Era sábado e Hermione acordou cedo. Ela iria almoçar com os Weasleys e a noite sairia para jantar com Antônio. Por isso decidiu levantar mais cedo para organizar todas as suas tarefas. Levantou preguiçosamente e decidiu que não era hora de perder tempo com devaneios e correu para o banho. Após isso tomou um rápido café da manhã e começou a arrumar sua casa. Com um aceno da varinha as louças se encaminharam em fila para a pia e iam se lavando e enxaguando enquanto a vassoura ia varrendo a casa e um espanador ia passando pela estante. Ela adorava observar aquilo. Era como assistir a um filme. Quando terminou terminou uma parte da casa se pôs a organizar os livros e pergaminhos. Enquanto observava eles se fechando e encaminhando para seus devidos lugares, já pensava na bagunça que faria dali a alguns minutos, quando começaria novamente a tirá-los do lugar. Após organizar toda a casa, começou a ler sobre a Revolta dos Duendes a procura de algo que auxiliasse em seu trabalho. Próximo a hora do almoço, encerrou seus afazeres e foi se arrumar para sair.

Às 11:40 em ponto, Hermione aparatou em uma estradinha de terra. Olhou para frente e ao longe pode ver a construção torta, pendendo para o lado. "Isso nunca teria dado certo no mundo trouxa" pensou sobre a arquitetura da casa. Ela adorava A Toca. Uma casa tão maravilhosa, cheia de magia, alegria e amor. Aquele lugar era perfeito ao seu ver. Aquelas pessoas eram as melhores do mundo. Após algum tempo admirando, começou a caminhar em direção a casa. Quando deu o primeiro passo, ao longe pode observar a porta abrir e uma senhora baixinha e gorduchinha saindo. Ela podia sentir, mesmo ainda a distância, o sorriso do tamanho do mundo que a senhora Wesley dava. Ao se aproximar, podia ouvi-la avisando a todos da casa que Hermione tinha chegado. E então várias cabeças vermelhas foram surgindo na porta.

— Oh, minha querida, que bom que chegou! Estávamos todos de aguardando. - Dizia enquanto a abraçava e dava um beijo em sua bochecha. - Como Harry não virá hoje, seremos só nós mesmo. Entre, entre. Saiam de cima dela Fred e Jorge! 

Fred e Jorge abraçavam Hermione pelos lados enquanto ela sorria. Eles mexiam em seu cabelo enquanto falavam coisas como "Está arrumado demais" e "Não parece nossa Hermione". Após cumprimentar todos, eles mantiveram uma conversa animada até que a Sra. Weasley veio da cozinha avisando que almoço estava servido. Sentou-se entre Gina e Percy e todos comeram em meio a conversas animadas. Ao fim do almoço, todos se encaminharam pra sala e Gina e Hermione permaneceram na cozinha ajudando a retirar a mesa e organizar a cozinha. Depois de algum tempo, Gina a chamou para subirem pro seu quarto, para conversarem sozinhas.

— Eu não sei onde Harry está e imagino que você também não... - Começou Gina meio insegura. Hermione afirmou com a cabeça. - Imaginei que pelo menos pra você ele iria contar.

— E eu imaginei que ele tivesse te contado algo. Ele não mencionou nada estes últimos dias?

— Não. Ele veio dizendo que viajaria para os Durleys, mas é claro que não acreditei. Ele esteve muito sério essa última semana e então apareceu com essa ideia da viagem. Eu acho que tem algo a ver com o Rony.

— Eu também acho. Mandei uma carta a Rony - Hermione notou que Gina fizera uma cara de surpresa - Nós trocamos algumas cartas esse ano - Gina agora começava a sorrir - Não, Gina! Por favor. Rony e eu não temos mais nada. Mas ainda somos muito amigos. Não damos certo como namorados, mas damos certo como amigos.

— Vocês brigavam menos como namorados que como amigos...

— Isso foi só no início, porque nós

— Porque vocês não paravam de se beijar - Interrompeu Gina enquanto ria.

Hermione sorriu com a lembrança. Os beijos de Rony. A muito tempo não pensava nisso. Lembrou-se de uma tarde que passaram na Toca. Sentaram-se embaixo de uma árvore...

— Mas então, o que acha que está acontecendo? - Gina interrompeu seus pensamentos.

— Não sei. Como eu te disse aquele dia, Rony poderia estar em uma situação complicada. Mas não dá pra saber muito quando Harry não colabora. O departamento de Aurors é muito bom em manter segredos como segredos. Você não se lembra de nada que Harry disse que possa ter a ver com essa viagem?

— Não. Harry não falou muito esses dias...

— Como poderia? Você não parava beijá-lo! - Foi a vez de Hermione provocar e Gina começou a sorrir.

— Não posso fazer nada. Ele é tão... sabe? Não consigo não beijá-lo. - E riu mais uma vez.

Conversaram uma boa parte da tarde, e depois desceram para a sala e continuaram a conversa com os outros cabeças vermelhas. Aproximando-se da hora de ir embora, se despediu de todos e então saiu pela porta, caminhou até o fim da estrada e observou toda aquela família a olhando de longe. Sorriu e acenou para eles e então aparatou para sua casa. Ao chegar em casa, partiu para o banho e se lembrou da conversa com Gina, se lembrando do início do namoro com Rony e então da tarde debaixo do pomar. A muito tempo ela não se permitia lembrar desses momentos com ele. Mas hoje se permitiria uma última vez.

Lembrou dos dois sentados de frente um pro outro, conversavam, se beijavam e faziam piadas e brincadeiras um com o outro. Lembrou-se do toque quente da mão dele passando pelo seu rosto, enquanto ele a olhava atentamente. Ele parecia nervoso, como se quisesse lhe contar algo, mas não tinha coragem. Ela queria que ele soubesse o quanto ela estava feliz por estarem ali. Ele começou a murmurar algumas palavras que ela não conseguia ouvir, mas parou, se aproximou e a beijou. Não era um beijo ardente. Era calmo, como se ele estivesse saboreando lentamente algo. Ele passou a mão pelo seu rosto, cabelos e cintura. E quando pararam de se beijar, ele continuou a observando por alguns minutos, como se estivesse tentando memorizar cada centímetro dela. Ela não agia diferente. Decorou a posição de cada sarda, sentiu a textura daqueles cabelos vermelhos, da pele dele, mergulhou no mar azul dos seus olhos e então viu ele formular um leve sorriso. 

Era sua memória preferida. Eles não brigaram naquela tarde, não tinham passado por nenhum perigo e ninguém tinha aparecido do nada os interrompendo. Era só eles. Na melhor forma deles. 

Terminou seu banho e se vestiu. Ajeitou seus cabelos e se olhou no espelho. Definitivamente ela e Ronald Weasley eram só amigos agora. Antônio estava a esperando para jantar. Ao pensar nisso, sentiu um peso no estômago e sorriu diante da possibilidade. E então ela saiu de casa e caminhou ao longo da rua até um local onde pudesse aparatar.

Antônio já estava no restaurante. Ele se levantou quando ela chegou e a cumprimentou com um beijo no rosto. Ele estava diferente. Mais solto, menos apreensivo. Conversaram enquanto aguardavam os pedidos. Ela estava se divertindo muito. A conversa fluíra muito melhor que das outras vezes. Ele havia sentado ao seu lado e não a sua a frente. Segurou sua mão em diversas ocasiões, de forma descontraída e aparentemente sem medo. Após terminarem de jantar, ele a convidou para passearam por uma praça que havia ali perto e ela aceitou. Ao chegaram na praça, Antônio tocou seu braço, fazendo com que ela parasse. Ele se aproximou lentamente, e ela sentiu o nervosismo tomando conta dela. Ele deu um beijo em sua bochecha e depois outro mais próximo dos lábios e por fim a beijou na boca. Eles se beijaram por uns instantes. No início se sentiu nervosa, mas aos poucos foi relaxando. Ele a segurou pela cintura e aproximou um pouco mais seus corpos. Quando finalmente se separaram, ela sorriu.

— Hermione, há dias estou tentando ter essa conversa com você - Sua voz soou um pouco nervosa, mas ele foi firme. Hermione voltou a ficar apreensiva e ele continuou - Você sabe que te acho bonita, inteligente, engraçada. E eu gostaria de passar mais tempo conhecendo suas qualidades. 

— Eu não tenho só qualidades - Hermione sorria nervosamente.

— Eu sei que não. Ninguém tem. Mas o que eu quero... - Ele respirou fundo - O que eu quero é te conhecer mais. Conhecer outras qualidades e seus defeitos. Você entendeu?

— Acho que estou entendendo... - Disse insegura, tentando em vão desviar do assunto. Mas começou a se questionar se queria mesmo desviar do assunto.

— Eu... Eu... - Antônio começou a vacilar em sua segurança. Ficou calado por uns segundos, mas então retomou - Eu quero namorar com você. - Suspirou aliviado pela frase finalmente ter saído. - Já estamos saindo juntos a algum tempo e eu gostaria te poder estar mais perto de você.

Hermione ficou calada diante da declaração. Namoro. É claro que ela sabia a que fim chegaria aquela conversa. Namorar com Antônio. Ela não estava apaixonada. Mas ela gostava de passar um tempo com ele. Talvez se passassem mais tempo, isso poderia virar paixão. Mas também poderia não resultar em nada. Hermione nunca teve medo de relacionamentos. Por fim falou:

— Você está apaixonado por mim? - Vendo a cara que Antônio fez, ela continuou - Eu quero apenas a verdade. Não se sinta intimidado em dizê-la. 

— Não. - Ele suspirou. - Mas eu quero que você entenda porque quero isso. No momento não estou, mas você tem grandes qualidades e quero ver até onde podemos chegar juntos. É um pensamento racional diante de algo que não era pra ser, mas esse sou eu. Eu não vou ficar triste se você me disser não, mas eu gostaria de tentar.

Hermione sorriu. Ele era um típico Corvinal. Segurou a mão dele. E acenou com a cabeça e por fim disse que aceitava. Se abraçaram por um instante e então voltaram a caminha pela praça conversando sobre assuntos acadêmicos que lhes interessavam.