O almoço estava servido. Antônio estava sentado a sua frente à mesa olhando-a como se tentasse desvendar todos os seus mistérios.

Comeram em meio a tentativas frustradas de iniciar uma conversa. O garoto que antes a fazia se sentir bem, agora parecia mais um incômodo.

— Hermione, por que estou aqui?

A garota se sobressaltou. Estava claramente imersa em pensamentos.

— Para almoçarmos juntos. - respondeu tentando aparentar simplicidade nas palavras.

O garoto sorriu de leve e se levantou. Recolheu a louça da mesa com um aceno de varinha e a encaminhou para a pia, onde magicamente começou a se limpar.

— Sabe - ele se aproximou da garota e segurou suas mãos - achei que grifinórios fossem mais corajosos.

— Antônio, - começou insegura - não posso continuar com isso. - Ela finalmente deixou as palavras saírem, sentindo um misto de alívio e culpa.

Antônio por sua vez expressou uma leve tristeza, mas parecia aliviado também.

— Eu sabia que este dia estava próximo. Eu só queria que você tivesse sido mais objetiva comigo.

— Se sabia que seria assim, por que você não pôs um ponto final antes? - A garota agora parecia um pouco impaciente.

— Eu tinha esperança em nós. Não imaginei que depois de tanto tempo você ficaria tão abalada com a volta do garoto.

— O que quer dizer? Não estou terminando por causa dele! - Hermione agora se soltara das mãos do garoto e também estava de pé. Seu tom mandão se sobressaindo novamente. - Eu terminei porque, claramente, não nos envolvemos. Estamos nessa a algum tempo já e ainda em mim não surgiu nenhum sentimento. E pelo visto em você também não. Relacionamentos não são feitos se racionalidade!

— Eu sei que não. Mas você nem tentou. A todo momento priorizava estar com ele e não comigo.

— Eu não fiz isso!

— Não? No noivado da irmãzinha dele, eu te chamei para virmos embora, para passarmos um tempo juntos e você preferiu ficar.

— Você poderia ter ficado lá. Era o noivado dos meus melhores amigos. Você queria mesmo que eu fosse embora mais cedo?

— Você pode mentir para mim o quanto quiser, mas não minta para si mesma. Que bom que criou coragem. - ele pegou sua veste e encaminhou-se para a saída. 

Hermione estava nervosa com a petulância do garoto e nada disse para não piorar a situação.

Assim que ele foi embora, ela resolveu quer seria um bom domingo para passar a tarde com os pais.

Quando chegou em casa a noite, enviou a Gina uma coruja contando brevemente o ocorrido e sugerindo que se encontrassem naquela semana para conversarem melhor sobre os detalhes.

Porém meia hora mais tarde a campainha tocou e ela teve certeza de quem era.

Uma ruiva tempestuosa entrou pela sua porta ávida por detalhes.

— Ele não aparentava que seria tão arrogante assim. Mas ele mentiu em algum momento, Mione? - ela indagava enquanto levantava uma sobrancelha.

A morena arregalou os olhos por um instante, se sentindo indignada por até sua amiga estar dizendo que ela ignorava o namorado que agora era ex.

— Mentiu! Quantas vezes deixei de estar com vocês, para estar com ele?

— Nenhuma. Você sempre adiava seu encontro com ele quando surgia algo conosco. Até um bate papo descompromissado era motivo pra você adiar um encontro con o ele. Mas a minha pergunta não foi sobre isso. Foi sobre você estar abalada com o meu irmão.

— Não! - respondeu rápido demais e veemente de mais. Sua voz saiu levemente esganiçada. Percebendo que não fora convincente, se recompôs e tornou a falar. - Não. Seu irmão nada tem a ver com isso. Nós não estávamos nos dando bem. Não havia... paixão.

— Eu nem sei se Antônio seria capaz de ser apaixonante. Ele é um sonso, Mione. Todo mundo sabe disso. Levou semanas para te dar um beijo e mais semanas ainda para te dar um segundo beijo! Não sei aonde vocês estavam com a ideia de que um namoro funcionaria.

— Ele não me pareceu sonso hoje.

— Não. Hoje ele foi um tapado. De qualquer forma, está tarde. Preciso ir pra casa. Mamãe vai adorar essa novidade. - a ruiva sorriu agitada.

— Gina, já te passou pela cabeça que posso estar triste com o término?

— Mas não está, Mione. Dá pra ver pela sua cara que você está mais para aliviada. Acho que devemos sair essa semana para comemorar. Nós quatro. Rony precisa mesmo se divertir.

— Não alimente esperanças. Seu irmão e eu não temos a menor chance juntos.

— Você que pensa.

— Eu que penso não. - Hermione se estressava quando a ruiva agia assim. Confiante de que ela e o garoto voltariam. - Passei metade do meu namoro com seu irmão chorando pelos cantos por conta de brigas intermináveis. Eu não quero passar o resto da minha vida desse jeito.

— Talvez essa viagem o tenha transformado. - Gina se levantou e começou a pegar suas coisas para partir. - Pelo que vi, já tem quase três meses que ele retornou e vocês não brigaram nenhuma vez.

Hermione sabia que aquilo era verdade. Rony estava mais controlado. Não gritava mais insultos aos quatros ventos, não se deixava levar por qualquer coisa.

— Não importa. Ele e eu é passado. Somo apenas... - ela se interrompeu. Não sabia porque, mas não queria dizer aquilo em voz alta.

— Amigos. - Gina completou, o sorriso ainda preso em seus lábios. - É. Amizade talvez seja o bastante. Veremos.

Elas se despediram e a ruiva então partiu.

Era fato, Hermione precisava admitir, a noite anterior tinha lhe dado a coragem para por, de uma vez por todas, um fim no relacionamento com Antônio.

Não porque ela sentisse algo por Rony, mas porque ela queria estar livre para sentir. Ela sabia que não deveria se deixar levar nessa história, mas simplesmente não conseguia controlar. Ele com certeza também não iria querer se envolver. Afinal, ela terminou com ele.

Subiu as escadas e foi direto tomar um banho. A água quente caindo pelo seu corpo a deixando completamente relaxada. Estava contente de verdade por ter encerrado o assunto com Antônio. Só esperava não haver ressentimentos, pois como amigo, ele era boa companhia.

Ao sair do banho, viu uma coruja voando e bicando sua janela, pedindo passagem para entrar. Em sua perna uma carta de Harry. A notícia já chegara até ele.

Mione,

Como deve saber, Gina já me contou sobre o que aconteceu hoje. Talvez você queira amanhã, depois do trabalho, sair pra tomar uma cerveja amanteigada. Nós quatro.
Eu poderia esperar até amanhã pela resposta, mas estou muito ansioso. Por favor, me responda hoje ainda.

Abraços.

H.

A garota riu. Harry não era nada sutil. Pegou um pequeno pergaminho e respondeu.

Harry,

Não deixe a ansiedade te dominar. Assim, poderar correr o risco de querer fugir no dia do casamento. Controle-se!

Quando você e Rony forem liberados, passem em minha sala para que possamos ir juntos.
Até amanhã.

Beijos,

H.