Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 30
Fantasmas.


Notas iniciais do capítulo

Como não postei semana passada, estou postando esse cap. hoje, já que na sexta é feriado. Continuo muito atarefado (família, escola...), mas assim que der postarei um novo capítulo. :)



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       Finalmente eles chegam ao corredor do quarto andar. E ao deixarem a torre, um som os alerta de que Ricardo e seus amigos estavam logo atrás deles, subindo as escadas. O corredor que leva para o refeitório, diferente do anterior, é bem iluminado. Provavelmente por ser o local aonde os aprendizes irão com frequência. Nicolas e os outros seguem e passam por uma entrada à direita guiados pelo barulho das crianças. Na entrada eles veem dois cômodos, um de cada lado e com as portas fechadas. Nicolas suspeita de que sejam a cozinha e a dispensa. Em seguida há uma pequena área, com alguns espelhos nas paredes laterais, lavatórios e toalhas penduradas. Logo à frente, três aberturas separadas por pilares dão passagem ao refeitório, onde as crianças estão enfileiradas e de costas para eles. Lucius acha que devem ser mais orientações da diretora e Nicolas concorda com ele. Antes de prosseguir, Nicolas vê seus amigos lavando as mãos. Serena faz uma expressão séria para ele e aponta com a cabeça para o lavabo, praticamente intimando Nicolas a fazer o que eles estão fazendo. Sem escolha, o garoto faz uma cara feia, mas obedece à amiga. Victoria continua a falar com as crianças, mas tem sua atenção voltada para o fundo da sala assim que vê Nicolas e os outros se aproximando. Ela começa a formular uma maneira de repreendê-los por chegarem atrasados, mas desiste ao ver Ricardo e sua turma chegando segundos depois, também atrasados.

—Er... Bom! Eu espero que estejam todos aqui. Não esqueçam que os horários devem ser rigorosamente cumpridos, portanto, tomem cuidado com atrasos. Antes de se sentarem, quero mostrar mais uma coisa para vocês...

—Nossa! O que essa mulher tá inventando agora? - reclama Nicolas, chamando a atenção. - A gente vai almoçar ou jantar? Eu hein, que demora!

—Olha só quem apareceu. - diz Anna, virando-se para Nicolas e reparando em Ricardo e os outros que também acabaram de chegar, mas iam para o lado oposto ao dela. - Espero que pelo menos tenha lavado as mãos. E, por favor, não sente do meu lado.

          Nicolas responde mostrando a língua para a garota e cruzando os braços à frente do corpo. E como os outros, volta sua atenção para a diretora.

—... E as mesas ao lado são usadas para lanches, onde cada um terá que se servir e depois ir para as mesas centrais. Quando o tempo está bom, colocamos algumas mesas na varanda. Os horários para as refeições e o cardápio do dia são afixados na parede do corredor, logo na entrada. Este é o local para as refeições e tudo que vocês pegarem aqui deverá ser consumido aqui. Não é permitido sair com alimento nem consumir qualquer tipo de comida nos corredores do castelo. Ouviram?

—Hunf! Até parece que ela vai vigiar cada corredor desse castelo atrás de alguém que esteja comendo escondido. - diz Nicolas.

—Não se esqueça das pinturas nas paredes que também podem denunciar o esfomeado, além de outras coisas que ela queira saber. - alerta Lucius.

—Onde está o Professor Mark? - pergunta Bertha.

—Ele foi ajudar a Professora Hilda. - lhe responde um garoto que ao perceber quem era faz uma cara de desaprovação e volta sua atenção para a diretora.

        Bertha também não lhe dá importância. Todos observam a diretora, que caminha para o lado, chamando a atenção das crianças para o centro da sala.

—Sei que vocês podem estar imaginando que não há como eu saber de tudo que ocorre neste castelo. Bem, para isso tenho uma equipe que me ajuda nessa tarefa e em outros afazeres. Eu lhes apresento os nossos colegas de trabalho. - Victoria aponta para o centro, mas as crianças não veem nada. - Ora, vamos pessoal! Usem a magia senão as crianças não irão vê-los.

       Curiosas, as crianças notam que o vazio que existe no centro começa a ser ocupado por uma espécie de neblina, inicialmente branca, mas que aos poucos vai escurecendo à medida que se espalha. E mais que isso, ela começa a tomar forma. Nove formas humanas aparecem perto da diretora. Estão uma ao lado da outra e apresentam características distintas. São mulheres e homens usando uniformes parecidos. Se não fosse por uma fina camada esbranquiçada cobrindo-os, poderiam se passar por criados comuns, se ainda estivessem vivos.

—F-Fa-Fan, Fan, Fan... - inexplicavelmente Nicolas começa a gaguejar.

—Aí está sua resposta, Nicolas! - diz Lucius - Você queria saber quem ela tinha para nos vigiar, pois ela tem fantasmas.

—Fa-Fan, Fan, Fan... - continua Nicolas, sem tirar os olhos dos novos visitantes.

—Hunf! Agora quero ver quem é que vai ficar me chamando de serviçal. - resmunga Bertha, cruzando os braços.

—Fan, Fan, Fan...

—É cada uma que aparece. Não é, Nick? Nick? - pergunta Serena, que ao ver o garoto gaguejando lhe dá um soco no antebraço.

—Fantasmas... Ai! - finalmente diz Nicolas. - Por que você me bateu?

—Pra ver se essa carroça saía logo do atoleiro. Tá espantado com o quê? Eu não falei que a gente vai conhecer coisas novas, magia, criaturas... Então? Se acostume com isso, meu querido.

—Mas logo na hora do almoço?

—Há! - reclama Serena, deixando Nicolas e voltando a prestar atenção nos outros.

—Pessoal! Vocês ainda estão muito pálidos, podem usar mais a magia que lhes dei senão vão assustar as crianças. Pelo menos até elas se acostumarem com suas presenças. - pede Victoria aos fantasmas.

          Eles trocam olhares entre si e obedecem ao pedido da diretora. A aparência muda e a imagem deles fica mais nítida. Pode-se agora notar as feições mais humanas e as diferenças entre cada um, mesmo com uma espécie de aura esbranquiçada ao redor deles. A primeira na ponta, próxima a Victoria, ergue o braço direito.

—Yo, yo quiero ser la primera. Con permisso!

—O que ela disse? - pergunta Paula. Mas muitos como ela também não entenderam.

        Victoria percebe a movimentação das crianças e antes que as perguntas comecem decide agir.

—Um momento, Sara! Antes tenho que ensinar algo para as crianças. Atenção todos! É um feitiço simples, mas muito útil. Com ele vocês irão entender tudo que outra pessoa ou criatura mística, que não fale o seu idioma, disser. Crianças! Quero que vocês repitam o que irei fazer: as duas mãos à frente, feche o punho direito, a mão esquerda sobre o punho direito, concentrem-se e digam o feitiço. Entenderam? - depois de um breve momento a diretora continua. - Então vamos lá! Mãos à frente, feche o punho direito; este é o mundo. A mão esquerda sobre o punho direito; abrace o mundo. Concentrem-se e digam o feitiço: Parla mondo!

          Muitas crianças repetem o gesto da diretora e dizem o feitiço logo após ela. Porém, Nicolas está em dúvida.

—Pra quê fazer isso?

—Não ouviu a diretora? É para a gente entender o que eles irão dizer. - diz Bertha. - Devem ser fantasma que vieram de outros lugares e não falam nossa língua. O feitiço irá ajudar a entendê-los e eles a nós, já que passaremos um bom tempo juntos.

—Mas eu entendi o que aquela fantasma-mulher falou. - contesta Nicolas - Ela só quer ser a primeira a se apresentar.

—Sorte a sua! - diz Serena - Deixa de ser bobo e faça o feitiço. Estamos aqui pra aprender e praticar, não é?

—Não vai implicar por causa de um feitiço tão simples, não é Nick? - diz Lucius, reforçando o pedido de Serena.

          Mesmo sem aceitar a utilidade o feitiço, Nicolas o realiza junto com seus amigos. Logo as crianças voltam a observar a fantasma que havia erguido o braço antes e agora dá um passo à frente e começa a falar.

—Oi crianças! Estou muito feliz de estar aqui, junto com tantos rostinhos lindiiiiinhossss! Ai, Dios mio! Que vontade de apertar cada um, hi! - diz a mulher que aparenta ter (ou tinha) um rosto jovem, cabelo castanho escuro e volumoso que cobre sua nuca, usando um vestido negro com mangas cumpridas e gola larga mostrando seu colo. Também há detalhes em branco ao redor da gola e na ponta das mangas do vestido. - Hum... Bem! Eu me chamo Sara Garcia. Não vou dizer minha idade por que... Bem, eu já morri, né! Ah! Ah! Ah! Hum-hum... Estou aqui para abrir a cabeça de vocês. Não com um machado, é lógico, Ah! Mas com o conhecimento. Portanto, se quiserem saber sobre várias coisas e rever essa figura linda e maravilhosa que vos fala, vão até a Biblioteca e a Sala dos Pergaminhos para passarmos várias horas do dia juntos, hi!

—É uma exibida mesmo! - se manifesta uma mulher ao centro do grupo de fantasmas. Sua colega ao lado solta uma risada.

          Sara volta a sua posição inicial e a pessoa ao seu lado dá um passo a frente.

—Olá, meninos e meninas! Meu nome é Teodoro Martin e... Eu e meu irmão Will cuidamos das dependências do castelo e... E fazemos muitas outras coisas, né Will? - diz um homem de aparência jovial, cabelo castanho curto e trajando sapatos, calça cinza, casaco preto semelhante a um fraque, camisa branca e um lenço preto como gravata. - Ah, aquele é meu irmão Will.

—Não precisa disso, idiota, deixa que eu me apresento. - diz um homem que pela ordem será o próximo a se apresentar. Ele usa uma roupa parecida com a de seu irmão.

—Quem você está chamando de idiota. Idiota é você! - responde Teodoro.

—Você que é um idiota. - reafirma Will.

— É você.

—Você e me respeita, sou seu irmão mais velho! Ou acha que por estar perto de Victoria não vai levar uns tapas.

—Ah, é? E quem vai me bater, você? Depois que morreu virou homem? Vem, vem pra você ver...

—Vou mesmo!

—Vem!

—Rapazes! As crianças... - interfere Victoria, chamando a atenção dos fantasmas.

          Teodoro volta para seu lugar, sem antes dar leves tapas em seu irmão, que também revida e resmunga palavras incompreensíveis enquanto caminha para frente. Mais distantes, o irmão mais velho ajeita sua roupa e se prepara para falar.

—Hum-Hum... Meu nome é William Martin e sou irmão daquela criatura ali. - diz o homem também com aparência jovem, cabelos curtos e mais alto que seu irmão. - Fazemos várias atividades para Victoria, portanto, vocês sempre irão nos ver pelos corredores e aposentos do castelo. É claro, mais a mim do que o preguiçoso do meu irmão. E não se acanhem! Se precisarem de alguma coisa é só falar.

—Me chamo Charles White e trabalho junto com Teodoro e William. - diz o próximo da fila a se apresentar assim que o anterior retorna a sua posição inicial. É um senhor de estatura mediana, calvo e com costeletas, que veste roupas semelhantes a dos rapazes, mas por apresentar uma barriga volumosa, não lhe caía tão bem. - Servi a vários senhores e membros da realeza, mas com crianças é meio complicado... Bem! É só vocês fazerem a coisa certa que eu também farei, não é?

—Que conversa é essa, homem? - se manifesta novamente a mulher no meio do grupo.

—Se fosse pra falar besteira devia ter ficado calado, Oxe! - diz um homem magro no canto, o penúltimo da fila.

          Acanhado, Charles volta para seu lugar no mesmo instante em que a mulher ao centro do grupo vai à frente.

—Hum... Boa tarde! Sou a Senhora Agatha Parker e cuido, junto com minha colega Joana, da limpeza dos aposentos do castelo. - começa a falar uma mulher que aparenta ter mais de quarenta anos, cabelo preto, curto e encaracolado, usando um vestido preto de mangas compridas, gola rente ao pescoço com detalhes em renda na cor branca, avental branco amarrado na cintura e um pano branco semelhante a um véu em sua cabeça que cobre a parte detrás indo até seus ombros, destacando sua face clara e seus olhos negros. - Nós cuidamos da faxina, portanto, não lavamos roupas nem penteamos cabelos e nem procuramos mascotes perdidos... Nada de serviço extra! E para aqueles que deixam doces debaixo das carteiras fiquem sabendo que vou fazer o responsável engolir cada pedacinho. Comigo não tem papai e mamãe! O buraco é mais embaixo e...

—Calma Agatha! He! He! - interrompe a próxima a se apresentar, caminhando até a colega, tocando no ombro e conduzindo-a de volta para a fila. Aparenta ser mais jovem que sua amiga, tem um cabelo castanho liso, curto com ondulações. É magra e seu traje é semelhante ao de Agatha. - Está tudo bem, gente, ah! Perdoem minha amiga! É que o trabalho é meio estressante... Mesmo que ele nem tenha começado ainda, né? Pois é! Ah, meu nome é Joana Mabelle e, vamos nos ver por aí... Não é mesmo? Principalmente se meninos ficarem brigando nos corredores e meninas não terem algo mais importante pra fazer do que intimidar outras. Não é mesmo?

          Enquanto as crianças trocam olhares, Nicolas, Bertha e Ricardo se assustam, pois sabem muito bem sobre o que Joana estava falando.

—Hunf! Essa é uma fofoqueira mesmo, só faltou dizer os nomes. - conclui Nicolas.

       Joana volta ao seu lugar. Todos ficam aguardando o próximo fantasma a se apresentar. De estatura baixa, aparenta ser um senhor de idade avançada. Tem longos cabelos pretos que estão presos e usa uma faixa na cabeça com uma pena presa na parte de trás. Suas roupas são iguais as dos outros que se apresentaram, mas sem o lenço preto e sua camisa branca está com os primeiros botões desabotoados. E ele está descalço. Diante da inércia do fantasma, Joana cutuca o ombro do sujeito para ele compreender que as apresentações continuam. O homem olha para ela e depois dá um passo à frente.

—Mim Aritana! - diz o homem, voltando para seu lugar.

       Em meio ao silêncio de todos, Joana novamente fala com ele, questionando sua apresentação.

—Que é isso, Monsieur! Fale mais alguma coisa, como... Onde vai trabalhar, o que vai fazer... Faça uma apresentação decente!

          O homem olha para ela sem expressar nenhuma reação. Depois volta a dar um passo à frente.

—Sala de aula. - diz o fantasma, regressando ao seu lugar.

          Parece que não adiantou muito a insistência de Joana. Nicolas aprovou a apresentação do fantasma e acha que se os outros se apresentassem assim já teriam almoçado. O próximo aparenta ter sido um homem alto e magro, de cabelo loiro, curto e despenteado, usando calça azul, camisa branca de manga comprida, um paletó bege surrado e com um lenço no pescoço. Botas marrons e um chapéu de palha completam seu traje.

—Sujeitim de poucas palavras, o Ari. Né não, Gente! Agora é nós, queiroz, He He! Tarrrde, criançada! Eu sou o Neil, Neil Andersen. E... eu num gosto de trabalhar, mas tamo aqui pra isso, né? Oe, eu cuido dos animar... num tô falando de vocês, é dos animar bicho. E também das fror, do jardim, do campo, dos banheiros, do poço... Eu já fui muita coisa nessa vida, digo, na vida que vivi. Eu já fui encanador, é verdade! Agorinha mesmo eu tava cuidando das fossas e...

—Não precisa entrar em detalhes, Neil! - interfere Victoria. Sorrindo, ela faz um gesto para Neil volta ao seu lugar.

          E finalmente, o último fantasma dá um passo à frente de forma ríspida, batendo o pé no chão como se esmagasse algo.

—Gerald Miller se apresentando! - diz o homem corpulento, alto, cabelo castanho penteado para trás, com barba e bigode. Usa botas, calça, casaco largo que vai até suas coxas e peles cobrindo as canelas amarradas por tiras de couro. - Eu faço a guarda e a proteção do vosso castelo. Cuidarei para que nada de mal aconteça a vós, espantando os intrusos e afugentando os maus espíritos. Estarei a esgueirar pelos cantos e frestas da muralha, vigilante em cada torre, pronto para esmagar o inimigo... Bom, desde que ele esteja a minha altura. Não posso ser tão impetuoso ao enfrentar um oponente superior. Afinal, foi assim que eu morri.

          Meio sem graça, o fantasma volta ao seu lugar. Victoria dá por encerrada as apresentações e pede para sua equipe de trabalho continuar seus afazeres. Eles a obedecem e cada fantasma parte em direções diferentes, desaparecendo. As crianças olham ao redor e para o teto, mas não havia mais vestígios deles no recinto. A diretora pede para elas sentarem-se, pois a comida será servida. E finalmente, para alegria de Nicolas, é hora do almoço.


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Notas finais do capítulo

Essa história também está sendo postada no Spirit: https://spiritfanfics.com/perfil/semita13. Próxima sexta tem mais. :)



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