Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 31
Bando.




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As crianças se espalham e se acomodam nos assentos. Algumas sentam em grupo, ocupando todos os assentos de uma mesa. Outras sentam em duplas ou sozinhas, não ocupando todos os lugares. As que estão à frente escolhem as melhores mesas, mais ao fundo, e outras se espalham aleatoriamente. Nicolas observa Ricardo e seus amigos se acomodarem em uma das mesas na lateral do refeitório e decide ir para a mesma mesa. Serena e Lucius o acompanham e Bertha também decide ir com eles. Percebendo a direção que seguem, Serena questiona a intenção de Nicolas de sentar-se na mesma mesa que Ricardo.

—Nick! O que você está tramando?

—Nada, Cabelo de Fogo! - responde o garoto, que continua caminhando em direção à mesa. - É que eu não quero perder a oportunidade de sentar na mesma mesa que a ‘nobreza’.

—E não perder a chance de provocar o Ricardo sendo que ele não vai poder fazer nada com a diretora por perto. - diz Lucius.

Nicolas esboça um sorriso enquanto Serena faz uma expressão de preocupação. As mesas são grandes e com oito assentos de cada lado. Estão cobertas com uma toalha de cor bege. Pratos, talheres e copos já estão dispostos sobre as mesas. Ricardo escolhe se sentar ao centro. Do seu lado direito estão Margot, Michelle e David, e do lado esquerdo sentam-se Alice e Munique. Duas garotas, Shirley e Martha, esbanjam alegria por estarem na mesma mesa que Ricardo, mesmo sentando nas últimas cadeiras vagas, ao lado de Munique, que parece nem notar que elas estavam ali. Quando Ricardo se ajeita na cadeira e olha para frente, vê Nicolas se sentar. Ele nem repara em Serena e Lucius, que se sentam um de cada lado de Nicolas. Bertha se senta ao lado de Lucius. Os outros assentos daquele lado da mesa ficam desocupados.

—O que pensa que está fazendo, Pivete? Aqui não é lugar para você e seu bando.

—Bando? - diz Bertha, com um olhar de reprovação para o garoto.

 Nicolas olha com deboche para Ricardo, enquanto coloca um guardanapo pendurado no pescoço e se acomoda na cadeira.

—Aqui é o refeitório, Pó de arroz, e todo o lugar é lugar para se fazer uma boa refeição.

—Eu quero almoçar bem e não ter uma indigestão toda vez que olhar pra você enquanto como, Pivete.

—Então olhe pra comida e não pra mim, Pó de arroz.

—Mas que atrevimento! - interfere Michelle. - Parece que ele não aprendeu a lição, Ricardo.

Notando que o rumo da conversa estava esquentando, as duas garotas, antes tão alegres, decidem sair da mesa discretamente. Ricardo e Nicolas continuam trocando ofensas.

—Por acaso sabe qual talher usar, Pivete?

—Sim, o que pegar mais comida.

—Então você vai comer com as mãos. - se intromete Michelle novamente. - Deve ser a maneira com que está mais acostumado a comer. Não é?

—E por acaso você pega os talheres com o pé? - rebate Serena, o que deixa Michelle irritada.

—Hunf! Vamos ver até aonde vai a coragem de vocês quando começarem os combates. Terei prazer em afogá-los em seus medos e lavar essa petulância de suas caras.

Em outra mesa mais ao centro, Sidney observa atentamente o que ocorre na mesa onde está Serena. Ele se preocupa com a garota, pois as desavenças de Nicolas e Ricardo podem acabar atingindo-a de alguma maneira. Allison percebe a aflição do amigo.

—O que foi Sid? Gostaria de ter sentado naquela mesa?

—Aquele garoto, Nicolas, sentou bem na frente do Ricardo. Isso vai acabar mal. - responde Sidney, receoso.

—Aquele garoto é um idiota! - diz Paula, ao lado de Allison e de frente para Sidney. - Não sei por que o Ricardo ainda não deu uma lição nele. Mas acho que você está preocupado com a Fitcher, não é?

—Eu? Não. É que... Aquele garoto tá sempre arrumando encrenca, vai acabar sobrando pra ela e pra quem tiver perto dele.

—E o que isso tem a ver com a gente? - pergunta Renan, ao lado de Sidney.

—Nada! Vamos ter que formar grupos, não é? Então eu pensei...

—Você quer que ela faça parte do nosso grupo? Eu sou contra. - se manifesta Allison.

—Eu também! - diz Paula. - A garota é totalmente inexperiente e se ela vier, vai querer trazer os amiguinhos junto.

 Sidney olha para Renan, esperando uma resposta a seu favor. Mas a cara de insatisfação do amigo já dizia tudo. Então ele evita olhar diretamente para eles, desviando os olhos para as outras mesas, disfarçando sua frustração.

Ao perceber que todos já se acomodaram, Victoria explica que cada professor é responsável pela comida de acordo com uma escala criada por eles. Hoje ela será a encarregada pela alimentação, mas chegará um momento em que cada um dos aprendizes terá que se alimentar por conta própria.

—Fazer a própria comida? Vamos ter que cozinhar? - pergunta Nicolas.

—Ela está se referindo ao Viramundo, idiota! - responde Margot, com um olhar sério. - Do que está reclamando? Você já deve estar acostumado a trabalhos domésticos como cozinhar, lavar, limpar... E servir os outros. Não era assim no chiqueiro de onde você saiu?

—Ei garota! Essa é a educação que sua mãe ti ensinou? - questiona Bertha. Margot a olha discretamente e volta a falar com Nicolas.

—Se ele tivesse um mínimo de educação saberia o seu lugar. O mesmo lugar para onde todos vocês deveriam ir.

Inerte ao que acontecia nas mesas, Victoria se prepara para finalizar suas últimas recomendações antes do almoço.

—... E provem os mais deliciosos pratos e memorizem os sabores para que possam recriá-los com sua própria magia. - termina a diretora, que depois ergue os braços e faz um rápido movimento circular com as mãos. - Bom apetite a todos!

De repente o centro de cada mesa é coberto por diversos pratos com comidas variadas. Havia carnes, aves, cereais, sopas, frutas, massas e saladas, além de jarras com diferentes tipos de sucos. Não demora muito e o aroma delicioso se espalha e logo as crianças começam a se servir. Nicolas está pasmo. Não pela aparição repentina da comida, mas pelo cheiro que invade suas narinas deixando-o com água na boca. Imediatamente ele ataca a coxa de uma enorme ave assada - as aves que ele provou quando estava no vilarejo não eram grandes como aquela - cravando os dentes naquela carne macia e suculenta que o faz fechar os olhos por alguns segundos.

—Nossa... Que delícia! - ele faz uma pausa tentando engolir o pedaço, mas acaba falando com a boca cheia mesmo. - Magia ou não isso aqui tá bom demais!

Os outros do lado oposto olham entre si e comentam, reprovando o gesto do garoto, com caras de quem já esperava por isso. Serena e Lucius dão uma leve risada e Bertha não diz nada, pois também já estava com a boca cheia. Achando que aquela coxa não será o suficiente para matar sua fome, Nicolas pega seu prato e começa a rodear a mesa, passando perto dos que estão sentados e colocando um pouco de cada tipo de comida em seu prato.

—Hum... Arroz, arroz é bom! Carne! Esse caldo aqui, hum... que delícia! Farofa, batata, salada... Não, salada não! E esse negócio amarelo? Tem cheiro bom, vai também...

Não dando a mínima para as reclamações dos outros, ele termina seu passeio gastronômico e volta a sentar-se. Apanha o garfo na mão esquerda e a coxa assada na direita e dá início em desfazer a montanha de comida à sua frente.

Após alguns minutos, ouve-se apenas o barulho dos talheres e da comida sendo devorada. Victoria é a primeira a terminar sua refeição, mesmo tendo sido a última a si servir. Ela aproveita o tempo que resta do almoço e fica dando pequenas caminhadas pelo refeitório, cumprimentando algumas crianças, conversando com outras, pedindo a opinião sobre o almoço... Na mesa onde está Ricardo era nítida a expressão de descontentamento no rosto de cada membro de seu grupo. Do outro lado, porém, Serena e Lucius já estão satisfeitos enquanto Nicolas e Bertha ainda comem. Após terminar seu almoço, Margot encara Nicolas e desabafa.

—Francamente! Espero que seja a primeira e última vez que sentamos juntos em uma mesa, garoto! A comida vai mais pra fora do que pra dentro da sua boca. Parece um morto de fome. Nunca vi tanta grosseria e falta de educação em uma pessoa só.

—Como poderia ter alguma educação alguém que foi criado em um prostíbulo. - diz Ricardo, enquanto limpa a boca com um guardanapo.

De repente Nicolas deixa seu garfo cair sobre o prato e olha, com ira, para Ricardo.

—O que é que você falou? Seu Pó de arroz miserável! Fique sabendo que eu não fui criado junto com cavalos. Viu?

Nicolas volta a pegar o garfo e leva comida a sua boca, ainda com cara de bravo e sem tirar os olhos de Ricardo. Do outro lado da mesa o garoto se espanta, mas depois começa a sorrir. Os que estão ao seu lado ajudam a aumentar o som das risadas. Nicolas e seu grupo ficam sem entender o que se passa. Ricardo explica para eles.

—Ah! Ah! Ah! Essa cara de desentendido lhe cai muito bem, Pivete. Ah! Ah! Ah! Você nos disse que mora em uma taverna. Tavernas são lugares de prostituição. Sua ignorância o fez confundir prostíbulo com estábulo. Ah! Ah! Ah! Como pode existir alguém tão ignorante assim. Eu diria... Alguém tão burro. Ah! Ah! Ah! Entenderam? Burro, estábulo... Ah! Ah! Ah!

A explicação de Ricardo só faz aumentar as risadas de seus amigos. Enquanto as pessoas de um lado da mesa se divertem, as do outro lado estão sérias. O barulho chama a atenção das crianças das mesas mais próximas e de Victoria, que decide averiguar o que se passa. Ricardo ri olhando para seus amigos e apontando o dedo para Nicolas. De repente um prato com comida voa e acerta o rosto do garoto, que imediatamente cessa as risadas, cuspindo a comida que caíra em sua boca. Margot também é atingida, apesar de que a maior parte da comida caiu em Ricardo. Ele olha para frente e vê Nicolas, o autor do ataque.

—Cuidado com o que diz, seu Pó de arroz, pois fique sabendo que este burro sabe dar coice em gente como você! - brada Nicolas, em seguida mordendo ferozmente a coxa assada em sua mão esquerda.

—SEU... MOLEQUE! - grita Ricardo, levantando de sua cadeira e apanhando uma bandeja com salada e arremessando-a contra Nicolas.

Nicolas tenta se proteger atrás de Lucius. Porém, a bandeja, por ser mais pesada que um prato, faz Ricardo errar a direção. As folhas acabam atingindo Bertha, após resvalarem em Lucius.

—Oras, seu... - Bertha não chega a terminar a frase. Lucius pega um guardanapo e tenta ajudar tirando as folhas e legumes de cima da garota.

—Além de esnobe é ruim de mira! - diz Nicolas.

—Seu... É tudo culpa sua, seu pivete insuportável. - tenta se justificar Ricardo. - Foi você que começou tudo. Não deveria ter sentado nessa mesa e...

Ricardo para de falar ao ver Bertha apanhar uma sopeira com um olhar furioso para ele. A garota arremessa o caldo do recipiente contra o garoto, que só tem tempo de se abaixar. O líquido atinge o lado esquerdo do rosto de Margot. A força empregada por Bertha foi tanta que a garota chega a inclinar o corpo para o lado, e o caldo também atinge Michelle e respinga em David. Margot fica boquiaberta. Não sabe se grita, se xinga alguém ou se chora. Ela curva a cabeça para a esquerda para que o líquido que entrou em seu ouvido saia. Serena esboça um sorriso, mas logo é atingida por um prato de comida arremessado por Michelle.

—Tá rindo, é? Come mais um pouco, Fitcher! Estou ti achando muito magra.

—Eu também estou ti achando muito pálida. Que tal um pouco de proteína. - responde Serena, jogando os restos de um pernil em Michelle.

David tenta proteger a amiga e acaba sendo atingido. Ele joga um prato com farofa em Serena. Lucius vê a cena e, revoltado, arremessa um frango assado no garoto. Finalmente Margot sai de seu estado catatônico e pega o primeiro prato com comida que vê à frente e joga em Nicolas. E assim eles ficam atirando comida uns contra os outros. Munique se esconde debaixo da mesa. As outras crianças demonstram sensações diversas diante da cena. Umas acham graça enquanto outras se espantam. Aos gritos de “Parem com isso”, Victoria caminha apressadamente em direção aos baderneiros. Ela se aproxima por trás de Ricardo e estende a mão para tocar em seu ombro. Mas o garoto se abaixa no exato momento para não ser atingido por outro prato. A última coisa que Victoria vê é a expressão de Nicolas após arremessar uma tigela com algum tipo de comida pastosa em sua direção.

De repente todos param o que estavam fazendo. O silêncio só é quebrado quando a tigela com comida escorrega pelo vestido de Victoria e atinge o chão. Todos estão espantados e receosos, olhando para a diretora. Porém os que estão na mesa da bagunça conseguem ver melhor a comida deslizando pelo rosto de Victoria e sua expressão de descontentamento. Ela olha para cada um dos envolvidos.

—MAS O QUE É QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? ACHAM QUE AQUI É A CASA DE VOCÊS? Pensei que seus pais tivessem me enviado gente qualificada e não UM BANDO DE DESORDEIROS. Que vergonha! Todos serão advertidos. Incluindo você, Srta. Lane!

Munique faz uma expressão de choro ao ouvir a diretora, enquanto saia debaixo da mesa.

—Mas Diretora, a culpa é do Nicolas. - se justifica Ricardo. - Ele...

—CALE-SE! - ordena Victoria.

Não só Ricardo, mas todos que estão no refeitório se silenciam. Victoria encara Nicolas, que já espera uma reação mais forte da diretora para si.

—Ai, ai... Lá vem a velha bruxa! - solta Nicolas, desconfiado de que Victoria novamente dará ouvidos as palavras de Ricardo.

Victoria segura as laterais de seu vestido e enquanto caminha dando a volta na mesa até Nicolas, ouve as explicações do garoto.

—Olha! Você não deve acreditar em tudo que esse Pó de arroz fala. A coisa não foi bem assim. Na verdade, ele é que começou tudo! Me tratando mal desde que cheguei, sendo esnobe com os outros...

—Chega! - diz Victoria, frente a frente com Nicolas.

O garoto se cala e por um breve momento eles ficam se encarando. De repente Victoria aponta dois dedos de sua mão direita para a testa de Nicolas, tocando-a suavemente, no mesmo instante em que diz o feitiço.

Suplício do Tártaro!


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