Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 32
O garoto enfeitiçado.




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Os dois permanecem assim por alguns segundos: ela com o corpo inclinado à frente e com o indicador e o dedo médio da mão direita tocando na testa de Nicolas e ele parado como uma estátua encarando-a. Os outros observam, atentos. Nicolas pisca os olhos no mesmo instante em que Victoria recolhe o braço e volta para a posição inicial.

—O que foi isso? - pergunta o garoto após alguns segundos.

—Dizem que se a pessoa não aprende com o amor, irá aprender com a dor. De hoje em diante será assim com você, Senhor Nicolas.

Nicolas olha para seus amigos e continua sem entender as palavras da diretora, mas ao pensar em algo não agradável para dizer a ela, tem uma estranha sensação.

—O que você fez? Sua AAAAAA...

Ele grita, sentindo um estremecimento pelo corpo e seus músculos se contraírem. Depois sente uma moleza repentina, suas pernas fraquejarem e suas vistas escurecerem. Ele perde os sentidos e vai ao chão. Os mais próximos se espantam.

—DIRETORA... O que a senhora fez? - pergunta Serena, quase chorando.

—Ele está... Morto? - diz Lucius, também assustado.

—É claro que não! - esclarece Victoria. - Ele só está inconsciente depois da descarga elétrica que recebeu.

—Descarga elétrica? - diz Bertha, depois de ter ficado um bom tempo boquiaberta assistindo a cena.

—Ele foi enfeitiçado. - conclui Alice. Seus amigos, do outro lado da mesa, têm a mesma opinião.

—Enfeitiçado? Como? - pergunta Serena, aflita, olhando para Alice.

—O Suplício do Tártaro é um feitiço dos minemosines. - explica Margot. - Um feitiço que impõem ao enfeitiçado uma punição ou castigo.

—E o que ele faz? - pergunta Lucius.

—Leia sobre ‘A Historia da Magia’ e você descobrirá. - lhe responde Margot, com displicência.

Enquanto os outros conversam sobre o ocorrido, Nicolas desperta e se levanta lentamente.

—Arr... O que aconteceu? Eu senti uma dor por todo o corpo e depois uma tremedeira que... Que passou a dor, mas... Parecia que estava tirando minhas forças... - já de pé, ele volta a encarar Victoria. - Foi você, né? Com aquele toque na minha testa. Sua AAAAAA...

Ele grita repentinamente e cai de novo. Serena não se segura e vai até ele.

—NICK! - diz a garota, mas ela para ao perceber que o amigo não perdeu os sentidos.

Nicolas se recupera logo das estranhas sensações que voltou a sentir e fica sentado no chão. Parece que dessa vez elas não foram tão fortes.

—Você se recorda do que lhe falei na Sala de Exposição, quando me perguntou sobre aqueles ‘pequenos trovões’ que saíram de meu corpo? - pergunta Victoria. Nicolas confirma se lembrar, fazendo um sinal afirmativo com a cabeça enquanto se levanta - Pois bem! O Suplício do Tártaro é um feitiço criado por um feiticeiro da mesma classe que a sua. Isso facilitou a absorção do feitiço pelo seu corpo. Os pequenos choques que você irá levar é a minha contribuição para completar o feitiço, que pode ser usado para iludir, aprisionar ou punir alguém impondo um castigo que o enfeitiçado terá que cumprir.

—Pequeno choque? Ele chegou a desmaiar. - opõe-se Lucius.

—Bem... O castigo se equivale ao delito praticado. Quanto maior o delito, maior o castigo. Agora, toda vez que você for mal-educado vai levar um choque, que é esta sensação que você sentiu e que afeta seu sistema nervoso.

Apesar da rápida explicação, parece que Nicolas e os que estão próximos entenderam o que Victoria disse.

—Quer dizer que se eu ti chamar de bruxAAAA....

Nicolas não consegue terminar a frase. A dor o faz ficar de joelhos, com as mãos no chão apoiando o corpo, meio zonzo.

—Não apenas comigo. - continua Victoria. - Você terá que se comportar com todos.

Ao ouvirem isso, Ricardo e Margot trocam olhares e sorrisos maliciosos. Nicolas se levanta, e dessa vez ele olha para Victoria furioso.

—Oras AAAAA... - antes mesmo de falar, ele cai de novo. Ouvem-se algumas risadas que logo cessam. E passados alguns segundos, ele se recupera. - E-eu não disse nada... Por quê?

—Hunf! Deve ter pensado algo bem desagradável para me dizer. Não foi? - pergunta a diretora, cruzando os braços e olhando desconfiada para o garoto, que não responde com receio de cair de novo. - Até mesmo a intenção fará o feitiço se manifestar. Acostume-se, Senhor Nicolas!

Nicolas rapidamente se levanta após ouvir essas palavras. Ele aparenta estar mais furioso que antes. Sua respiração está ofegante, seus punhos estão cerrados e seu olhar parecia querer esganar Victoria.

—Ora, sua AAAA... Tire essa mer AAAAA... Você vai ver AAAAAA...

A cada frase, ele sente o feitiço se manifestar em seu corpo. E apesar da dor que o faz cambalear pra frente e pra trás, ele continua tentando completar as frases. Chega um momento em que ele não aguenta mais e desmaia. Percebendo que o garoto não iria se levantar, Victoria dirige sua atenção para os outros que estavam sentados na mesma mesa. Eles a observam apreensivos...

Algum tempo depois, Nicolas desperta. Ele está cercado por Serena e Lucius, que o observam. O garoto retribui o olhar e nota que todos ainda estavam sujos, mesmo não sabendo quanto tempo se passou. Também percebe que está no mesmo lugar, próximo da mesa onde ocorreu toda a bagunça. Aliás, as mesas já estão limpas e arrumadas e as outras crianças estão na área livre no centro do refeitório.

—Você está bem, Nick? - pergunta Serena, vendo Lucius ajudar o amigo a se levantar.

—Só com um pouco de dor de cabeça. O que houve?

—Você desmaiou e só acordou agora, no fim do almoço.

—Fim do almoço? - Nicolas percebe que não havia mais comida nas mesas. - E a sobremesa?

—Hunf! Francamente! A gente preocupada com sua saúde e você pensando na sobremesa... - resmunga Serena.

—Todos ficaram sem sobremesa, Nick! Digo... Todos os envolvidos na confusão. E continuamos sujos de comida. Essa foi a nossa punição. - diz Lucius, dando um leve sorriso.

—Quer dizer que Ricardo e os outros... - agora Nicolas compreende o sorriso do amigo e o retribui. - Finalmente aquela ve...

Nicolas não consegue terminar a frase e sente os efeitos do feitiço sobre seu corpo. Ele só não vai ao chão porque Serena e Lucius rapidamente seguram seus braços a tempo. Serena demonstra preocupação.

—É bom você ter cuidado com as palavras, Nick.

Os três seguem até onde estão as outras crianças. Elas formavam um retângulo imperfeito no centro do refeitório. Bertha vê eles se aproximarem e os chamam. Nicolas já consegue caminhar sem a ajuda de Serena e Lucius e vai até a garota. Eles abrem caminho e se posicionam junto com os outros. A diretora está no centro, ao lado de Charles, que segura uma prancheta com papéis na mão direita e uma estranha haste de cristal na mão esquerda.

—A diretora vai formar os grupos. - diz Bertha.

—Grupos? - dizem Nicolas e seus amigos.

—É! - confirma a garota. - A diretora explicou que vamos formar grupos que irão dividir os aposentos, estudar junto, combater junto... Enfim! Passar todo o ano letivo junto... Até a formatura.

Nicolas e os outros trocam olhares. Curiosos, eles voltam a prestar atenção nas explicações da diretora. Enquanto ela fala, ele vê Ricardo e seus companheiros, ainda sujos, do outro lado do refeitório. O garoto devolve o olhar e chama a atenção de seus amigos apontando o indicador para Nicolas. Eles fazem uma expressão de ira e Nicolas corresponde com um leve sorriso.

—... Sabemos que a quantidade de alunos matriculados esse ano não é a que esperávamos. Por isso, fizemos os cálculos e decidimos que... - a diretora faz uma pausa e olha para o que Charles escreveu na prancheta antes de continuar. - Serão formados doze grupos com sete participantes. Lembro que o grupo, uma vez formado, não poderá ser desfeito. A não ser por algum fato excepcional...

—O que ela quis dizer com ‘excepcional’? - pergunta Nicolas.

—Alguém do grupo morrer, por exemplo. - responde Bertha, o que deixa Nicolas, Serena e Lucius assustados.

—Sete em cada grupo? É pouco, não? - diz Sidney.

—Menos gente para atrapalhar. - conclui Paula.

—Doze equipes! Achei que teríamos que derrotar mais gente. - diz Margot.

—É! Seria bom se tivessem mais aprendizes pra treinarmos magia neles. Esses coitados não vão dar nem pra começar. - comenta Ricardo.

—Não se esqueçam da equipe de intercâmbio. - lembra Munique.

—Uma vez formado o grupo, vocês compartilharão todas as experiências pelas quais irão passar no Castelo de Merlin. Portanto, pensem bem em quem irá fazer parte de seu grupo. - continua a diretora. - Ninguém ficará sem grupo. Vocês têm cinco minutos a partir de... Agora!

Começa uma correria, gente indo de um lado para o outro. Algumas crianças correm em duplas. Outras ficam paradas, apenas esperando o pedido daqueles que estão sem grupo. Muitas se aproximam de Ricardo e seus amigos, e para a maioria delas ele responde com um sinal negativo com a cabeça. Victoria e Charles apenas observam a movimentação. Nicolas olha para Serena e Lucius.

—E então, temos um grupo?

—Nós JÁ somos um grupo. - responde Serena com um sorriso.

—Mas falta mais gente. - repara Lucius.

Nicolas olha para Bertha e faz um aceno com a mão, chamando-a. A garota olha para os lados e depois decide ir para o grupo de Nicolas, respondendo o chamado com um sorriso. Porém, com o passar do tempo, ninguém mais demonstra a intenção de entrar para esse grupo. Os quatro ficam observando os outros. Vários grupos já estão formados e a barulheira e correria diminuem. Carl faz outra tentativa de entra em um grupo, mas novamente não é aceito. Olhando ao redor ele vê Nicolas e os outros três que o acompanham. Rapidamente ele desvia o olhar e decide tentar entrar em outro grupo. John Kane, que também está sem grupo, vai até Ricardo.

—Hum... Ainda há vagas nesse grupo? - pergunta o garoto, olhando distraidamente ao redor.

—Para você? Não! - responde Ricardo, de maneira ríspida. John o encara.

—Essa é a sua opinião ou também a dos outros?

—Não há lugar para gente que só porque sabe um feitiço já se acha superior aos mais temidos feiticeiros. - diz David.

—É! - confirma Alice.

John olha para aquelas caras fechadas e depois novamente para Ricardo.

—Estão certos disso? Olha que sou bom naquilo que faço, como foi visto no teste de aptidão.

—Preferimos correr esse risco. - diz Margot, também com expressão de poucos amigos, apesar da cara suja e o cabelo duro pelos restos de comida que secaram.

John dá uma última olhada para eles enquanto sai calmamente. Em outro canto do refeitório, Anna discute com Paula sobre sua possível entrada no grupo.

—...Mas eu sou uma ótima animália!

—Eu também, querida! - diz Paula. - Se você é tão boa quanto diz, por que não monta seu próprio grupo?

—Já temos uma animália e um licantrope no grupo, precisamos de pessoas com outras especialidades. - justifica Renan.         

—Sinto muito! - diz Sidney, com um semblante triste.

A menina olha para eles antes de se despedir.

—Digo o mesmo! - diz Anna, virando as costas para eles.

Sidney a observa se distanciar e em seguida vira-se para Paula, questionando sua decisão.

—Espero que esta tenha sido uma sábia decisão, Paula. Por que não a quis no grupo?

—Ela é uma exibida! Além disso, é filha de militar. Com certeza iria querer mandar no grupo, nos dar ordens... Nada que fizéssemos seria bom o suficiente pra ela. - se justifica a garota.

—Será? - pergunta Allison. - Ou talvez por ela ser uma animália melhor que você!

Paula lança um olhar fulminante no amigo que logo se desculpa das palavras que disse. A diretora caminha alguns passos à frente e ergue os braços.

—Tempo esgotado, crianças! Aqueles que estão sem grupo juntem-se e formem um. Eu e Charles vamos passar por cada grupo e fazer as anotações necessárias.

Com um movimento rápido com a mão, Victoria faz aparecer os mesmos objetos que Charles segurava: uma prancheta com papel e uma estranha haste de cristal em sua mão. Eles caminham para lados opostos e começam a fazer anotações. Nicolas olha ao redor e nota que os grupos estão formados, mas o seu ainda está incompleto.

—Nick, olha! - diz Lucius, chamando a atenção de Nicolas e dos outros.

Eles veem Anna, John e Carl, que coincidentemente também os observam. Os três trocam algumas palavras e depois de algum tempo caminham em direção a Nicolas e seus amigos. Anna está à frente e conduz os garotos.

—Ora, se não são ‘Os melhores’ do teste de magia! - diz Nicolas - Não entendo como vocês ficaram sem grupo.

—Nem nós. - diz Anna. - Pelo visto, agora somos um grupo. O grupo dos ‘melhores’ juntos com: um fraco, uma forte, uma Fitcher e... O garoto enfeitiçado.


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