O Destino do Amor escrita por Lilissantana1


Capítulo 10
Capítulo 10 - Pequenas Provocações


Notas iniciais do capítulo

Desculpem não ter postado ontem, realmente não foi possível.
Eles têm um trato, mas não sei se esse trato vai funcionar.



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Annie desceu em direção ao hall. Havia criados por todos os lados, trabalhando, arrumando, organizando. Eles a observavam, cumprimentavam e continuavam a realizar suas funções. Ela sabia a quem se devia tanta eficiência. Hilda. Era ela quem manejava aquele lugar como um relógio bem cronometrado.

A governanta a encontrou no meio do caminho, antes que Annie pudesse seguir em direção a algum dos criados perguntado pelo escritório do marido.

— Onde fica o escritório Hilda? – Annie perguntou.

— Entre pelo corredor à esquerda, é a segunda porta.

Annie encarou o local indicado, ficava a poucos passos de onde estava. O corredor era mais escuro que o restante da casa, não havia tanta iluminação naquela área. E logo ela compreendeu o porque. A galeria dava para uma parede e não para uma janela. Havia apenas três portas naquele longo, estreito e incômodo espaço. E as três estavam fechadas.

Em passos curtos ela chegou ao ponto certo. Como a boa educação mandava, bateu na porta e esperou. Não ouviu resposta. Será que estava na porta errada? Bateu novamente. E desta vez ouviu a voz de Jon lá dentro ordenando:

— Entre.

Estendeu a mão sofrendo de um leve movimento de indecisão antes de girar definitivamente a maçaneta. Em segundos a porta se abriu, ao fundo Annie viu uma a de carvalho. Jon estava sentado do outro lado, olhando distraidamente pela janela. De costas para ela.

— O senhor queria falar comigo? – ela começou. Se aproximando da mesa, sem ter fechado a porta.

Ele fez a cadeira girar, se voltando para ela. Com o rosto fechado. E as pálpebras semicerradas. Parecia mal humorado.

 - Acho que agora podemos dar fim a essa história de senhor. Você não acha?

Só porque ele agora era realmente seu marido? Annie não via qualquer ligação entre as duas coisas.

— Não creio. Meus pais usam esses termos até hoje.

Ele fungou ficando em pé.

— Nós não somos seus pais.

Annie percebeu que seu marido voltara ao básico na maneira de se vestir. Camisa branca, colete, sem lenço ou casaca. E sentiu um arrepio ao lembrar de como era tocar a pele firme dele.

— É verdade. Mas eu prefiro assim. – respondeu após alguns segundos, desviando os olhos do corpo do marido.

Jon se calou, estava zangado. Annie certamente sentia prazer em irritar. Retrucando com a nítida intenção de importuná-lo. Se não pretendia começar o dia com uma briga, seria de bom tom manter a mente tranquila durante aquela conversa.

— Seja como for! Como você quiser... – ele disse por fim pegando uma folha de cima da mesa e perguntando: - Quer se sentar?

Annie olhou para as cadeiras dispostas diante da escrivaninha e escolheu aquela que ficaria mais distante de seu marido. O que não surtiu efeito, pois Jon, de qualquer forma se aproximou, para lhe entregar o papel que tinha nas mãos.

— Pedi que redigissem o nosso trato, assim ficará mais claro e evitaremos problemas, como o esquecimento daquilo que nos propomos, por exemplo. – ele a encarou sério - Acreditei que você se sentiria mais tranquila se tudo estivesse documentado. – era muito claro que a garota não confiava nele.

Annie pegou a folha e deu uma rápida olhada. Era muita texto para ler naquele momento. Mas antes que ela pudesse dizer alguma coisa ele foi logo esclarecendo.

— Essa é uma copia. Você pode ler com calma, decidir se está bem assim, ou se deseja mudar algo. Assinaremos apenas quando se sentir segura.

Ele parou ao lado da cadeira onde ela estava sentada. Annie mantinha o papel sobre as pernas e a cabeça baixa, provavelmente lendo o conteúdo do documento. Ele aproveitou para observá-la. O pescoço fino de pele macia, os fios loiros que escapavam do coque e escorregavam pela lateral da orelha. Uma parte do colo que ficava livre acima do lenço fino. Um desejo intenso de tocá-la se apossou dele. Já sabia que se fizesse isso da maneira certa, Annie não resistiria. Ela se entregaria novamente. Apesar de parecer recatada, a garota, a moça do colégio interno tinha muito calor a oferecer.

Havia aquele famoso cheiro no ar Annie disse a si mesma, sem conseguir se concentrar na leitura. Verão. Mas estava faltando o charuto. Mesmo assim, ela sabia que não conseguiria mais pensar em qualquer outra pessoa que não fosse seu marido quando sentisse o mesmo aroma em outro lugar.

Jon se moveu para o lado, vendo a lateral do rosto dela. Era quase impossível manter uma aparência serena quando seu corpo estremecia num desejo quase insano. Mas, com os anos, ele aprendera a domar seus instintos.

— Annie... – ele disse de repente, num tom rouco, abafado e muito diferente de qualquer outro já usado.

Ela ergueu o rosto e o encarou. Havia uma emoção estranha estampada naqueles olhos bonitos. Não era medo. Nem era a determinação de segundos atrás. De qualquer forma ele não queria ficar imaginando o que seria. Seu cérebro estava perdido em tentar entender os sinais que aquela mulher lhe enviava. Talvez precisasse entendê-la de outra forma.

— Sim?... – ela perguntou ansiosa pelo que seu marido tinha a dizer.

Jon não conseguiu falar nada de imediato, ficou preso ao rosto dela, a forma como a mulher o encarava.

— É algo sobre o documento? – ela perguntou quebrando a ligação ao desviar os olhos para o papel.

— Não. – ele retrucou fazendo a volta na mesa e sentando na cadeira de espaldar alto. Como se já fosse o próprio Duque de Hawkins. – Queria lhe avisar que decidi passar alguns dias no campo. – disse em tom seco e frio, como se seu corpo não estivesse sendo consumido por um fogo abrasador.

Ela moveu lentamente o rosto para o lado. Ele estava dizendo que iria para o campo e a deixaria ali?

— Você acha que consegue se organizar em dois dias?

— Me organizar? – então ela iria com ele. Claro, seu marido jamais a deixaria sozinha a mercê de... Peter. Sem perceber respondeu: – Posso tentar, já que fui apenas informada da decisão.

A cadeira com forro de couro se moveu para trás com a impulsão que Jon lhe conferiu. Mas a resposta que ela esperava para sua provocação, não veio.

— Ótimo! Precisamos decidir coisas simples como por exemplo: de quantas criadas você precisa?

— Apenas Leisa. – ela respondeu rapidamente.

— Muito bom! – ele completou e ficou pensativo por alguns segundos antes de perguntar: - Você tem algum vestido simples ou todos se parecem com esse que está usando?

O que ele queria dizer com simples? Os vestidos dela eram normais, como todos os outros. Com exceção é claro de que eram feitos sob medida para ela. Annie nunca os comprava prontos como outras mulheres faziam. Ela escolhia tudo, desde a fita, até os detalhes no tecido.

— Todos se parecem com este! Que importância tem isso?

Jon apoiou os cotovelos sobre a escrivaninha e a encarou de frente.

— Quero saber se você tem algum vestido de um tecido que não seja assim... – ele estendeu a mãos sobre a mesa em direção a ela.  – com esse tipo de tecido, todo bordado e cheio de... de detalhes!

Annie teve vontade de rir do modo como ele falava. Mas apenas respondeu:

— Não tenho!

Jon ficou em pé, saiu pela porta que Annei deixara aberta, deixando-a boquiaberta com a atitude inesperada, e voltou segundos depois com Hilda no encalço.

— Minha esposa precisa de roupas novas.

Ela se empertigou. Jon estava ficando louco?

— Eu tenho roupas! – Annie reclamou ficando em pé.

— Sim, você tem roupas. Mas não roupas apropriadas para o campo. – Jon insistiu.

Ela não permitiria que seu marido a tratasse como alguém que não conhecia nada além de casa e de uma escola interna.

— Já estive no campo. Sei como me vestir em um local assim.

Ele sorriu sarcástico:

— Duvido muito! – e sem dar chance a esposa de retrucar, virou-se para Hilda ordenando – Vá com ela hoje a tarde, compre o que for necessário.

— Sir... – Hilda começou e recebeu um olhar atravessado de patrão, que não compreendia o motivo da convenção já que eles se tratavam pelos nomes há anos – Não haverá tempo para que se produza vestidos antes da viagem.

Então Hilda já estava sabendo? Annie se perguntou. Pelo jeito ela era a única que não sabia. Quando Jon decidira isso?

Um suspiro irritado escapou pelos lábios de Jon. Seus olhos se moveram com rapidez pelo chão, como se pensassem em uma solução para o problema. Annie resolveu intervir:

— Podemos adiar a viagem até que os vestidos estejam prontos. – provocou sentindo uma súbita vontade de rir.

Isso não! Não haveria tempo para ela. Jon disse a si mesmo.

 - Faça o seguinte Hilda. – continuou falando como se não tivesse sido interrompido – Compre os tecidos, as fitas... – o que mais um vestido precisava?

— Os aviamentos. – a governanta completou.

Annie estava se sentindo péssima naquela posição. Com os dois falando a respeito dela, como se ela não estivesse ali.

— Sim, aviamentos. Os vestidos serão feitos lá.

Como assim seriam feitos lá? Hilda disse a si mesma. Será que encontrariam uma boa costureira naquele lugar? Seus olhos seguiram para Annie. Desta forma autoritária Jon não conseguiria bons resultados com essa viagem.

— Você escolhe os vestidos mais simples que tiver. – ele se voltou para Annie parecendo que somente naquele minuto recordara da presença da esposa no cômodo, junto com eles – De resto, levamos tudo daqui e produzimos novos vestidos lá.

Estava tudo certo. Para ele era simples Annie pensou incomodada. Hilda apenas concordou, pediu licença e saiu da sala, Annie faria a mesma coisa, mas Jon a chamou de volta. Ela o encarou seria, estava mais incomodada do que quando chegara naquela peça. Seu marido realmente vestira o papel de esposo mandão.

— O que deseja senhor? – perguntou se voltando para ele.

— Você precisará de chapéus também.  E nada daqueles pequenos como o que usava quando visitou esta casa... precisa de abas. Lá é muito quente...

— O verão está no fim. – ela informou seca.

— Eu sei, mas faça como lhe digo.

Faça como lhe digo! Annie repetiu mentalmente antes de perguntar:

— Mais alguma coisa senhor?

Jon sorriu, se ela pensava que trata-lo daquela forma o incomodaria, estava muito enganada. Para ele, responder a provocações, ironias de quem está zangado, era a coisa mais fácil do mundo... a única coisa a que Jon não era imune, dizia respeito ao menosprezo, a indiferença...

— Está liberada. – concluiu percebendo Annie erguer o rosto, empinando aquele nariz delicado.

— Com licença, senhor.

Ele apenas moveu a cabeça. E ela saiu. E só então Jon voltou a respirar normalmente. Se conseguisse passar vários dias com Annie no campo, no meio do nada, sem mortes, seria a maior prova de que eles suportariam a vida de casados.

**********************

Hilda e ela saíram na primeira hora da tarde, e voltaram quando o sol já se punha. Em muitos pacotes havia várias peças de tecido. Principalmente algodão. Dois chapéus como o que Jon sugerira, alguns sapatos com um solado mais resistente. E pronto. Annie se sentia péssima, estava definitiva e publicamente assumindo que Jon Hawkins era agora seu “dono”, e por causa disso, comandava sua vida.

Estava tão cansada que ficou muito tempo de molho na tina. Experimentando o calor e o frescor dos óleos de banho. Leisa, enquanto isso, arrumava suas coisas para a viagem. Os vestidos “simples” que Jon lhe pedira para separar estavam sobre a cama, e a moça os acomodava corretamente dentro do baú, logo acima dos tecidos, fitas e aviamentos.

— Senhora...

Ela ouviu de repente e abriu os olhos, deparando-se com Leisa parada diante de si.

— Sim?

— Já escolheu os lenços que deseja levar?

Quando sua criada tocou nessa palavra, Annie recordou-se do bilhete de Peter guardado na gaveta dos lenços. Deveria leva-lo ou deixa-lo? Na duvida o melhor seria que permanecesse em casa. Bem escondido.

— Ainda não, deixe que separamos juntas depois.

— Então está tudo pronto. – a mulher informou.

— Obrigada. Me ajude a sair da tina. Preciso me vestir para o jantar antes que “meu senhor” arrombe esta porta por causa de meu atraso.

— Sir Hawkins não está em casa senhora.

Aquela informação a sobressaltou. Jon não estava em casa? Até aquela hora? E ela estava ali, fazendo tudo o que ele lhe ordenara. Como uma estúpida, acreditando que seu marido seria digno o suficiente para cumprir o que ele mesmo propôs.

— Me ajude a sair daqui! – chamou alto. Precisava se arrumar para estar lá embaixo quando ele chegasse. Queria ver a cara de Jon, e a desculpa que daria para ter passado horas e mais horas na rua. Ele saíra antes do almoço. Ela almoçara sozinha!

*******************

Jon assinou o último papel e entregou a pasta para o advogado de seu pai. Um dia inteiro para resolver coisas que levariam no mínimo três dias. Mas conseguira. Estava tudo pronto. Poderia viajar sem receio. Com a cabeça tranquila por não ter deixado nenhum negócio pendente.

Estava sedento por um bom banho relaxante e por uma dose de brandy. Mas, mais desejoso estava de ver Annie. Ele dizia a si mesmo que queria saber o que a esposa fizera o dia todo. O que comprara. E como estava se adaptando a casa nova. A vida nova. Porém, na verdade, era muito mais do que isso. Ele queria estar com ela. Tocá-la como na noite passada e poder usufruir de sua doçura. Apesar do modo como Annie se portara na festa de noivado. A maneira como o afrontava sempre que a oportunidade aparecia. Apesar de claramente não gostar dele. Apesar de todos os olhares desconfiados. Ele sabia que ela era capaz de passar por cima de tudo isso e se entregar como se eles fossem apenas duas pessoas que...

Parou ao pé do último degrau, na entrada da casa do pai, acomodou o corpo, ficando mais ereto, respirando o aroma da noite, ia caminhar até em casa. Seriam poucas quadras. De repente percebendo que a alteração de temperatura já começava a acontecer. O outono chegaria em breve. Talvez não fosse a melhor época para se dirigir ao campo. Entretanto, se não fizesse isso, se continuassem na cidade, seus planos não dariam certo. Annie não conseguiria evitar encontrar-se com Peter. Nem ele, Jon teria controle sobre os encontros casuais dos dois. Em qualquer lugar, durante um passeio, um jantar, uma visita. Com isso, as chances de que sua esposa não cumprisse o acordo triplicavam.

Uma mulher apaixonada para de raciocinar com coerência. Passa a fazer loucuras que muitas vezes parecem nem combinar com seus temperamentos. Com homens também era assim, ele conseguia lembrar de colegas que deixavam de se guiar pela racionalidade e se envolviam em situações catastróficas por causa de um rabo de saia.

Parou na esquina de casa por um segundo. Já era tarde. Hora do jantar.   

Passou pelo portão, abriu a porta e cruzou pelo hall vazio. Se preparava para subir em direção ao próprio quarto quando Annie surgiu diante dele, vinda da sala principal. Ela o observava com acusação no olhar. Droga! Sua esposa estava pensando que ele estava...

— Boa noite. – ela disse seca, ereta, com o nariz empinado, e as mãos para a frente, com os dedos entrelaçados.

— Boa noite. – Jon respondeu tranquilo. Estava de consciência limpa. Coisa que muitos acreditavam que ele não possuía. Especialmente sua esposa.

— Como foi seu dia? – perguntou ficando de frente para ela.

— Cansativo.

Ele olhou em volta, Annie estava sozinha na sala.

— Você já jantou?

— Ainda não. Estava esperando pelo senhor. Acreditei que gostaria de saber o que foi comprado.

Jon passou as mãos pelos cabelos. Estava tão cansado que não sentia vontade de retrucar as provocações dela. Tudo o que ele sempre quis, era não ter um casamento assim. Esse era um dos motivos do acordo. Mas, parecia que sua união não seria diferente daquela que seus pais tinham.

— Conseguiu comprar tudo?

— Na verdade foi Hilda quem decidiu que panos serviriam. Mas encontramos tudo, até mesmo os chapéus. – aquilo que elas compraram nem poderia ser chamado de tecido.

— Muito bem! Onde está Hilda?

— O que o senhor deseja? – a governanta se materializou de repente, como que surgida da escuridão. Annie se perguntou se ela não estava por ali, escondida, observando e ouvindo o que eles conversavam.

— Peça a Joseph para subir e preparar meu banho. Assim que tiver concluído, vou descer... – voltando-se para Annie perguntou: - Você me acompanha no jantar? – a voz dele parecia desprovida de qualquer tipo de provocação, ou ironia. Os olhos escuros demonstravam cansaço.

Ela estava zangada, chateada... como se fosse possível, magoada. Mas não chegou a responder, Jon praticamente emendou a explicação na pergunta.

— Se você pudesse esperar, gostaria de poder conversar um pouco... passei a tarde com o advogado de papai... preciso realmente de um banho.

Ela desviou o olhar, suspirou e por fim disse:

— Esperarei. – ele não merecia isso. Mas, ela precisava lhe dizer que o contrato servia do jeito que estava. Era claro, e especificava somente o que eles acordaram.

Ele sorriu retirando a casaca. E antes de dar-lhe as costas falou:

— Até já!


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Notas finais do capítulo

N/A - Acho que se Jon mudar um pouquinho que seja de comportamento, consegue mais do que apenas um filho. Sim, estou amando esses dois. E amando os reviews de vcs. Obrigada! BJS