Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 28
Chegou a hora da desforra.




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        A magia se faz. A escuridão do quadro se dissipa e revela a imagem de uma mulher de 28 anos, pele clara e cabelos castanhos que cobriam seus ombros. Ela usa um vestido vermelho escuro de mangas curtas com detalhes da cor laranja, e também um chapéu pontiagudo da mesma cor do vestido com uma fita laranja presa a ele. Calça luvas da cor do vestido e fitas sai delas e percorrem seus antebraços, mas não o cobrem por completo. Nicolas e Lucius se aproximam de Serena. A emoção toma conta da garota. Seus olhos brilham e ela lentamente abaixa o braço que havia tocado o quadro.

—Então essa é a sua mãe? - pergunta Lucius, rompendo o silêncio. - Ela é muito bonita.

—Realmente, Cabelo de Fogo, ela é a sua cara. - diz Nicolas.

       Serena não diz nada. Apenas esboça um sorriso antes de perder os sentidos e tombar para trás. Imediatamente os garotos a apoiam, segurando seus braços, dizendo seu nome. A garota logo se recupera.

—Serena? Serena você está bem? - pergunta Lucius, preocupado.

—Que é isso, Serena? Não dá susto na gente não. - pede Nicolas.

—Eu... Eu estou bem, só um pouco... Cansada. - responde a garota, voltando a ficar de pé com a ajuda dos amigos. Ainda se recuperando, Serena passa uma das mãos nos olhos enxugando rapidamente as primeiras lágrimas e fala de sua mãe. – Ela, ela está do mesmo jeito, quando... Da última vez que a vi em Kolkingham. Que estranho...

—Como a diretora disse, a pintura é mágica. Então... Mesmo que ela tenha se formado aqui há muito tempo, ela deve mostrar a imagem mais atual da pessoa, mesmo que ela... - Lucius interrompe o que iria dizer, prevendo uma reação de Serena.

—Mesmo que ela não esteja mais entre nós. - completa a garota.

        Um silêncio se faz entre eles. Nicolas e Lucius trocam olhares.

—Lucius tá certo, deve ser isso mesmo. - finalmente diz a garota, se animando. - Não iria servir pra nada ver a imagem de alguém jovem sendo que hoje ela já deve estar velha. Isso é uma pintura de formatura e não um retrato de família, não é mesmo? Mas... Depois de tanto tempo, é bom rever a minha mãe de novo.

—Gente! Vocês não repararam em nada não? - pergunta Nicolas.

       É a vez de Lucius e Serena trocarem olhares, tentando entender o que o amigo está insinuando.

—Do que você está falando, Nick? - questiona Lucius, também curioso.

—Tá muito silencioso aqui. Cadê o povo? - Nicolas deixa os amigos e caminha de um lado para o outro. - Acho que perdemos muito tempo aqui, o pessoal já deve estar no refeitório. E se a gente chegar atrasado vai ser mais um motivo para aquela mulher dá bronca na gente. Vamos logo pra lá também!

—Mas eu queria ver o quadro dos Medievais... - comenta Lucius, com tristeza.

       Serena compartilha da tristeza do amigo, mas sabe que Nicolas está certo. Agora estão matriculados na escola e devem seguir as normas. E podem regressar à Sala de Exposição quando quiserem.

—Bem... Então tá! Depois a gente volta, Lucius. - a garota olha ao redor. - E por onde é à saída desse lugar?      

—Há, eu sei! Vamos! - diz Nicolas, já se dirigindo para o próximo corredor. Lucius o acompanha.

—Ah, é mesmo... Eu tinha me esquecido que os dois já passaram por essa sala... Com o professor ‘rosnando’ atrás de vocês. - diz Serena de forma irônica.

—Hunf! Deixa de mi-mi-mi e acelera o passo. - pede Nicolas dando uma rápida olhada para trás.

      Serena lhe mostra a língua e depois segue Nicolas e Lucius, logo alcançando os garotos. Eles passam por alguns corredores e conversam durante o trajeto. Lucius começa a se preocupar, pois a cada corredor que entram não encontram mais ninguém. Serena está curiosa com a atitude de Nicolas na Sala de Aptidão Mágica. E para quebrar o silêncio durante o percurso questiona o amigo.

—Nicolas, por que você agiu daquela maneira durante os testes?

—Você fala da briga que a gente teve? Esquece! Foi só besteira minha...

—Não é isso! É que você ficou atrapalhando o teste de todo mundo, provocando... Parecia até que era de propósito.

—E era mesmo. - confirma o garoto para surpresa de Serena e Lucius. - Vocês não perceberam que aquela gente estava maneirando nos feitiços? Sempre ouvi dizer que bruxas e feiticeiros são pessoas perigosas, poderosas e isso e aquilo... Aí, nos testes, eu vejo um pessoal que diz que entende de magia cantando, molhando uma mesa com água, soprando velinhas... Há! Dá licença! Tá na cara que eles estavam escondendo o jogo. Estavam tentando enganar os outros se passando por fracotes, mas na verdade todos têm magia suficiente até pra matar alguém. Essa gente é perigosa e se eu fosse vocês tomava cuidado com eles.

—Tem razão, Nick! - concorda Lucius. - Você foi esperto, mas também se arriscou muito.

—É! É bom ficarmos mais espertos daqui pra frente. - diz Serena.

       Nicolas nota que a saída está perto. O caminho lhe é familiar e ele recorda que depois do próximo corredor estarão de frente ao corredor com três aberturas e que leva para as escadas das torres laterais. Depois é só subir alguns lances de escada e estarão no corredor que vai para o refeitório. Ele até diminua a passada e fica entre Serena e Lucius. Distraídos, eles viram à direita e entram no último corredor. De repente eles param surpreendidos com a presença de alguém que os esperava.

—Ora, ora! Finalmente resolveu aparecer... Ni-co-las! - diz Ricardo, parado no centro do corredor. Em seguida ele abre os braços. - O que seria de nossa desforra se o convidado de honra não aparecesse? Não é mesmo, amigos?

        Ricardo não está só. No corredor também estão David e Michelle no seu lado direito e um pouco afastados, Alice e Munique no lado esquerdo do garoto e Margot mais ao fundo.  Ao verem Nicolas eles o encaram com expressões sérias e se aproximam dos três. Exceto Margot, que permanece atrás e ora olha para eles ora olha para o final do corredor. Nicolas olha para todos e depois encara Ricardo, apreensivo. Lucius fica inerte até compreender o que está acontecendo e Serena, mesmo não sendo alvo do grupo, sente a hostilidade deles e procura contornar a situação.

—Gente, o que é isso? Vocês não vão brigar justamente aqui... Não é? - pergunta a garota, sem receber resposta no primeiro momento. - O que é que vocês querem?

—Você é surda ou o quê, garota? - diz Michelle de forma ríspida, descruzando os braços e dando um passo à frente. - Não ouviu o que Ricardo disse? Chegou a hora da desforra, a hora de ensinarmos uma lição pra esse moleque intrometido aprender a não mexer com quem não deve.

—Não temos nada contra você, garota, nem com seu outro amigo. Portanto, é melhor se afastarem. - aconselha Alice.

        Nicolas se afasta de Serena e Lucius, já que o problema é com ele e não com seus amigos. Cauteloso, ele caminha lentamente na direção de Ricardo enquanto elabora sua defesa.

—Espera um pouco, pessoal! Eu sei que provoquei muita gente durante o teste de magia, mas... Desde que cheguei aqui também ouvi muita coisa ruim de vocês. Fui chamado de mendigo, lixo, fedorento...

—E por acaso dissemos alguma mentira? - interrompe David, o que chama a atenção de Nicolas.

—Ei? Eu não fiz nada no seu teste. Por que está aqui?

—Estamos aqui para apoiar os amigos. - responde Munique, interferindo na conversa. - Afinal é isso que os amigos fazem. Mexeu com um, mexeu com todos!

—Vamos acabar logo com isso, não podemos demorar muito. Não sei quanto tempo ainda temos... - fala Margot, que em seguida dá uma olhada para a saída do corredor.

    O comentário da garota deixa Lucius curioso, mas a tensão do momento o distrai, principalmente ao ver Ricardo levantar o braço direito com a palma da mão voltada para cima. Lucius recorda que é o mesmo gesto usado em seu teste e que ele irá fazer um feitiço. Nicolas também sabe do que se trata e se apavora, recuando alguns passos.

—Olha! Não podemos brigar, seremos todos expulsos! Eu-eu... Vou chamar o professor!

        O garoto corre, fazendo o caminho de volta. Ele passa por Serena e Lucius, mas não vai muito longe. Ao virar à esquerda entrando no outro corredor, Nicolas ouve Ricardo lhe chamar.

—Volte aqui, seu medroso! Acha que faríamos algo sem tomar os cuidados necessários? Não tem mais ninguém além de nós aqui. Volte ou eu vou ti buscar!

       Nicolas percebe que o garoto está certo, tudo havia sido planejado. Ricardo e seus amigos olham para a entrada do corredor certos de que Nicolas retornará. Serena e Lucius também olham, sem saber o que fazer. Não demora muito e eles veem Nicolas voltando a passos lentos. Enquanto o garoto regressa para o local onde estava, Ricardo continua com as ameaças.

—Ah! Ah! Ah! Acha mesmo que vai escapar de nós? Se não for agora, será mais tarde. Então preferimos que seja agora, e mais tarde, e de novo, e de novo... Até enjoarmos da sua cara.

—Olha, Pó de arroz! Por que a gente não resolve isso de outra maneira, hein? - sugere Nicolas.

—Hunf! E ainda tem a petulância de me insultar? Você é realmente um pivete muito burro. Herbarium!

     Nicolas ouve um estrondo sob seus pés e ao olhar para o local percebe que seu corpo se ergue do solo no mesmo instante em que sente uma pancada e algo ferir suas costas. Um espinho semelhante ao que Ricardo invocou em seu teste, mas agora com o dobro do seu tamanho rompeu o piso do corredor, perfurando o tapete e rasgando a roupa de Nicolas, que fica pendurado com sua camisa presa à ponta do objeto. Serena e Lucius se surpreendem e ficam assustados. Primeiro com a aparição repentina daquele enorme espinho e depois por verem seu amigo preso, mexendo os pés soltos no ar, suspenso como um condenado à forca. Nicolas geme, com a mão esquerda agarrada a gola da camisa que o sufoca pressionando seu pescoço, e a mão direita erguida, balançando de um lado para o outro, tentando se agarrar a roupa ou a ponta do objeto para, quem sabe, poder se soltar. Serena e Lucius chamam por ele enquanto Ricardo e os outros riem de seu desespero.

—Ah! Ah! Ah! Eu não falei, Pivete, que iria pendurá-lo feito um condenado? Ah! Ah! Ah!

—Ah! Ah! Ah! Parece que você ‘pescou’ um peixe grande, Rick! - diz Michelle. - Olha como se mexe! Não sabe que isso só piora seu estado, Infeliz? Ah! Ah! Ah!

—Estou decepcionada, Ricardo! Achei que iria transpassar o corpo desse moleque com seus espinhos... - lamenta Alice. - Mas pensando bem, vê-lo nessa situação é muito mais divertido, Ah! Ah! Ah!

—Realmente, tá muito engraçado, Ih! - concorda Margot.

—Gosto desse tipo de feitiço: rápido e dolorido... - diz David - E engraçado, Ah! Ah!

        Serena e Lucius trocam olhares, angustiados. Nicolas se mexer com menos frequência e a garota se assusta ao ver uma mancha vermelha nas costas dele.

—Parem com isso, vocês estão machucando ele. Ele, ele está sangrando!

      O comentário de Serena iria passar despercebido pelo grupo, mas em meio aquela tortura, parece que alguém recobrou o juízo.

—Acho que já está bom, pessoal! - diz Munique - Eu não quero ver ninguém morto no meu primeiro dia de aula. Além do que estamos atrasados, os outros logo vão dar falta da gente e desse aí!

—Ah, mas agora que está ficando divertido? Vamos ver ele perder os sentidos! - diz Ricardo.

        Ninguém do grupo faz qualquer objeção à proposta do garoto e eles continuam assistindo a cena. Serena então decide agir. Com a mão esquerda, ela posiciona seus dedos da mesma forma que fez em seu teste e aponta o indicar para a base do espinho.

Inflamarium!— pronuncia a garota.

     Um jato de fogo parte de sua mão atingindo a base do espinho. Serena recorda das palavras da professora Flora, que mencionou que no teste de sua mãe suas chamas fizeram um buraco na mesa de testes. A intenção da garota é boa, mas suas chamas ainda não são tão intensas. E Nicolas a alerta para outro fato.

—Arght! Sua tonta... Isso aqui é madeira! - diz o garoto, que volta a balançar-se sentindo o calor subindo pelos pés.

       Imediatamente Serena cessa o feitiço ao se dar conta do que havia feito. Porém algumas chamas já haviam queimado parte da madeira e não se apagaram. Uma nova onda de risadas é ouvida por Ricardo e seu grupo. Lucius corre para ajudar o amigo, segurando seus pés para que não toquem na parte queimada. Mas Nicolas apoia as pernas em Lucius com a intenção de levantar o corpo para se soltar, e isso faz Lucius perde o equilíbrio, se mexendo de um lado para o outro agarrado às pernas de Nicolas. Enquanto isso Serena continua tentando apagar as chamas na base do espinho, usando as mãos e os pés. Ricardo e seus amigos se deliciam assistindo o sufoco dos três. De repente ouve-se um forte estrondo. O espinho se despedaça. Um vento inesperado derruba Serena, que cai sentada. Os corpos de Nicolas e Lucius são arremessados para frente e ficam estirados no chão. Não se ouve mais risadas.  Passados alguns segundos, todos olham para o local onde estava o espinho. E lá está uma pessoa, com o braço direito à frente e o punho cerrado, mostrando a todos que o impacto do seu soco acabou com o feitiço.

—O que essa gorda está fazendo aqui ainda? - pergunta Ricardo.

—Deve estar perdida. - supõe David.

—Hunf! Essa gentinha... Quando não servem para limpar servem para sujar. - diz Margot. 

—Bertha? - dizem Nicolas e Lucius, olhando para a garota, ainda deitados no solo.


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