O Destino do Amor escrita por Lilissantana1


Capítulo 11
Capitulo 11 - Intromissão


Notas iniciais do capítulo

Daisy pode se tornar um problema para Annie.



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Jon apareceu na sala muitos minutos depois, os cabelos ainda úmidos puxados para trás. O rosto limpo, camisa com a gola aberta, sem colete, mangas enroladas nos punhos e um olhar tranquilo. Ela o encarou de frente, medindo-o. Ninguém no planeta poderia ser tão dissimulado assim... Annie sabia que seu marido vivera muitas experiências que ela sequer imaginaria. Por isso, mentir, talvez fosse tão simples para ele, como era para ela respirar. Sim, Jon poderia ter passado a tarde na cama de uma nobre qualquer e agora viria, com jeito de anjo, querer que a esposa cumprisse o “trato”  como fizera na noite anterior.

Mas estava enganado se pensava que seria tão fácil assim para ele.

Hilda surgiu para indicar que serviria o jantar na varanda, como pedido, e os dois seguiram para lá. Havia uma profusão de pratos. Jon apreciava todos eles. Enquanto degustava um pato ensopado, ele encarou a esposa. Como conhecia bem sua governanta/babá, o futuro Duque imaginava que fora ela quem se preocupara em informar à dona da casa aquilo que seu marido gostava. Porém, estava equivocado, fora a própria Hilda quem providenciara o cardápio. Já que a esposa do patrão não parecia interessada em tomar “posse” da casa.

Annie estava silenciosa. Com certeza ainda desconfiada. Ele tentou puxar assunto.

— Gostaria de visitar seu pai antes da viagem? Despedir-se?

A moça não se mostrou interessada na proposta dele. O que em parte o surpreendeu.

— Não será necessário. – ela falou baixo depositando o garfo no prato. – Um simples comunicado será suficiente.

Se ela queria assim. Não seria ele a reclamar.

— Faça como achar melhor.

Mas havia sim uma pessoa que Annie desejava ver:

— Gostaria de pedir a Daisy que viesse... se não se incomodar.

— A senhorita Daisy Besant... – ele repetiu a palavra calmamente – Vocês são muito amigas?

— Quase como irmãs. – ao menos Annie assim considerava - Dividíamos o mesmo quarto no colégio. Passei alguns verões com a família dela no “campo”...

Jon se calou por alguns segundos, ele não queria a irmã de George transitando por sua casa. Mas também não poderia impedir que Annie visse sua melhor amiga. Mesmo que o irmão dela fosse seu inimigo e Daisy provavelmente falasse mal dele para sua esposa.

— Avise que venha quando desejar.

— Obrigada! – ela agradeceu sincera e não perdeu tempo em insistir: - Gostaria de falar com ela antes de partir para o campo...

De forma surpreendente a resposta veio quase que automaticamente:

— Então faça o convite ainda hoje – virando-se para a criada que os servia pediu para chamarem Andrew. Depois ergueu-se atraindo a esposa. – Venha, escreva um bilhete pedindo a ela que esteja aqui bem cedo amanhã. Creio que a tarde estaremos ocupados com os preparativos finais para a viagem.

— O senhor já terminou? – Annie perguntou observando a mesa posta para dois.

Ele estendeu a mão para ela insistindo:

— Se você for rápida, o prato não terá esfriado quando voltarmos.

Quem era aquele homem? Annie se perguntou. Definitivamente não era o mesmo com quem conversara pela manhã.

A mão masculina balançou diante dela num convite mudo. Annie sentiu seu peito inflar diante daquela imagem. Se ergueu mas não o tocou, apenas o seguiu até o escritório onde estiveram conversando pela manhã, sentou-se na cadeira onde Jon estivera sentado e escreveu com a caneta que ele escrevera.

Quando concluiu o pequeno texto, Andrew já o esperava na porta. Jon rapidamente passou o papel para o homem indicando onde levar e que deveria esperar pela resposta.

— Ela virá... – Annie anunciou, para ela não se fazia necessário esperar pela resposta. Sem sombra de dúvida sua amiga viria.

Jon voltou-se e se deparou com a esposa parada a poucos passos de si. Andrew já fora. Eles estavam sozinhos ali. Talvez... deu um passo em direção a ela. Annie não se moveu em sentido algum. Ele deu outro passo, se esticasse o braço a tocaria. Mas não fez isso, se aproximou um pouco mais antes de tentar um beijo.

Annie parecia paralisada como na noite anterior. Aquela apatia o incomodava. Ele queria que o mesmo fogo que o consumia também a tocasse. Mas isso só parecia acontecer depois. Quando ela talvez imaginasse estar com outra pessoa.

Desviou esse pensamento encerrando a distância entre eles, passando a mão pela cintura dela, puxando-a para si. Annie não resistiu. Mas quando seus lábios se tocaram, quando ele pensava em aprofundar o beijo, ela o empurrou. Firme e determinada.

— Não... – falou baixo junto aos lábios masculinos – Hoje não... – e ele percebeu que a esposa falava sério.

Jon teve vontade de gritar: você é minha esposa! Porém, ficou apenas calado, encarando de frente o olhar determinado dela. Annie ainda piorou tudo com um agradecimento estúpido:

— Agradeço pela gentileza, por ter permitido que Daisy viesse a sua casa, sei que você e...

— Não é necessário agradecer, agora esta casa também é sua...  – ele retrucou se afastando. – vamos terminar o jantar.

Deu meia volta e ia sair do cômodo quando Annie falou:

— Li o documento que me entregou. Estou de acordo com ele. Assinarei quando desejar.

Ele não se voltou completamente, ficou apenas de lado, olhando-a firme.

— Amanhã faremos isso... não há pressa.

Ela tinha pressa. Queria deixar tudo muito acertado. Sem sombras ou dúvidas. Principalmente porque ele a estava levando para um lugar qualquer, onde ela sequer poderia usar seus vestidos. Annie não conseguia imaginar um lugar onde suas roupas fossem inapropriadas.

— Vamos...? – ele concluiu saindo.

Nervosa Annie apertou os dedos contra as palmas das mãos. Querendo controlar as agitadas batidas de seu coração. Havia aquela maldita dor na barriga que se misturava ao torpor provocado pelo cheiro dele. Que naquela noite se acentuara pelo banho.

Ela desejou tocar aqueles cabelos molhados, que se enroscavam gradativamente, formando um aro em torno do rosto que ela começava a considerar bonito. Mas Jon não a teria naquela noite. Ele precisava compreender que se casara com alguém que tinha vontades e desejos. Se seu marido pretendia que o trato deles desse certo, deveria agir com maior cordialidade sempre, não apenas quando queria se deitar com ela.

Saiu do escritório para encontra-lo na varanda, devorando o pato ensopado.

— Vou me recolher... – falou tranquila. - Boa noite.

Ele a olhou sério, mas não irritado.

— Boa noite. – concluiu sem reclamar pelo fato de que sua esposa não concluiria o jantar ao seu lado. E parou de comer assim que ela sumiu no hall, em direção à escada. Aquele era um bom momento para um brandy... ficando em pé concluiu que talvez fosse melhor algo mais forte.

*****************

Na manhã seguinte, Daisy surgiu cedo como esperado. Feliz e agitada, Annie a carregou para sua sala particular, que estava mobiliada do jeito que pedira. Jon desde que acordara estava trancafiado no escritório, talvez para não cruzar com a irmã de um de seus desafetos. Fato que a esposa considerou correto, sensato... e gentil.

Daisy, muito curiosa, queria saber tudo. Mas elas acabaram falando mais sobre o casamento, e a festa posterior do que de outra coisa qualquer. Até que a curiosidade da visitante se dirigiu para outro ponto:

— Como está sendo viver com o... duque monstro?

Annie passou um prato com biscoitos para a amiga antes de responder:

— Está tudo... bem. – enquanto falava admirava-se por ter esperado mais sofrimento, mais brigas, mais... entretanto fazia apenas um dia que estavam convivendo. Então não havia como dizer nada em definitivo. Bem, era um adjetivo ótimo para exemplificar sua condição ali.

— Bem? – Daisy repetiu desconfiada. - Ele a está tratando bem?

A dona da casa concordou com a cabeça, mas é claro que Jon não era perfeito, ele tinha defeitos.

— Ele é cordial algumas vezes, em outras autoritário, mandão.

A outra foi rápida em concordar com a opinião. Tinha até uma experiência para contar:

— Oh sim...! George disse que ele tinha umas crises, as vezes quebrava tudo o que tinha dentro do quarto.

Aquela história sua amiga nunca lhe contara.

— Ele quebrava o que?

— Objetos pessoais eu acho...

— Por quê? George não sabe por que ele fazia isso?

— Mau temperamento, creio, nunca perguntei, mas vou fazer isso... – quanto mais informações pudesse passar à amiga sobre o homem com quem estava casada, melhor. Assim poderia se proteger melhor.

Annie tomou um gole do chá pensando que não vira nenhuma crise assim, de ninguém, e decididamente esperava nunca ver.

— Por enquanto está tudo indo com certa calma... – falou baixo, distraidamente.

— Você e ele...? – a outra a encarava curiosa, com um brilho maroto e curioso no olhar - Você permitiu que ele...

— Ele é meu marido Daisy. – foi a resposta curta, apesar de Annie saber que nem tudo era tão simples assim.

A jovem loira arregalou os olhos assustada diante da revelação da amiga.

— O que esperava? Nós estamos casados! Pelas leis da igreja, pela lei dos homens... não poderia me negar...

Se negara na noite anterior, mas não contaria isso a Daisy que surgiu com um comentário no mínimo assombroso:

— Peter ficará inconsolável quando souber que Jon é realmente seu marido.

Desta vez foi Annie quem se surpreendeu.

— Você não pode contar uma coisa assim para ninguém! Menos ainda para Peter!

— Mas Annie, ele a ama! Ele quer ajuda-la a se livrar de Hawkisn.

Annie largou a xícara e ficou em pé. Se afastando da amiga.

— Não há como me livrar de Jon! – falou firme. – Ele é meu marido! Você me conhece Daisy. Sabe como penso... não existe uma forma de livrar-me dele! Que absurdo logo você falar uma coisa dessas!

O tom urgente e nervoso demonstrado por Annie diante do comentário que fizera, provocou em Daisy a certeza de que a amiga estava escondendo algo.

— Está bem, está bem... – tentando acalmar a amiga, Daisy usou de outro subterfugio para chegar onde queria: - Gostou da carta de Peter?

Annie não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Pela primeira vez em sua vida se sentia incomodada com a visita da amiga. E se pegou desejando não ter feito o pedido a Jon, desejando não ter falado com Daisy naquele dia. Mas aproveitou a oportunidade para esclarecer um detalhe:

— Você errou em entregar aquela carta para Leisa me dar.

Daisy ficou em pé e se aproximou com olhar ingênuo.

— Peter estava tão triste! Se você o visse... disse que você se recusou a ouvir o que ele tinha a dizer.

Annie rejeitou a proximidade da amiga, mal conseguia acreditar no que estava ouvindo.

— Daisy pare! Estou casada agora. Tudo mudou! Mesmo que Jon... Hawkins não mereça qualquer tipo de consideração. Não poderia fazer isso com ele... nem com qualquer outro.

Daisy se calou por alguns segundos. Antes de dizer:

— Sinto muito. Não tocarei mais nesse assunto. Você está muito nervosa! O que seu marido fez?

— Por Deus! Ele não fez nada! Nada! Está tudo bem.

Em todos aqueles anos, Daisy nunca vira sua colega e amiga daquele jeito, ansiosa, agitada, exasperada. Definitivamente algo estava errado. Cabia a ela descobrir o que era já que a família de Annie jamais se incomodaria que a garota estivesse mal e infeliz. Por isso perguntou:

— Ele bateu em você? Você me disse que teve medo que ele fizesse isso na noite do noivado.

Oh meu Deus! Por que dissera tudo aquilo a Daisy? Agora sua amiga jogava tudo de volta como se fato consumado fosse, era apenas uma impressão. Seu marido não lhe tocara de forma grosseira em nenhum momento. Pelo contrário fora muito... ela suspirou inconscientemente ao lembrar da boca dele na sua.

— Daisy, por favor... não vamos mais falar sobre isso... vamos falar sobre você. Antes do casamento você me disse que seu pai estava querendo apresenta-la a alguém.

Daisy baixou os olhos, percebendo que Annie não lhe contaria nada. Mas, ela descobriria por si. E para isso, precisava se manter a par de tudo o que acontecia na casa do futuro Duque, e que maneira melhor de conseguir isso, do que continuar a visitar a amiga sempre que podia. Então, dissimulada, de modo alegre passou a contar sobre seu possível futuro pretendente. Mas, Annie não mais conseguiu relaxar. E só se sentiu realmente tranquila quando se despediu da amiga, sem contar-lhe que passaria muitos dias longe da cidade.

Na verdade já considerava a ideia de Jon em afastar-se, bastante conveniente.

**************************

A tarde Jon buscou a esposa em sua sala particular. Ficou parado a porta, olhando-a sentada no novo sofá. Lendo um livro estreito e antigo. Era de sua mãe aquele livro, Annie deveria ter pegado da estante que ficava no canto esquerdo da sala.

— Posso entrar?

A voz dele a atraiu, fazendo seu coração quase parar.

— Claro. – Annie concordou largando o livro sobre a mesinha em frente.

Ele se demorou na entrada, permaneceu alguns segundos olhando o chão. O que lhe causou certa estranheza, era a segunda vez que isso acontecia. No dia da visita Jon só ingressara pouco antes de se despedir, e também parecera indeciso se deveria ou não entrar.

No final, ele deu um passo longo, longo demais como se cruzasse uma barreira. E parou rapidamente no meio do cômodo. Annie sorriu, ele parecia um menino assustado. Da mesma forma que seu irmão quando Hellen lhe chamava em tom de zanga.

De repente ela achou que compreendia. Aquela era a sala particular da mãe dele. Hilda falara sobre isso várias vezes. Simples, ele não podia entrar ali. Deduziu. Estranho era que mesmo depois de adulto seu marido ainda se sentisse impossibilitado de ingressar naquela sala.

— Quer chá? – ela perguntou percebendo que ele estava tenso. – Está frio, mas posso pedir outro bule.

— Não obrigado... sua amiga já foi? – era uma pergunta boba já que ele sabia a resposta. Mas precisava dizer qualquer coisa.

— Sim, ela já foi. – Annie tentou sorrir. Demonstrar alguma empatia por seu marido.

— Contou a ela sobre a viagem?

— Não.

Jon achou estranho o fato da esposa não ter falado sobre tudo o que havia acontecido e decidido na casa. Mas nada perguntou.

— Gostaria de ir até a casa de seu pai? Posso acompanha-la agora, estou livre...

— Como lhe falei ontem, não será necessário. Basta um recado informando da viagem. Meu pai não se incomodará de ser informado desta forma... e Fredy...

— Seu irmão?

— Sim, Fredy não está... seria a única pessoa de quem gostaria de me despedir.

Ela ficou distante ao falar no irmão. Parecia com saudades.

— Ele foi mandado para um colégio interno. – Jon afirmou sério. – Quantos anos ele tem?

— Seis.

Os olhos escuros desviaram do rosto dela e se perderam no passado por alguns segundos, mas Annie não viu, estava também perdida nos próprios pensamentos.

— Está tudo pronto então? – ela disse de repente, trazendo os dois para sala de visitas dela.

— Está... minha única dúvida ainda é com questão de horário...

Ele permanecia parado no meio da sala, com as mãos para trás, as pernas tensas e o olhar incomodado.

— Seis horas da manhã é muito cedo para você? Estou acostumado a fazer o trajeto a cavalo, mas desta vez preciso pensar em carruagens...

— Poderemos sair a hora que desejar. – ela completou apoiando as mãos nos joelhos para ficar mais ereta.

— Então, devemos nos recolher cedo esta noite.

Ele fez um arremedo de sorriso e já se preparava para sair.

— O jantar será no mesmo horário?

A voz dela o surpreendeu. Jon pareceu desapontado ao ouvir a pergunta.

— Não poderei jantar com você esta noite. Meu pai me chamou, ele quer conversar antes da partida... faça a refeição no horário que ficar melhor para você...

— Pensei que havia...

Ele compreendeu o que ela queria dizer.

— Passei a tarde com o advogado dele ontem, hoje será ele a me fazer “recomendações”, e isso sempre demora. – a ironia na voz dele era clara. Porém, um breve e leve sorriso que brincava nos lábios masculinos demonstrava a serenidade entre eles.   

Se aproximando Jon se despediu com um beijo na mão dela e saiu, deixando para trás o cheiro de charuto e verão impregnado pelo ambiente. Annie fechou os olhos sentindo aquele aroma tomar conta de seus sentidos, subitamente desapontada por não jantarem juntos. Desde o inicio da manhã Jon vinha se portando com gentileza, talvez ela até aceitasse seus... beijos naquela noite.


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Notas finais do capítulo

N/A: No próximo capítulo, eles estarão em outra casa, com outras pessoas, longe de Hilda, Daisy e especialmente longe de Peter. BJ, e muito obrigada às meninas que deixam seus reviews, eu amo. E também a todas que estão acompanhando. A fic é para vocês.