A SURPRESA?!

— Yosh! — Esfreguei as mãos, concentrada no livro à minha frente e bebericando um gole de suco. — Por onde começaremos?

Sasuke me encarou distante e eu estralei os dedos, trazendo-o de volta para a realidade.

— Nós não precisávamos estudar na sua casa — disse ele, parecendo desconfortável por estarmos no meu quarto.

— Não conseguiríamos se o pessoal estivesse na nossa cola e, já que eu descobri que você é um burrinho, tornou minha missão te transformar num namorado de mentira inteligente, ao menos… — Prendi um riso.

Ele revirou os olhos, pegando a caneta e fazendo um pequeno risco no caderno.

— Eu tenho sorte por ser de mentira! — Exclamou, sério. — Se fosse de verdade, já teria sido chutada desde o início!

Arqueei a sobrancelha, revoltada.

— Eh?! Você é um insensível, já te disseram isso? — Cruzei os braços.

— Não. Na verdade, as garotas sempre me elogiam, afinal, todas com razão — gabou-se.

Dessa vez fui eu quem revirou os olhos, fingindo um engasgo.

— Certo! Certo! Você é um idiota, afinal! É comum que idiotas o vejam assim! — Gargalhei.

— Como disse? — Abandonou o material, tentando me colocar medo.

— Eu disse que você é um idiota, insensível e que gosta de brincar com as pessoas — repeti.

— Disse a garota que precisa de um namorado de mentira!

— Eu não preciso… Só… foi consequência! — Fiz bico, deixando-o de lado.

— Entendo, então não precisa mais de mim… — Levantou-se.

Tomada pelo impulso, eu o grudei pelo punho e o trouxe de volta. Infelizmente, não medi a minha força e a gravidade, fazendo com que ele caísse por sobre mim, deixando-me vulnerável.

— Até sem querer você ficar por baixo! — Exclamou, afastando uma mecha do meu cabelo, enquanto um riso maldoso crescia em seus lábios.

Senti minhas bochechas arderem e uma sensação estranha me dominou. Eu estava… Estava…

— Estou sem ar… — Gemi.

Sasuke se recompôs, voltando ao seu posto anterior.

— Certo, então você já pode começar a sua aula mágica! — Tossiu, desconcertado.

Eu o encarei ainda deitada. Tivemos nossas faces tão próximas… Eu até senti o cheiro do seu shampoo caro fundido com seu perfume de marca. Seus olhos… Seus olhos às vezes me sugavam de uma maneira hipnotizante.

“Mas o que eu estou pensando?” Indaguei-me. “Ele… Ele só é um alguém chato e que eu odeio muito, certo?”

— Vai demorar muito? Eu posso voltar para casa e contratar uma namorada melhor — chamou minha atenção num resmungo.

— Não, podemos começar! — Sorri forçada.

O lado bom das aulas foi que eu pude mostrar para o monstrengo o porquê eu era considerada a melhor do colégio e esfregar na cara dele o quão burrinho era. Embora isso, havia me divertido horrores. Tanto que até caí no sono por sobre os cadernos…

— Uchiha-san? — Abri os olhos, bocejando.

Fitei o rosto quase colado com o meu, mergulhado num sono profundo e com uma aparência terna e repleta de calmaria. Aquilo me fez sorrir.

— Não é que o idiota dormiu? — Murmurei me levantando e pegando uma coberta para cobri-lo. — Durma bem, Sasuke-baka!

Voltei para o meu lugar e debrucei por sobre os braços, fantasiando em como ele se assemelhava a um anjo bom… Um anjo bom apenas enquanto dormia!

“— Saky-chan! Estar com você é tão legal! Eu sou muito feliz pela sua existência! Eu amo você! Eu amo você, Saky-chan! E eu quero que você seja a minha namorada. Saky-chan! Sakura… Sakura… Hei! Hei!”

— Hei! Acorda! Acorda, idiota! — Meu corpo sofreu um tranco forte, tirando-me dos devaneios dormentes.

Quando vi quem era o causador da agressão, soltei um grito, empurrando-o para trás e caindo da cama.

— O que você está fazendo? Como viermos parar aqui? — Esbugalhei os olhos, tentando me desembolar do cobertor e levantar. — O que fez comigo?

— Você dormiu!

— Você também dormiu e foi ali! — Apontei para a mesa.

— Temos quarenta minutos, sua descuidada! — Mostrou o relógio. — Você deveria me chamar! Não serve nem para ser boa anfitriã! — Resmungou, juntando suas coisas.

— Desculpa. Desculpa! — O imitei, correndo até o banheiro e depois voltando com uma escova nova e uma toalha limpa. — Eu deveria ter te espancado até a morte e te mandado todo moído para casa! — Gargalhei diabolicamente.

Em resposta, recebi a desaprovação maligna em seus olhos, tendo a toalha e a escova arrancadas das minhas mãos com violência.

— Não seja idiota! — Vociferou, desaparecendo no banheiro. — Eu não vou me atrasar por sua culpa!

— Não acredito que eu me atrasei por sua culpa! — Sasuke reclamou, abrindo a porta da diretoria. — Não sou obrigado a perder meu tempo porque você é descuidada!

Eu sorri orgulhosa.

— Ninguém mandou dormir na casa de estranhos! Que tipo de homem é você?

— Que tipo de namorada é você? Maluca! Se todos descobrirem que você tentou abusar de mim…

Arregalei os olhos.

— Não tentei abusar de você.

— Mas ninguém sabe disso! — Piscou, malicioso.

— Canalha! — Xinguei-o num cochicho recheado de macumba.

Passamos cerca de trinta minutos na sala do diretor, ajudando-o com a correção de algumas provas como castigo pelo nosso atraso e ouvindo seus sermões de: como é importante chegar na hora certa para não perdemos as aulas e as explicações dos professores.

— Eu nunca precisei passar por isso… Fazer trabalho de classe! Essa inútil! Não presta para nada! Atrasada! Deveria engolir um relógio para acordar na hora certa…

Eu gargalhava mentalmente por poder compartilhar da dor do espírito maligno. Era divertido vê-lo nervoso e irritado. Ele ficava… Ele até que ficava bonitinho… Arregalei os olhos e o encarei. Sua voz ecoava de fundo e eu já não prestava mais atenção no que ele dizia. Aquele garoto… Aquele garoto era tão lindo e o sonho que tive foi tão real. Kami Sama, por que eu estava exigindo demais daquilo tudo?

— Você ouviu o que falei? — Berrou, me assustando.

— Sim — menti, voltando em mim.

— Que bom! Eu vou te cobrar! — Levantou-se, saindo da sala.

— Tudo bem… Espera! — Tentei pará-lo, mas ele já havia me deixado só. — O que era mesmo?!

— Não entendo o porquê de você não lanchar com o seu namorado… — Ino reclamava. — Se não ficarmos com você, ficará com quem?

— Não me importo de ficar sozinha — dei de ombros.

— Vocês não precisam discutir isso — Hinata murmurou. — Somos amigas, deixem os garotos quietinhos!

— Aquele maldito Sai está aprontando e não quer me contar o que é… — Ino mudou de assunto rapidamente, batendo com o pé.

— Por isso está furiosa e descontando em mim? — Esbocei um riso e ela me fez calar com um olhar irado.

— Ele e seu namoradinho estão fazendo algo às escondidas — bufou.

— Quem? — Encarei-a, inocente.

— Sakura, se o seu namorado levar o meu pro mal caminho, teremos um grande problema aqui — me ameaçou.

Eu suspirei fundo. Só queria contar que ele não era, de verdade, quem dizia ser. Aquilo já tomava a maior parte das minhas preocupações e enganar as minhas amigas não era justo.

— Ino, Hinata, tenho que contar uma coisa pra vocês duas… — Nós nos ajeitamos no banco para ficarmos de frente uma para a outra e nos encaramos. — Eu e o Sasuke… Nós…

Sasuke, Sai e Naruto se aproximaram aos sorrisos. Eu fiquei frustrada, pois aquele inútil conseguia estragar as coisas sempre! Até mesmo minha confissão!

— Deidara-sensei disse que as reescritas de vocês serão apresentadas na exibição — Naruto passou as mãos pela cabeça, empolgado. — Parabéns, Hinata, Sakura.

— Obrigada — agradecemos, coradas.

— Se a Ino soubesse fazer um círculo redondo, ela também conseguiria! — Brincou Sai e se arrependeu ao ser fuzilado.

— Nós vamos ter que conversar seriamente, mocinho — grudou-o pelo braço, arrastando-o para longe. — Mais tarde falamos sobre o que quer contar, Saky-chan — ela acenou.

— Quer dar uma volta? — Hinata brincou com os dedos, deixando Naruto todo bobo e sorridente.

— Quero — assentiu. — Até! — Despediu-se de nós.

Olhei ao redor: eu… Sasuke… Por quê?

— Não gosto daquele cara — ele reclamou, sentando-se ao meu lado.

— Quem? — Evitei fitá-lo. Aquela imagem de nós dois caídos no chão ainda me perturbava.

— Deidara-sensei — respondeu indiferente e com nojinho. — Mas não devo me preocupar, não é? — Aproximou-se.

Instintivamente virei a face e encontrei uma expressão ameaçadora, como se eu devesse tomar cuidado.

— Eu… É-É, não precisa! — Gaguejei.

— Certo. Estou ansioso por hoje! — Levantou-se, enfiando a mão nos bolsos e se afastando.

Senti meu rosto esquentar e as pernas vacilarem. Até voltar a minha consciência para perguntar o que era, Sasuke já havia desaparecido. Do que aquele idiota estava falando? Seria algum tipo de surpresa?