser expert nos traquejos sociais, entretanto ele realmente sabia surpreender.
— O quê?
— Um almoço comigo. Aceite.
— Não.
— Respondeu rápido demais, Molly, e nem adianta dizer que marcou algo, pois Emma informou que não há nada tão importante para prendê-la durante o horário, e ela claramente não se incomoda por não almoçarem juntas hoje. Portanto, se quer se ver livre de mim ao inventar uma desculpa para recusar, convença-me – tornou a cruzar os braços, dessa vez em desafio.
Quando o fato era tão bem exposto assim, ficava difícil saber em qual desculpa pensar.
— Isso significa um sim? – perguntou após o curto silêncio.
— Caso seja, isso significa que você vai dormir? – retruquei.
— Sim.
— Mesmo?
— Claro.
Olhei bem para ele.
— Se usar qualquer substância que o faça parecer acordado e descansado irei saber.
— Óbvio. Agora cumpra sua parte que eu cumpro a minha, ok? – estendeu a mão.
Estendi a minha em resposta.
— Ótimo. Até o almoço, Hooper.
— Até lá, Holmes.
Voltei à cozinha, onde Agatha me esperava com a sacola dos bolinhos em mãos e um sorriso enorme nos lábios.
— Sem comentários – falei a ela assim que saímos.
…
— Táxi – ouvi Sherlock chamar. Sua mão ainda esfregava a face estapeada a pouco.
Na verdade, já fazia algum tempo. Ele só estava sendo dramático.
— Ainda acho que devia colocar gelo nisso – o Sr. Parker, dono do pequeno restaurante, opinou para o detetive.
— Não é nada demais – ele desconversou quando o táxi para ao seu lado.
— Então porque continua esfregando o rosto? – perguntei.
Mas em vez de responder, ele apenas me encarou por um instante antes de abrir a porta do veículo e inquirir:
— Você vem, Hooper?
Pensei em dizer não, eu ainda tinha fome. Fora um almoço conturbado.
Quem manda Sherlock deduzir as pessoas em local público?
— Leve isso, senhorita – o Sr. Parker me entregou uma cesta com batatas fritas. – Se continuar andando com ele não vai comer tão cedo.
Ao que parecia, o simpático dono do restaurante gostava muito do detetive, conhecendo bem o “trabalho” dele e o modo de agir do mesmo. Ficou feliz por encontrar em mim uma ouvinte novata que ainda não soubesse dos seus feitos ao ajudar a polícia.
Agradeci a ele e entrei no carro. Sherlock mal havia dito o destino ao motorista e já estávamos em movimento.
— E agora?
— Vamos falar com Charles Turner. A namorada dele foi uma das últimas vítimas de Vicent Bolton – disse.
Como era de se esperar, ele não estava satisfeito com as poucas informações que possuía, e todo o tempo ocioso poderia significar uma nova vítima para as manchetes. Isso explicava a insistência em querer saber o possível em relação a todos os atingidos de forma indireta.
Me resignei em evitar suspiros com a situação, aproveitando ao máximo da batata que comia. Meu almoço, parcialmente devorado, se encontrava a várias quadras de distância, numa lanchonete próximo ao Barts. Eu devia imaginar que tentar manter uma refeição com Sherlock teria suas dificuldades.
— Você acha mesmo que são duas pessoas diferentes? Não poderia ter se enganado? – percebi, tarde demais, a pergunta idiota que fizera.
— Não parece a mesma pessoa – respondeu sem dar atenção ao tom duvidoso que usei. – Você realizou a necropsia e viu as marcas nas vítimas. Também viu as marcas em Agatha; não há qualquer familiaridade além disso. Foi relatado que Helena Bolton sumiu poucas horas antes de sua morte, o mesmo aconteceu com Laura Smith, só que por um período maior. Quem quer que tenha tentado matar sua irmã tinha um motivo diferente para isso.
Senti um arrepio à simples menção desse fato.
— Ele parecia muito com Vicent – contei.
— Sem dúvida, o porte mediano e o fato de você estar involuntariamente ligada à situação colaboraram para isso – disse ao pegar uma batata da cesta.
— Pensei que não comesse durante um caso.
— Podem haver exceções, é claro.
— E quais seriam?
— Bom, talvez um dia seja preciso usar um disfarce de chefe de cozinha francês, ou um degustador de vinhos.
— Também francês?
— Sim – não disfarçou o riso.
Eu tampouco.
— Há alguma explicação para a preferência francesa?
— Nenhuma. Apenas deixa as coisas mais divertidas – leva uma nova porção de batatas à boca.
No ritmo que estávamos indo eu ficaria sem algo para comer logo, logo.
— E qual foi a exceção de hoje?
— Meu convite para almoçar, Molly. Esperava algo diferente disso?
Uma resposta menos direta que essa, talvez. Ele parecia estar plenamente ciente sobre o que dizia.
— Talvez um almoço que não seja interrompido por uma discussão – sugeri, observando-o.
— Em minha defesa, ela pediu.
— Era uma fã, Sherlock. Pediu por uma dedução e não pelo fim do relacionamento – e quem em sã consciência pede isso para ele? – Você sabe que devia ter optado pela foto com eles.
Ele se recusara veementemente a essa opção. O casal que nos abordara perguntou então se ele poderia deduzir algo deles.
Sim, eles pediram isso. Devem se arrepender amargamente agora.
— Foto? Para quê? – quis saber. – Eu sinceramente não entendo tanta comoção, afinal eu fui atingido.
— Me poupe, Sherlock. Como queria que ela agisse após saber da traição do namorado?
— Dando tapas nele.
— Ela fez isso – lembrei-me da cena. Foi impressionante e embaraçoso. – Ela se sentiu traída.
— Sim e não – disse.
Antes de conseguir perguntar, o veículo reduziu a marcha. O motorista passou por um parque e deslizou por mais alguns metros até que virou à esquerda e parou.
Pagamos a ele e saímos.
— Ok, o que quis dizer com isso? – perguntei.
— Você não distinguiu a fragrância presente nos dois?
— Ah claro, sou formada na percepção sensorial do perfume alheio.
— É uma habilidade útil – defendeu-se.
— Sim, eu sei – resolvi concordar. – E então, qual perfume havia no ar? – definitivamente uma pergunta que nunca pensei em fazer.
— Ambos tinham fragrâncias diferentes no corpo, elas não se misturaram como normalmente acontece nos casais fiéis.
— Como conseguiu distinguir os cheiros? – não havia qualquer traço de sarcasmo agora.
Ele sorriu.
— Elementar, minha cara. Já bloguei sobre as características primárias de várias essências – respondeu orgulhoso.
Tentei não rir da sua pose altiva e enigmática dizendo aquilo. Eu tentei...
Sherlock virou-se em direção ao prédio do apartamento que procurávamos sem esperar por mim.
Quando o alcancei, ele já tocava a campainha pela segunda vez.
— Parece que não há ninguém – disse.
— Não está mais sorrindo, Hooper – tocou a campainha novamente.
— Ah por favor, Sherlock. Não tive a intenção. Me desculpe – contive um novo acesso de riso.
Ele me observou sem dizer nada. Como na noite passada, parecia não haver mais nada ao redor, apenas nossos olhares no outro. Reprimi a vontade de dar um passo atrás e me forcei a falar.
— Você vive fazendo isso.
— Isso o quê? – pergunta.
Até penso em responder, mas sou interrompida por uma voz feminina conhecida.
— Ei, Shezzy! – a mulher grita, então olho para ela e a vejo abrir um pequeno sorriso. – Oi, Molly.
— Oi, Jess.
Era engraçado, mas nos tornáramos colegas após ajudáramos na morte falsa de Sherlock.
— Estamos de olho em você, garota. Fique tranquila – ela disse.
Anuí com a cabeça.
— Alguma informação para mim, Jess? – Sherlock perguntou.
— Charles não está em casa. Ele costuma jogar basquete com os amigos nas folgas do trabalho.
— E porque não fui avisado? – seu tom era irritado.
— Seu irmão nos informou que ele mesmo contaria a você, mas pelo visto ele não lembrou – a expressão dela me fez crer que a última coisa que queria ver era uma briga entre os Holmes.
— Onde ele joga? – Sherlock perguntou e pegou o celular. Talvez fosse ligar para Mycroft.
— Nesse caso, seu irmão pediu para lembrá-lo que há algo mais importante a ser feito – disse.
Ele encarou a figura baixa, magra e enrolada em dois cachecóis que era Jess. Voltou sua atenção para a tela do celular.
— Tudo bem. Me informe quando houver mudanças da parte de Mycroft – pediu.
— Sem problemas, Shezzy – acenou para mim e voltou para onde quer que ela tenha surgido.
— Mudança de planos? – perguntei.
— Sim – digitou algo no celular e chamou um táxi.
...
Dividimos o táxi. De novo.
Mas foi diferente de uma hora atrás. Sherlock ficou calado o tempo todo. Ele não parecia zangado ou algo do tipo, apenas não estava ali fisicamente.
Eu imaginava se Agatha já tinha resolvido seu trabalho na galeria. Mandei uma mensagem a ela pedindo para comprar algo para comermos mais tarde.
O táxi parou na Baker Street.
— Está tudo bem? – perguntei a ele.
— Sim, porque não estaria?
Suspirei.
— Por nada.
Silêncio.
— Pode subir por um instante? – ele perguntou.
— Para quê?
— Tenho uma lista de coisas que preciso do seu laboratório.
— Mande por mensagem.
— Prefiro entregar pessoalmente – respondeu. Abriu a porta e a segurou para mim. – Molly?
Tudo o que eu queria era chegar em casa e tomar um banho. Bem demorado. Ele realmente não precisava me entregar essa lista agora.
— Tenho certeza que a Sra. Hudson fez biscoitos e chá – ele disse.
Não pude deixar de sorrir ao olhá-lo sendo tão irritante.
— Acho bom terem coisas importante nessa lista – disse.
Subimos as escadas. A porta do 221B estava aberta. Mary e John estavam na sala tomando meu esperado chá com biscoitos.
— Ah, oi. O que fazem aqui? – perguntei ao servir-me de um dos amanteigados do recipiente.
— Esperando você, Molly – minha amiga respondeu, despreocupada.
— Porquê? – olhei para Sherlock que tirava o casaco e o cachecol.
Mas foi John quem falou.
— Para nos ajudar.
Por um minuto, todos ficamos em silêncio. Então, cada um deles me contou o plano.
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