Ponto de Ruptura escrita por Bia


Capítulo 2
Passado Presente




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719824/chapter/2

Passado Presente

Três noites depois do casamento

Mais uma noite insone, suspirou a Hyuuga girando na cama pela enésima vez.

E isso porque se recolheu cedo, na esperança de recuperar as outras noites mal dormidas. Vestiu seu pijama favorito, abraçou o travesseiro mais macio e fechou os olhos, pronta para se entregar a inconsciência. Virou no colchão, trocou de lado, deitou de cabeça para baixo, mas o sono não a alcançou.

Por fim, rendida, encarou o teto. Seu mais novo confidente.

Não conseguia pregar os olhos desde o casamento de Boruto e, de qualquer forma, não dormia direito com os filhos longe de casa. Os recém- casados tinha partido na manhã seguinte ao casamento para o País da Água, onde seria a Lua de Mel. Himawari partira antes mesmo, na própria noite depois dos festejos, para uma missão na Vila Oculta da Areia.

Sozinha em casa, Hinata acreditou que conseguiria colocar os pensamentos em ordem, separá-los em antes e depois. Antes e depois de Naruto, antes e depois de saber que o amor que seus filhos sentiam um pelo outro não era exatamente fraternal. No entanto, nada era tão linear que não fosse influenciado pelo ‘durante’. Nada era tão alto suficiente que pudesse ser separado em passado e presente apenas.

O passado é constantemente presente. O que vivia no presente eram as consequências do passado.

Se no passado, durante o início do casamento, não estivesse tão presa ao final feliz de contos de fadas, talvez tivesse percebido com maior nitidez essa tendência que seu filho tinha de querer monopolizar a irmã. Hoje via com clareza, mas na época não lhe pareceu algo para se preocupar. Pelo contrário, era uma atitude bonita de se ver, meiga.

A não ser uma vez.

A única vez na qual realmente se assustou com a reação de Bolt. Foi uma ocasião tão rara, entretanto, que acabou se convencendo que estava exagerando e preferiu esquece-la por completo. Até aquele momento. Tocou a testa com dois dedos, enrugando-a e fechando os olhos na tentativa de reconstruir a cena. O que não fez sem dificuldade. Onde é que estavam mesmo?

Ah! Sim. Estavam no parquinho para crianças no centro de Konoha.

Lembrava-se principalmente do céu muito azul e da beleza do dia, provavelmente porque serviam de contraste para o tom levemente avermelhado que tomou conta dos olhos de Boruto e o choque que foi vê-lo jogar para longe, com uma única palma aberta, como não fosse nada, um garoto duas vezes maior. Lembrava-se também que Hanabi estava lá. Naruto não. Foi ela quem agarrou o garoto, impedindo-o de ir parar ainda mais longe ou bater em alguma árvore.

A Hyuuga mais velha correu para os filhos boquiaberta, sem entender o que tinha acontecido. Até onde sabia, Bolt e Himawari estavam brincando alegremente nos balanços enquanto ela conversava com Hanabi, sentada em um banco de madeira próximo. A irmã sairia da Vila em breve para um compromisso diplomático muito importante para o Clã e Hinata não queria deixar de lhe desejar boa sorte.

O mais sensato, talvez, fosse ter pedido.

Chegou perto das crianças ofegante; menos pela distância e mais pela surpresa. O loiro estava ajudando a irmã a se levantar e ignorou magistralmente sua chegada.

— Você está bem, Himawari?

— Sim. Obrigada, onii-san.

— O-O que aconteceu? — gaguejou Hinata, dividida entre a admiração e o espanto total — Como...Por que você fez isso? — apontou para Hanabi que tentava reanimar o garoto sem sucesso.

Boruto suspirou irritado. E os olhos com que a encarou ficariam fixos em sua mente para sempre. Ele não tinha mais do que nove anos. Era a primeira vez que via tanta raiva nos olhos de uma criança.

— Ele segurou o pulso dela.

— O quê?

Foi a filha, mais paciente e constrangida, que explicou:

— Estávamos brincando nos balanços, mamãe. Quando esse menino chegou, onii-san quis brincar em outro lugar e desceu do balanço, quando eu fui descer, esse menino segurou o meu pulso e acabei caindo.

— Ele a fez cair, Himawari. — rugiu o loiro. A garota se encolheu.

— Desculpe, onii-san.

Por isso? Por uma queda de menos de trinta centímetros, seu filho tinha deixado um garoto inconsciente pelo menos até o final do dia.

— Ele podia estar querendo ajudar. — censurou Hinata, cada vez mais perplexa.

O pequeno deu de ombros e deixou de encará-la.

— Ele a fez cair.

Levou a mão ao peito, sem saber o que dizer e quis, intensamente, que o marido estivesse ali. O garoto, que agora Hanabi carregava nas costas, devia ter, no máximo, onze anos e nada tiraria de sua cabeça que ele não tinha derrubado Himawari por mal. E se o tivesse feito com más intenções...Bem, ele também era criança. Não queria seu filho resolvendo as coisas dessa forma quando existiam outros caminhos.

Foi uma benção ter uma diplomata, acostumada a lidar com situações bem mais delicadas, presente.

— Bom, filho de quem é, não é estranho que qualquer toque dele se transforme em um golpe poderoso. — comentou Hanabi sorrindo e piscando para o sobrinho, que agradeceu o elogio com um sorriso ainda mais largo.

A situação ficou menos tensa, mas Hinata não se sentiu mais tranquila. Pediu a irmã que levasse as crianças para casa, pois descobriria onde o garoto morava e se desculparia com os familiares. Mais tarde, pensou, conversaria com Naruto-kun sobre o sentimento de superproteção do primogênito.

Esse mais tarde, porém, nunca chegou de fato. Eram raras as noites que Naruto ia pra casa e mais raras ainda as que ele não dormia logo depois dela cumprimentá-lo ao chegar. Com o tempo, como a situação não voltou a se repetir, achou melhor deixar pra lá. Qualquer um podia reagir de forma excessiva vez ou outra. E com o filho de Uzumaki Naruto, então, o estranho seria, justamente, o oposto.

Contudo, hoje, estava nessa situação, presa, e sem ninguém para conversar sobre. Conversar sobre os sentimentos de seus filhos, que tinham mudado a um altíssimo grau. Conversar sobre como eles se amavam como os irmãos que eram, mas também se amavam como homem e mulher.

Como viu na manhã do casamento.

Pensar naquela manhã fez o estômago de Hinata se contrair novamente, assim como tinha acontecido nas noites anteriores. Não conseguir dormir, pensar no passado e passar mal estava se tornando sua rotina de noite. Uma maneira de confessar e expiar a culpa, que não sabia, de verdade, se lhe pertencia.

Mas, era fácil demais. E não merecia facilidade. Dessa vez, não se permitiu colocar nada para fora. Abraçou a barriga e ergueu-se, determinada a fazer um chá forte o suficiente para derrubá-la na cama e permitir que abrisse os olhos só dali a um dia.

Colocou os pés no chão e paralisou durante um minuto inteiro, acreditando ter sentido a aproximação de uma presença familiar. Um instante depois, sacudiu a cabeça, xingando-se mentalmente e desconfiada do próprio juízo. Que essa presença viesse em direção à sua casa, era algo completamente impossível.

Qual não foi sua surpresa, então, ao descer as escadas, ascender à luz da sala e ouvir batidas na porta. Nem precisou usar o Byakugan para saber quem era. Paralisou de novo, dividida entre abrir e não abrir. Do lado de fora, na porta onde a pessoa estava, era possível ver a luz acessa. Mordeu o lábio inferior, com o coração na garganta e foi o pensamento nos filhos que a fez tomar uma decisão.

Abriu a porta, mas apenas o bastante para que sua cabeça e ombro esquerdo passassem.

— Boa noite, Hinata. — ouviu a voz rouca do outro.

— Naruto-kun. — respondeu a modo de cumprimento.

Ele ainda usava roupas laranjas e a capa de Hokage nos ombros. Suas olheiras refletiam as dela. Isso a preocupou.

— Me desculpe por chamar tão tarde.

— Não tem problema. — disse rápido, querendo saber o motivo da inesperada visita — É alguma coisa com Himawari? Boruto?

Ele negou com veemência, erguendo a mão esquerda.

— Não! Não. Himawari deve estar voltando em breve e Boruto, no que me consta, está se divertindo com Sarada no País da Água.

A Hyuuga levou a mão ao peito e suspirou.

— Na verdade...— o loiro continuou, chamando a atenção dela para si. Ele coçou a nuca, envergonhado e sorriu. — Na verdade, eu queria conversar com você, Hinata. Trouxe ramen. — ergueu uma sacola branca para evidenciar a verdade — Posso entrar?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ponto de Ruptura" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.