Hermione estava deitada em sua cama olhando fixamente para o teto.
Mais um dia em sua vida se passara e ela se sentia patética.

Davina, a auror, partira para a Escócia, mas não sem antes assistir um leve show de ciúmes de Hermione que, ela fazia questão de se lembrar, nada tinha a ver com a situação.

Davina tinha almoçado com os Weasleys naquele dia. Após o almoço saiu para conhecer os jardins da casa dos ruivos. Ao retornar, Hermione não se aguentou e deixou escapar um "Aproveitaram o passeio romântico?" em seu pior tom de desdém.

Harry, Rony e Davina a olharam claramente espantados. Gina soltou um risinho enquanto tentava conter gargalhadas maiores. E para piorar a situação, Fred e Jorge encenaram a cena pelo resto da tarde, retratando a cada reprodução uma Hermione mais enciumada ainda.

Quando a garota escocesa finalmente partiu da casa dos Weasleys, Harry e Gina finalmente contaram que ela e Rony não tinham nada.

— Sério? Por que não me contaram antes? - a garota estava indignada e percebendo agora que sua ceninha fora muito pior que o imaginado.

— Não tivemos oportunidade. E se tivéssemos contado será que teríamos visto aquela ceninha hoje a tarde? - Gina dizia entre risinhos.

Hermione agora parecia furiosa com os amigos.

— Gina, não foi isso tudo. - Harry olhava a noiva repreendendo-a. - Mione tem namorado. Aquilo não foi ceninha nenhuma. Vocês que entenderam errado.

O teto de seu quarto ainda parecia super interessante. Ela estava grata por Harry tentar consolá-la, mas no fundo sabia que o moreno tinha entendido da mesma forma que todos os outros Weasleys na casa.

— Hermione, o que está fazendo? - Ela se perguntava sem saber responder.

Quando finalmente contaram que eles não tinham nada, a morena sentiu como se tivessem lhe tirado um peso enorme das costas. Por que?

Os pensamentos acerca do que sentia por Rony vagaram entre lembranças do passado. E ela se obrigou novamente a lembrar porque eles tinham terminado.

Ele não era atencioso, era bringuento, preguiçoso, nunca cedia, sempre a deixava na mão.

— Não quero isso de novo. - concluiu olhando agora para sua janela. Aparentemente uma leve chuva começara a cair.

Sua campainha tocou. Ela se assustou e levantou de um pulo.

Era mais de de meia noite. Quem estaria lá a essa hora? Usava apenas roupas íntimas. Vestiu um robe por cima e apanhou a varinha. Desceu cautelosamente a escada e ainda longe da porta perguntou quem era.

— Sou eu, Rony. - Ela se sentiu mais apreensiva ainda. E continuou parada ao pé da escada sem saber exatamente o que fazer.

Após vivenciar na pele uma guerra e saber que ainda existia a solta possíveis seguidores de Voldemort por aí, ela ainda era cautelosa em algumas situações, como por exemplo, alguém querendo entrar em sua casa quase uma da madrugada.

— Harry fala a língua das cobras enquanto dorme. - A voz de Rony foi ouvida novamente, como se ele tivesse lido a mente dela.

Ainda um pouco apreensiva, agora por outra razão, ela desceu o resto das escadas e abriu a porta.

— Achei que não ia abrir nunca. Fiquei todo encharcado. - O garoto dizia enquanto entrava na casa se refugiando da chuva que aumentava cada vez mais.

— O que veio fazer aqui? - Hermione estava nervosa. O ruivo estava todo molhado. Suas vestes estavam abertas na frente mostrando sua camisa branca colando em seu corpo que marcava os músculos de auror e jogador de quadribol que o garoto tinha. Aquilo a deixava sem ar.

— Fui com Davina até a fronteira. Estava um pouco agitado demais e resolvi vir te fazer uma visita. - e então tirou do meio de suas vestes uma garrafa de vinho.

A garota ficou ainda mais espantada. Rony a evitara por semanas e agora estava em sua casa. Ela sentia uma mistura de medo e prazer.

Medo. Não sabia como reagir a ele. Não sabia o que se passava com seu corpo que tremia levemente com a presença do garoto. Medo por ele ter entendido errado a crise daquela tarde e agora ter alguma esperança com ela.

Prazer. A presença dele lhe acalmava. Lhe deixava confortável. Alegre. Plena.

— Não está um pouco tarde? Não sei se é... correto isso. - Hermione tentava fazer a razão vencer nessa batalha. Mas não era tão simples afinal. E o ruivo não colaborava.

— Você não está com cara de quem está com sono, Mione. E eu só queria passar um tempo com minha amiga. - Ele a olhava profundamente, com um leve sorriso nos lábios. Ela estava com aquele robe, que deixava seu colo de fora. Ele adorava ver sua pele levemente bronzeada. Ele sentia vontade de se aproximar e tocá-la, masse conteve.

A garota não estava conseguindo resistir àquele feitiço que o corpo dele emanava. Que mal havia passar uma noite conversando com seu amigo? Eles quase não passaram momentos juntos nas últimas semanas. Ela finalmente cedeu e o convidou para irem para a sala. O clima havia esfriado e por isso acendeu sua lareira. Rony colocou um dos seus CDs para tocar. Depois que namoraram, o garoto aprendeu a mexer em alguns equipamentos trouxas.

— Meu maior medo esse ano, era que nossa amizade acabasse. - O garoto dizia enquanto se sentava no tapete aos pés da garota que estava sentada no sofá.

— Eu não queria isso. Tanto que enviei cartas para você. Algumas que VOCÊ não respondeu. - Ela disse colocando o dedo no peito do garoto. Ele ainda estava encharcado. - Talvez você devesse secar suas roupas.

Ele sorriu. Retirou as vestes e a camusa permaneceu apenas de calça. Puxou a varinha e começou a se secar. Era uma bela visão, a garota admitia.

— Eu não soube como reagir no início. Ainda não sei às vezes, confesso. Mas eu me sentia extramente bem quando chegava uma carta sua. - sorriu sem graça.

— Às vezeseu também não sei como reagir. Mas sempre fomos "amigos" - ela sinalizou as aspas - uma hora ficaria tudo bem.

— Por que "amigos"? - ele repetiu o gesto.

— Sério? "Essa garota é um pesadelo". - Ela o imitou quando ele a chamou de pesadelo em seu primeiro ano em Howarts.
Ele riu abertamente.

— Nunca te pedi desculpas por aquilo. - ele postou mais próximo um pouco e segurou uma mecha de cabelo dela. - Desculpa por aquela merda que eu falei. Meninos nessa idade tem problemas com garotas no geral.

Dessa vez ela riu abertamente.

— Pensei que você só tinha descoberto que eu era uma garota no quarto ano.

— Eu sempre soube que você era uma garota. - ele falava sério agora e a olhava no fundo dos olhos. Ainda segurando a mecha de cabelo e brincado com ela. - Você sabe muito bem disso. - Sustentou o olhar por mais uns instantes e então riu novamente. - Mas você era muito valente e brava e não se misturava com as outras garotas. Seria facilmente confundida com um garoto. - Ele ria e fazia cócegas na garota que agora não se continha nas risadas.

— Não me misturava mesmo. Não sei como alguém suportava aquelas garotas que só sabiam dar risadinhas o tempo todo.

Eles riram e conversaram por mais algum tempo. Quando a garrafa de vinho terminou, Rony se levantou e disse que já estava na hora de ir pra casa. A morena cogitou pedir pra ele ficar mais um pouco e abrirem outra garrafa que ela tinha em casa. Mas a razão apitou e ela permitiu que ele fosse embora.

Ao chegarem na porta, a chuva tinha cedido. Eles se abraçaram. Hermione o prendeu no abraço um pouco mais que o necessário. E então se afastou.

— Obrigada por vir.

Ele sorriu e se afastou. E então desapareceu.

A morena subiu para seu quarto. Estava plena, como já era de se esperar. Rony tinha sido galante o bastante para não tocar no assunto daquela tarde. A conversa fluíra com facilidade, sem entrar em terrenos proibidos ou desconfortáveis.

Ela se permitiu lembrar mais uma vez daquele olhar, daquele toque, daquele abraço. E então ela percebeu o que precisava ser feito. Não exitaria mais.

Com as lembranças dos sorrir rodopiando em sua mente, ela adormeceu.