De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 20
Sesshoumaru-Sama o homem imutável.


Notas iniciais do capítulo

Glossário:

Tinta naquim: É um material corante preto originário da China. É preparada com negro-de-fumo (pó-de-sapato) coloidal e empregada em desenhos, aquarelas e na escrita.

Se houver alguma coisa que não entendam, por favor me avisem! XD



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Sesshoumaru-Sama era um homem pragmático que levava a vida da forma mais prática e livre de incômodos possível e, segundo tio Inuyasha, ele nunca mudaria.

Havia regras restritas e não verbalizadas — tudo bem, muitas delas eram verbalizadas sim — ao redor de Sesshoumaru-Sama que eram seguidas não apenas por ele como deveriam ser seguidas por todos à sua volta também.

Primeiro de tudo: a porta do quarto de Sesshoumaru-Sama estava sempre trancada, vinte e quatro horas por dia, sem exceção.

Rin girou a maçaneta, estava destrancada, ela empurrou a porta levemente.

Lá dentro Sesshoumaru-Sama estava sentado em sua cadeira de vidro lendo um livro, que era como ele passava a maior parte do seu tempo, ah... Como devia ser boa a vida de um escritor.

Regra número dois: Ninguém entrava no quarto de Sesshoumaru-Sama, exceto por umas raras exceções que era algumas poucas mulheres com quem Sesshoumaru-Sama tivera relacionamentos no passado como, por exemplo, Kagura-sensei que, ao que parece, havia até morado ali por algum tempo — mas Rin não tinha muita certeza porque nesse momento Tio Inuyasha e os outros haviam começado a balbuciar coisas sobre “ela ser só uma menina” um por cima dos outros — e se você quisesse falar com Sesshoumaru-Sama que se contentasse em falar com ele através da porta, pois ele nunca abria para ninguém, isso se respondesse.

—Rin. — ele a chamou sem erguer os olhos do livro — Se quer me dizer alguma coisa entre e diga de uma vez.

—S-sim! — gaguejou entrando.

—E então? — ele perguntou.

Estava sentado elegantemente com as pernas cruzadas, segurando o livro com uma mão e apoiando o rosto na outra.

—É que... — ela hesitou. — O senhor poderia me deixar ler algum de seus textos?

—Meus textos? — ele baixou o livro, pousando-o aberto com as páginas viradas para baixo sobre as pernas e a olhou — Por que quer ler algo assim?

—É que... Rikka parece gostar tanto dos seus livros... E é estranho que eu sendo sua filha nunca tenha lido nada que o senhor já tenha escrito...

—Rikka? — ele repetiu — É aquela sua amiga?

—Ela não é bem minha amiga. — murmurou — E também, depois do que vovô Myuga disse sobre seu texto eu fiquei curiosa.

Regra número três: Bem essa não parecia bem uma regra, mas... Sesshoumaru-Sama nunca tinha o menor tato com o que falava, fosse com adultos ou crianças... E ele também não parecia ter muita noção (ou se importar) com o que era ou não adequado a crianças.

—Rin, o tipo de coisa que eu escrevo não é adequado para alguém da sua idade...

—Mas...! Mas...  Rikka os lê! — Rin argumentou.

—É eu sei que tenho leitores jovens, e alguns bem mais jovens do que o esperado, mas mesmo assim... — ele olhou para ela, para seus olhos suplicantes, e pareceu suspirar, mas com Sesshoumaru-Sama nunca se podia ter muita certeza — Muito bem. — disse se levantando, ainda segurando o livro com o dedo entre as páginas marcando o ponto onde havia parado sua leitura e puxou de sua estante uma revista que entregou a ela — Na página 37 dessa revista está o primeiro texto de minha autoria já publicado, só umas poucas pessoas sabem que ele é meu, pois na época eu usava um pseudônimo.

Rin sorriu, abraçando à revista como um tesouro.

—Obrigada Sesshoumaru-Sama!

—Certo, certo. — ele a despachou sentando-se novamente em sua cadeira de vidro e reabrindo seu livro — Minhas estórias tendem a ser perturbadoras, mas não espere que eu vá pagar suas consultas com o psicólogo depois.

—Sim! — concordou de prontidão.

Regra número quatro: Essa era uma regra não verbalizada, mas todos sabiam sobre ela, nunca, sob possível pena de morte, incomodar Sesshoumaru-Sama em suas horas sagradas, isso é, quando ele estava escrevendo e quando estava dormindo.

Mas era impossível saber quando Sesshoumaru-Sama estava ou não dormindo, pois o tempo todo seu quarto permanecia imerso no mais absoluto silêncio, e quanto a não incomodá-lo quando ele escrevia... Bem, segundo Tio Inuyasha não havia o que fazer sobre isso, porque Sesshoumaru-Sama se incomodava com tudo, até com o fato de tio Inuyasha e os outros respirarem, tudo bem que ele nunca havia matado ninguém por isso, mas um dia chegara a literalmente jogar todos para fora do apartamento.

Passava da meia noite agora e, pelo senso comum de qualquer um, Sesshoumaru-Sama já estaria dormindo àquela hora.

Rin bateu na porta.

Sesshoumaru-Sama atendeu e, arqueando uma sobrancelha, olhou-a ali parada no corredor envolta em dois edredons de uma vez.

—Eu não consegui dormir. — murmurou.

—Eu te avisei sobre minhas estórias.

Ele deu a ela passagem para entrar.

...

Agora que tio Inuyasha ainda estava convalescente sem poder sair da cama, o quarto dele havia se tornado o novo núcleo da casa, de forma que sempre que Sango-chan, Miroku-kun e Kagome-chan chegavam depois da escola eles iam direto para lá, o que era bom para Sesshoumaru-Sama, mas ainda assim ele arranjava um jeito para reclamar.

—Bem-vinda Sango-chan! — Rin a recebeu na tarde do dia seguinte.

—Obrigada Rin-chan. — Sango-chan agradeceu curvando-se levemente e tirando os sapatos ao entrar.

—É a Gata Selvagem novamente? — Sesshoumaru-Sama perguntou lá de dentro. — Por que vocês insistem em continuar vindo aqui todos os dias?

—Nós estamos trazendo a lição de Inuyasha. — Sango-chan respondeu indo apartamento adentro com Rin logo atrás — Para ele não ficar atrasado nas matérias enquanto está longe da escola.

Pararam em frente à cozinha onde Sesshoumaru-Sama estava sentado à mesa trabalhando de costas para elas.

—Vocês todos são da mesma sala, então basta que venha apenas um de vocês. — ele respondeu — E nem precisa entrar, deixem na caixa de correio ou, se quiserem mesmo ter o trabalho de subir até aqui, batam na porta e deixem no corredor. Além do mais. — uma pausa — Hoje é domingo.

Sango-chan girou os olhos.

—Mas que homem mais ranzinza você é Sesshoumaru! — acusou — Se continuar assim vai ficar completamente grisalho antes dos trinta.

—Creio que as mulheres prefiram homens grisalhos.

De repente as mãos de Sango-chan cobriram as orelhas de Rin, não que isso a impedisse de ouvir.

—S-Sesshoumaru! — gaguejou Sango-chan — Rin está aqui!

Sesshoumaru-Sama finalmente virou-se, olhou-a ali e deu as costas a elas novamente.

—Francamente! — Sango-chan reclamou pegando Rin pela mão e a puxando para o quarto de tio Inuyasha — Esse homem não tem mesmo o menor tato com o que fala ou expões na frente de crianças!

Ela podia dizer isso, mas ainda assim ele havia demonstrado um mínimo de preocupação antes de deixá-la ler qualquer um de seus textos, tudo bem que fora só no começo... E, certo, talvez tenha sido só porque não queria pagar um psicólogo para ela.

—Sango, por que você tinha que chegar justo agora?! — tio Inuyasha reclamou por detrás da máscara quando as duas entraram no quarto — Não podia demorar um pouco mais?!

—Nossa Inuyasha! — ofendeu-se Sango-chan — Está certo que eu já esperava esse tipo de recepção de Sesshoumaru, mas de você...!

—Não liga Sango! — Kagome-chan riu — Ele só está irritado porque perdeu de novo a nossa aposta costumeira.

—Eu apostei que era o Miroku. — tio Inuyasha admitiu irritado.

—O que? De novo?  — Sango-chan sorriu — Inuyasha você não se cansa de perder?

—Feh. — de sua cama mesmo ele entregou o dinheiro para Kagome-chan — Kagome você vai mesmo pegar o dinheiro de alguém que está de cama?

—Vou. — Kagome-chan tomou-lhe o dinheiro da mão sem piedade.

—Bruxa. — tio Inuyasha resmungou.

E Rin deu risada.

Mas, apesar de Sesshoumaru-Sama sempre reclamar tanto, porque “era um homem ranzinza”, a verdade é que desde que tio Inuyasha voltara do hospital, Kagome-chan e os outros vinham passando bem menos tempo ali, talvez eles achassem que tio Inuyasha precisava descansar e que não devia se esforçar tanto, eles continuavam a vir todos os dias, claro, mas agora sempre iam antes do jantar, e aos finais de semanas só vinham depois do almoço, o que era um motivo a menos para Sesshoumaru-Sama reclamar porque ao menos agora sua comida estava rendendo um pouco mais.

Mas naquele dia quando Rin foi levar o jantar de seu tio todos ainda estavam lá, inclusive Miroku-kun que havia chegado pouco depois de Sango-chan, talvez achassem que tio Inuyasha já havia descansado o bastante, ou simplesmente tivessem perdido a hora, de qualquer forma por causa disso era a primeira vez que eles a viam indo servir o jantar de seu tio.

Algo com o que as meninas ficaram estranhamente indignadas.

—Tio Inuyasha, aqui está o seu jantar... — ela começou a dizer.

—Inuyasha! — Kagome-chan reclamou correndo até ela para lhe pegar a bandeja das mãos — Está fazendo uma criança vir te servir na cama?!

—Não se envergonha?! — Sango-chan o censurou.

—Feh! Como se eu tivesse alguma escolha! — Tio Inuyasha recebeu a bandeja das mãos de Kagome-chan — Eu não fico nessa cama o dia inteiro porque quero, eu estou confinado aqui no quarto sob ameaça de ser trancado caso não obedeça por livre e espontânea vontade.

Mas do que confinado ao quarto, na verdade Sesshoumaru-Sama havia dado ordens de que tio Inuyasha permanecesse o tempo todo na cama — apesar de não ter chegado ameaçá-lo amarrá-lo ali.

—Sério? — Miroku-kun piscou — Mas nem para ir ao banheiro?

—Posso sair para ir ao banheiro duas vezes por dia. — tio Inuyasha respondeu.

—Três, desde que seja absolutamente necessário. — ela acrescentou.

—Exatamente. — tio Inuyasha suspirou levando a mão à máscara...

Quando Rin ergueu as mãos.

—Espera tio Inuyasha, espera um pouco! — pediu.

E então se virou, saiu correndo do quarto e fechou a porta.

Lá dentro ela ouviu tio Inuyasha dizer:

—Ah sim, e nunca, seja qual for a circunstancia devo tirar a máscara na presença da menina. Até dormir com ela eu preciso.

—Quer saber de uma coisa Inuyasha? — Miroku-kun perguntou — Eu acho que é só por causa da menina que Sesshoumaru não cimentou aquela porta com você aqui dentro.

Mais tarde, quando já havia dado tempo o suficiente para seu tio terminar o jantar, ela voltou para buscar os pratos e achou que seria bom levar alguma sobremesa.

—Tio Inuyasha, eu...

—Uou! Espera um pouco Rin! Espera um pouco! — ele apressou-se a colocar a máscara de volta. — Pronto pode entrar.

Não que ainda houvesse risco dele passar alguma coisa para ela — ele já nem parecia mais doente — mas essas eram ordens de Sesshoumaru-Sama.

—Ah, certo. — ela se aproximou — Eu pensei que talvez o senhor gostasse de um pouco de pudim para a sobremesa... — todos no quarto a encararam. — O que foi?

Talvez tio Inuyasha não gostasse de pudim?

—Rin, querida. — Sango-chan franziu o cenho — Onde você conseguiu isso?

—Hã? — Rin olhou para o copo de pudim em suas mãos — Sesshoumaru-Sama comprou para mim.

—O Sesshoumaru comprou um pudim para você?! —Miroku-kun perguntou incrédulo.

—Na verdade ele comprou uma dúzia. — respondeu.

—Quando isso aconteceu?! — tio Inuyasha fazia a pergunta soar como se ele fosse um paciente que houvesse saído de um coma e se deparado com um mundo totalmente diferente do que ele lembrava.

—Ontem quando fomos ao supermercado. — Os olhares de choque se espalharam pelo cômodo. — O que foi? Aconteceu alguma coisa?

—Nada. — Kagome-chan a olhava sem nem piscar — Você só está dizendo que Sesshoumaru foi ao supermercado com você e lhe comprou pudins.

—Alguma coisa errada?

Tio Inuyasha levou a mão à cabeça.

—Acho que eu preciso me deitar um pouco.

Aquela reação deixou Rin ainda mais confusa.

—O que? — perguntou — O que está acontecendo?

—Bom... Digamos que Sesshoumaru não é bem do tipo que compra “coisas desnecessárias”. — Sango-chan explicou.

—E nem que faz nada desnecessário. — Miroku-kun acrescentou. — Tipo ir a supermercados.

—Como ir ao supermercado pode ser desnecessário? — perguntou ainda mais confusa.

Mas talvez isso a ajudasse a entender porque tivera que insistir tanto antes de conseguir convencer Sesshoumaru-Sama a levá-la ao supermercado da primeira vez, na época em que tio Inuyasha estava passando uns tempos na casa de Kagome-chan.

—Sesshoumaru é quase um eremita, Rin, eu te disse isso logo que você chegou aqui, não disse? Feh, ele praticamente não sai de casa, passa o máximo de tempo possível enclausurado aqui dentro. Ele sempre foi assim. — tio Inuyasha respondeu.

—Então, mesmo antes da minha chegada, já era o senhor que fazia as compras, tio Inuyasha? — perguntou curiosa.

—O que? Ele? — Kagome-chan acenou displicente — Esqueça Rin-chan, embora seja muito mais fácil tirar Inuyasha de casa, Sesshoumaru não costuma dar dinheiro a ele, a não ser que queira muito se livrar dele.

—Às vezes ele simplesmente me coloca para fora sem dinheiro algum. — tio Inuyasha resmungou.

E Rin lembrou-se da vez em que Sesshoumaru-Sama a colocou para fora juntamente com tio Inuyasha porque queria terminar de escrever o seu livro e os dois acabaram indo ao cinema e saindo para lanchar, tudo à custa de Kagome-chan, porque Sesshoumaru-Sama não dera qualquer dinheiro a eles.

—Então se não era o tio Inuyasha que ia ao supermercado... — seu olhar se dirigiu à Kagome-chan.

—Nem olhe para Kagome, Rin-chan — disse Miroku-kun como se lesse seus pensamentos — Se bem que é verdade que Kagome vez por outra trazia algumas coisas. Chegava com sacolas trazendo leite, ovos, legumes e essas coisas, e aí jogava fora tudo que houvesse nos armários e já tivesse passado da validade.

—Se não fosse por mim esses dois iriam sobreviver à base apenas de iogurte vencido, barras de cereais e comida instantânea. — ela franziu o cenho — Na verdade acho que era exatamente assim que eles viviam antes de Inuyasha me conhecer.

Os olhares se direcionaram a tio Inuyasha e ele encolheu os ombros não admitindo nem desmentindo aquilo.

—Mas ela sempre cobrava de Sesshoumaru por tudo o que tinha gastado com nós, e ele reclamava por ela estar jogando a comida dele fora e dizia que não tinha que pagar nada porque ela comprara tudo por vontade própria, mas no fim sempre acabava pagando. — contou.

—Na verdade ele até me dava dinheiro a mais. — Kagome-chan admitiu com um dar de ombros — Acho que no fim das contas, Sesshoumaru paga qualquer quantia que seja para ser deixado em paz e não ter que sair de casa.

—Ainda assim, no geral, não era Kagome quem fazia as compras da casa. — Sango-chan esclareceu.

—Então quem era?

Seus pensamentos então vaguearam para aquela sua memória reprimida de ano novo, algo sobre uma mulher... Ela havia perguntado se Rin era filha da enfermeira?

—Era Sesshoumaru. — tio Inuyasha respondeu.

Rin franziu o cenho.

—Mas vocês disseram...

—Ele fazia as compras pela internet. — tio Inuyasha explicou.

—Você não pode fazer compras de supermercado pela internet. — mas, no momento em que fechou a boca, ela duvidou das próprias palavras — Pode?

—Sesshoumaru faz tudo pela internet. — garantiu Kagome-chan — Dessa forma quase nunca precisa sair de casa.

—Mas ele sai para malhar! — afirmou lembrando-se de que Sesshoumaru-Sama lhe dissera algo assim uma vez — Não sai?

Ela mesma, durante as férias de inverno, o vira por várias vezes desaparecer pela manhã sem levar ou falar nada e voltar horas mais tarde da mesma forma, e achara que ele estava saindo para fazer exercícios, agora a pouco mesmo, antes de ela trazer o pudim, ele havia saído, embora já fosse noite.

—Ah, sim ele sai. — confirmou tio Inuyasha — Embora não todos os dias, apenas uma ou duas vezes por semana, mas com mais frequência no inverno e nunca no verão. E eu não acho que ele faça isso pela saúde.

—Não faz?

—Rin-chan, se Sesshoumaru realmente se importasse com a saúde ele pararia de fumar. — afirmou Kagome-chan. — A academia é provavelmente uma maneira de ele descarregar o estresse para não cometer com as próprias mãos os crimes que descreve com a caneta.

Isso era verdade.

—E como ele levava o lixo para fora?

—Eu é que levava. — tio Inuyasha respondeu.

Isso explicava porque Rin só começou a ver Sesshoumaru-Sama fazer aquele trabalho depois que tio Inuyasha ficou de cama.

—E se alguém ficar doente? Como ele ia à farmácia?

—Ele não ia. — tio Inuyasha encolheu os ombros — Se alguém ficar doente Sesshoumaru te manda para a emergência mais rápido do que você possa dizer “espirro”.

—Ele é uma contradição.

Afirmou Kagome-chan, afinal Sesshoumaru-Sama se preocupava tanto com sua saúde quando se tratava de alguém poder passar um vírus a ele... Mas não dava a mínima para continuar fumando até a morte.

Mesmo uma criança como Rin sabia que cigarros faziam muito mal.

Uma vez um colega de classe seu, cuja mãe era médica, havia levado um livro para a escola e, apontando para um pulmão preto como tinta nanquim[i], afirmara “minha mãe disse que é isso que acontece com os seus pulmões quando você fuma”, uma garota vomitou.

—E as contas? — perguntou.

—Ele paga pela internet. — Sango-chan respondeu.

—Até a conta da internet ele paga pela internet. — acrescentou Miroku-kun.

—Claro que, às vezes ele vai até o caixa eletrônico sacar algum dinheiro porque é sempre bom ter um pouco de “dinheiro vivo” consigo, para o caso de alguma emergência. — argumentou Kagome-chan.

—Para o caso de ele querer se livrar de mim. — resmungou tio Inuyasha.

—Mas e quanto ele precisa falar com o vovô Myuga? — perguntou.

Todos se calaram por uns segundos.

—O velho Myuga é um caso especial. — afirmou tio Inuyasha — No começo ele e Sesshoumaru só se falavam por telefone ou e-mail, vídeo conferencia se preciso, mas isso só funcionava quando era Sesshoumaru que queria falar com ele, porque quando era o contrário Sesshoumaru sempre ignorava as chamadas de Myuga, e ele acabava sempre tendo que vir até aqui para falar com aquele cara, até que o velho se irritou e disse que, a partir de então, só aceitaria falar com Sesshoumaru se fosse pessoalmente.

—Ele deve ter pensado que Sesshoumaru recusaria e passaria a atender as ligações e responder os e-mails dele. — Sango-chan comentou.

—Mas Sesshoumaru acabou aceitando, e se ele precisa falar com Myuga ele vai pessoalmente ao escritório dele, salvo umas raras exceções, até porque é muito mais difícil para Myuga vir aqui pessoalmente do que ligar. — afirmou tio Inuyasha — Então sempre que aquele velhote com fobia de elevadores e joelhos ruins realmente precisa falar com Sesshoumaru ele tem que vir até aqui.

—Se bem que têm umas vezes que ele simplesmente dá uns sumiços, não é? — lembrou-se Miroku-kun.

—Ah sim. — concordou tio Inuyasha e olhou para Rin — Você até que deu sorte, Rin.

Rin franziu o cenho.

—Como assim dei sorte?

Tio Inuyasha deu de ombros.

—Com você ele sumiu apenas por uns poucos dias e, de qualquer forma, estava aqui por perto, só uns andares mais acima. Mas comigo...

Rin franziu o cenho.

—O que aconteceu com o senhor?

Tio Inuyasha também franziu o cenho.

—Foi na época em que me mudei para cá, logo no dia seguinte ao que cheguei, aquele idiota jogou um maço de notas em cima da mesa e disse “toma, tente sobreviver com isso” e depois sumiu! Dias depois quando nossos pais ligaram e eu contei que há uma semana Sesshoumaru não aparecia em casa e eu não tinha ideia de onde ele estava eles quase ficaram loucos, mamãe queria pegar o primeiro voo para o Japão, tiveram que ligar para Myuga, ele disse que não sabia exatamente onde o imbecil do Sesshoumaru estava, mas que ele estava bem, em uma “viagem de negócios”.

Rin estranhou aquilo, como assim uma viagem de negócios? Sesshoumaru-Sama era escritor! Ele trabalhava dentro de casa!

—E então o que aconteceu?

—O desgraçado voltou três semanas depois, perguntou se havia restado algo do dinheiro, ainda havia uns ¥1.500,00, me mandou pedir uma pizza e trancou-se no quarto como sempre faz.

—Só?

—Só.

—Mas onde ele estava?

—Ah, Hokkaido.

Rin arregalou os homens.

—O que?!

—Parece que ele estava escrevendo algo a ver com esse lugar, e as informações que encontrava na internet e em outros livros não o estava satisfazendo, então ele foi até lá pessoalmente. — tio Inuyasha encolheu os ombros — Ele ainda sumiu assim mais umas duas vezes, numa delas deixou-me dinheiro para comprar uma pizza e sumiu por quase trinte e seis horas.

Tio Inuyasha fez uma carranca.

—Sesshoumaru-Sama é realmente um homem cruel. — Rin afirmou inexpressiva.

Miroku-kun riu sem jeito levando a mão à parte de trás do pescoço.

—Olhe Rin-chan, tudo o que estamos dizendo... É que apesar de não gostar de sair de casa, às vezes Sesshoumaru some sem dar explicação nenhuma, e ele pode sumir por dias ou semanas e é melhor você já ir se habituando a isso, porque ele não vai mudar, e nem adianta pedir para ele avisar quando for sumir, ah claro e também e que se ele pudesse te mandar e te buscar na escola pela internet, ele faria.

Em outras palavras, ele era um homem muito cruel.

—A propósito Rin-chan. — Sango-chan a olhava com curiosidade — Por que você ainda precisa que Sesshoumaru te leve e te busque na escola? Na sua idade...

—Eu sei, já tenho nove anos agora, o mais normal é que eu já fosse habituada a ir e voltar sozinha da escola. — Rin concordou — Porque as crianças geralmente começam a ir sozinhas para a escola logo que entram no primário aos sete anos. Mas para isso... Os pais geralmente juntam as crianças em grupos, não é? E então deixam que vão sozinhas para a escola, sempre com algum deles vigiando de alguma esquina. — todos concordaram, afinal havia sido assim com todos eles, mas não com ela — Só que nenhum dos outros pais queria que suas crianças se misturassem comigo, e também não queria ficar responsáveis, mesmo que apenas um pouquinho de longe, pela filha de alguém “tão irresponsável”. Então Mariko teve que continuar a me levar para a escola, eu até gostava, porque não tinha muitas chances de ficar com ela no resto do dia.

Um silêncio desconfortável se espalhou pelo quarto, tio Inuyasha começou a brincar com o potinho de pudim, ainda não aberto, entre os dedos.

—Rin-chan... — Kagome-chan a chamou — Porque você chama sua mãe pelo nome? Digo... Você é uma criança tão formal, mal consegue nos chamar apenas pelos nomes, mas a tua própria mãe...

—Mariko era muito nova e alegre, sempre achavam que ela fosse minha irmã mais velha, mas quando eu a chamava de “mamãe”... Então ficavam olhando de cara feia para ela, principalmente quando viam que ela não tinha aliança. — explicou — Então acabei me acostumando a chamá-la pelo nome, mamãe ficava triste, mas pelo menos as pessoas não a olhavam de cara feia. — quando todos ficaram ainda mais quietos ela acrescentou — Por isso que me acostumei tão fácil a chamar o Sesshoumaru-Sama pelo nome ao invés de papai, mas é impossível chamá-lo só pelo nome! — ela soltou — Porque mamãe parecia mesmo muito nova e era sempre alegre, mas Sesshoumaru-Sama...  Ele é mais novo que ela, mas não parece! Não porque pareça velho, mas é que...

—Ele age como um velho. —Miroku-kun riu.

—Ele nunca sorri, e é sempre mal humorado. — Rin afirmou e fez uma careta.

Por trás da máscara tio Inuyasha suspirou e balançou a cabeça.

—Vocês ficam aí falando como se Sesshoumaru fosse uma pessoa normal, mas a verdade é que ele vive sob uma condição rara.

—Q-que condição? — Rin gaguejou.

Seria possível que seu pai estivesse doente?

E que, assim como sua mãe, ele iria deixá-la também? Mesmo que eles houvessem acabado de se conhecer?

Só de pensar nisso seus olhos se enchiam de lágrimas.

—A verdade... É que a condição de Sesshoumaru faz com que ele fique muito mais velho por dentro do que por fora. — tio Inuyasha contou, Rin segurou um soluço, enquanto Kagome-chan, Sango-chan e Miroku franziam o cenho — Quando ele era adolescente já tinha a cabeça de alguém de uns trinta e tantos anos, agora que tem vinte e poucos anos... Ele pensa como um velho de setenta!

Rin soluçou... E Kagome-chan acertou tio Inuyasha na cara com um travesseiro.

—Inuyasha isso não tem graça! — ela ralhou — Está fazendo Rin-chan chorar!

—Desculpem, desculpem. — Tio Inuyasha riu. — Mas vocês deviam ter visto as suas c...!

De repente Sango-chan estava sobre ele, pressionando o travesseiro em sua cara com ambas as mãos, usando todo o peso do corpo para mantê-lo ali.

—Seu lixo. — ela disse sinistramente — Não se devem fazer brincadeiras desse tipo! Você está se deixando influenciar demais por Miroku!

Sob o travesseiro tio Inuyasha se debatia e sufocava.

—Ei, por que eu que pago o pato?! — Miroku-kun reclamou, em algum momento ele havia pegado o pote de pudim para si e o estava comendo.

Rin piscou.

—Era uma piada?

—Ah, Rin-chan, não se deixe levar pelas besteiras desse idiota. — Kagome-chan respondeu balançando a cabeça.

—Mas o Sesshoumaru parece mesmo ter a mente de um velho de setenta anos ou mais. — afirmou Miroku-kun com a boca cheia de pudim — Do tipo rabugento cujo cérebro já se tornou inflexível ao ponto de sabermos que ele nunca vai mudar, vai continuar sempre sendo ranzinza, fumante, que não brinda e nem comemora nada, nem aniversários.

—Sempre comemoramos os aniversários na casa da Sango. — Kagome-chan explicou.

Miroku-kun continuou:

—Que não deixa ninguém entrar ou ver o que tem dentro de seu quarto, a não ser algumas poucas mulheres, caramba o que ele esconde lá dentro?!

—Ele também não tem tato com crianças. — Sango-chan afirmou ainda asfixiando tio Inuyasha, que estava se debatendo um pouco menos.

—É, isso também. — Miroku-kun concordou terminando o pudim e olhando casualmente para Sango-chan — Sango, você vai matá-lo.

—Ah sim. — Sango-chan largou tio Inuyasha como se houvesse se esquecido dele.

Tio Inuyasha tirou o travesseiro da cara tossindo e com respiração ofegante.

—Sesshoumaru é uma pessoa pragmática e de hábitos, essa é que é a verdade. — disse ajeitando a máscara no rosto como se nada houvesse acontecido — Faz apenas o que é prático e absolutamente necessário e nada mais que isso.

Rin inclinou a cabeça de lado.

—Então por que ele continua fumando? — perguntou — O que há de prático em gastar tanto dinheiro com algo que está te matando? Ele quer morrer mais rápido do jeito menos prático possível?

Todos franziram o cenho, como se só agora estivessem pensando por aquela lógica, Kagome-chan até chegou a abrir a boca como se fosse responder, mas fechou-a sem dizer nada e sentou-se na ponta da cama de tio Inuyasha ainda parecendo pensar.

Estavam todos tão quietos que pularam de susto, inclusive ela, quando, de repente, ouviram a voz de Sesshoumaru-Sama chamar:

—Rin!

—J-já vou! — gaguejou ainda não recuperada do susto e tomando o copo, já vazio, de pudim das mãos de Miroku-kun, virou-se para correr dali. Ela nem tinha ideia de quando ele voltara! — Sim Sesshoumaru-Sama, o que o senhor...?

Parou estupefata ao ver o bolo em cima da mesa.

Sesshoumaru-Sama, o homem que odiava comemorações e não comemorava nem mesmo aniversários, o homem imutável, a olhou e disse:

—Feliz aniversário.

...

—Sesshoumaru-Sama. — Rin chamou enquanto comia a fatia de bolo que ele lhe servira — Como sabia que era hoje? O meu aniversário.

Sesshoumaru-Sama tinha até mesmo se servido de uma fatia de bolo e sentado junto com ela, embora ele o comesse acompanhado de uma lata de cerveja e ela de uma de chá gelado.

—Quando fizemos o exame de DNA eu precisei que você me desse sua certidão de nascimento, lembra? — respondeu comendo mais um pedaço de bolo.

—Ah sim.

Ela havia trazido sua certidão de nascimento entre suas coisas na mala como uma espécie de precaução, para o caso de ele não acreditar na legitimidade dela como filha de Mariko.

—Sesshoumaru-Sama? — chamou outra vez — Posso lhe pedir uma coisa?

—O que é?

Rin hesitou.

—Não... Desapareça mais sem avisar nada. — pediu e mordeu o lábio inferior — As pessoas que o amam ficam preocupadas.

Sesshoumaru-Sama comeu mais dois pedaços de bolo parecendo pensar sobre aquilo.

—Essa é a primeira vez que ouço qualquer coisa semelhante a isso. — declarou — Mas já que está perguntando eu fiz reservas nas termas, estarei viajando quarta-feira e devo ficar lá por uns sete ou dez dias, peça para a Gata Selvagem ou aquele idiota te levar para a escola durante esse período. — ele levantou-se e deixou o prato na pia — E leve o resto do bolo para aqueles parasitas.

E assim ele saiu deixando a menina completamente em choque para trás.

...

Só horas mais tarde, depois que o bolo já havia terminado e todos já haviam ido embora, quando Rin foi levar os pratos sujos para a pia é que a menina notou algo curioso abandonado na cesta de lixo: uma carteira de cigarros ainda lacrada.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam desse capítulo? Sesshoumaru é mesmo tão imutável quanto todos acreditam? Ou ele apenas abre uma série de exceções para Rin? kkkkk



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