De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 3
Sesshoumaru tem uma epifania.


Notas iniciais do capítulo

*Postei e saí correndo*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713754/chapter/3

Era mentira, só podia ser mentira, não tinha como ser verdade, Mariko não podia estar morta.

Aquela menina só tinha dito aquilo para que ele não tivesse como devolvê-la, e ela nunca diria a verdade.

Seu redator havia garantido que conseguiria informações sobre essa mulher, porque ele havia lhe dito que isso era crucial para que ele continuasse seu livro, e de certa forma não mentira porque não conseguiria escrever enquanto aquilo o estivesse atormentando, mas já haviam se passado três horas e nada do bendito homem ligar!

Ele os ouviu antes de entrarem, quando ainda tentavam destrancar a porta:

—Por que tivemos que ir fazer compras? — reclamava o estupido Inuyasha, que parecia ter se acomodado rápido demais àquela situação — Tínhamos comida!

—Falando sério, quem é que vive a base de pão, ovos e ramen instantâneo? — ouviu a menina dizer entrando no apartamento.

—Pessoas pobres. — seu irmão idiota respondeu entrando junto com ela.

—Vocês não são pobres. — ela retrucou saindo do genkan passando pelo corredor e entrando na cozinha com uma sacola de compras em cada mão.

Menos de vinte e quatro horas e a pequena atrevida já até agia como se realmente morasse ali, ela era pior que a Domadora!

—Tudo bem, então pessoas pobres e escritores antissociais que além de não terem tempo para cozinhar também querem se livrar do irmão e amigos pela fome.

O idiota respondeu a seguindo, com os braços cheios de sacolas de compra.

Ele parou por alguns segundos no corredor ao vê-lo ali sentado ao lado do telefone com um cigarro pendendo entre os lábios, piscou e entrou na cozinha.

—Sabia que nem quando nosso pai sofreu um acidente de carro ele ficou desse jeito? — o ouviu dizer — O que foi que você disse a ele afinal?

—Só que sou um produto sem direito a devolução. — ela respondeu.

Sesshoumaru deixou de ouvir o que eles diziam quando a poucos centímetros de seu rosto o telefone começou a tocar, e ele atendeu antes do segundo toque.

—Aqui é Sesshoumaru. — afirmou tirando o cigarro da boca.

Do outro lado da linha a voz de seu redator respondeu:

—Sesshoumaru, sou eu.

—E então?

—A mulher sobre a qual me perguntou. Kimura Mariko.

—Sim?

—Ela realmente faleceu, já faz quase dois meses.

O fone caiu da mão de Sesshoumaru.

Os dias estavam passando e a cada dia ficava mais e mais difícil se livrar daquela menina, droga por que ela tinha que saber cozinhar? Agora Inuyasha e seus amigos haviam adotado a criança como uma espécie de mascote ou sei lá o que, não que isso fizesse diferença, claro.

A verdade era pura e simples: Agora Sesshoumaru não tinha a menor ideia de como se livrar daquela menina, que não era sua filha!

Aquela mulher... Como era possível que Mariko já tivesse falecido se ela nem era tão mais velha assim que ele?!

Como é que Mariko foi morrer e deixar aquele problema nas mãos de Sesshoumaru?! Dizer para a menina que ela era sua filha. Francamente!

Francamente ele estava tão irritado que nem a queda na temperatura, que indicava a despedida do verão — e já ia tarde! — ou o fato dos aparelhos de ar condicionado ter sido concertado no dia anterior conseguia melhorar seu humor!

Pelo amor de Deus, o que Mariko tinha na cabeça afinal?!

—Hã... — ouviu o Pervertido pigarrear — Sesshoumaru bateu a cabeça na mesa, de novo.

—Deixa, acho que é o novo passatempo dele, é mais saudável que os cigarros eu acho.

Seu irmão idiota respondeu com a boca cheia, embora Sesshoumaru não soubesse dizer de que, porque toda vez que ele a abria a menina a enchia com alguma coisa diferente, ele devia já ter engordado uns sete quilos desde que ela chegara, e talvez isso fosse algum plano dela: quanto mais cheia estivesse a boca de Inuyasha, menos chances ele tinha de reclamar por estar dormindo no sofá todo aquele tempo.

E ela nem cozinhava tão bem assim.

—Eu acho que ele bate muito a cabeça, hoje de manhã ele estava dando com a testa ao lado da porta do banheiro. — opinou a garotinha metida a chefe de cozinha — Será que é estresse por causa dos livros?

—Não. — riu o Pervertido idiota — É o estresse por ser pai.

—A paternidade muda um homem. — filosofou seu irmão, o grande idiota.

—Que paternidade o que. — resmungou erguendo o rosto.

Naquele momento ela estava sobre uma cadeira em frente ao fogão servindo uma porção de sopa miso, ao lado do pé de Inuyasha a máquina de arroz jazia aberta e já pela metade, como comiam aqueles dois!

—Papai. — ela chamou. Ô garota chata! — Sua sopa miso.

E colocou a sopa a sua frente na mesa, afastando-se novamente para servir a si mesma.

Sopa miso, omelete, arroz e chá verde. Um típico café da manhã japonês, exceto por...

—Onde está o peixe?

Ela corou quando se sentou a mesa com seu próprio café da manhã.

—Desculpe papai, eu ainda não aprendi...

—Pare de me chamar de papai. — reclamou.

—Pega leve com ela Sesshoumaru. — disse Inuyasha comendo sua omelete — Antes o nosso café da manhã era só umas barrinhas de cereais com iogurte.

Pegar leve? A garota havia simplesmente surgido ali um dia impondo ser sua filha e que moraria ali agora, e Inuyasha queria que ele pegasse leve como ela?!

—Barrinhas de cereais com iogurte? — ela repetiu — Eu não vi nada disso quando cheguei.

—Porque uns dias antes de você chegar Kagome e Sango já tinham se metido numa luta sangrenta pelas duas ultimas barrinhas.

Pervertido respondeu, e Inuyasha estremeceu, como se o fato de lembrar daquilo lhe desse calafrio.

Às vezes Sesshoumaru assistia no Animal Planet animais ferozes que lutavam quase até a morte em disputas por carcaças de animais, mas isso parecia até brincadeira de criança comparada com aquelas duas.

Inuyasha havia dito para a menina que Sesshoumaru estava tentando expulsar a ele e aos amigos dali pela fome, isso até poderia ser uma boa idéia se não fosse aquelas duas feras selvagens em corpos de colegiais.

Claro que ele não podia esperar muita coisa da Gata Selvagem, afinal ele não lhe dera esse apelido a toa, mas considerando-se o fato de onde Domadora fora criada e a educação que recebera ele não conseguia entender como é que ela havia adquirido um comportamento daqueles!

—E os iogurtes? — a menina quis saber.

Inuyasha encolheu os ombros e respondeu:

—Kagome jogou-os fora dizendo que já tinha passado do prazo de validade há mais de um mês.

Ás vezes Domadora fazia isso: vinha até o apartamento dele, revirava seus armários e geladeira torcendo o nariz para a maior parte do que encontrava e depois jogando tudo fora.

—Mas ramen nunca falta aqui! — Pervertido exclamou erguendo sua yunomi para um brinde imaginário.

—Ficar comendo essas comidas instantâneas o tempo todo não é bom. — ela afirmou.

—E um café da manhã não está completo sem peixe grelhado. — ele alfinetou.

Foi ai que ela levantou-se e saiu correndo da cozinha.

A menina terminou sua omelete e a sopa miso, mas deixou a tigela de arroz pela metade e ainda nem sequer havia encostado em seu chá verde, Sesshoumaru não disse nada¸ apenas continuou comendo, Inuyasha e Pervertido olharam aquilo em silêncio, e depois de algum tempo Pervertido pigarreou e perguntou:

—Será que ela ainda vai volta para tomar o chá?

E Inuyasha o chutou por baixo da mesa.

Horas mais tarde Domadora chegou e encontrou os três sentados no sofá comendo ramen instantâneo e vendo televisão, ele estava quase terminando seu livro por isso não via problema em dar uma diminuída no ritmo.

—Miroku, você já está aqui. — ela constatou.

—Hoje ele chegou cedo. — Sesshoumaru informou — Sete e cinquenta e nove em ponto, no exato momento em que o arroz ficou pronto.

—Timing perfeito. — afirmou Inuyasha que se sentava no meio.

Domadora aproximou-se com o cenho franzido.

—Miroku que horas você saiu de casa pra chegar aqui tão cedo? Cinco da manhã é?

Pervertido mexeu-se desconfortável no canto do sofá e resmungou:

—Algo assim...

—Caramba! Será que não tem comida na sua casa?!

Sinceramente Sesshoumaru também se fazia essa mesma pergunta com frequência.

—Kah. — chamou Inuyasha com os olhos fixos na televisão — Será que da pra sentar de uma vez? Tá atrapalhando minha concentração.

—Atrapalhando a sua concentração?! Inuyasha seu... — ela parou — Por que estão almoçando ramen instantâneo?

Ela, assim como os dois idiotas sentados com Sesshoumaru, parecia já ter se habituado às refeições preparadas por aquela criança.

—Porque desde manhã Rin está trancada no quarto. — Pervertido respondeu terminando seu ramen.

Imediatamente Domadora colocou-se entre eles e a televisão, com as mãos postas nos quadris.

—Por quê? — perguntou incisivamente.

Se olhar matasse haveria um escritor a menos no mundo

—Basicamente Sesshoumaru estava pegando no pé dela de novo. — Inuyasha respondeu esticando-se todo para tentar conseguir ver televisão.

—Oh Sesshoumaru! — ela bufou exasperada erguendo as mãos para o ar e saindo da sala.

E ela provavelmente ligou para Gata Selvagem, já que minutos depois a garota estava batendo na porta, Sesshoumaru nem se mexeu do lugar, mas Inuyasha e Pervertido jogaram “pedra papel tesoura” pra ver quem iria abrir, Pervertido foi quem perdeu e teve de ir abrir a porta.

—Já não era sem tempo! — a ouviu reclamar, feroz como sempre — O que o idiota do Sesshoumaru fez com a menina agora?

Sesshoumaru girou os olhos. Será que aquela garota sabia que estava na casa dele?

Atualmente as crianças estavam ficando cada vez mais abusadas.

Minutos depois ele estava na cozinha descartando as embalagens vazias de ramen quando Domadora entrou sacudindo aqueles seu dedo acusador em direção a ele e bradando:

—Sesshoumaru sua besta quadrada!

Poucas pessoas podiam dizer isso e sair ilesos, Domadora era uma delas, infelizmente ela sabia disso, ele suspirou e virou-se preparando para ouvir o sermão de uma garota que ainda nem sequer tinha saído do colégio e fingindo não estar vendo os quatro intrometidos — sim a menina tinha saído do quarto — que espiavam tudo do corredor.

E ela falou, e falou, e falou por uma eternidade, embora o relógio dissesse a Sesshoumaru que só haviam se passado doze minutos.

Essa era Domadora, uma pessoa acostumada a dar ordens e ser obedecida, que não se calava até ter falado tudo o que tinha a dizer e que geralmente conseguia reduzir a maioria das pessoas a simples crianças, Sesshoumaru sabia que não havia como fazê-la calar a boca até que ela dissesse tudo o que tinha para dizer, então simplesmente ficou lá e fingiu estar escutando, mas mentalmente estava tentando decidir se deveria ou não matar o protagonista do livro que estava terminando.

—Ah cara! — ela suspirou quando finalmente parou para respirar, e só então Sesshoumaru voltou a prestar atenção, parecia que ela já estava terminando — E pensar que vim aqui para chamar a turma para irmos ao parque aquático amanhã!

—Piscina uou! — Pervertido exclamou estrando na cozinha com os braços para o alto. — Estou dentro!

Domadora massageou as têmporas.

—Miroku você acha mesmo que depois disso eu ainda tenho humor para sair amanha?

—O que? — ele arregalou os olhos e correu pra pegar as mãos dela — Espera um pouco Kagome­-chan, você está de cabeça quente agora, mas pense direito! Sango vem cá me ajudar!

—Ele tem razão Kagome! — Gata Selvagem correu em seu auxilio — Pense bem, amanhã será nossa ultima chance porque terça-feira já começam as aulas e você vai se arrepender se não formos!

Não eram só abusados, eram interesseiros também, Sesshoumaru girou os olhos.

Um braço passou ao redor dos ombros de Sesshoumaru.

—Ei Sesshy que caldo você levou da Kagome!

“Sesshy”? Seu irmão só podia estar querendo um soco na cara, ele sempre ficava tão ridiculamente feliz quando Domadora “dava um caldo” em alguém que não fosse ele, embora soubesse perfeitamente bem que ninguém levava um caldo melhor que ele próprio, porque ninguém se importava mais do que ele com o que Domadora estivesse pensando, já que era apaixonado por ela.

Mas claro, seu irmão era tão idiota que ainda não havia se dado conta disso, às vezes, só às vezes, Sesshoumaru tinha vontade de bater em Inuyasha e dizer “imbecil você a ama.”, mas então se dava conta que se fizesse isso provavelmente os dois começariam a namorar, e isso significava que Domadora passaria ainda mais tempo em sua casa.

Então não, fora de questão.

—Eu vou trabalhar. — suspirou tirando o braço de Inuyasha dali.

Levou algumas horas, mas finalmente aquela dupla de interesseiros mais seu irmão, que também não era lá muito diferente deles, conseguiu convencer Domadora que sim seria uma ótima idéia ir ao parque aquático no dia seguinte, para Sesshoumaru estava ótimo, isso ignificava que ele não teria de aturá-los por um dia inteiro.

Mas claro, nada podia ser perfeito, enquanto ele digitava na cozinha — ele ficava mudando constantemente de lugar para escrever — o final do penúltimo capitulo de seu livro — e definitivamente ele mataria o protagonista — podia ouvir claramente a menina batendo o pé na sala e dizendo “não” firmemente.

—Por favor, Rin-chan, vai ser divertido! — seu irmão implorava.

Eles haviam chegado ao cumulo do desespero, já estavam até a chamando de “Rin-chan”. Mas a menina apenas batia o pé e falava:

—Não!

—Rin-chan, reconsidere! — era a vez de o Pervertido implorar.

—Não!

—Mas é um parque aquático! — interveio Gata Selvagem — As crianças adoram parques aquáticos!

—Eu não vou!

—Eu vou levar meu irmão também, vocês podem ser amigos...

—Não quero!

Sesshoumaru colocou um ponto e iniciou outro paragrafo, estava quase terminando aquele capitulo.

—Rin-chan. — Domadora chamou gentilmente — É por que você não sabe nadar?

—Eu sei nadar!

—Então... — ela tentou novamente — É por que não tem roupa de banho? Eu posso te comprar uma... Hoje mesmo! Sim vamos sair agora e...

—Eu não vou! — a menina gritou — Não vou a lugar algum sem o papai!

Todos fizeram silêncio, Sesshoumaru continuou digitando com o notebook em cima da mesa da cozinha e um cigarro, quase no fim pendendo dos lábios, é claro que eles sabiam que ele não iria, porque Sesshoumaru odiava esse tipo de coisa, ele sequer lembrava-se da última vez que tinha mergulhado em algo maior que a banheira de seu apartamento, mas provavelmente os quatro estavam naquele exato momento jogando “pedra papel tesoura” na sala para saber quem tentaria convencê-lo a ir.

Ele digitou setenta palavras antes da cabeça da pessoa azarada da vez aparecer pela porta da cozinha.

—Hã... Sesshoumaru, eu posso falar com você?

A Gata Selvagem, uma péssima escolha, não que qualquer escolha pudesse ser boa naquela situação, mas mesmo uma assim péssima escolha.

—Estou ocupado. — respondeu sem parar de digitar, estava chegando a um ponto critico ali. — Seja rápida.

Ela acenou com a cabeça e puxou uma das três cadeiras livres em volta da mesa redonda para se sentar.

—Bem... É que... Nós estávamos pensando sobre o parque aquático... — ela fez uma pausa, Sesshoumaru franziu o cenho e apertou o corretor automático de seu notebook. — Você por acaso...?

—Não. — respondeu sem rodeios, apagando o cigarro num cinzeiro.

Ah, ali estava o erro. Ele havia se esquecido de colocar o acento em “órbita”. Toda aquela barulheira em seu apartamento estava tirando sua concentração.

—Mas... Mas eu... — Gata Selvagem piscou desnorteada. — Você nem me deixou falar Sesshoumaru!

—Eu não preciso, daqui posso ouvir tudo o que vocês dizem — parou de digitar por alguns segundos relendo o que tinha escrito no último paragrafo, não gostou e começou a reescrevê-lo.

—Mas por que você não vem com a gente? — ela insistiu — Nem precisa entrar na água se não quiser.

—Não. — ele ergueu os olhos da tela. — Eu tenho que trabalhar, alguns de nós precisamos pagar contas. Você sabia disso?

Gata Selvagem começou a ficar vermelha, Sesshoumaru espreguiçou-se e assistiu, ela ia explodir agora.

—Mas que droga Sesshoumaru! Você não pode parar nem por um dia?! Inuyasha disse que você já está terminando mesmo!

Sesshoumaru a olhou nos olhos com expressão séria.

—Eu não vou. — respondeu definitivo — Agora desista e vá embora Gata Selvagem.

Ela trincou os dentes, olhando-o como se quisesse arrancar seus olhos com as unhas, mas então, quando realmente parecia prestes a entrar em erupção, suspirou e levantou-se.

—Faça como quiser velhote. — resmungou saindo.

Ele esperou para ver se fariam outra tentativa, não queria ser interrompido de novo.

—Ele definitivamente não vai. — Gata Selvagem suspirou na sala.

—Então eu também não vou. — a criança sentenciou.

E fim da história... Ah, bem que ele queria.

—Papai! Papai! Olha que carro lindo que parou em frente ao prédio papai! Vem cá olhar! Uau olha como é grande e como brilha! Caramba! Quanto tempo acha que gastam encerando ele?

Sesshoumaru desligou a televisão e jogou a cabeça para trás, um dia inteiro sem seu irmão e seus amigos parasitas seria o paraíso, mas – e sempre havia um “mas” – ele ia ter que ficar com aquela garotinha irritante e atrevida, que agora estava em sua varanda pulando igual uma pipoca só porque viu um “carro grande e brilhante”.

Caramba que menina de oito anos fica animada com carros?!

—É o carro da Domadora. — disse olhando para o teto. — Tem um minibar lá dentro.

—A Kagome-chan já tem carro?! — a garota pulou ao seu lado no sofá — Quantos anos ela tem?

Sesshoumaru franziu o cenho.

—Não sei. — respondeu — Quinze? Dezesseis? Dezessete? Menos de dezoito com certeza... Eu acho.

A criança ajoelhou-se ao seu lado no sofá e o olhou.

—Você não faz ideia. — afirmou.

Sesshoumaru deu de ombros, não lhe interessava saber quantos anos tinha Domadora ele só queria saber o que tinha que fazer para se livrar daquela menina.

No entanto ela ainda estava bem ali ao seu lado e continuava a falar...

—Mas eu também acho que a Kagome-chan ainda não tem idade para ter carteira de motorista.

Ele não se lembrava de ter mencionado nada sobre carteiras de motorista. Suspirou, aquele seria um longo dia.

—Domadora não tem carteira de motorista.

—Não?

—Não.

Silêncio. Por três segundos. E então ela voltou a falar:

—Mas você disse que o carro bacana lá fora é dela.

—E é.

—Então como o carro pode ser dela se ela não tem carteira?

—Ela não o dirige.

Pelo canto dos olhos ele viu a criança arregalar os olhos.

—Então é um daqueles carros futuristas que nem do “Eu robô” que dirigem sozinhos?!

Aquilo com certeza era culpa de Mariko que tinha deixado aquela menina ver muita televisão.

—Não. — Sesshoumaru bufou. — O motorista dela dirige.

Se fosse possível à criança, ela teria arregalado ainda mais os olhos.

—Por que Kagome-chan tem carro e motorista? — perguntou parecendo abismada— Ela é uma princesa?!

E pensar que teria de passar o dia inteiro com ela... Sesshoumaru fechou os olhos e suspirou audivelmente.

—Se gostou tanto do carro por que não vai junto? — perguntou — Com certeza tem picolés no minibar. Crianças gostam de picolé, não é? E todos adorariam se você fosse inclusive eu... Na verdade, principalmente eu, e se não tiver roupas de banho, Domadora te compra umas no caminho.

Ela franziu o cenho o encarando por alguns segundos.

—Você vai? — quis saber.

—Nem que me amarrassem.

—Então eu também fico.

Afirmou a pequena rebelde sentando-se ao seu lado com os braços cruzados e fazendo beicinho.

Ótimo! Ele girou os olhos.

—Inuyasha a Domadora chegou! — avisou — Vai logo embora!

—Caramba ela está adiantada! — seu irmão reclamou passando correndo em frente à sala. — Rin, tem certeza que não vêm com a gente?

—Tenho! — ela respondeu sem hesitar ou se mexer do sofá.

Mas que peste de menina!

—Então te trago uma lembrança quando voltar. Tchau! — Inuyasha despediu-se apressado saindo e trancando a porta.

O apartamento mergulhou em silêncio, Rin e Sesshoumaru olharam o relógio de parede pendurado acima da televisão, 10h10min, eles ficaram quietos sem nada pra fazer, Sesshoumaru tossiu, a menina olhou em direção à varanda e depois os dois olharam novamente o relógio, 10h12min, ela começou a olhar para as unhas das mãos, ele bocejou, e olharam o relógio novamente, ainda 10h12, suspiraram.

Por fim Sesshoumaru pegou o controle remoto e ligou a televisão novamente.

Estava passando um programa de pergunta e respostas, ele colocou o cotovelo sobre o braço do sofá e apoiou o rosto no punho fechado, ao seu lado a menina começou a balançar as pernas de forma inquieta, olhava um pouco para a televisão, depois para o dia ensolarado lá fora através da varanda, novamente para a televisão e por fim para o relógio, e Sesshoumaru acabou olhando também: 10h16min.

Por que o tempo tinha que se arrastar daquele jeito? Mas que estorvo!

—Hum... — ela fez ao seu lado — Você não vai trabalhar hoje papai? É que você escreve quase todos os dias.

—Mais tarde. — respondeu.

Este era um dos vários pontos positivos em ser um escritor: se não estivesse com o prazo apertado ele mesmo podia fazer seus horários.

E Sesshoumaru nunca ficava com o prazo apertado.

Mas às vezes gostava de fingir que sim... Só para ver o quão louco conseguia deixar seu editor.

Do seu lado a menina pulou do sofá para o chão.

—Então acho que vou fazer o almoço.

Ele não lhe deu atenção e ela saiu para a cozinha.

Sesshoumaru precisava parar de chamá-la por “a menina” ou então “a criança” era trabalhoso, mas do que ele a chamaria? Irritante? Pestinha?

Talvez Estorvo, ou então...Órfã? Hum... Não.

Até para Sesshoumaru isso soava cruel demais, mas tudo bem, depois ele pensava nisso.

Franziu o cenho. Depois ele pensava nisso? Desse jeito parecia até que ele já estava cogitando ficar com a menina, e de jeito nenhum que isso ia acontecer!

—Papai. — ela chamou da cozinha — Sobrou um pouco de frango do jantar de ontem, o que você acha de algumas enxilhadas para o almoço?

Enilhadas? O que era isso?!

Ao invés de responder Sesshoumaru aumentou o volume da televisão, ele definitivamente precisava se livrar daquela criança!

Consta no dicionário que uma “epifania” é um súbito entendido ou compreensão de algo, e foi exatamente isso que Sesshoumaru teve.

Foi enquanto ele assistia televisão, o programa já estava quase no fim, um participante do time azul precisava escolher entre três opções a data certa do assassinato de Okubo Toshimichi, mas se ele respondesse errado ou não respondesse ao final de trinta segundos sua equipe perderia a chance de ganhar 100 pontos e um participante do time amarelo puxaria uma corda que o derrubaria num tanque de água, e de repente Sesshoumaru percebeu como poderia se livrar da menina.

A ideia foi tão repentina que ele levantou-se com um salto, era perfeita!
E todos iam ficar fora o dia inteiro, não podia haver momento melhor que aquele!

—Papai? — ela chamou entrando na sala — O almoço já está pronto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Caso alguém tenha interesse eu criei um Twitter especificamente para divulgar minhas estórias.
Quem quiser é só me seguir lá.
O Twitter é esse aqui: https://twitter.com/Fl0r_D0_De5ert0