Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 27
Vamos usar o feitiço.




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    Serena refaz o trajeto de volta pelos corredores até onde estão Nicolas e Lucius. Durante o percurso, ela pensa no que aconteceu, nas atitudes dos outros e em seus amigos. “Provavelmente Margot já sabe que eu me uni de novo com Nicolas e Lucius. É claro, devem ter me visto indo falar com eles... Ou alguém contou. E se ela sabe, todos daquele grupinho de gente que se acha superior aos outros também sabem. E não aprovam... Também, depois do que Nicolas andou aprontando. Por que ele fez aquilo? É Serena! Agora você é uma aprendiza de feiticeira, precisa ficar mais atenta ao que acontece ao redor”. Logo seus amigos a veem se aproximando, e pela expressão no rosto da garota desconfiam de que ela não traz boas notícias.

—E então, Serena, o que a diretora disse? - pergunta Lucius.

—Ihhh... Pela sua cara já vi que ela não quis ajudar, né? - conclui Nicolas.

—Ela disse para a gente usar o feitiço e assim praticar. Disse também que nesta sala têm muitos quadros que mudam de lugar, por isso ela não sabe o local certo do quadro de minha mãe.

—Mudam de lugar? Que coisa mais doida. - diz Nicolas.

—Mas se você pensar bem faz sentido. Imagine quantos alunos já se formaram por essa escola durante todos esses anos... - diz Lucius.

     Desapontados, os três ficam alguns segundos em silêncio, pensativos.

—Bom! Então o que estamos esperando? Vamos usar o feitiço. - propõe Lucius. - Somos três, então acharemos o quadro mais rápido.

    Nicolas concorda e Serena abre um sorriso. Eles se separam, tocando em quadros, armaduras, estátuas... Pronunciam o feitiço, mas em alguns casos nada acontece. Percebem que com os quadros conseguem visualizar a pintura, mas não há uma comunicação, como a que Victoria teve com a armadura. Então partem para outro corredor. O que não sabem é que estão sendo seguidos e observados por alguém que se esconde nos cantos das paredes de cada corredor que eles entram.

****

   Mais adiante, Bertha está admirando a pintura de um jovem muito bonito, de cabelo curto castanho e pele clara. Ele expressa um leve sorriso com aqueles olhos que inspiram confiança. É uma figura que a encantou desde o momento em que seus olhares se cruzaram.

—“Mark Ulric, Feiticeiro Licantrope”. - fala uma garota de longos cabelos pretos atrás de Bertha, do lado esquerdo, assustando-a.

—Por que olha com tanta admiração pra esse quadro? Gostou do professor? - fala outra garota de cabelo castanho comprido também atrás de Bertha, mas do lado direito.

    Imediatamente Bertha vira-se para elas, o que as fazem recuar um pouco, mas não deixam de encarar a garota.

—Isso não é da conta de vocês! - profere Bertha.

—Hum... Olha como ela ficou nervosinha, Shirley! - diz a garota de cabelo preto para sua amiga, sem tirar os olhos de Bertha.

—É mesmo, Martha! - responde a garota de cabelo castanho. - Pela maneira como olha pra esse quadro, deve ter encontrado alguma sujeira. Limpe! Sua serviçal!

—Eu sou uma feiticeira agora. - se defende Bertha.

—Há! Nunca vai ser, ‘Coisa Gorda’. - diz Martha.

     Shirley e Martha se aproximam de Bertha com caras feias e olhares furiosos, com a intenção de pressioná-la contra a parede. Bertha recua, não entendendo o motivo de tanta hostilidade. Sabe que pessoas da alta classe não gostam de se misturar com os menos favorecidos, mas agora todos terão que conviver embaixo do mesmo teto naquela entidade de ensino. Talvez sejam apenas alunas veteranas querendo intimidar as novatas. Mas Bertha não se intimida, ergue o punho direito e o mostra para as garotas.

—Vou limpar o quadro sim, mas vai ser com as línguas de vocês. - rebate Bertha. 

     As garotas recuam, mas logo trocam olhares e sorrisos sarcásticos, o que mostra à Bertha que elas duvidam de suas palavras. Ela aparenta tranquilidade e segurança, pois tem plena confiança de que pode realizar o que disse com as duas sem muito esforço. Mas então ela se lembra das palavras de Victoria: ADEUS – Advertência, detenção e expulsão. “Agora eu entendo... Essas pirralhas! Grrr! Calma, Bertha, calma... Se eu reagir, tenho certeza de que elas vão falar com a diretora e se passarão por vítimas. Isso pode me causar uma punição. Hunf! Tenho que agir como aquele menino, que ficou ouvindo um monte de besteiras quando víamos para o castelo e depois descontou nos outros com provocações. É isso...”.

—Nossa! Não sabia que garotas lindas estariam discutindo por minha causa. - diz o Professor Mark, que aparece repentinamente atrás das garotas e já observava a cena há algum tempo. - Fico lisonjeado, mas creio que não é para tanto. Quanto à limpeza desta sala e dos quadros, creio que temos pessoal qualificado para fazer essa tarefa, senhoritas Shirley e Martha. Ah, a não ser que os docentes dessa entidade de ensino usem isso como uma punição para determinados alunos... Não acham uma boa ideia?

   Apavoradas, as duas garotas trocam olhares e depois saem apressadas após Mark fazer um sinal com a mão indicando para seguirem em frente. Bertha sabe que agora chegou sua vez e, assim como as garotas, abaixa a cabeça e se prepara para deixar o local, mas o professor a impede tocando em seu ombro.

—Bertha! - o professor se abaixa, colocando as mãos nos ombros da garota e a olhando fixamente. - Então... O que você me diz?

     No primeiro momento Bertha desvia o olhar, mas já imaginando sobre o que o professor está se referindo, volta a encará-lo.

—Professor... Eu não iria fazer nada de ruim com elas, juro. Eu só não gosto de ser tratada daquele jeito.

—Não é disso que eu estou falando.

—Hã?

—Eu quero saber o que você achou? Sou mais bonito no quadro ou ao vivo?

—Há... - Bertha solta uma risada tão espontânea que imediatamente leva uma das mãos à boca, tentando disfarçar sua risada. - Ah, ah! Então é isso?

—Olhe bem e seja sincera. - diz Mark virando um pouco o rosto para Bertha ver o seu perfil.

     A garota fica ruborizada e não consegue esconder o sorriso.

—Ah, Professor... É claro que o senhor é mais bonito ao vivo. O quadro não tem esse cheirinho bom!

    Os dois acabam rindo juntos. Depois o professor, em um tom mais sério, volta a falar com a garota.

—Está vendo, Bertha! Existem coisas que o feitiço “Revele-me seus segredos” não nos mostra, que é o quanto uma pessoa é bonita e boa por dentro ou o quanto uma pessoa pode ferir outra apenas com palavras sem sentido. Espero que um dia aquelas meninas descubram isso e possam ver o quão especial você é. Não apenas para elas, isso vale para muitos outros cegos que existem por aí.

—Eu entendo Professor. Mas também é necessário que essas pessoas queiram enxergar.

      Mark se levanta e olha fixamente para Bertha. Então ele se aproxima e coloca seu braço esquerdo por trás do pescoço dela, com a mão em seu ombro.

—Então vamos fazer essa turma abrir os olhos, não é?

—SIM! - responde a garota, com um sorriso.

     E assim os dois saem abraçados do corredor. Mark encontra outros alunos logo à frente e os apressa para chegarem ao refeitório. Pelos seus cálculos, acha que seu grupo está atrasado e ele não quer ter mais nenhuma desavença com Victoria. Porém, alguns retardatários ainda procuram por um determinado quadro em outro corredor...

****

      Nicolas, Lucius e Serena param diante de uma escultura do corpo de uma mulher. Não havia cabeça e nem pernas e o objeto está em cima de um pedestal de madeira. Os três demonstram cansaço e trocam olhares como se perguntassem quem iria enfeitiçar a escultura.

—Nossa! Esse negócio de ficar usando magia cansa muito. - reclama Nicolas. - Me sinto como se tivesse dado a volta ao redor desse castelo... E correndo...

—É mesmo! - concorda Lucius. - Mas é muito bom sentir a magia fluir por todo corpo. Dá uma sensação de euforia... Mas depois vem o cansaço.

—Vamos tentar com essa aqui, é a última. - diz Serena, caminhando em direção à escultura, tocando em seu busto. - Se não der certo, depois a gente volta. “Revele-me seus segredos”!

    A garota se afasta um pouco e, assim como os meninos, observa atentamente o objeto. De repente a escultura começa a movimentar os braços e, como se sentisse a presença deles à sua frente, bate palmas e depois os chamam para mais perto. Os três abrem um sorriso, parece que dessa vez deu certo. Eles se aproximam da escultura.

—Ufa! Que bom, o feitiço deu certo. - diz Serena limpando o suor da testa.

—Ótimo! Então vamos perguntar logo.

—Calma Nicolas! A Serena fez o feitiço então ela é que tem que perguntar. - diz Lucius.

—Er... ‘Dona Estátua’, onde está o quadro de minha mãe, digo, de Silvia Fitcher?

    A escultura lhes mostra a mão esquerda e com os dedos estendidos faz um movimento pra cima e pra baixo, batendo o polegar nos dedos, como se fosse uma boca abrindo e fechando. Em seguida ela para, esticando o dedo indicador para cima e fazendo um sinal negativo. Com o braço direito ela passa a mão acima de seu pescoço, como se quisesse toca a cabeça, que não está ali.  

—É claro! A estátua tá dizendo que não tem cabeça. Sem cabeça, sem boca. Mas que droga! - diz Nicolas.

—Eu pensei que uma voz iria sair de dentro dela, como a diretora fez. Ainda não estamos prontos pra usar esse feitiço da maneira certa. - conclui Lucius.

—Tanto esforço pra nada... - lamenta-se Serena. - Se ela pelo menos soubesse onde está o quadro de minha mãe.

     Como se compreendesse o desejo da garota, a escultura ergue os dois polegares e faz um sinal positivo com as duas mãos para ela. Os três se animam novamente. E antes que alguém pudesse falar qualquer coisa, ela faz um sinal de 'pare' e estala os dedos chamando a atenção de todos.

—Há! Eu também sei brincar disso. - diz Nicolas, que assim como Serena e Lucius, presta muita atenção aos sinais da escultura.

     A escultura aponta para frente e depois faz um círculo girando o dedo indicador.

—Círculo. - Serena.

—Bola. - Lucius.

—Buraco. - Nicolas. - O quadro da sua mãe está dentro de um buraco?

—Que buraco o que... - contesta Serena. - Ela apontou pra frente... Nós?

    A escultura repete o sinal positivo com as duas mãos confirmando que a garota acertou. Em seguida ela faz a letra ‘v’ com os dedos indicador e médio da mão esquerda. Depois abaixa os dedos passando-os por cima do braço direito, na vertical, como se alisasse o braço com os dedos.

—Tesoura. - Serena.

—Dois? Mas nós somos três. - Nicolas.

—Pernas... Andar! - Lucius.

    Sinais positivos para o garoto, o que deixa Nicolas chateado por não ter acertado.

—Nós... Seguir, seguir pelo corredor... E depois? - pergunta Serena.

     A escultura levanta o braço esquerdo com a mão aberta e começa a mexê-lo.

—Er... Tchau? - Serena.

—Fim, terminou... - Nicolas.

—Mão, mão esquerda! - Lucius. - Seguir pelo corredor e depois virar a esquerda, não é?

     Mais uma vez a escultura indica que o garoto acertou. E antes que Serena e Nicolas falem alguma coisa, a escultura mostra-lhes o indicador apontado para frente, fazendo um semicírculo no ar. Ela repete o gesto até as crianças acertarem.

—Pula! - Nicolas.

—Gira! - Lucius.

—Depois? - Serena.

     Polegares erguidos para Serena, o que deixa Nicolas chateado por não ter acertado nenhuma até o momento. Depois a escultura levanta o braço direito com a mão aberta e começa a mexê-lo.

—Virar à direita! - dizem os três ao mesmo tempo, e acertando o enigma.

     Depois a escultura junta às mãos mexendo-as de um lado para o outro, um sinal de vitória. E finaliza voltando a posição inicial, não se mexendo mais.

—Seguimos pelo corredor, depois viramos à esquerda e depois à direita. - diz Lucius. - Nossa! Já estávamos bem perto do quadro.

—Então vamos logo. - diz Nicolas.

—Espera... - antes de partirem, Serena se aproxima da escultura e se prepara para estalar os dedos a sua frente para finalizar o feitiço. - Obrigado, Dona Estátua!

    Os três partem correndo para o local indicado e, no corredor, se separam e procuram o quadro de Silvia Fitcher, o que não demora muito.

—EU ACHEI! - grita Serena, que nem se dá conta de que não precisava falar tão alto. Enquanto os outros se aproximam, ela realiza o feitiço. - Revele-me seus segredos!


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