Atos da Vida escrita por Isabella Cullen


Capítulo 3
Ato 3


Notas iniciais do capítulo

Boa noite meninas! Espero que gostem!



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ATO 3 – REENCONTROS

Eu tinha ainda ficado com o bebê uns minutos a mais antes de Lukas me expulsar e dizer que eu não poderia ficar tanto tempo porque a mãe da criança poderia voltar e sabe lá Deus o que poderia acontecer a partir disso. Eu prometi a ela que voltaria para vê-la, mandei ela aguentar firme que tudo acabaria bem e então saí me sentindo mal por deixar ela ali sozinha.

Alice estava ocupada com alguma coisa na sala de queimaduras e tudo que me restava era o silêncio da casa pequena e vazia que eu morava. Eu passei por várias pessoas que me olhavam como se eu fosse uma pobre coitada, eu precisava ir para outro hospital trabalhar, isso não funcionaria mais para mim.

E na entrada do hospital, nas cadeiras de espera para o pré atendimento estava a figura mais temida e ansiada por mim. Edward estava sentado de cabeça baixa e parei para olhá-lo sem saber o que fazer. Sua filha estava sozinha lá em cima e eu esperava que ele conseguisse fazer de tudo para salvá-la antes que fosse tarde demais.

Ele olhou diretamente na minha direção, como ímãs. Como sempre foi. Um sempre sabia do outro, não era preciso palavras. O que Tânia nunca tiraria de nós era esse magnetismo quase sobrenatural que nos envolvia. Edward não me chamou, ele nunca faria isso, até porque ele sabia que não tinha direito algum de fazer, mas eu fui até ele porque eu sabia que era isso que ele queria e eu também.

Sentei do lado dele tentando assimilar tudo. A saudade, a dor, a ansiedade e até mesmo a curiosidade.

— Me perdoa por isso... – ele disse quebrando o silêncio. – Ela sabia que você trabalhava aqui e foi... desumano para não dizer outra coisa.

Sua voz era cansada. Parecia que Edward tinha ido a uma guerra todos esses meses e que seu corpo tinha sido atingido por tudo. Ele me olhou e eu percebi suas olheiras, seu rosto mais magro e sua falta de força para enfrentar o que aquele bebê precisava.

— Você precisa subir e ver o bebê. – falei sentindo a preocupação crescer a cada minuto dentro de mim.

— Tânia e a mãe se foram, eu não... o hospital apenas me chamou porque havia pessoas aqui que conhecem meu pai.

— O Diretor conhece seu pai. – falei me ajeitando na cadeira, colocando a bolsa em meu colo e sentindo minhas mãos suarem. Edward estava ali perto de mim quebrando a fantasia que eu tinha criado que nós nunca mais nos veríamos e que meu bebê seria apenas meu. Uma lembrança linda e pequena do amor que um dia foi a melhor coisa que já me aconteceu. Ele tinha Tânia e seu filho, o meu filho só tinha a mim e eu o queria longe de Tânia. Muito longe dela.

— Ele está bem?

— Você não sabe?

E nessa hora ele me olhou com outro ar. Preocupação varreu seus olhos e estávamos de novo vivendo o momento que nosso bebê se foi.

— É uma menina. – disse tirando os pensamentos dele daquela direção, mas não revelando nada.

— Tânia disse que era um menino. – falou com desgosto. – Ela mentiu sobre muita coisa não é?

— Você quer um menino?

— A verdade é que eu não queria nada que viesse dela. Eu passei todos esses meses fugindo dela e de sua mãe, dos telefonemas e tudo relacionado a ela porque me dava nojo.

O olhei sem saber o que dizer.

— Eu tenho nojo de mim pelo que fiz. – e ele chorou. O choro silencioso de um homem que deixava as lágrimas caírem sem vergonha na frente da ex-mulher que ele tanto feriu.

— Ela precisa de você Edward. Tânia aparentemente não se cuidou na gravidez e o bebê está precisando de você.

Edward chorou mais um pouco antes de conseguir pensar no que precisava fazer. Não era mesmo a situação dos sonhos, dos nossos sonhos. Mas era a nossa realidade. Aquele bebê pequeno e indefeso agora não tinha mais ninguém.

— Por que Esme e Carlisle não estão aqui?

O silêncio de Edward falou mais que ele mesmo.

— E ver Tânia e a mãe? Mamãe quase enlouqueceu com os telefonemas dela, passou mal e meu pai precisou entrar na justiça contra elas. Ordem de restrição para as duas.

— E Emmett?

— Rose e ele estão em lua de mel. De novo.

Nós dois respiramos fundo. Lua de mel juntos, uma vez Rose falou animada. Um cruzeiro de dois meses pela Europa. Os quatro dois meses vivendo uma verdadeira festa por dois meses.

— Me perdoa por qualquer coisa. Eu sei que aqui é onde você trabalha. Vou pedir transferência....

— Não. Lukas é o melhor cirurgião do país Edward.

Edward me olhou com espanto.

— Por que um recém nascido precisa do melhor cirurgião do país?

— Ela tem um sopro no coração. É tratável sabe...poderia até mesmo já ter sido operada, mas ela não tem peso... nasceu pequena demais...

— Você a viu? – tinha uma expectativa nos seus olhos. Como se aquilo não apenas o surpreendesse , mas o agradasse.

— Ela é linda. – falei emocionada. - Tem cabelos ralos sabe... loiros...ela é tão pequena... – agora as lágrimas caiam dos meus olhos. Edward me abraçou e choramos como dois bobos na frente das pessoas, mas era tudo ao mesmo tempo. A dor, saudade, cumplicidade... era tudo. Tudo que éramos e tudo ainda sentíamos. – Você precisa ir até ela...

Então ele se afastou deixando seu calor longe de mim. Limpou suas lágrimas e levantou. Ele não estava pronto ainda, nem de longe forte para enfrentar toda a situação que o bebê precisava, mas ele iria até ela.

— Obrigado...

E antes que ele se afastasse eu levantei ajeitando a bolsa e ficando do lado dele.

— Vamos?

Minhas palavras o deixaram sem palavras. Edward sorriu apenas um pouco e fomos andando em silêncio pelo caminho mais que decorado por mim. Lukas nos encontrou no caminho e não conseguiu esconder a surpresa.

— Bom dia senhor Cullen. Sou Lukas Garner e estou cuidando da sua filha.

Edward parecia não saber como agir diante de Lukas.

— Obrigado... como ela está?

Ele me olhou e depois para Edward como se pedisse permissão. Edward disse a ele que falasse tudo sobre o estado da menina.

— Ela nasceu com peso abaixo do esperado para um bebê de oito meses completos Defeitos do septo interventricular. Chamados também de comunicação interventricular (CIV), são o tipo de malformação congênita do coração mais comum, que responde por cerca de um terço de todos os casos. A boa notícia é que em oitenta por cento dos casos o orifício se fecha sozinho, sem intervenção, ao longo dos primeiros anos da infância.

— Isso é bom não é?- ele olhava para mim e o médico com muita expectativa.

— O problema é que ela nasceu com uma deficiência de peso também. E isso está impedindo que o quadro evolua de uma forma mais adequada, cogitamos uma cirurgia, mas ela não resistiria nessas condições.

Eu olhei diretamente para Edward percebendo sua total impotência e culpa. Talvez se ele tivesse acompanhado mais a gravidez, talvez se ele não fugisse de Tânia... a culpa é algo que corrói mesmo. Eu senti isso de forma quase esmagadora quando perdi nosso bebê.

— O que eu... há algo...

— O bebê precisa de cuidados senhor Cullen e de muito carinho. É comprovado cientificamente que a presença dos pais é fundamental na recuperação desses pequenos.

— Sim... claro...

Então Lukas nos guiou para a famosa sala de preparação. Todas as nossas coisas foram colocadas dentro de armários. Edward tirou as chaves do carro, carteira e a nossa aliança. Eu gelei vendo que ela ainda estava no mesmo lugar mesmo depois de tantos meses. A minha estava devidamente guardada na caixa que Edward me deu o anel de noivado, as duas estavam juntas e dolorosamente fora dos meus dedos. Respirei fundo quando percebi que ele estava me vendo tirar a aliança. Eu o ajudei a lavar as mãos, colocar a luva e colocar as roupas. Lukas saiu em algum momento quando foi chamado para outra emergência e eu o guiei nesse primeiro processo.

A UTI neo natal é assustadora a primeira vista, todos os pais choram quando entram e percebem que seus bebês minúsculos estão entre a vida e a morte, lutando cada segundo por mais um segundo de vida. Edward não foi diferente, ele ficou parado perdido olhando ao redor como se procurasse algo para se segurar. Eu peguei na sua mão causando aquele arrepio em nós dois. Ele me olhou com os olhos vermelhos e então andamos juntos até onde o bebê estava.

— Oh Deus... – ele exclamou quando a viu. Sim, ela era linda e pequena. Frágil e delicada como uma flor. – Como Tânia pode fazer isso...

Eu também me perguntava isso. Como ela pode maltratar um bebê em seu ventre dessa forma e como ela pode abandonar a própria filha depois que soube de como seu bebê não era menino e saudável como ela queria.

— Bom dia. Meu nome é Jane e eu sou responsável pela bebê.  O senhor quer segurar a mão dela?

A mulher loira e confiante surpreendeu Edward com sua sugestão.

— Eu posso? – Le olhava para mim e eu olhei para Jane conhecendo o procedimento.

— Oh sim. Vou pegar uma cadeira.

Ele não entendeu a história da cadeira.

— Você vai sentar e ficar na altura dela. Ela vai abrir essa pequena parte. – apontei para a parte em que abríamos para mexer no bebê – E assim você vai poder mexer nela. Delicadamente, e falar com ela. Os ouvidos dela já estão formados e ouvindo tudo bem apesar de parecer pequena.

A enfermeira ajudou Edward e sorridentemente explicou a ele tudo que eu havia falado. Ele me olhou como se aquilo fosse dar a ele mais confiança. Ele tocou na filha e vi as lágrimas escorrerem pelos seus olhos mais uma vez.

— Eu não sei o que dizer a ela.... – me disse quase suplicando para que eu o ajudasse.

— Diga que a ama. Que ela é linda. – falei engolindo o choro que queria vir. – Diga a ela que ela precisa lutar porque ela é muito importante...

Então Edward repetia as palavras e dizia mais algumas dele mesmo. Os batimentos cardíacos dela alteraram e Jane se aproximou.

— O que aconteceu? – ele perguntou desesperado quando Jane mexia nos monitores.

— Acho que ela reconheceu sua voz senhor Cullen. Nossa pequena guerreira deu seu primeiro sinal de luta.


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Notas finais do capítulo

E o que vocês acharam? Esse bebê merece o melhor não é mesmo?