Ladrões de Coroas Interativa escrita por Safira Lúmen


Capítulo 3
O capitão Wieser


Notas iniciais do capítulo

CHEGUEM MAIS GALERINHA, PEGUEM O CAFÉ, O CHOCOLATE E VAMOS NESSA!

Eu gosto muito deste capítulo, acho que o Kian é um personagem descontraído e bem revoltado com a vida além de um amorzinho, é impossível não amar. Esse capítulo ficou tão leve que quando verem já leram tudo. Foi um dos que eu mais gostei de escrever até agora.

Sem mais delongas, vão correndo ler e não deixem de comentar o que acharam por favor!



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16 de Floril 744D.I

Território Nortenho

VALE DA GUERRA/ REINO MENOR VITAE  

Capitão Kian Wieser

Kian havia retornado da casa da bruxa no dia anterior logo após o pôr do sol, mas ainda sim se preocupava com a garota, ela parecia estar bem debilitada e temia que não resistisse, no entanto ele sabia que Dagna era a única na região que poderia curá-la, as bruxas verdes eram as melhores.

Quando o noite do dia dezesseis recaiu sobre o acampamento Kian estava esgotado, fisicamente e magicamente, o dia tinha sido exaustivo. O acúmulo de cansaço pesava sobre seus ombros, ele não dormia decentemente a mais de três semanas, primeiro por estar arquitetando estratégias de batalhas, depois pela preocupação, em sequência devido ao confronto  contra um grupo de vampiros, em seguida pela ordem do general em marchar pela fronteira do Vale da Guerra para exibir a vitória, como se não bastasse, enquanto voltavam para o acampamento encontraram a garota na intermediação da mata e depois pelo treinamento.

As vezes ele se arrependia de suas escolhas, detestava a batalha mesmo a compreendendo. A vida que vivia o indignava, ele só queria paz. Acreditava que poderia ter se tornado um cozinheiro em alguma estalagem de Vila Boa, onde ficava Forte do Dragão, território de sua família.  Poderia cortar lenhas, passear tranquilo pelas ruas sem carregar consigo o peso das almas que não conseguira salvar. Mas isso era ilusório, pois se não estivesse no exército estaria governando Forte do Dragão, o que com certeza não era uma opção para si.

Havia dias que ele andava distraído com os “porquês da vida”, sentia-se exaurido, ele parecia ser o único a se importar com o povo, nem mesmo o general apresentava uma retaliação a altura dos vampiros. O lema de sua família se aplicava perfeitamente naquela realidade lamentável “Poder não é nada sem sabedoria”, o que adiantava ter o maior exército do Império se os homens não conseguiam ser sincronizados, se os alimentos perdiam antes de serem consumidos e as armas eram extraviadas antes de chegarem ao destino. O problema do norte não era o poder e sim a gestão.

O capitão dormiu minutos depois, não se importou em não ter comido nada durante as últimas horas, estava cansado demais, sua mente havia se desligado do mundo exterior, mas o subconsciente parecia tramar contra o sossego, enquanto dormia ele foi assolado por campos de batalha ensanguentado, por humanos com o corpo retorcido, com gritos de pavor, com presas, cabeças decepada  e muita luta.

O barulho de um de seus homens o acordou, ainda na madrugada, o capitão sentiu os olhos arderem, a única luz vinha de uma candeia acesa  pelo soldado, Kian se levantou irritado, estava com sono, cansado dos pesadelos, cansado da guerra. Quanto tempo teria que aguardar pela paz? Era a pergunta que se fazia toda vez que acabava de ter um pesadelo.  

Como queria correr pelos campos verdejantes, se embriagar, dançar durante a festa da colheita, ter sua família, passear com o cachorro, ensinar os filhos a manusear uma espada, sem se preocupar em ter o corpo dilacerado por feras que se alimentam do sangue.

— Permissão para adentrar ao recinto? — O soldado prestou continência na porta da tenda tirando o capitão de seus devaneios com a paz.

O soldado tinha uma fisionomia cansada, provavelmente estava sem repousar a mais de vinte e quatro horas, ele tinha a pele suja de carvão e o cheiro era marcante, lembrava o odor que subia quando se retirava a sela de um cavalo.

— Tenho ordens do general Khan, senhor. — Ele anunciou quando o capitão se levantou e caminhou até uma bacia de prata com água para lavar o rosto na intenção de espantar o sono.

— Diga-me soldado. — As palavras saíram fracas, revelando todo o cansaço que recaia sobre o capitão. — Seja breve para que eu possa dormir.

— Temo avisá-lo que não será possível. — O tom de medo foi o suficiente para Kian contrair o corpo e escutar o recado com atenção. — O general Khan solicitou sua presença.

“O que aquele cão covarde deseja comigo” pensou Kian antes de confirmar com a cabeça para o soldado se retirar, “Talvez tenha se cansado de trepar com as prostitutas e decidiu desempenhar o papel de general”.

Kian caminhou até uma bacia de prata onde lavou o rosto para espantar o sono.

— Só mais uma coisa capitão, alguns membros dos adagas negras vieram lhe acompanhar até o acampamento do general.

Kian socou a bacia de prata a derrubando sobre o chão da tenda, o soldado se encolheu, água escorreu pelo local e uma respiração pesada pode ser ouvida antes de Kian  começar a vestir-se com o peitoral de aço reluzente.

Ele odiava com todas as forças os adagas negras, nome dado para o batalhão particular do general.

— Khan está ciente de que meu acampamento fica  a mais de cinco horas do dele? — Esbravejou Kian colocando a caneleira de aço e a atando na perna com força e raiva. — Será uma tortura passar esse tempo na companhia dos adagas negras. — Ele resmungou para si.

O soldado olhou o capitão com pena, realmente ele estava certo, os espadas negras eram insolentes, metidos e arrogantes, ficar uma hora na presença deles já era uma tortura, cinco no entanto era suicídio.

— Se desejar capitão, posso avisar Julius para o acompanhar. — Kian ficou agradecido pela gentileza do soldado, mas Julius seria mais útil cuidando do batalhão durante sua ausência.

— Não será necessário, apenas entregue ao meu amigo as seguintes ordens. — Kian as escreveu em um papel já amarelado e a enviou através do soldado de primeira classe.

Depois de se certificar de que nada aconteceria ao seus homens, Kian se direcionou para os cinco soldados de armaduras pretas como a escuridão, eles tinham os cabelos longos e usavam espadas feitas de meteoro, alguns detalhes de obsidiana as faziam parecer mais mística do que realmente eram.

— Sou prisioneiro para ter que ser acompanhado por vocês? — Ele usou de  ironia enquanto os direcionava um grande sorriso, mas todos os espadas negras sabiam que não havia nada de amigável naquele gesto.

— Só estamos garantido que cumpra a ordem do general. — A mulher de longos cabelos pretos que estavam atados em uma trança respondeu de forma ríspida, os lábios se contraíram quando ela olhou na testa do capitão e vislumbrou um pouquinho da transparência da marca do dragão. — Você tem uma fama de não responder quando é solicitado.

Kian se divertiu com o comentário, ele normalmente deixava o general esperando apenas para irrita-lo.

Ele passou a noite toda ao lado dos espadas negras, a estrada que ligava o Vale da Guerra com Vila Boa era cheia de crateras e valas abertas pela enxurrada. Por sorte só havia enfrentada um leve serenar durante a três primeiras horas da madruga, apenas o frio o incomodava.

Kian passou o trajeto relembrando a forma como encontrou a vítima do vampiro, a pobre garotinha tão frágil desacordada, ele realmente torcia por sua recuperação, mesmo Dagna afirmando que não seria possível, a bruxa ficou um tanto diferente após cuidar dos machucados, Kian pressentiu uma vibração diferente, algo sobrenatural, ela com certeza escondeu algo, se pudesse teria ficado ali para ver o desenrolar da situação .

— Me conte um pouco mais sobre como é ser um lorde e capitão do primeiro batalhão, Kian Wieser? — A soldado de longos cabelos pretos como a noite tentou iniciar um diálogo enquanto os companheiros apenas cavalgavam. — Com certeza seu pai mexeu uns pauzinho para você conseguir essa patente.  

“Sua vadia melindrosa, vaca arrogantes, irritante, o mérito foi meu, o esforço foi meu, o meu pai nem ao menos aprovava, sua víbora, feche a matraca antes que eu descida cala-la por conta própria”. Ele pensou em responder, mas não era a conduta esperada pelo capitão do primeiro batalhão então reprimiu o pensamento.

— O mérito foi meu. – Respondeu por fim indiferente tentando não demonstrar o quanto o afetava saber que as pessoas achava que tudo que havia conseguido era devido a influência da família.

Para se distrair durante as longas horas de cavalgada ele repassou mentalmente as exigências que fez a Julius seu melhor amigo e segundo no comando do batalhão. Ordenou para o homem  não abaixar a intensidade dos turnos, manter os dois prisioneiros na sela sem lhes dirigir uma palavra, continuar o treinamento e manter a ordem.

O sol já estava no auge quando finalmente chegaram ao acampamento do general, tinha espadas negras por todas as partes, alguns treinavam braços, outros pernas, duplas iniciavam disputas com espadas, outros estabeleciam o perímetro, era um fluxo intenso, carros de bois passavam pelas passarelas recém construídas entre as tendas com suprimentos, intendentes checavam as dispensas e elaboravam listas.

O cheiro de estrume e aço era mais forte em uma das extremidades onde ficavam um estábulo improvisado. O capitão respirou fundo enquanto era acompanhado na direção oposta rumo a luxuosa tenda de  Khan, o general mais desprezível e velho.

A entrada da tenda era decorada com um tecido carmesim vivíssimo, as bordas douradas decoravam a passagem enquanto um voal recaia sobre a abertura. Ao olhar para dentro do recinto ele se deparou com duas belas mulheres dançando enquanto o general se embriagava de um líquido roxo, alguns afirmavam ser vinho, mas Kian o achava de baixa qualidade para ser chamado de tal forma.

A tenda era espaçosa, tinha uma variada mobília, na mesa tinha disposto uma costela de porco assada com frutas cítricas importada do reino Angeliano, havia também um baú decorado onde o general guardava as roupas além de uma pequena mesa que usava como um escritório particular, próximo a cama ficava uma estante com variadas armas.

Kian tinha se mantido indiferente, mas sabia do que se tratava aquela convocação, ele havia comandado a investida contra os vampiros que colocavam o terror em uma das cidades do vale da Guerra, foi o ataque mais bem sucedido durante anos, as feras foram massacradas. Os três sanguessuga sobreviventes haviam fugido para a floresta nas intermediações, provavelmente o vampiro que atacou a pobre garota que agora estava sobre os cuidados de Dagna era um desses fugitivos.

Suor escorriam pela testa do capitão, estava calor como era de se esperar do norte, noites frias, manhãs ensolaradas e quentes, tardes chuvosas com ventania, sempre esse ciclo vicioso. Ele se deu conta de que estava tempo demais parado na porta da tenda perdido em seus devaneios, Julius seu  amigo já havia lhe alertado sobre isso.

O general por sua vez o avaliava, encarou cada arma que pendia do corpo do capitão, a pele bronzeada, os músculos torneados, a marca na testa evidente de sua linhagem, o poder que a muito havia ficado adormecido até o seu nascimento.

O general era o oposto,  a barriga enorme, as pernas possuíam inúmeras pelancas que recaiam uma sobre a outra, a cara rosada e redonda que faziam kian lembrar de um porco no rolete, esse pensamento em exclusivo o fez esboçar um sorriso.   

As mulheres se retiraram da tenda quando o general fez um sinal para que o capitão se aproximasse da pequena mesa onde se encontrava toda a papelada suja de gordura e vinho, os intendentes deviam odiar   o desleixo do homem.

— Mandou me chamar General?— Kian deslocou o belíssimo Voal que formava a entrada da tenda do general e se posicionou na frente da mesa do mesmo, encarando-o profundamente nos olhos.

— Meu bom capitão Kian Wieser, que prazer em vê-lo! — O sarcasmo escorria entre o sorriso falso. — Sabe o porquê de chamá-lo aqui?

“Não vai ao menos me convidar para sentar?” pensou Kian divertidamente enquanto fazia um esforço para não dizê-lo. Às vezes achava complicado se conter, sua mente era tão extraordinária para ser reprimida.

 — Devo presumir que seja pela vitória que meu batalhão conquistou semana passada. —  Por mais perigoso que fosse caçoar do general, a cara vermelha de porco que resultava compensava o risco.

 — Vitória alcançada com meus comandos! — Vociferou — Mas não importa, hoje você não irá azedar o meu humor, e você sabe o porquê? — Kian não gostou nada do sorriso largo na cara de porco do velho. — Hoje mais cedo chegou sua carta de dispensa!

O capitão corrigiu a postura, e o encarou com um profundo ódio, sentiu o sangue fervilhar e a marca na testa queimar. “Não seria possível, não, não! Ele era o melhor capitão, modéstia à parte, o general não seria louco de o dispensar, não quando haviam obtido um êxito tremendo contra os vampiros”. Kian pensou enquanto olhava.          

— Dispensa? — Ele indagou quase voando na garganta do gorducho com cara de porco.

— É o que ouviu lorde Wieser.  — O sorriso brilhava no rosto redondo, os olhos miúdos estavam fixados no homem que parecia prestes a entrar em um colapso.         

“O que? Dispensa? Mas isso não seria possível. Há não ser que...”  O clima já não estava mais tão divertido. Ele finalmente entendeu o propósito da dispensa.

O pai, Sieg Wieser estava por trás disso, deveria ter se cansado de esperar o filho desistir de servir o exército, a velhice o assolava e queria garantir que o herdeiro Kian estivesse pronto para desempenhar o papel de lorde do norte e praticamente rei de Forte do Dragão.

— Você deve ter imaginado, como foi possível conseguir uma carta de dispensa para você, o grande Capitão Kian Wieser!— O sorriso se alargava ainda mais. — Sua posição era garantida devido a minha benevolência em te aturar e ao bom humor de seu pai. Mas Forte do Dragão precisa de um herdeiro, o Rei menor Erion sabe disso, assim como seu pai e todos que são capazes de pensar.   Devo dizer que eu tomei a decisão e solicitei sua dispensa ao rei indicando meu filho em seu lugar. No fim todas as partes ficaram satisfeitas, principalmente seu pai.

Kian não ficou surpreso com o envolvimento de Sieg Wieser, tudo que desejava era que Kian assumisse o “trono” da família, uma vez que ele sempre foi contra sua ida para o exército. Deve ter achado que dez anos seria tempo suficiente para seu filho recobrar os sentidos e ver que seu lugar era comandando o pequeno reinado que sua família achava ter.

 — Você está radiante não é mesmo Khan? Agora pode fuder com todo o exército.— Havia tristeza na voz de Kin. — Espero que consiga não destruir nossas forças com suas atitudes imprudentes.  — Sem nem mesmo esperar uma resposta ele saiu da tenda do general em direção a forte do Dragão.

Não estava triste por sair do exército, mas por saber exatamente que em breve o norte iria ruir sobre o peso das hordas dos vampiros e da incompetência de Khan. Agora não restava mais dúvidas, estava cansado das guerras, das mortes, do sofrimento. Não teria mais devaneios com tempos de paz, iria conquistar a paz, ele e seu dragão Wieser.


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Notas finais do capítulo

Eu não quero ser repetitiva, mas não deixem de comentar, vocês não fazem ideia do quanto me agrada essa interação entre nós.

E por favor deem uma olhada no blog, o link está nas notas da história.

Até o próximo meus amorzinhos *-*



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