Another Way to Die escrita por Claire Smith


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas.
Eu sei o que podem estar pensando agora: "AHHHH, você sumiu" e é verdade.
Mil desculpas pela demora, fiquei bem ocupada nesse período. E além de estar sem um pc, fiquei sem conseguir escrever nada.
Mas aqui está uma nova parte, e já adianto que algumas coisas não serão explicadas agora.
Sem mais delongas, porque já se passou tempo demais, espero que gostem.
:)



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John Watson

— Como a Srta. Hooper reagiu? - perguntou.

Inclinei o copo em meus lábios, sentindo a característica queimação na garganta.

— Bem – respondi. - Sabíamos que ela não sairia dando vivas diante da ideia. Ela mostrou preocupação com o objetivo central e com o que vocês inventaram. O normal para se esperar de alguém. Talvez você devesse vê-la algum dia para tirar suas próprias conclusões – sugeri.

Ele franziu o rosto quase imperceptivelmente, sem se dar ao trabalho de me responder. O líquido âmbar em seu copo reluzia parecendo conter preciosidades no fundo.

— Não vai beber? Creio que Sherlock certa vez mencionou sua apreciação pela bebida.

Resignado, levei o copo aos lábios e senti a garganta abrasar até a sensação desaparecer. Aquele era um bom uísque.

— Bom, não é?

Concordei.

— Então – retomei o assunto -, vai me dizer o motivo desse interrogatório? Você poderia ter perguntado ao seu irmão.

A expressão de escárnio de Mycroft era conhecida.

— Omissões, doutor. Típico dele. E além do mais, sempre posso contar com sua sinceridade.

— Seu elogio toca meu coração.

Ele revirou os olhos.

— Imaginei poder haver alguma objeção da Srta. Hooper, talvez... – não completou. O que quer que fosse dizer desfez-se em seus dedos num claro sinal de “não importa”. – Entretanto, foi bom saber que me enganei a esse respeito.

— Há uma objeção implícita de não haver mortes, Mycroft. Seria bom cumprir – observei.

— Não se preocupe, John. As equipes são preparadas para diversas incursões, o estudo local foi feito e revisado. Pensamos em todas as rotas de erro.

Esperava que aquela presunção fosse correta.

Lembrei-me de Molly dias atrás, surpresa ao nos ver na Baker Street, a animação em seus olhos logo substituída pela desconfiança.

Ela ouviu a tudo com extrema paciência e um número de palavras inexistente.

Deixei que Sherlock e Mary explicassem, afinal de quem fora a ideia? Os dois calcularam bem o que diziam, tentando passar a sensação de calmaria tanto a mim quanto à Molly.

Secretamente esperei que a legista se levantasse e os chamasse de loucos. Como vocês poderiam estragar o casamento de uma prima estimada?, ela diria, saindo da sala ao bater a porta e rumando para longe de nós.

Dramático demais, pensei antes de voltar a atenção para o que falavam.

— O que querem? – ela perguntou, ao passo que ouviu Sherlock e Mary descreverem como um estaria observando os noivos – que viriam à cidade almoçar com Molly – à medida que o outro estaria na casa de hospedagem do casal, procurando indícios de ligação ao contrabando.

— Era isso que conversava com Agatha – ela declarou e somente Sherlock pareceu compreender a mensagem. Uma esguelha de riso passou rapidamente pelo rosto dela. – Você já a envolveu numa ideia sua... Isso deve ser importante – e dito isso, ficou claro que ela ajudaria.

— Alguma pista sobre a essência do contrabando? – minha mente voltou ao presente.

Mycroft indicou uma pasta numa pequena baqueta de apoio ao lado da minha poltrona. Seu conteúdo era em grande parte feito por fotos, onde pessoas apareciam sendo torturadas, presas ou levadas à força, e vez por outra, algum relato de campo sobre o resgate delas.

— Vários tipos de fraude já foram associados à Moriarty, principalmente narcotráfico, tráfico humano e comércio ilegal de armas. Acreditamos que a situação em questão deva seguir essa linha.

— Qual desses?

— Não temos certeza. Entretanto, devido ao considerável número de indivíduos  desaparecidos e sequestrados recentemente, e do ponto de entrega escolhido, acreditamos que seja tráfico de pessoas. Nenhuma das outras hipóteses foi descartada, afinal pode ser um truque.

— Isso não seria nada bom.

— Óbvio que não. Devido a isso, haverá quatro equipes espalhadas pela cidade, nos pontos onde esses negócios podem ser executados com discrição.  

Quase perguntei sobre quais locais eram aqueles, mas aquela devia ser uma informação restrita aos agentes. E claro, a Mycroft.

— Sim, você está certo, embora também possa ser uma pista falsa para descartarmos o porto. Ele é visível o suficiente para acharmos que não teria nada lá – pensei a respeito. Confundir-nos era a ideia ali, tornar difícil sabermos onde seria feita a entrega.

— Vejo que está começando a acompanhar o raciocínio, John. Estamos preparados para seguir qualquer um desses três caminhos.

— E caso eles escapem?

— As entradas e saídas serão fechadas, seja por terra, ar ou água – a soberba em sua voz era clara.

Ele havia pensado em tudo.

— Vejo que já fizeram o que planejaram – falei, levantando-me. – O que fazemos agora?

— Esperamos os resultados e monitoramos as possíveis vítimas do estrangulador enquanto Sherlock estiver fora.

— Não sabia que estavam trabalhando juntos nesse caso – disse.

— Obtive o relatório dos interrogatórios realizados. São mortes demais associadas a uma mesma pessoa, doutor. O governo não está satisfeito com o fato de também haver uma ligação com Moriarty – comentou. – Mas não precisamos pensar nisso agora.

— Certamente que não – dirigi-me à porta. – Até mais, Mycroft.

— Esteja pronto, doutor. Mandarei buscá-lo – avisou.

...

Durante o caminho em direção à Baker Street, não pude deixar de imaginar o motivo que envolvera Mycroft num caso do irmão. Normalmente ambos se mantinham ocupados em trabalhos pessoais, unindo suas mentes somente quando algo intrigante acontecia, exatamente o que tínhamos aqui.

Repassei os fatos abordados nos interrogatórios assistidos. As declarações gerais eram consistentes e desanimadoras para a polícia, ninguém parecia saber ou ter ouvido nada. Nem mesmo as poucas pessoas que tiveram acesso ao salão da última exposição podiam nos contar uma novidade.

No entanto, todos confirmavam o possível envolvimento do único que dava a impressão de saber demais, o diretor da galeria, Hugh Williams.

Assim que o táxi parou em frente ao n.º 221, paguei ao motorista e subi as escadas para encontrar Rosie brincando com a Sra. Hudson, e surpreendi-me com Sherlock e Mary de pé próximo à janela me observando.

— O que houve? - Me atrevi a olhar as horas mesmo sabendo que ambos já deveriam estar a caminho da casa de Molly nesse momento. - Mudança de planos?

— Uma bem pequena, sim - meu amigo concordou. - Lestrade veio aqui a pouco, confirmando o que já sabia sobre o Sr. Williams.

— Então ele nada sabia sobre o corpo?

Sherlock negou em resposta.

— Até onde pôde ser confirmado, não apenas os funcionários como também os convidados disseram a verdade.

— Nada bom para o que tínhamos em mente - Mary comentou. - Ao menos podemos mudar o rumo agora; seja quem for, tem plena ciência de ter o cerco fechado por uns dias, e só então tentará novamente.

— Nos dando tempo suficiente para irmos à Cardiff e resolvermos o outro problema - Sherlock falou e espiou o relógio. - Temos que ir.

Um curto sorriso surgiu no rosto de Mary ao me abraçar.

— Até mais, querido - pressionou os lábios contra os meus.

— Tenha cuidado - pedi, e ela acenou em resposta.

Foi até Rosie e aproximou-se dela para um beijo na cabeça;  Sherlock pegou uma mala recostada à parede, e despediu-se.

— Sra. Hudson, John, até logo - virou-se para descer as escadas.

— Só isso? - minha antiga senhoria inquiriu.

Meu amigo, voltando à posição de antes, lançou-lhe um olhar confuso.

— Tem certeza que não esqueceu algo? - Mary perguntou.

— Esse é o momento em que diz: “o jogo começou” - Sra. Hudson disse e sorriu.

— E vocês me acham dramático - murmurou, antes de completar da maneira de sempre: - O jogo começou! - e rumou escada abaixo.

Molly Hooper

Os últimos dias haviam sido agitados. Não bastassem os exames conclusivos das necrópsias de Helena Bolton e Lauren Smith, os depoimentos dos funcionários e visitantes da galeria The Pixies, e as aulas de defesa pessoal que aceitei receber de Mary – onde esperava não precisar usar o que aprendi -, eu ainda tinha que enfrentar isso... O que quer que fosse.

— Chá? – indago ao meu visitante surpresa.

Seu movimento de cabeça foi mínimo para não dizer inexistente. Ali, de pé na cozinha, ele poderia facilmente estar posando para uma pintura heroico-histórica como chefe estratégico de guerra. Apenas as roupas seriam trocadas, do terno convenientemente caro para a clássica roupa romana de batalha.

Escondi o riso.

— Bolo?

Um brilho rápido surgiu e desapareceu. Recebi uma negativa; ainda assim, cortei um pedaço e ofereci junto à bebida quente. Não tinha esquecido o olhar discreto quando abri a geladeira.

— Você sabe que não mordo, então será que poderia sentar, Mycroft? Tenho certeza que ficará mais confortável.

Observei-o se acomodar de frente para mim e instantaneamente olhei o relógio na parede.

Haviam se passado cinco minutos. Mary e Sherlock ainda não tinham chegado.

— Logo, logo estarão aqui, Srta. Hooper. Não se preocupe – disse. Suas primeiras palavras desde o enfático e polido “Olá. Poderíamos conversar por um momento?”.

— Ok. Sobre o quê quer conversar? – resolvi ser direta.

— A necrópsia da Srta. Smith. Creio que houveram motivos para ser refeita – respondeu.

— Sim, precisava checar por mim mesma já que as lacerações abdominais não foram investigadas pelo plantonista no dia – comentei.

Ele tirou uma caderneta do bolso do paletó.

— Sr. Evans – ele leu. – Sugiro uma advertência por atrapalhar investigação criminal.

Fiquei ligeiramente surpresa por ele saber que Kurt estava envolvido, e por mais que ele não fosse um dos melhores no Saint Barts, não poderia complicar mais a situação.

— Não será preciso, Mycroft. Os novos resultados foram confirmados e não deixam dúvidas.

Ele mastigou ainda uma vez antes de sentenciar:

— A Srta. Lauren estava grávida.

Acenei em concordância, já imaginando que soubesse. Sherlock descobrira em poucos minutos, e eu após uma segunda análise no relatório feito por Kurt. Felizmente o corpo não tinha sido entregue à família para os ritos finais.

— Não sabia que estava interessado nesse caso – comentei. – Nem que trabalhasse em conjunto as ideias de Sherlock.

— Estou mais interessado nas relações que esse caso pode ter, Srta. Hooper. – Pausa. - Diga-me, o feto foi retirado?

Neguei.

— O aborto nem chegou a ser concluído, e imagino que nem iniciado devidamente – expliquei. – Encontrei o feto de aproximadamente 17 semanas sufocado no líquido amniótico. Há um longo corte, profundo e rude, na região do colo do útero, onde devia ter sido feito o esvaziamento de acordo com o método de dilatação e evacuação. A ideia inicial de abortar parece ter sido abandonada já que as suturas foram feitas às pressas, sem a precisão cirúrgica necessária. Outras lacerações, pouco precisas e finas, foram encontradas no mesmo local, indicando a inexperiência de quem tentava realizar o procedimento. Se Lauren tivesse conseguido fugir, ou caso fosse liberada, é bem provável que ainda morresse por conta das infecções – concluí.

Mycroft, um pouco pálido, pôs a xícara de chá na bancada.

— Desculpe – murmurei, contendo um novo comentário do tipo. Se ele estava assim com tão pouco, imagina se eu comentasse sobre o conteúdo e o cheiro de uma bolsa amniótica. – Esse é o tipo de assunto que não se conversa durante uma refeição, é o que algumas pessoas no hospital dizem.

— Seria mais apropriado – concordou e perdeu-se em pensamentos. Permaneceu dessa forma por segundos que mais pareciam minutos para mim, a tal ponto que passei a batucar os dedos no tampo da bancada esperando irritá-lo (funcionava com o irmão) e nem com um suspiro arrogante fui recompensada. Quando a situação começava a ficar enervante, voltou a si. – Devia ter imaginado que Sherlock seguiria esse caminho.

— Ele acha que o assassino é quem tentou realizar o aborto? – perguntei.

Ele aquiesceu, voltando a comer.

— Procurando em todos os lugares possíveis: becos, clínicas clandestinas, ou em anúncios desse serviço online. Porém, isso não nos ajuda, ele precisa de um indício substancial para uma busca concreta e um trabalho de campo mais eficaz – seu desdém era quase palpável.

Desde o planejamento da falsa morte do detetive, aprendi a respeito da repulsa de Mycroft pela interação pessoal em campo.

— Não vai ajudá-lo?

— E impedir a busca frenética de um pirata presunçoso? – Fez cara de mistério. – Talvez.

Sorri.

— Até mesmo os Holmes têm suas brigas entre irmãos.

Esperei sua fisionomia se tornar azeda ou incômoda, mas ela não veio. Estranhamente, Mycroft Holmes tinha um olhar suspeito naquele momento, e eu não gostei disso.

— Já teve a honra de servir o país, Srta. Hooper?

— Hum, não exatamente.

— Como assim?

Pensei a respeito.

— Meu trabalho no Saint Barts deve contar nesse quesito, e ajudar na morte falsa de Sherlock também.

Ele concordou.

— Suponho ser esse o assunto que realmente quer falar comigo?

— Também – respondeu. – Estaria interessada?

— Em quê?

— Em algo diferente e de extrema importância.

Pensei a respeito.

— Deixe-me ver se entendi bem, você está pedindo minha ajuda? – Aguardei, ansiosa, a resposta.

Semicerrou os olhos.

— De certo modo - disse a contragosto.

Não consegui conter um espanto diante da situação. Primeiro o detetive, e agora o próprio governo. Os Holmes estavam em seu juízo perfeito?, perguntei-me.

— Então? – perguntou, quando servi o chá a nós dois.

— Que tipo de ajuda? – revidei, enquanto levava a xícara de líquido quente aos lábios.

Sherlock Holmes

— Molly não mandou nenhuma mensagem sobre nosso atraso - Mary disse, olhando a tela do celular, quando entrávamos na rua da casa da legista.

Alguém estava à porta de Molly; a mão foi estendida e gentilmente cumprimentada, ao passo que últimas palavras eram trocadas.

— Aquele é quem estou achando que é? - Mary inclinou-se e confirmou: - Sim, ele mesmo - e deixou escapar o ar pela boca num assobio agudo.

O que Mycroft estava fazendo ali?

O táxi parou em frente aos dois. A rua estava vazia e não havia sinal dos olheiros que normalmente ficavam ali.

Molly nos encarou ruborizada por um instante.

— Volto num minuto - e entrou no prédio.

Mary pediu ao motorista que esperasse enquanto saíamos do carro.

— Olá, irmão. Como vai? - Mycroft perguntou.

— O que faz aqui?

— Seja sutil, Sherlock, essa não é a educação que recebeu - disse com arrogância. - Quanto ao que faço aqui..., nada demais, apenas segui a sugestão do Dr. Watson e vim visitar uma das pessoas que mais suportam você - respondeu.

— Você não faz isso, não sem um propósito. Visitas entre pessoas relativamente conhecidas não levam o tempo que a sua levou - respondi, observando-o melhor. - Talvez devesse… - passei a mão por cima do casaco, como quem o limpa - limpar melhor sua camisa, há farelos de bolo nela.

Sua expressão anuviou-se.

— Antes que pergunte… - começou.

— Oh, eu sei, eu sei. A dieta deve estar indo super bem - falei.

Molly voltou com uma bolsa e fechou a porta.

— Espere, você está de dieta?

Sua expressão arrancou um riso de Mary.

Agora estávamos quites.

— Não no momento - respondeu a ela, e então semicerrou os olhos, superior. - Vou deixá-los partir agora, aguardo informações em breve - e caminhou poucos passos até um sedan preto surgir de uma rua paralela.

Molly nos encarou por um momento.

— Então, podemos ir? - ela perguntou, entrando no táxi.

Olhei para Mary e vi que ela pensava o mesmo, havia algo errado.

— Hã, pessoal - a legista pôs a cabeça para fora rapidamente. - Precisamos pegar um trem, lembram?

Durante o trajeto, perguntei a ela o que meu irmão fora fazer ali.

Ela estava de frente para nós, e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Eu mesma não entendi - disse. - Mas ele basicamente sentou e explicou o que vocês disseram a mim. E comeu bolo – completou, com um leve sorriso.

Mas parecia um sorriso nervoso, e ela logo desviou o olhar, voltando-se para Mary e fazendo perguntas.

Nenhuma outra palavra sobre a visita de Mycroft foi dita, e nas vezes que tentei levar o rumo até essa questão, Molly olhava-me de soslaio antes de habilmente citar estudos que lera recentemente. Mary também percebera; ela não queria ser pressionada e eu queria as respostas para sua risada nervosa de mais cedo. Mas continuamos assim, alheios, até nossa chegada em Cardiff.


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Notas finais do capítulo

E então?
Sintam-se livres para dizer o que acharam. Gosto de saber a opinião de vocês.
Beijos pra todos e... Até qualquer dia haha.



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