O Destino do Amor escrita por Lilissantana1


Capítulo 9
Capítulo 9 - Mau Gênio


Notas iniciais do capítulo

Nem tudo são flores no paraíso.



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As emoções se extinguiam. Jon lenta e gradualmente voltava a respirar com normalidade, assim como ela. Mas, as lembranças entrecortadas do que eles acabaram de fazer, bem como as sensações que a invadiram estavam bem claras em sua mente.

O corpo masculino pesava sobre o seu, as pernas dele estavam entre as suas, e um dos braços circulava sua cintura. Annie jamais se imaginara estar assim com homem algum, menos ainda com Jon Hawkins.  Mas, fato era que, aquela intimidade não lhe parecia errada.

Moveu a cabeça de leve, sentindo o aroma dos cabelos dele. Passou a mão por um cacho longo que estava caído sobre seu pescoço. Esticando-o. Jon não se movia e Annie supôs que tivesse adormecido. Porém, de repente, a assustou ao comentar:

— Está gostando de brincar com o meu cabelo?

Ela sorriu para si mesma. Seu marido estivera acordado todo aquele tempo?

— Estava pensando no comprimento real dele. – confessou quase encabulada por ter sido pega bisbilhotando.

Jon ergueu-se sobre o cotovelo, a observou fixamente, largou um beijo rápido nos lábios dela e explicou em tom de brincadeira:

— Assim como eu, meus cabelos enganam muito...

— Por que os mantem longos?

Será que aquilo era uma recriminação? Peter tinha cabelos curtos. Ele pensou.

— Eu gosto.  – afirmou diretamente afastando-se um pouco mais.

Ela insistiu:

— Seu pai não reclama?

Ele revirou os olhos. Era uma atitude infantil. E Annie teve vontade de rir da expressão boba no rosto masculino.

— Ele detesta... mas aguenta...ou melhor, nada há que possa fazer.

— Você é teimoso... garanto como faz isso para provoca-lo. – ela supôs, e ele não gostou da suposição, menos ainda do tom usado por ela.

De repente, Jon se afastou do corpo feminino, ficou em pé e Annie se sentiu estranhamente solitária. Com os olhos ele procurou a camisa que imediatamente passou pelos ombros, sem dar as costas para ela. Depois pegou a roupa de baixo dela e a entregou. Só então a garota lembrou que estava completamente nua.   

Num movimento constrangido sentou na cama e colocou o pano fino sobre seu corpo. Querendo esconder o que seu marido já vira. Jon a olhava de maneira estranha. Sério, distante. Sem saber o porquê ela teve vontade de chorar. Nem parecia que há poucos minutos estava... feliz.

Mas por que a surpresa? Assim seria a vida ao lado de Jon Hawkins, ela sempre soube. Seus olhos se encontraram. Jon se achegou ao colchão. Ajoelhou-se diante dela, encarando de frente o rosto feminino antes de puxa-la para perto e tomar-lhe os lábios com um novo e profundo beijo. Não queria que a primeira noite deles acabasse com um desentendimento.

Desta vez, Annie permitiu que a parte racional, que ainda comandava seu cérebro, se sobressaísse e o afastou rapidamente.

— Vou me recolher. – ele explicou ficando em pé, sem parecer contrariado, mas com um tom de voz seco. – Quer que chame sua criada?

Annie não lembrara de Leisa. Onde estaria? Certamente que precisaria dela.

— Acho que ela ficou na casa de papai...

Ele discordou:

— Ela está aqui... eu recomendei que fosse trazida para cá. Hilda e Andrew a trouxeram. Quando quiser que a atenda, é só puxar este cordão. – ele mostrou um longo fio com uma borla na ponta, próximo a cabeceira da cama - Tocará direto no dormitório dela.

— Obrigada... – Annie respondeu se acomodando sobre a coberta, só então percebendo a mancha de sangue que pintava a colcha que eles não tiveram o trabalho de afastar.

— Boa noite. – ele disse baixo e segundos depois cruzou pela porta que separava os quartos deles.

Lágrimas estranhas e silenciosas escaparam pelos olhos de Annie quando ouviu o barulho surdo da madeira se fechando. Seu corpo estava satisfeito, mas seu peito estava vazio. Precisava urgentemente de Leisa, de um banho, de tirar aquele aroma da pele. Pois sabia que da memória, seria impossível.

********************

O cômodo estava escuro. Não havia velas ou flores ali. A única iluminação vinha da rua, a luz fraca de uma Lua minguante. A cama estava pronta, a sua espera.  Joseph já a arrumara. Caminhou até o banheiro e se deparou com a tina cheia. Mas ele não queria se banhar. Queria manter aquele cheiro no corpo pela noite toda. Nunca dormira uma noite inteira ao lado de uma mulher. Olhou para a porta recém fechada, talvez pudesse deixar de lado os receios e passar aquela junto a sua esposa. Chegou mesmo a dar alguns passos em direção à passagem que os separava. Porém ouviu vozes do outro lado e desistiu.

Lentamente retirou a camisa e a jogou sobre uma cadeira. Com o canto dos olhos se observou no espelho. Ela não vira, e ele esperava que nunca visse. Mas, aquela marca estaria ali para sempre, indicando que nunca deveria buscar o que não lhe era devido.

Caminhou até a cama e se enfiou sob os lençóis, mas não dormiu rapidamente. Estava cansado, exausto, e sexualmente satisfeito, porém, não sonolento. Algo faltava. Algo que ele não queria saber o que era.

Tentou fechar os olhos, e foi então que o cheiro dela, algo como jasmim e frutas maduras preencheu suas narinas. Virou-se afofando o travesseiro, o silêncio reinou, apenas o som abafado das vozes no outro quarto mostravam que a casa ainda não adormecera completamente. Ele queria saber o que elas diziam. O que Annie falaria sobre eles... sobre os momentos que viveram, definitivamente eram compatíveis fisicamente. Seus corpos se acertavam com precisão, mas o constrangimento dela depois, o modo como o observou, parecia ter encarado a realidade e percebido com quem estava. 

Ele evitava esse tipo de situação desde sempre. Ser avaliado. Comparado. Menosprezado. Entretanto, naquele caso era preciso, se pretendia mesmo ter um filho algum dia. Não havia outra forma. Nenhuma outra mulher estivera com ele por obrigação, ele nunca precisou pagar para ter um corpo entre seus lençóis, de algumas, nem mesmo o coração. Mas, essas mesmas também não poderiam ser mães de um filho seu.

Annie não precisava amá-lo, nem mesmo gostar dele. Apenas lhe presentear com um filho. Pois era a mulher certa para isso.

**********************

— A senhori... senhora está bem? – Leisa perguntou quando enrolou a toalha sobre o corpo de Annie. A jovem estava silenciosa e distante para alguém que acabara de casar. De alguma forma as noivas sempre expõe sua satisfação ou insatisfação com a primeira noite ou com o noivo, principalmente quando em uniões por conveniência.

— Sim, está tudo bem... – Annie mentiu achegando-se ao tecido macio.

— Já troquei as roupas de cama. – a aia informou assim que elas ingressaram no quarto.

— Ninguém vai querer ver meus lençóis? – Annie perguntou azeda. – Conferir a pureza da esposa do futuro IV Duque de Hawkins?

Leisa se absteve de responder pois sabia que aquela pergunta não fora feita para receber um retorno. Percebeu então que a ama estava mais do que incomodada, estava triste. Annie se debatera em razões para não casar com Jon Hawkins, mas não conseguira evitar o matrimônio. Era claro que não estaria feliz. Por isso estava tão calada.

Mas, ela tinha algo guardado no bolso. Algo que poderia amenizar essa tristeza. Porém, não sabia como entregar o pequeno papel, talvez fosse melhor deixar perto da cama, e Annie que o visse na manhã seguinte. Entretanto, o futuro Duque poderia encontrar a folha e aí, tanto ela quanto sua ama estariam e maus lençóis.

— Você está distraída! – Annie reclamou percebendo o olhar perdido da aia enquanto se deitava.

Leisa tomou coragem e contou meia verdade.

— A senhorita Besant pediu que lhe entregasse este bilhete. Disse que não conseguiu falar a sós com a senhora depois da cerimônia. – na verdade Daisy informara de quem era o bilhete, mas Leisa não se entregaria assim.

Annie ajeitou o travesseiro pensando que era obvio da amiga para se manter afastada. Jon não saíra de perto dela. E Daisy não gostava dele. Na verdade Daisy o detestava com veemência por causa de George. Ainda na época do colégio interno os dois tiveram um desentendimento muito sério a respeito de um trabalho. E o futuro Duque é claro, levou a melhor, obrigando o filho do Barão a uma recuperação prolongada fora de período escolar. Além de ter seu nome incluído na listagem daqueles que descumpriam as normas da escola.

— Obrigada Leisa. Me dê e pode se recolher...

— A senhora não precisa de mais nada? – Leisa perguntou antes de entregar o bilhete diretamente nas mãos da ama.

— Pode ir dormir. Descanse. – insistiu tentando sorrir - Boa noite.

— Boa noite!

A porta do corredor se fechou, Annie encarou outra porta. Não ouvira qualquer som do outro lado desde que Jon fora para lá. E na verdade isso não tinha qualquer importância. O trato era exatamente esse. Eles “estariam” juntos até que ela concebesse, depois... como ele mesmo dissera, cada um poderia seguir sua vida.

Desviou os pensamentos e abriu o papel que Leisa lhe entregara. Mas, tomou um susto ao se deparar com uma letra masculina. Bonita e bem traçada. Era de Peter. Como Daisy se atrevera a fazer isso? Lhe enviar a carta de outro homem em sua primeira noite de casada?

Ela encarou a folha, as mãos tremendo. O coração acelerado. Os olhos marejados.

“Caríssima”

Ele começava.

“Não sei exatamente como principiar esta carta. Se a chamo de senhorita Carter ou de senhora Hawkins. De qualquer forma, é uma mera formalidade, minha Annie. Pois estou escrevendo apenas para lhe confessar tudo aquilo que você não quis ouvir naquela manhã no parque. Confessar meu amor. Minha devoção. Meu eterno compromisso com o nosso amor...”

Nosso amor? Ela repetiu em voz alta. Oh! Céus! Que loucura era aquela?

Como Peter se atrevera a lhe escrever daquela forma?

Mas, ao mesmo tempo em que se sentia abusada pelo modo como ele se impunha a ela, sabendo de sua condição de mulher, sim, ela era agora uma mulher casada. Também se sentia agraciada, amada, querida. E naquele momento estava precisando muito disso. De saber que alguém em algum lugar a amava e desejava seu bem.

As lágrimas afloraram evitando que concluísse a leitura, emotiva Annie apertou a carta contra o peito e passou a chorar convulsivamente por vários minutos. Por que precisava ser assim? Por que ela não pudera se casar com um homem que a amava? e que ela amava? Para estar com alguém que, pelas próprias palavras, era incapaz de se apaixonar. Que sequer cria no amor.

Lentamente saiu da cama, caminhou em direção a cômoda onde Leisa dissera que guardara seus objetos pessoais e escondeu o bilhete ali, sob seus lenços. Não pedira por aquele bilhete, mas ele agora era como uma relíquia. Um presente valioso que a acalentaria nos momentos mais difíceis.  

**************************

O sol não foi o despertador. Jon já estava em pé quando o astro rei surgiu no horizonte. Já se esticara na tina, aliviando as dores da noite mal dormida. E agora estava terminando de se vestir. Como sempre, sua indumentária se restringia a camisa sem gravata, colete, calças e botas. Os cabelos castanhos ainda estavam úmidos e se enroscavam, lentamente reduzindo o comprimento.

Ele puxou um cacho esticando-o ao máximo. Annie o recriminaria se soubesse o quão longos eram? Pela maneira como sua esposa se referira a eles na noite passada, não se sentia satisfeita por sua aparência.

Ao diabo! Ele estava na própria casa. Ninguém lhe diria como se vestir ou como usar o cabelo.

Joseph, um rapaz magro, em torno dos dezesseis anos, ainda estava no quarto, esperava passivamente as últimas ordens do patrão com um olhar submisso e de admiração.

— Posso ajudar-lhe em mais alguma coisa senhor? – perguntou quando Jon finalmente se voltou e o encarou.

— Obrigado! Desça, peça a Hilda que me encontre na varanda em alguns minutos.

O rapaz já se preparava para sair quando ele resolveu fazer a pergunta que tanto lhe perturbava:

— Minha... minha esposa já acordou?

Joseph parou com a mão na maçaneta antes de responder.

— Não posso afirmar senhor. Mas a criada dela já subiu.

— Certo... pode ir.

Joseph saiu, ele caminhou pausadamente até a porta do quarto da esposa. Mal conseguira dormir naquela noite. Depois que a criada de Annie se fora, a mulher chorara por quase meia hora, algumas vezes baixinho, em outras de forma convulsiva e abafada. Ele ouvira os soluços como uma demonstração clara de arrependimento. Entretanto, eles estavam casados, e deveriam levar aquele casamento adiante da forma estabelecida durante a conversa na festa de noivado.

Ainda naquela manhã lhe mostraria o contrato organizado por seu secretário particular. Ela deveria assinar depois que lesse e estivesse de acordo com todas as condições. Depois, havia duas ou três coisas a fazer, mas por último. Acomodar tudo para a partida deles em dois dias para sua casa no campo.

Era claro que precisava urgentemente colocar distância entre sua esposa e Peter Mitchell. Pelo modo como o homem o desafiara, como falara, tinha conhecimento dos sentimentos de Annie. E ela não resistiria ao homem “amado” se esse lhe declarasse seus sentimentos, fez uma careta ao pensar nisso.

Homem amado! Grande idiotice!

Deu as costas para a grande porta de madeira e desceu para a varanda, onde pretendia tomar o desjejum. Hilda já o esperava, sentada à mesa. E quando o viu sorriu.

— Bom dia!

— Preciso que faça algumas coisas para mim. – ele afirmou sério mostrando à mulher que a noite não fora exatamente como deveria ter sido. Hilda teve vontade de suspirar. Será que estava fadada a conviver com casais que se odiavam?

— Diga e farei.

Ele se acomodou na cadeira, se serviu de bacon, uma fatia de pão e ovos.

— Preciso que vá ao quarto de minha esposa e lhe diga que preciso lhe falar.

— Jon... – Hilda tentou começar mas ele a interrompeu.

— Joseph me disse que a criada já subiu, quer dizer que ela já está acordada. Vá até lá e diga-lhe o que ordenei. Tenho compromissos importantes para ficar esperando que se decida a sair da cama. Diga que vá ao escritório.

Hilda ficou em pé, e se preparava para sair da peça quando ele voltou a falar em tom de ordem.

— Nós vamos viajar. Fale com Andrew, preciso que acomode os cavalos e a carruagem. Não quero surpresas no meio do caminho.

— Para onde? – Hilda perguntou sem encarar o patrão. Quando Jon agia feito um idiota, ela tinha vontade de coloca-lo de castigo como fazia quando era criança.

— Essa é outra das suas incumbências. Vou para a minha casa... por favor avise ao caseiro. – concluiu encarando o prato servido. Não tinha fome. O empurrou para longe e encarou o jardim.

Ele a levaria para lá? Hilda se perguntou surpresa enquanto subia até o quarto de Annie. Para aquele lugar onde apenas ele ia? Para seu canto mais resguardado? Sorriu internamente pensando que isso com certeza deveria querer dizer alguma coisa.

***************************

Annie terminava de tomar o café, sentada diante da janela, observando o jardim logo a frente. Depois de uma noite de sono agitado e de sonhos confusos, nada melhor do que relaxar diante de uma imagem como aquela.

Algumas batidas na porta e ela sentiu o coração disparar. Desde que acordara que esperava pelo momento em que Jon entraria, dando-lhe ordens. Estava até admirada de não ter cobrado o desjejum juntos. Mas, quem surgiu pela fresta quando Leisa abriu, era outra pessoa. Hilda.

— Bom dia! – a mulher falou sorrindo levemente. – Posso entrar?

— Bom dia Hilda. Claro! Entre!

Hilda era tão agradável, suave, era uma das coisas que diminuía seu pesar em estar ali.

— Vejo que a senhora já tomou seu café. – a mulher comentou – Espero que estivesse de acordo com seu gosto.

— Estava tudo ótimo! – Annie respondeu mantendo o ar cordial com a governanta apesar de sentir certa curiosidade pela forma como Jon a tratava. Era certo que Hilda era mais do que simples governanta.

— Gostaria de tratar consigo sobre o cardápio do almoço... mais tarde se não se incomodar.

O cardápio do almoço... Annie repetiu mentalmente. Sim, aquela era a casa dela. Havia coisas a determinar. E apenas concordou com a cabeça.

— Mas antes, - Hilda continuou parecendo levemente constrangida. – Sir Hawkins gostaria de lhe falar. Pediu que assim que estiver desocupada vá ter com ele no escritório.

Jon. As pernas bambearam. E a respiração acelerou. O que ele queria?

— Diga-lhe que irei logo. – respondeu baixo tentando se recompor das emoções produzidas por aquele pedido.

Hilda saiu do quarto, e Annie finalmente saiu do lugar, ajeitou o cabelo, o vestido. Se olhou no espelho empertigando o peito, percebendo que suas bochechas estavam mais rosadas que de costume. Jon que não imaginasse que a intimidaria com aquele comportamento! Eles tinham um trato, ela o cumpriria, mas, isso não queria dizer que ele poderia agir como bem entendesse. Como fizera na noite anterior.


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Notas finais do capítulo

Ele está apaixonado ela! E eu estou apaixonada por eles! BJ garotas. Obrigada pelos reviews. Não sei se posto amanhã.