I Will Survive escrita por Iphegenia


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, queridinhos!

Quem é a autora sem vida social que está atualizando na sexta a noite? Eu mesma, Iphegenia.

Leiam as notas finais, por favor. Tem uma explicação, além da playlist da fic lá.

Boa leitura!



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O sol nasceu preguiçoso naquela manhã, escondendo-se por trás das nuvens espessas. A brisa passava tranquila pelas folhas das árvores da floresta que cercava Storybrooke, arrepiando aqueles que encaravam as primeiras horas do dia. Regina espreguiçou-se na cama quando sentiu pequenos dedos contornando suas bochechas, seguidos de um peso extra em sua barriga. Com um sorriso, a morena passou os braços pelo corpo da filha, ajustando-a, e abriu os olhos aos poucos, acostumando-se com a claridade.

— Hey, princesa!

— Shi! – Júlia sussurrou levando um dedinho para cobrir a boca. – Sono, mamãe.

Regina sorriu para a imagem de sua pequena, encolhida, e puxou o edredom para que a cobrisse também, transformando-o em um casulo.

Acordaram horas mais tarde quando Henry se uniu a elas na cama. O garoto passou o braço por cima das costas da irmã, para conseguir abraçar ambas, e permaneceram assim, em silêncio, pelos próximos minutos.

— Eu estava pensando... – Henry recolheu o braço e coçou os olhos. – Eu sou um garoto de sorte.

Regina puxou Júlia e girou o corpo para ficar de frente para o filho, deixando a menina aninhada entre eles.

— E o que te faz um garoto de sorte?

— Eu tenho duas mães incríveis, uma irmã que é a fofura em pessoa. – Cutucou a barriga da menina com um dedo, arrancando-lhe uma risada baixa. – Eu tenho a família que qualquer pessoa desejaria e eu estou feliz que tenha percebido isso antes que fosse tarde demais.

A rainha esticou os braços chamando o filho. Ele elevou o corpo para que pudesse passar por Júlia e se jogou no abraço da mãe. Regina o agitou como fazia com sua versão menor, muitos anos atrás e, como costumava acontecer, ele contorceu-se em risadas.

Após mais alguns minutos de abraços, Regina desceu as escadas para preparar o café da manhã. Após abrir as portas dos armários, constatando que nada tinha para cozinhar, espremeu os lábios em desgosto. Correu silenciosamente para a porta da cozinha e olhou o topo da escada, conferindo a distância segura dos filhos. Voltou-se para a bancada da cozinha e, após segundos de consideração, conjurou os alimentos com sua magia. Sorriu satisfeita para a aparência de tudo e pegou a louça para colocar na mesa.

Quando Henry entrou na sala de jantar, com Júlia segurando sua calça e uma expressão ainda sonolenta, ele não pareceu perceber que o pouco tempo em que estava longe da mãe não era suficiente para que tudo aquilo fosse preparado. Ele sentou-se no primeiro lugar da mesa, próximo à ponta onde Regina geralmente ficava. A morena tomou a filha nos braços e buscou pela cadeirinha, colocando-a de frente para o garoto.

Henry perguntou à Júlia sobre os possíveis dragões que ela havia enfrentado em seus sonhos naquela noite. Regina sorriu para a interação, um sorriso que não saía de seu rosto sempre que estava com eles. Um sorriso que dizia que não havia a mínima possibilidade de existir uma única mancha negra em seu coração.

— Eu estava pensando em fazer um quarto para Júlia para que você voltasse a usufruir do seu. – Regina tocou o antebraço de Henry, que descansava sobre a mesa. – Não é justo que permaneça no quarto de hóspedes apenas porque ela se sente mais segura aonde tem pelúcias.

— Eu gostaria. – Henry sorriu para a mãe e olhou para a irmã com adoração. – Mas não que eu me importe com ela roubando o meu quarto. Eu estava apenas com ciúmes quando disse aquilo.

Regina lembrou-se da conversa que tiveram logo que ela voltou para Storybrooke pela primeira vez. Inevitavelmente, uma risada de satisfação lhe escapou. Saindo de um momento em que Henry a rejeitava e indo para um onde ele sentia ciúmes dela, era um longo caminho que haviam percorrido.

— Posso comprar tudo hoje, se quiser.

— Sem pressão. – O garoto apanhou a última fatia de bacon de seu prato e tomou um grande gole de suco de uva. – Não sei se em Storybrooke tem algo que vá agradar uma princesa como ela.

— Bom, acho que Marco pode me ajudar com isso. – Regina piscou para o filho e alcançou uma mão de Júlia, que brigava para cortar um pedaço de panqueca. – Querida, você se lembra do conto do Pinóquio? – A criança agitou a cabeça ainda interessada na refeição. – O que você acha de visitarmos o pai dele, o Gepeto?

Os olhos de Júlia brilharam para a sugestão da mãe. Imediatamente esqueceu-se da panqueca, elevando os braços e balançando ambas as mãos.

— Gepeto!

Os três visitaram Marco e encomendaram os móveis para o quarto de Júlia. A pequena apenas não pode deixar de pedir para que ele a pegasse e lhe apresentasse Pinóquio. Quando o homem chamou seu filho, já em carne e osso, a menina tirou um minuto para entender, quando Regina lhe explicou, que as fadas o haviam transformado em um menino de verdade porque ele foi bom. Então, Júlia se animou e pediu para descer do colo do homem para que pudesse tocar, ela mesma, a pele de Pinóquio certificando-se de que a mãe estava dizendo a verdade.

— Você não acha perigoso contar isso a ela? – Henry cochichou.

— Não. Ela mal completou três anos. Não é como se alguém fosse acreditar nela.

Regina levou mais alguns minutos para convencer a filha a parar de cutucar o, não mais, garoto de madeira e saíram de lá direto para as lojas onde roupas de cama, papel de parede e pelúcias foram comprados.

Depois da manhã de compras, Regina pagou pelo almoço e seguiram para a mansão. Após a refeição, a morena jogou-se no sofá lendo um livro, com Henry no sofá ao lado fazendo o mesmo e Júlia sentada no chão, com várias folhas espalhadas pela mesinha de centro, onde ela rabiscava com giz de cera. Quando o sol começou a se despedir, Henry levantou-se passando a mão pelas rugas da camisa.

— Eu prometi que jantaria no loft. A senhora quer ir? Tenho certeza de que iriam adorar.

— Hum... – Regina olhou para a filha concentrada em seu desenho. – Acho que vou passar essa.

Henry agachou-se para beijar o topo da cabeça da irmã e caminhou para a saída, sendo seguido por Regina. A morena pegou o casaco do menino e o ajudou a colocá-lo. Henry virou-se para ela e beijou seu rosto antes de girar a maçaneta. Com a porta já aberta e o vento frio refrescando a casa, Regina suspirou apressando seus pensamentos. Henry girou o corpo para despedir-se mais uma vez, quando viu a morena mordendo o lábio inferior. Ele sorriu brevemente e esperou alguns segundos, sabendo que aquilo significava que ela precisava de um momento para dizer o que pretendia.

— Talvez Swan queira vir jantar amanhã? – Finalmente sugeriu e Henry abriu um sorriso antes de piscar para ela e seguir seu caminho.

— Eu vou me certificar disso.

***

Swan desceu do carro empunhando uma garrafa de vinho que manteve intacta por todo o tempo em que esteve em Storybrooke. Parou diante da porta da luxuosa mansão, ajustou a jaqueta vermelha, bateu um pé contra o outro para livrar-se da sujeira das botas e bateu na porta. Passos apressados do outro lado se aproximaram até que um Henry sorridente lhe atendeu.

— Hey, garoto!

— Hey, mãe. Entra. Adivinha o que mamãe e eu estamos fazendo. – Henry pegou a loira pela mão e a puxou para dentro. Antes que pudesse pensar em algo, Emma se deparou com uma grande árvore de Natal sendo enfeitada.

— Swan! – Regina ofereceu um pequeno sorriso de lábios apertados enquanto manuseava bolinhas coloridas.

— Regina! – Emma sentiu as pernas fracas no próximo passo. Tanto tempo sem ouvir o som da rouquidão da morena e ela não podia se lembrar o efeito arrebatador que tinham. – Oi, mocinha. – Emma aproximou-se de Júlia, sentada afastada da árvore, colando brilhos em uma grande estrela de plástico. 

Júlia ergueu os olhos para a loira e sorriu brilhante, erguendo o seu trabalho com orgulho. Emma sentou ao seu lado e passou os braços envolta do pequeno corpo, beijando seus cabelos. Júlia entregou alguns brilhos para Emma e indicou onde havia cola para que a sheriff ajudasse. Emma colocou o vinho no chão, ao seu lado, e passou a despejar os brilhos no objeto.

— Júlia, está tudo pronto para a estrela. - Henry tocou o topo da cabeça da menina, chamando sua atenção.

Júlia ergueu os olhos para a árvore, admirada. Levantou seus bracinhos segurando a estrela e tentou levantar-se desajeitadamente. Emma pôs-se de pé e pegou a pequena em seu colo, erguendo-a para que alcançasse o topo da árvore onde fixou a estrela. Henry aplaudiu quando ela conseguiu, fazendo-a sorrir. Emma girou a pequena no colo, para que ficasse de frente para ela e sorriu quando viu os lábios esticados da menina, expondo os pequenos dentes de leite. A semelhança com Regina era impressionante. Emma havia percebido desde o primeiro momento. Ela era, simplesmente, a cópia cacheada da morena.

Quando a árvore estava perfeitamente montada, Regina buscou os presentes e distribuiu embaixo dela. Emma apanhou a garrafa de vinho ainda no chão e a entregou para a morena, que agradeceu com um sorriso mais aberto, dessa vez, e seguiu para a sala de jantar convidando Emma com um aceno de mão.

Durante o jantar, Emma precisou se esforçar para não elogiar o talento de Regina na cozinha a cada garfada, e a morena, para conter os sorrisos que, simplesmente, escapuliam de seus lábios todas as vezes, juntos a um rubor crescente em seu rosto.

— Mamãe está preparando um quarto para Júlia, para que eu possa voltar para o meu. – Henry cutucou a mão de Emma, quando ela não reagiu ao seu comentário, perdida em pensamentos. – Claro, com muitas pelúcias para que ela se sinta segura.

— Muitas pelúcias. – Júlia repetiu abrindo e fechando os dedinhos e um gesto que vira Regina fazer naquela tarde, quando se referia a isso. 

— Hummm. E como são essas pelúcias? – Emma perguntou gentil, cortando um pedaço do peixe.

— Gato. – Júlia encostou o indicador no queixo, pensando. – Tigle. Onça. Pantea. — Franziu as sobrancelhas e refletiu por alguns segundos antes de se corrigir. – Pan-te-ra.

— Todos os felinos que encontrou na loja. – Regina girou os olhos divertida. – Mas tem mais um que você não está se lembrando, e esse não é um felino. – Regina aproximou-se da filha e sussurrou em seu ouvido.

— Cisne! – Júlia gritou animada, batendo as mãos sobre o prato e deixando alguns grãos de comida escaparem.

— Um cisne? – O sorriso de Emma cresceu vendo a alegria da criança, que a encarava com olhos ansiosos. – Sabia que eu sou um cisne? Agora você tem uma Emma com você o tempo todo.

— Céus! – Regina resmungou com humor, recebendo o olhar animado de Júlia. Antes que a menina tivesse a chance, a morena respondeu à pergunta que viria. – Após o jantar você pode buscá-lo.

Regina percebeu que Júlia apressou-se em terminar a refeição e a acompanhou, consciente de que não poderia retardar a diversão da filha apresentando o novo brinquedo. Quando todos cruzaram os talheres, Regina levou o guardanapo até a boca e a limpou, juntamente com Henry, fazendo Emma imitá-los.

— Henry, você poderia...

— Claro. – Antes que Regina terminasse, o garoto tomou a irmã no colo e saiu do cômodo.

As duas mulheres permaneceram em silêncio pelos primeiros segundos, que arrastaram-se incômodos. Emma bateu as coxas uma contra a outra, tímida. Quando Regina notou o movimento, e a encarou, Emma limpou a garganta e ensaiou um sorriso.

— Gostei do cabelo. Se parece com o corte que tinha quando nos conhecemos.

— É, eu já não me reconhecia mais com os cabelos longos.

— Ficou muito bonito, combina com você.

Regina sentiu o rubor esquentar seu rosto e levou a taça de vinho à boca, falhando em disfarçar. Emma sorriu com a constatação e limpou a garganta novamente, mas logo Henry irrompeu pelo cômodo trazendo uma Júlia agitada em seu colo. O garoto entregou a irmã para Emma e correu para a cozinha. Quando voltou, trazia três porções de fondue de chocolate. Colocou uma a frente de Emma, outra para Regina e sentou-se com a própria.

— Você já escolheu um nome para ele? – Swan afastou a sobremesa para que o cotovelo de Júlia não trombasse com ela.

— Ela. – Júlia corrigiu e fez um carinho na pelúcia. – Ainda não.

— Ela é linda. – Emma acompanhou o carinho da menina no novo brinquedo. – Quando você escolher um nome, não deixe de me contar, tá bom?

— Uhum. – Júlia descansou o cisne nas pernas e cresceu seus olhos para o doce a sua frente. Quando os dedinhos estavam alcançando-o, Regina a interrompeu.

— Júlia, você vai comer comigo. Vem cá. – Levantou-se para pegar a filha.

— Eu posso fazer isso. – Emma pegou a colher e mergulhou na sobremesa.

— Você não vai querer comer toda a baba dessa bagunceira. – Regina riu da expressão de Emma e esticou os braços para a filha.

— Eu posso mesmo fazer isso. Até porque, ela parece ser bem limpinha. – Swan abandonou a colher e aproximou o nariz da boca da criança, fingindo cheirá-la.

— Oh! – Regina cruzou os braços em falsa arrogância. – É claro que ela é limpa. Não é, querida?

Júlia assistiu a interação entendendo pouco e, enfim, esticou os braços para a mãe, com uma mão agarrando a pelúcia. Regina voltou para o seu lugar, com a menina no colo, e apanhou um pouco de sobremesa, assoprando antes de oferecer para a filha. Henry falou sobre os presentes que ainda faltava comprar. Emma percebeu que os que Henry citava agora eram consideravelmente mais caros do que todos que ele já tinha comprado e não pode deixar de remexer-se desconfortável para o fato de que o filho havia deixado aqueles para quando Regina chegasse e, claro, lhe estendesse o cartão de crédito.

— Nós podemos ir às compras amanhã? – Henry ofereceu já de pé, ao lado da mãe morena.

— Claro. Amanhã é perfeito. – Regina levantou-se limpando o rosto de Júlia, onde o chocolate estava grudado. – Se não se importa, Swan, eu vou apenas terminar de limpá-la e colocar na cama.

— Fique à vontade. – Emma se pôs de pé e passou a recolher os pratos. – Enquanto isso eu ajudo com a louça.

Regina sorriu e caminhou para a escada, sendo seguida por Henry, que deu um beijo de despedida em Emma. Quando ficou sozinha, a sheriff puxou o ar com profundidade, recuperando-se de todas as vezes em que Regina lhe direcionou o olhar. Swan terminou de recolher a louça e as colocou na máquina de lavar. Desconcertada, andou em círculos pela cozinha, quando percebeu o que estava fazendo, interrompeu seus passos e pensou no que faria se estivesse na casa da morena em Boston. Quando a resposta chegou, andou até a sala e sentou-se reta no sofá.

— Demorei? – Regina entrou na sala segurando a garrafa de vinho e duas taças. Emma negou com a cabeça e levantou-se recebendo uma delas. – Júlia não dorme sem uma história. – Quando Swan apenas concordou com um aceno novamente, Regina derramou a bebida nas taças e sentou-se indicando um lugar para Emma ao seu lado.

— Eu não pensei que fosse aceitar passar o final do ano aqui. – Swan tomou um gole da bebida e cruzou as pernas, girando levemente o tronco na direção de Regina.

— Eu sei como família é importante para Henry e como ele considera os avós, então, eu não podia negar.

— Pensei que, talvez, você quisesse passar com os seus amigos.

— Foi difícil dissuadi-los da ideia me prenderem em casa. – Regina riu levando a taça aos lábios. – Mas eles compreendem que é importante para mim por ser o primeiro Natal após reencontrar Henry.

O silêncio novamente imperou entre elas naquela noite. Emma concentrou-se na ponta de sua bota e Regina no fundo de sua taça, que vez e outra balançava e misturava a bebida. Swan descruzou as pernas e trançou os pés em claro sinal de nervosismo. Regina buscou pela garrafa e serviu-se de mais vinho antes de começar a conversa que gostaria de ter desde o momento em que a loira entrou em sua casa mais cedo.

— Fazia algum tempo que não nos falávamos. – Regina iniciou insegura e ofereceu a garrafa para Emma.

— É. Fazia. – Swan completou sua taça e depositou a garrafa, novamente, na mesa a frente delas. – Eu estava reparando em Júlia e é incrível como vocês se parecem. Eu sei que foi Luna quem gerou, mas é apenas impressionante... – Emma parou quando Regina libertou a risada que tentava, em vão, prender. – O que foi?

— Nada. – A rainha balançou as mãos a frente do rosto. – É só engraçado você dizer isso.

— Eu sei. Soa um pouco ridículo, mas...

— Não. – Regina interrompeu tocando o braço da loira. – Não é ridículo. Ela realmente se parece muito comigo.

— Tudo nela lembra você.

Regina sorriu sincera, os olhos brilharam como uma constelação.

— Ela é minha filha biológica. – Regina anunciou e acenou com as mãos para que Emma ainda não falasse. – Quando Luna e eu pensamos em ter uma criança, ela sugeriu que tentássemos com o meu óvulo. Ela sabia que eu não posso engravidar, mas então colhendo meus óvulos e tratando, talvez a inseminação nela fosse possível.

— Então ela gerou uma criança sua?

— Sim. – Regina riu da expressão surpresa da loira. – Claro, com a ajuda de espermas alheios. – A morena entornou a boca em uma careta, fazendo Emma engolir uma risada.

— Isso é incrível!

— Parecia loucura, mas in vitro tudo funcionou. – Regina suspirou e Emma percebeu que sua mente não estava mais ali. – Luna queria gerar uma criança que fosse minha, que tivesse os meus traços, o meu sangue. Não que, se não fosse assim, ela seria menos nossa, mas era um desejo que ela tinha e eu compartilhei.

— Ela era, definitivamente, uma mulher perfeita. – Emma tentou sorrir, mas o fato de presumir que nada que ela fizesse superaria isso, causava dor em seu coração.

— Mas não estamos aqui para falar dela, estamos? – Regina escorou-se mais confortavelmente no sofá, direcionando um olhar simpático para Emma, como se soubesse o que passava pela cabeça dela.

— Não. Não estamos. – Swan tomou mais um gole de vinho. -  E então, como você está?

— Eu senti sua falta. – Regina soltou abruptamente, ignorando a pergunta e fixando seu olhar no rosto pálido da loira. A boca de Emma abriu-se minimamente, mas o suficiente para o choque daquelas palavras serem capturados por Regina, que encolheu-se no sofá.

— Eu também senti sua falta. – Swan girou mais o tronco, espelhando a posição de Regina. – Todos os dias.

— Por que eu tive a impressão de que você não queria manter contato?

— Eu achei que você precisasse de um tempo. Não queria ser um incômodo ou passar a impressão de que estava te pressionando sobre qualquer coisa. – Emma colocou a taça ao lado da garrafa e uniu as mãos, apertando os dedos e os colocando entre os joelhos, nervosa sobre o rumo da conversa.

— Talvez eu precisasse mesmo de um tempo. – Regina deu um último gole na bebida antes de, também, abandonar a taça.

— Então, como você está agora?

— Muito melhor. – Regina deslizou pelo sofá, aproximando-se de Emma. – Obrigada por toda essa preocupação comigo.

— Não tinha como ser diferente. – A aproximação entre elas fez Emma sentir o estômago se agitar, então, em busca de controle, procurou por um ponto do outro lado da sala para observar.

— E você, como tem passado?

— Bem. A cidade segue sem grandes acontecimentos, o que me dá tediosos dias no trabalho, mas antes assim do que com a vida correndo perigo. – Uma risada escapou das narinas da sheriff e Regina a acompanhou.

— Caso alguma nova criatura mágica a ameace, me deixe saber.

— Porque você viria correndo para me salvar, é claro. – Emma implicou com falso deboche.

— É o que acontece com as princesas. – Regina cantarolou e afastou-se para recuperar a bebida. – Você vai conosco fazer as compras que Henry deseja?

— Eu vou trabalhar na parte da manhã. – Emma anunciou antes de olhar para uma Regina atenta a ela. Os lábios carnudos úmidos com o vinho, fazendo-a relembrar da última vez que beberam juntas, e o gosto que os lábios vermelhos tinham. Emma sacudiu a cabeça e voltou a encarar o ponto distante. – Talvez eu possa me juntar a vocês na parte da tarde.

— Claro. – Regina ofereceu um pequeno sorriso.

— É melhor eu ir andando se quiser me manter acordada na delegacia.

— Não me deixe viver em uma cidade dominada por bandidos. – Regina brincou levantando-se, acompanhando Emma até a porta

— Boa noite, Regina. – Emma guardou as mãos nos bolsos de trás do jeans, sem saber o que fazer com elas.

— Boa noite, Swan. Bom trabalho amanhã!

***

Regina caminhou lado a lado com Henry até o Granny’s, com algumas sacolas em mãos. Quando entraram no estabelecimento, o garoto apressou os passos até a mesa em que Belle estava sentada com Júlia. Jogou as sacolas sobre a mesa e tirou, de dentro de uma delas, duas camisetas em tamanhos diferentes. Em uma estava estampado os dizeres “big brother”, enquanto a outra dizia “little sister”.

— Olha, Jú, essas camisetas dizem que somos irmãos. Vamos usar? – Júlia analisou as letras coloridas, não identificando o que elas diziam ao certo, mas sorriu para Henry, concordando.

— Mãe, coloca nela. Eu vou me trocar.

Enquanto Henry corria ao banheiro, Regina retirou as sacolas de cima da mesa e as organizou no chão, ao lado.

— Muito obrigada por cuidar dela. Eu não conseguiria perambular por aí carregando-a no colo e ela rejeita o carrinho como o inferno. – A rainha passou as mãos por baixo dos bracinhos da menina e a pegou no colo antes de se sentar.

— Imagina. Ela é uma graça. – Belle ajudou Regina a retirar a camiseta preta que a pequena usava e substituir pela branca que Henry escolheu. – Parece que eles se dão bem.

— Sim! Henry está sendo incrível com ela. – Regina ajustou o peso da filha sobre suas pernas. – Uma das coisas que eu mais temi foi que ele a rejeitasse, mas hoje percebo que foi besteira. Ele é maravilhoso demais para uma atitude tão egoísta.

Belle sorriu para a rainha e lhe passou o cardápio. Enquanto a morena corria os olhos por ele, Henry voltou, já vestido, com a antiga camiseta dobrada embaixo do braço, ele a jogou dentro de umas das sacolas e ocupou um terceiro lugar na mesa. Quando Regina girou o pescoço em busca da garçonete, ela avistou Emma entrando no restaurante. Inconscientemente, a loira sorriu e, no mesmo instante, a rainha retribuiu.

— Quase pontual, Swan. – Regina implicou quando a loira ocupou o último lugar na mesa.

— Bom, um dia eu aprendo. – Emma passou os dedos pelo cabelo de Henry, bagunçando-o. – Boa tarde a todos.

— Agora que estão completos, eu vou para o trabalho. – Belle sorriu para os quatro e levantou-se, ajustando a bolsa no ombro.

— Mais uma vez, muito obrigada por cuidar dela. Eu estou totalmente disposta a pagar por isso.

— Não. Não, Regina. – A bibliotecária recusou passando uma mão pelo braço de Júlia. – Ela foi uma companhia muito divertida. – Abaixou-se para ficar da altura da menina. – Até mais, Júlia. – A pequena esticou sua mãozinha para o rosto daquela que foi sua companheira por toda a manhã, e fez um carinho no local.

Quando estavam sozinhos, Emma relaxou o corpo na cadeira e observou o trio.

— Então agora os dois vão andar por aí exibindo o parentesco?

— Muito legal, né? – Henry sorriu e olhou para Júlia, que sorria de volta.

— Muito legal mesmo. – Swan capturou o celular no bolso traseiro da calça e apontou para os dois. – Cadê os sorrisos?

Regina revirou os olhos, mas ergueu o corpo da menina para esconder o próprio rosto e exibir a camiseta. Júlia apoiou os pés nas coxas da mãe para manter-se de pé e abriu seu melhor sorriso.

— Lindos! – Emma elogiou em uma voz infantil e virou a tela para que todos pudessem ver.

Durante a refeição, enquanto Regina se dividia entre comer a própria e auxiliar Júlia, Emma notou que a morena não estava usando aliança. Havia apenas a marca mais clara no formato do anel que permaneceu ali por anos. A loira precisou encher sua boca com as batatas cada vez que a vontade de questioná-la sobre isso crescia. Forçou seu cérebro para se lembrar se na noite anterior Regina estava usando. Mas, simplesmente, não conseguia. Era como se ela tivesse bloqueado a ideia de olhar para as mãos da morena uma vez que sabia o que encontraria lá.

A excitação de pensar que Regina poderia mesmo estar superando e tentando seguir em frente, deixou a loira elétrica durante o restante do almoço. Henry lhe deu algumas cotoveladas quando seu comportamento tornava-se demasiado entranho. Apesar disso, Regina parecia não perceber, concentrada em evitar a bagunça que Júlia, geralmente, fazia. Emma respirou profundamente algumas vezes, antes de tentar uma conversa que a faria se distrair da recém descoberta.

— E então, o que falta comprar?

— Presentes, nenhum. Mas a mamãe concordou em ajudar com os enfeites aqui para o Granny’s e...

— Espera! – Regina o cortou, finalmente, prestando atenção ao que era dito. – Pensei que passaríamos a noite de Natal no loft. Você disse que seria em família.

— E será. – O garoto deu de ombros. – Acontece que a sua amiga, Snow, acha que todo mundo é família.

— Ela não acha que todo mundo é família, ela só não queria deixar Granny sozinha. E Granny não queria fechar aqui porque acha que sempre tem alguém sozinho que pode vir para cá encontrar outros solitários e então... – Emma batucou a mesa tentando criar um suspense. – Não estão mais sozinhos.

— Por causa disso a vovó transferiu a ceia para cá e convidou a cidade toda. – Henry completou voltando sua atenção para o restante da bebida em seu copo.

— Isso é a cara dela. – Regina retirou uma toalhinha da bolsa e passou pelos dedos da filha, livrando-a da gordura do almoço. – Então podemos ir atrás desses enfeites? Eu tenho algumas ideias.

— É claro que tem. – Emma colocou algumas notas sobre o balcão, levantou-se e pegou Júlia no colo antes de caminhar para a saída. – Eu já sou uma expert em decorar cômodos depois dos dias que passei com você em Boston.

Regina levantou-se e jogou seu cotovelo nas costelas da loira, acompanhando-a. Henry, que vinha logo atrás, girou os olhos, exatamente como a rainha fazia tantas vezes, para a implicância de suas mães, mas, inevitavelmente, um sorriso quebrou-se em seus lábios.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim. Me deixem saber nos comentários!

Sobre a Júlia ser biologicamente da Regina... Sentem, que lá vem história. Eu tinha uma namorada e, certa vez, conversando sobre ter filhos, essa possibilidade foi levantada. Eu nunca quis engravidar, ficaria feliz em adotar ou talvez eu nem tenha filhos, mas ela queria. E ela queria gerar. Ela achava gravidez uma coisa mágica e não queria que eu, caso tivéssemos filhxs juntas, ficasse de fora, mesmo que fosse um pensamento ilógico, porque, obviamente, eu não me sentiria excluída se fosse diferente. Enfim, pode ser que achem ridículo, mas nós conversamos sobre isso, é algo possível, e acho que se nós tivéssemos continuado juntas, teria grandes chances de fazermos dessa forma. Como terminamos e isso nunca vai acontecer, transferi para a Regina. Não é um bebê mágico, como existe em muitas fics, é, apenas, uma realização que poderia ser minha.

Mudando de assunto, ó a playlist... Depois que ouvirem as músicas, comentem comigo o que acharam:

Heroes - David Bowie

Cry - James Blunt

Dreaming In Red - The Calling

Creep - Radiohead

Starman - David Bowie

Superman (It's Not Easy) - Five for Fighting

Love Me Now - John Legend

Here Without You - 3 Doors Down

Não necessariamente as músicas pertencem a esses cantores e bandas, mas são as versões que eu ouço.

Por fim, muito obrigada a todos vocês que acompanham a fic, que comentam e que favoritaram. Responderei aos cometários do capítulo anterior assim que possível.

Beijoooos ♥



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