Ponto de Ruptura escrita por Bia


Capítulo 1
Noite Depois do Casamento




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Noite depois do casamento

Não conseguia dormir.

Não importava o quanto tentasse, o quanto fechasse os olhos com força. Em sua mente agitada a mesma pergunta sem resposta voltava uma e outra vez. Onde havia errado?

Na cama fria, com os olhos abertos para o teto, refez seus passos minuciosamente, tentando descobrir mas...nada, nenhuma pista. Todas as respostas eram hipóteses, séries de talvez. Talvez se não fosse tão submissa, talvez se fosse um pouco mais ousada, talvez se não amasse tanto seus filhos, talvez se não houvesse amado Naruto...

Seu primogênito tinha se casado três horas atrás e sentia-se horrível por não estar feliz com isso. Também, como poderia sabendo de tudo?

A verdade é que sempre soube, porém só agora, naquela única noite, teria coragem de reconhecer. Amanhã voltaria a ser a observadora imparcial e silenciosa, voltaria a nossa cegueira de cada dia. Assim continuariam todos naquele mesmo teatro.

E a peça seria muito bem encenada, obrigada. Até que, depois de tantas que o encheram, uma gota minúscula e insignificante faria o vaso transbordar. Um único ponto de ruptura faria uma cadeia de elos inteira explodir e virar cinzas.

Como o seu casamento.

Precisava respirar. Ergueu-se da cama em um pulo, como se houvesse levado um choque e correu para a varanda de seu quarto, abrindo as duplas portas de vidro de uma vez. Foi só quando um vento frio de uma madrugada de inverno bateu em seu rosto, levando seu cabelos para trás, que se sentiu menos asfixiada.

Respirou profundamente.

Podia ver Konoha inteira dali. Os postes de luz, uma ou duas pessoas com garrafas de saquê, voltando da festa de casamento do filho do Hokage; algumas janelas acessas. As da casa de Sakura estavam apagadas, mas as do novo casal estavam acessas. Contra a sua real vontade, desviou o olhar para o escritório do ninja mais poderoso da vila. Apagadas também.

Sorriu com tristeza, olhando as mãos. Era bom saber que Naruto tinha aprendido que precisava descansar um pouco, que precisava de um tempo para ele mesmo. Era bom saber que, agora, ele tinha uma pessoa que conseguia convencê-lo dessa realidade, porquê, quando eram casados, passar noites e noites acordado, para ele, era algo natural. Agora já podia ir no casamento do próprio filho sem ter que passar madrugada a dentro assinando papéis.

Não sentia raiva dele, verdade. Ele tinha lhe ensinado muito e feito muito feliz e se ela não tinha conseguido fazê-lo sentir o mesmo era uma pena. Ele, mais do que ninguém, merecia ser feliz. O que não perdoava, no entanto, era a forma como ele havia agido, expondo-a, expondo seus filhos...

Sacudiu a cabeça com força. Não, não entraria novamente no ciclo vicioso de lembrar, odiar e lamentar. Não mais.

Boruto e Sarada haviam se casado e isso era uma coisa boa, algo que unia os Uzumaki e Uchiha oficialmente. Seu filho estava realizado – ou deveria – e não faria a esposa sofrer – ou isso esperava -. Ah! Claro, e logo viriam os netos. Devia ser bom ser avó. Até mesmo seu pai, o homem mais seco que já conhecera, tinha ficado meigo e amoroso depois dos netos.

Hinata se perdeu pensando na maravilhosa cena de ver um outro Boruto criança, abrir a porta com força e exigir a sua atenção. Uma criança Uzumaki, Uchiha e Hyuuga seria assustadoramente poderosa. E incrivelmente geniosa. Só de imaginar vitalidade de seu filho misturada com a personalidade de sua nora Hinata suspirava cansada. Ainda assim, o amaria com loucura. Não poderia amá-lo mais ainda que fosse de Boruto e Himawari.

Arrepiou-se instantemente diante de um pensamento tão sujo e sentiu o estômago embrulhar com violência.

Cobriu a boca com a mão em concha e abraçou a barriga com o braço livre. Só podia ser influência do champanhe, pensou apoiando-se no parapeito da varanda. Mas, só tinha tomado duas taças; impossível que o champanhe tenha sido tão efetivo assim.

Então, tinha sido a comida. Como se ela mesmo havia ajudado nos preparativos e se certificado que de que não havia nada errado? Então, então...

A cada nova desculpa que arrumava para encobrir a verdade, mais e mais sentia o estômago roer. Afinal, porque não encarar de uma vez a realidade? Era a melhor coisa a fazer, a única forma de se libertar.

Entretanto, não podia, ainda não. Seus filhos...

Ajoelhou-se na varanda e, por fim, deixou sair de sua boca um grotesco liquido verde no lugar das palavras que jamais sairiam.


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