De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 16
Orgulhosa filha.


Notas iniciais do capítulo

Nossa!
Esse foi o maior capitulo até agora e, além disso, há uma surpresinha para vocês no final!



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O cabelo de Rin estava perfeitamente arrumado, sem nenhum fio fora do lugar e nem um furacão poderia tirar qualquer um deles do lugar, porque a cabeleireira que o arrumara havia usado tanto laquê para deixá-lo comportado (duro), liso e brilhante que agora ela tinha até a sensação de que se batesse nele ouviria um som metálico de lataria.

Ao terminar o penteado a cabeleireira até brincara:

—Se depois disso a sua professora ainda brigar contigo por causa do cabelo, manda-a vir reclamar aqui na minha cara!

E sorrira lhe entregando um cartão.

E agora Rin estava de pé diante da professora, com os cabelos negros luzindo como sapatos recém-engraxados e as mãos sobre os joelhos, respeitosamente curvada para frente.

—Peço humildemente que me perdoe pela rebeldia e desobediência dos últimos dias, Abi-sensei. — disse — E meu pai também me mandou avisar que já não é mais necessário que eu seja impedida de assistir às aulas, porque hoje mesmo, no final das aulas, ele virá para falar com a senhora.

Quando ergueu a cabeça Abi-sensei estava olhando-a e analisando criticamente os seus cabelos.

—Sim, hoje seu cabelo está de acordo com os padrões. — aprovou.

E Rin precisou de muita concentração para suprimir um sorriso, pois, por um segundo pegou-se vendo em sua imaginação a professora fazendo exatamente como Sesshoumaru-Sama havia dito, no dia anterior, que ela faria: Ficaria tão satisfeita com seu penteado que a usaria como exemplo para as outras crianças.

—Levantem-se todos. — diria a professora — Este é o padrão que quero que sigam, quero todos os cabelos tão bem arrumados quanto os de Rin-chan. — e diria mais: — E hoje só darei aula à Rin-chan, porque ela é a única de acordo com os padrões, por isso saiam todos, hoje darei aula somente a Rin-chan... E a Souten-chan.

O cabelo de Souten-chan sempre estava impecável também, o irmão dela com certeza se esforçava muito para isso.

Mas, ao invés de tudo isso, o que Abi-sensei falou foi:

—E seu pai realmente disse que viria falar comigo hoje depois das aulas?

Rin engoliu em seco, mas Sesshoumaru-Sama havia dito que viria então ele viria!

Ela queria convencer-se disso, mas, ainda assim, sua voz não soou nem um pouco confiante quando gaguejou:

—S-sim. — parecia até que estava dizendo alguma mentira!

Na verdade quase esperou que a Abi-sensei a colocasse para fora de qualquer jeito, e a mandasse esperar pelo pai lá fora, porque só quando ele chegasse é que ela poderia assistir à aula.

Ao invés disso, Abi-sensei disse:

—Muito bem. — acenou — Então pode ir para o seu lugar.

Contendo um suspiro de alivio Rin respondeu:

—S-sim, Abi-sensei.

Mas bem quando ela ainda se dirigia a sua carteira, Abi-sensei voltou a chamá-la:

—E Kimura-chan.

Rin paralisou, e sem coragem nem mesmo para virar-se respondeu:

—S-sim?

—Saiba que se o seu pai não vier hoje você levará três dias de suspensão, como punição por mentir.

E, pelo tom de voz, Rin sabia que Abi-sensei estava sorrindo às suas costas, aquele mesmo sorriso suspeito que ela sempre dava antes de passar um teste surpresa.

—S-sim, Abi-sensei. — Respondeu, concluindo então o mais rápido possível, mas ainda sem correr, a sua marcha para a sua carteira e sentando-se antes que Abi-sensei resolvesse mudar de ideia.

Por trás do ombro Souten a cutucou.

—Rin, essa foi por pouco! — sussurrou-lhe.

Rin concordou, porém apenas com um rígido e rápido movimento de cabeça, temerosa de que Abi-sensei as visse ou escutasse e as colocasse para fora — Rin tinha certeza de que a professora só estava esperando o menor deslize dela para pô-la para fora de novo.

—Muito bem, classe, cumprimentar. — ordenou Abi-sensei.

E imediatamente todos se colocaram de pé.

Foi o dia escolar mais tenso de toda a vida de Rin.

—Kimura-chan. — Abi-sensei a chamou.

Como se Rin já não estivesse tensa o suficiente.

—S-sim! — respondeu postando-se como uma soldada em frente à mesa da professora.

Só faltava a continência.

—Seu pai sabe onde fica a sala do conselho estudantil?

—N-não. — gaguejou.

Sesshoumaru-Sama nunca havia ido ao colégio dela, porque ele sempre pagava todas as mensalidades da escola pela internet sem ter que sair de casa — E Rin não tinha a menor ideia de como ele fazia isso.

—Então vá esperá-lo lá fora, e quando ele chegar leve-o a sala do conselho estudantil. — ordenou Abi sensei — Esperarei por quinze minutos, e se ele não aparecer considere-se suspensa.

Rin empalideceu.

—S-sim Abi sensei.

Ela ouviu as risadinhas de Rika e seu grupo — que ainda não haviam saído da sala — atrás de si.

—Ei Rika. — disse um dos amigos de Rika — Que acha de ficarmos para poder conhecer esse famoso pai escritor de quem Rin-chan tanto se gaba?

Mas Rin não tinha tempo para discutir com eles agora, de forma que os ignorou e, mesmo contra as regras da escola, saiu correndo da sala.

Por favor, por favor, que Sesshoumaru-Sama estivesse lá fora! Por favor!

Quase entrou em pânico ao chegar ao portão da escola e perceber que o carro de Sesshoumaru-Sama ainda não estava lá.

Oh, por favor! Ela fechou os olhos com força, apoiando-se sobre os joelhos. Por favor, Sesshoumaru-Sama, não se atrase justo h...!

—Por que veio aqui fora sem estar agasalhada? — a voz de Sesshoumaru-Sama perguntou ao seu lado. — Justo você que sempre é tão frienta...

A cabeça de Rin girou tão rápido que ela sentiu tudo rodar.

—Sesshoumaru-Sama! — exclamou de olhos arregalados.

E mais surpresa ainda ficou quando viu a forma como ele se vestia.

Ele ainda usava calças e camisa de mangas compridas, mas eram roupas sociais, como as que ele usou no dia em que foi distribuir autógrafos naquela livraria, só faltava a gravata e o paletó.

—O que? — perguntou quando a percebeu o olhando.

—N-não, nada, venha Sesshoumaru-Sama é melhor que venha logo! — chamou pegando-o pela mão e puxando-o para dentro da escola.

Não havia tempo a perder, ela não queria ser suspensa!

Rin não se lembrava de, alguma vez, já ter corrido tanto e tão rápido em sua vida antes, e Sesshoumaru-Sama com certeza ficou tão surpreso com aquele comportamento dela que nem sequer a contrariou.

Mas a sala do conselho estudantil estava completamente vazia.

—Não. — Rin murmurou — Eu fui buscá-lo e voltei em menos de vinte minutos... Em menos de dez até! Tenho certeza!

—Por que você está assim tão aterrorizada ao ponto de correr daquela forma? — Sesshoumaru-Sama perguntou, passando por ela ajeitando o punho da camisa vermelha escura que usava — Essa sua professora é uma bruxa por acaso?

—Sesshoumaru-Sama! — exclamou chocada.

Tudo bem que ela realmente achava que Abi-sensei era uma bruxa, mas coisas assim jamais deviam ser ditas na escola, ao alcance dos ouvidos dos professores!

—E afinal, onde está essa sua professora? — perguntou atravessando a sala e abrindo a janela.

—Sesshoumaru-Sama! — Rin alarmou-se — Está frio lá fora, Sesshoumaru-Sama, feche a janela, a professora vai reclamar!

Calmamente Sesshoumaru-Sama virou-se e disse:

—Eu posso até fechar a janela, mas ainda vai continuar frio lá fora.

—Sesshoumaru-Sama, por favor! — agitou-se correndo em direção à janela e tentando fechá-la aos pulinhos — Precisamos fechá-la antes que a professora... Ah! — Exclamou quando seu medalhão soltou-se de seu pescoço e caiu do lado de fora. — Meu... Meu medalhão!

—Hum... Será que o fecho quebrou? — Sesshoumaru-Sama perguntou calmamente se inclinando ao seu lado na janela — Ele já era um pouco antigo... O que você está fazendo?

Perguntou quando percebeu que ela tentava, a qualquer custo, passar a perna sobre a janela.

—O medalhão! Eu tenho que pegar o medalhão! — respondeu agitadamente.

—Hum... Você gosta tanto assim dele, é?

—Claro que gosto, afinal ele é o precioso medalhão da mamãe! — exasperou-se — Não fique assim tão calmo, Sesshoumaru-Sama, aquele medalhão é tudo que me restou da...! Ah!

Exclamou surpresa quando, de repente, Sesshoumaru-Sama colocou-se atrás de si e a ergueu por debaixo dos braços para carregá-la para o lado de fora da janela.

—É melhor não se sujar muito aí fora. — avisou-a.

—Tá! — respondeu abaixando-se para procurar pelo medalhão entre os arbustos.

Aqueles arbustos deviam mesmo estar ali ainda? Eles estavam em pleno inverno afinal.

—O precioso medalhão de Mariko. — ouviu-o repetir, como se meditasse. — É verdade que ela nunca o tirava do pescoço, nunca mesmo.

—Claro que não. — resmungou buscando o medalhão entre a folhagem quase congelada — Foi um presente seu afinal.

Segundo Mariko, fora o dia em que colocara aquelas fotos lá dentro e o dia em que o emprestara para Rin, ela só o havia tirado do pescoço mais uma vez: No dia em que Sesshoumaru-Sama fora embora.

—Eu corri atrás do carro como uma tola, gritando por ele. — ainda podia ouvir a voz da mãe lhe dizendo — Inuyasha me viu, tenho certeza que ele chamou Sesshoumaru, mas ele não olhou para trás nem um momento sequer, fiquei com tanta raiva, e tão magoada, que arranquei o medalhão do pescoço e o atirei no carro. Errei por mais de meio metro. — nessa hora ela ria com tristeza — Quando o carro sumiu de vista eu fui até o medalhão e peguei-o, ajoelhei-me na rua, gritando e chorando como uma louca, você não imagina a cena, meu pai teve que me arrastar para dentro de casa, acho que foi só ai que eles descobriram que eu andava saindo com Sesshoumaru-kun, ah... Meus olhos ficaram tão inchados.

Rin afastou um pouco os arbustos para o lado.

—Mariko chorou muito quando o senhor foi embora. — resmungou.

—Chorou? — e ele não parecia se sentir minimamente culpado por isso — Não sei por quê...

—Porque ela o amava! — respondeu irritada — E o senhor foi embora sem dizer n...!

—Já que nós dois já tínhamos terminado na época. — completou.

Já tinha terminado? Mariko nunca tinha contado isso para Rin antes.

—Como assim já tinham...?! — e ergueu a cabeça justamente no momento em que Sesshoumaru-Sama ascendia um cigarro — Sesshoumaru-Sama nós estamos na escola, o senhor não pode fumar aqui!

Reclamou.

—Estou em uma escola. — ele respondeu soltando a fumaça — Escolas me estressam, e também me deixam nostálgico.

—O senhor fuma desde a escola?! — espantou-se — Sesshoumaru-Sama era um delinquente?

Acima dela, com o cigarro pendendo entre os dedos, Sesshoumaru-Sama girou os olhos.

—Eu não era um delinquente. — negou — É só que as provas me estressavam mais que aos outros, porque, para mim, ir à escola já era um estresse diário.

Rin deitou a cabeça de lado.

—E o que isso tem haver?

—No final do primeiro ano eu estava extremamente estressado por causa das provas, então uma garota com quem eu saia me apresentou aos cigarros como uma forma de relaxar. — ele levou o cigarro aos lábios e tragou mais uma vez — Embora eu e os cigarros estejamos bem até hoje, eu e ela acabamos por não durar muito.

—Por quê? — baixou a cabeça ainda vasculhando a área. Onde estava o medalhão? — O senhor percebeu que ela era uma má influência?

—Na verdade foi mais ela que percebeu isso do que eu.

Rin voltou a ergue a cabeça.

—Como assim?

—Na primavera, quando as aulas recomeçaram, ela me disse que como aquele relacionamento era visivelmente unilateral talvez fosse melhor que terminássemos, mas além disse ela também queria terminar porque achava que só estava me atrasando.

—Atrasando o senhor?

—Enquanto ela estava terminando o primeiro ano, depois de tê-lo cursado por duas vezes, eu estava pulando direto para o 3° ano.

Os olhos de Rin brilharam com admiração.

—Então Mariko tinha mesmo razão, Sesshoumaru-Sama é muito inteligente!

—E você ainda tinha alguma dúvida? — Ele a olhou sem um pingo de humildade.

Rin fez uma careta e voltou a procurar pelo medalhão perdido.

—O que é um relacionamento unilateral?

—Um relacionamento onde apenas uma das partes nutre sentimentos pelo outro. — respondeu-lhe — Parece que ela chegou a essa conclusão depois que eu não lhe fiz nenhuma ligação nem lhe mandei mensagens durante as férias de primavera, e tampouco respondi às ligações e mensagens dela, e ela achou-me muito frio quando foi me visitar em casa... Não sei por que, afinal embora nós não tenhamos conversado muito eu aceitei recebê-la, e podia muito bem ter fechado a porta na cara dela.

Rin franziu o cenho.

—Se não conversaram, o que fizeram?

—Nós...

—Achei!

Exclamou o interrompendo sem perceber quando (finalmente) avistou o brilho do medalhão de Mariko.

—O senhor realmente não ficou triste quando ela terminou o namoro?

—Não. — respondeu sem pensar duas vezes — Não é como se eu a amasse, e também aquilo não era um namoro de verdade, no final eu só estava com ela para saciar as necessidades carnais estimuladas pelos hormônios típicos da puberdade, e também era uma forma de me distrair do tédio no qual eu estava imerso.

 Para ser sincera, Rin não compreendeu nem metade do que Sesshoumaru-Sama disse, e abraçando o medalhão de Mariko contra o peito ela ergueu o olhar para ele.

—Sesshoumaru-Sama, o senhor é mesmo um homem cruel, não é?

Quem sabe não era por isso que ele gostava tanto do frio? Seu coração era puro gelo.

Sesshoumaru-Sama encolheu os ombros de maneira indiferente e, tirando o cigarro dos lábios, disse:

—No mesmo dia fui pego fumando na escola por uma pessoa que disse...

—Apague esse cigarro, é proibido fumar na escola!

Rin gelou ao ouvir a voz de Abi-sensei dentro da sala, Sesshoumaru-Sama, por outro lado, limitou-se a virar-se calmamente.

—Sesshoumaru-kun?! — Abi-sensei perguntou surpresa.

—Já fazia tempo que ninguém me chamava assim, eu já estou mais perto dos trinta do que dos vinte, sabe? — Sesshoumaru-Sama comentou sem se alterar — Mas já faz alguns anos, como tem passado... Abi-sensei?

Os olhos de Rin estavam muito arregalados, afinal como é que aqueles dois se conheciam?!

—N-não me chame de “Abi-sensei”! — Abi-sensei protestou — Sabe perfeitamente bem que nunca fui sua professora!

Se os olhos de Rin já não estivesses suficientemente arregalados eles certamente teriam se arregalado mais ainda naquele momento. Como assim Abi-sensei estava pedindo a alguém que não a chamasse de “sensei”? Ela sempre exigia de todos, até dos pais de alunos e de outros professores, que a chamassem de sensei — diziam alguns que era porque ela amava mais do que tudo ser uma professora, e adorava ouvir os outros chamarem-na de “sensei”.

—Hum... Estão você ainda está dizendo coisas desse tipo desde aquela época. — Sesshoumaru-Sama comentou distraidamente apagando o cigarro, que já estava quase no fim, no batente da janela enquanto olhava para a paisagem do lado de fora — Por acaso ainda se sente culpada por ter tido um relacionamento proibido com um dos seus alunos?

—Não diga algo tão...!

—O que?! — Antes que percebesse o que fazia Rin já tinha se colocado de pé em um salto.

—Kimura-chan?! — quem estava surpresa agora era Abi-sensei — O que você está fazendo aqui?!

Ela até mesmo havia se esquecido de que chamara Rin e o pai até ali?

Enquanto que Sesshoumaru-Sama olhou-a calmamente dizendo:

—Você já recuperou seu medalhão.

E mais uma vez a ergueu por debaixo dos braços, dessa vez para trazê-la para dentro.

Rin olhou de Sesshoumaru-Sama para Abi-sensei.

—Sesshoumaru-Sama e Abi-sensei realmente tiveram um relacionamento proibido?

—I-isso...! — gaguejou Abi sensei.

—Sim. — Sesshoumaru-Sama respondeu a pondo no chão — Essa mulher realmente foi capaz de se envolver dessa forma com um de seus próprios alunos.

—Eu não era sua professora! — Abi-sensei protestou — Na época eu era apenas uma estagiária ainda!

—Ainda assim não creio que o diretor ou qualquer membro do corpo docente teria gostado de saber, certo? — Sesshoumaru-Sama respondeu. — Estivemos juntos durante a maior parte do meu último ano, acho que foi o relacionamento mais longo que já tive.

—E ainda assim você não teve qualquer consideração em me dispensar! — Abi-sensei estava, definitivamente, irritada.

—Eu a dispensei?

—Sim! — ela respondeu — No dia da sua formatura eu fui te procurar, eu estava feliz porque você finalmente estava deixando de ser um aluno daquela escola e poderíamos então nos assumir, mas o que você me disse? Você me disse “Bem, parece que é aqui que nossos caminhos se dividem, eu estou indo agora Abi-sensei, então adeus”!

Rin olhou para Sesshoumaru-Sama, que ser humano horrível, não só com Mariko... Ele realmente não tinha a menor consideração pelos sentimentos de uma mulher.

—Hum... Sim, eu posso realmente ter dito algo assim. — ele concordou sem, em nenhum momento, perder a calma — Parece que você é do tipo que guarda rancor, mas me diga... O que você está fazendo aqui Abi-sensei?

—Já disse para não me chamar dessa forma! — ela protestou — E eu trabalho aqui!

—Trabalha? Você agora é professora do primário? O que houve com o colegial? Foi demitida por assediar os alunos?

—O que é assediar? — Rin perguntou.

—Assediar é... — começou Sesshoumaru-Sama.

—Isso não vem ao caso agora! — interrompeu-o Abi-sensei, justo ela que sempre queria explicar coisas aos outros... Aquele estava realmente sendo um dia estranho. — E eu nunca te assediei se é o que está insinuando.

—Segure o cabelo, Rin. — a instruiu abaixando-se atrás dela e lhe jogando os cabelos por cima dos ombros para recolocar o medalhão em seu pescoço — Parece que não quebrou, o fecho apenas abriu. De qualquer forma, Abi-sensei, eu penso que não fui chamado aqui apenas para relembrar o passado.

—E você continua guiando a conversa e mudando de assunto como bem entende da mesma forma que fazia antes — Abi-sensei suspirou cruzando os braços, e franzindo o cenho perguntou — Mas do que você está falando? Quem foi que te chamou aqui...? — De repente puxando a respiração ela pareceu perceber o que estava realmente acontecendo ali e seus olhos se arregalaram da mesma forma que os olhos de Rin haviam se arregalado antes. —S-Sesshoumaru-kun não me diga que essa menina é sua...! Mas para você ser pai dela você teria que ser ainda um adolescente quando...! — por um momento Abi-sensei ficou sem falas — Eu sempre soube que você era maduro para sua idade, mas ao ponto de já ter uma filha, mesmo naquela época...!

—Sesshoumaru-Sama só me conheceu há pouco tempo. — Rin sentiu necessidade de explicar — Mariko nunca contou sobre mim para ele.

—Ela está morando comigo por um tempo. — Sesshoumaru-Sama afirmou recolocando-se de pé — Agora que já acabamos de dissertar sobre nosso passado juntos, nós podemos focar no motivo para eu ter sido chamado até aqui? Ou pretende desperdiçar ainda mais o meu tempo Abi-sensei?

—Não...! Eu...! — por dois segundos Abi-sensei ficou sem palavras, Sesshoumaru-Sama definitivamente tinha um dom, e então pigarreou e recomeçou: — Senhor Taisho, devido a recente perda de Kimura Rin-chan, eu fui muito compassiva com ela e demorei até demais para repreende-la por seu cabelo inadequado, no entanto, isso não poderia se estender para sempre, do contrário outras crianças poderiam começar a repetir seu comportamento, no entanto, quero que o senhor saiba que numa próxima vez não serei tão compassiva, pois preciso ser imparcial com as crianças, por isso gostaria que o senhor prestasse mais atenção a como arruma sua filha para...

Foram quase vinte minutos inteiros apenas ouvindo Abi-sensei falar sobre as regras da escola, imparcialidade e indumentária adequada em ambiente escolar, que dizer, Rin na verdade não tinha muita certeza se Sesshoumaru-Sama realmente estava ouvindo o que ela dizia, porque o tempo todo ele esteve olhando para algum ponto fixo logo acima do ombro esquerdo de Abi-sensei da mesma forma que fazia com Kagome-chan quando ela tentava lhe dar alguma lição de moral.

E apesar de Abi-sensei ter dito aquele monte de coisas sobre imparcialidade e tal... Em momento algum ela reclamou quando Sesshoumaru-Sama voltou a ascender um cigarro e se pôs a fumar dentro da sala ainda enquanto ela falava.

—Então Abi era a professora bruxa que você tanto temia. — Sesshoumaru-Sama comentou enquanto caminhavam a caminho da sala de Rin, pois na pressa ela tinha se esquecido de suas coisas, depois que Abi-sensei finalmente os liberou — Eu sou escritor e vivo da minha imaginação, mas nunca poderia ter imaginado isso.

Segurando na mão de Sesshoumaru-Sama, Rin não deixou de notar que daquela vez ele não tratou a professora por “sensei”, o que provava que ele só estava tentando — e conseguindo — irritá-la naquela hora.

—Ela costuma ser bem pior. — afirmou — Na verdade essa foi a primeira vez que eu a vi sem saber o que fazer.

—Verdade? — ele não parecia impressionado, mas também, o que o impressionava? — Então ela mudou bastante, quando era minha professora ela costumava ser tão dócil e influenciável que era comum tanto alunos quanto professores tirarem proveito dela e fazê-la de capacho.

Rin o olhou pelo canto dos olhos.

—Sesshoumaru-Sama. — chamou — O senhor realmente fez tudo aquilo que Abi-sensei falou?

—Fiz. — ele nem sequer titubeou ao responder — Mas em minha defesa, na época ela ainda não usava aquele anel dourado no anular direito.

Afirmou referindo-se à aliança de casamento de Abi-sensei.

—Não é disso que estou falando! — ela protestou.

Os dois pararam no corredor, Sesshoumaru-Sama a olhou.

—E é do que então?

—É que o senhor e Abi-sensei eram professora e a...!

—Rin! — Shiori a chamou.

Ela vinha pelo corredor com suas coisas, juntamente com Souten ao seu lado.

—Ah, meninas, obrigada. — agradeceu pegando suas coisas das mãos de Shiori.

Shiori e Souten afastaram-se um passo, olhando fixamente para Sesshoumaru-Sama ele por sua vez limitou-se a arquear uma sobrancelha para elas.

Rin pigarreou.

—Souten, Shiori, esse aqui é o Sesshoumaru-Sama, ele é escritor, Sesshoumaru-Sama, essas são Shiori e Souten, são minhas amigas. — os apresentou.

—O-olá.

Souten gaguejou parecendo um tanto intimidada com a presença de Sesshoumaru-Sama, enquanto Shiori, sempre tão tímida, limitou-se a acenar com a cabeça enquanto torcia as mãos nervosamente.

O olhar de Sesshoumaru-Sama fixou-se em Shiori, nervosa, ela fez menção de afastar-se.

—Você também está na turma de Abi?

—S-sim! — gaguejou um pouco alto demais e então corou ao perceber o volume em que tinha falado.

Quando Sesshoumaru-Sama moveu a mão em sua direção ela fechou os olhos com força e fez menção como se fosse sair correndo, como se não estivesse apenas nervosa, mas também apavorada, a personalidade tímida dela certamente não ajudava com a presença intimidadora de Sesshoumaru-Sama, porém ele apenas pegou uma mecha dos cabelos dela entre os dedos.

—E ela deixa que alguém com cabelos como os seus assista à aula?

—Há! Ate parece! — Souten exclamou, e de repente percebendo o que tinha dito, arregalou os olhos e cobriu a boca com as mãos.

Sesshoumaru-Sama a olhou.

—Não deixa?

Ainda de olhos arregalados e boca tampada Souten balançou a cabeça de um lado para o outro.

—Rin. — ele estendeu a mão para ela — Me dê o seu caderno.

—Sim!

Ela colocou a mochila no chão e abaixou-se para pegar o caderno, entregando-o para Sesshoumaru-Sama sem hesitação que, abrindo-o numa página qualquer tirou a caneta tinteiro do bolso e começou a escrever.

—Hã... Sesshoumaru-Sama?

—Estou escrevendo. — ele a cortou.

Caladas, as três observaram enquanto Sesshoumaru-Sama escrevia sem parar no caderno até que, depois de quase cinco minutos inteiros, ele arrancou a página e a entregou para Shiori.

—Memorize. — ordenou. E imediatamente Shiori baixou os olhos para começar a ler — Quando Abi tentar colocá-la para fora de sala de novo, recite isso para ela.

Shiori ergueu o olhar com os olhos arregalados.

—Não! — disse — Eu nunca poderia dizer algo assim para Abi-sensei!

—Sim! — Souten que também tinha lido junto com Shiori, seja lá o que fosse que Sesshoumaru-Sama havia escrito, concordou — Se ela disser algo assim, Abi-sensei a suspende de vez!

Rin franziu o cenho de forma curiosa, o que é que Sesshoumaru-Sama havia escrito ali?

—Muito bem. — Sesshoumaru-Sama concordou tomando a folha das mãos de Shiori, e logo em seguida dando-a a Rin — Então você memoriza e fala por ela, Rin.

Piscando Rin leu rapidamente o que estava escrito ali... E arregalou os olhos.

—Sesshoumaru-Sama, eu não posso...!

—Apenas diga. — ele já ia longe pelo corredor, Rin nem tinha visto quando ele se afastara.

—Ah, Sesshoumaru-Sama, espera! — chamou enfiando a folha de qualquer jeito na mochila e apressando-se a segui-lo — Tchau meninas! Sesshoumaru-Sama! Sesshoumaru-Sama...!

Embora ele não estivesse correndo, nem sequer andando tão rápido assim — não mais que o normal — foi realmente difícil alcançar Sesshoumaru-Sama porque em nenhum momento ele parou para esperá-la e também por causa de suas pernas muito mais longas que as dela.

—S-Sesshoumaru-Sama. — arfou segurando em sua blusa quando finalmente o alcançou já na área onde ficavam os armários nos quais os alunos guardavam os sapatos, e Sesshoumaru-Sama virou-se para ela — O senhor anda muito... Rika?

Surpreendeu-se ao perceber Rika a observá-los meio escondida por detrás de alguns armários logo atrás de Sesshoumaru-Sama.

Sesshoumaru-Sama virou-se.

—Olá?

Tímida, como nunca havia sido antes, Rika saiu bem devagar de seu esconderijo seguida de perto por seu grupinho de seguidores — o que não chegava realmente a ser uma surpresa.

—O-olá. — gaguejou baixinho mirando os próprios sapatos bem lustrados.

Ao redor dela o pequeno grupinho olhava com descarada curiosidade para Sesshoumaru-Sama como se o estivessem avaliando — provavelmente estavam mesmo.

Sesshoumaru-Sama virou-se para Rin.

—Amigos seus?

—Não exatamente. — respondeu sem conseguir evitar fazer uma careta.

Afinal o que é que eles ainda estavam fazendo ali? Ah claro, eles haviam dito que ficariam para ver o “tão famoso pai escritor de quem Rin-chan tanto se gabava” para depois zombarem dela e de suas mentiras, bem, que bom que eles tinham quebrado a cara, com esse pensamento Rin até permitiu-se sorrir saboreando um pouco do sabor da vitória.

—O senhor... O senhor é realmente T.S.-Sama? — Rika perguntou erguendo a cabeça e engolindo em seco.

Ao redor dela os olhares do grupinho passaram de curiosos para assombrados/admirados. Rin estava realmente ficando extasiada com aquele pequeno momento de vitória.

—Sou. — Sesshoumaru-Sama arqueou uma sobrancelha mirando o livro ao qual Rika se agarrava como se fosse um naufrago agarrado a um pedaço de madeira flutuante — E você? Uma fã?

Ele apontou o livro.

Os olhos de Rika se arregalaram, parecia que hoje todo mundo tinha tirado o dia para arregalar os olhos.

—Isso! — concordou ansiosa — Isso! Eu sou!

Depois ficou ali parada, sem sequer piscar e Rin tinha certas dúvidas se Rika estava ou não respirando.

Sesshoumaru-Sama arqueou uma sobrancelha.

—Então você quer um autógrafo?

—O-o-o-o que? — Rika gaguejou.

—O seu livro. — ele disse — “O ocaso sob a cerejeira — um assassinato em Hokaido” quer que eu o autografe?

O queixo de Rika caiu.

—Sim... — balbuciou — Sim! Por favor!

E curvou-se estendendo o livro para Sesshoumaru-Sama.

Bem pelo menos agora ela ia engolir todas aquelas vezes que tinha zombado dela por “não ter” pai, escondendo seu sorriso vitorioso, Rin virou-se para pegar seus sapatos no armário e calçá-los no lugar dos chinelos da escola.

—Muito bem... E como você se chama?

—A-Amamiya Rika! — respondeu agitada — Eu me chamo Amamiya Rika e é realmente um prazer conhecê-lo T.S-Sama! Uma Honra!

Rin nem precisava se virar para saber que Rika estava se curvando de novo.

—Amamiya... Rika... — Sesshoumaru-Sama repetiu enquanto escrevia no livro de Rika.

—E-esse é o segundo livro do senhor que estou lendo! — Rika afirmou de repente ao mesmo tempo em que Rin virou-se ainda pondo o cachecol e o casaco — Eu também já li “Pelos olhos da Raposa” e pedi aos meus pais para me comprar o seu último lançamento

Ela estava com as bochechas coradas e os punhos cerrados, visivelmente muito nervosa, e ao seu redor seus amigos a olhavam com curiosidade, com certeza também era a primeira vez que eles viam a sempre tão orgulhosa e metida Rika agindo daquela maneira.

E tudo por causa de Sesshoumaru-Sama.

Enquanto punha o gorro Rin quase não conseguia ocultar o sorriso, mas mesmo assim fez o melhor que pôde.

—Entendo. — Sesshoumaru-Sama lhe devolveu o livro — Tenho certeza que eles lhe darão o livro se você for uma boa menina.

Os olhos de Rika só faltavam virar estrelas de tanto que brilhavam.

—S-Sim! 

Sesshoumaru-Sama acenou e então se virou para Rin novamente.

—Já está pronta?

—Uhun. — respondeu terminando de porás luvas.

—Então vamos. — chamou afastando-se dali.

—Tá.

E se apressou uns poucos passos para alcançá-lo e segurar sua mão enquanto iam embora.

Não olhou para trás, mas mesmo assim ela sabia que, naquele momento, Rika e todos os seus amiguinhos idiotas a olhavam de queixo caído.

Porque ela era a orgulhosa filha de Taisho Sesshoumaru-Sama!

...

Foi uma surpresa quando, ao chegarem ao apartamento, encontraram Sango-chan e Kagome-chan sentadas no corredor abraçando as próprias pernas com a cabeça entre os joelhos, cada uma de um lado da porta.

Rin parou a frente delas com curiosidade.

—Sango-chan? — chamou — Kagome-chan?

Ambas ergueram a cabeça.

—Rin-chan! — exclamaram.

No segundo seguinte Rin foi cercada por elas, a apalpando, puxando e amassando por todos os lados.

—Você está bem?

—Não quebrou nada?

—Não está ferida?

As perguntas vinham de todos os lados e tão rápidas que Rin simplesmente não conseguia dizer quem estava perguntando o que.

—O que... O que está acontecendo? — perguntou já se sentindo tonta.

Sango-chan e Kagome-chan afastaram-se, sentando-se sobre os calcanhares.

—Então você está bem? — Sango-chan perguntou.

—Estou. — Rin cruzou os braços — Por que acharam que não?

Tanto Sango-chan quanto Kagome-chan olharam para Sesshoumaru-Sama que lhes devolveu o olhar com um arquear de sobrancelha, elas voltaram-se novamente para Rin.

—Sesshoumaru me ligou, dizendo para vir para cá. — Kagome-chan respondeu — Mas como ele nunca antes chamou qualquer um de nós para vir até aqui...

—Muito pelo contrário, ele sempre nos expulsou do apartamento. — acrescentou Sango-chan.

—Nós só pudemos supor que algo de realmente grave tinha acontecido. — concluiu Kagome-chan — E então viemos o mais rápido possível, estávamos com tanta pressa que eu nem sequer chamei pelo meu carro, e viemos as duas na bicicleta da Sango.

—Fomos perseguidas durante umas cinco quadras por um policial por causa disso. — Sango-chan afirmou exausta.

—Cinco? — questionou Kagome-chan — Eu pude jurar que foram sete.

—De qualquer forma ele era bem persistente.

As duas suspiraram.

—Fosse qual fosse a razão não havia porque vocês ficarem tão histéricas. — Sesshoumaru-Sama as repreendeu passando por elas e destrancando a porta para entrar — E por que ficaram aqui fora? Onde está sua chave, Domadora?

—Queria eu saber. — Kagome-chan respondeu levantando-se juntamente com Sango-chan — Perdi-a faz mais de uma semana, eu acho.

—Mas afinal por que você nos chamou aqui Sesshoumaru?

Sango-chan perguntou seguindo-o para dentro juntamente com Kagome-chan e Rin.

—Vocês vão me mostrar como pentear adequadamente uma menina para ir à escola.

E isso não era um pedido. Era uma ordem.

Afinal é óbvio que ele não podia levá-la ao salão todos os dias.

...

Se tinha uma coisa que Rin realmente queria saber era como Sesshoumaru-Sama e tio Inuyasha haviam sobrevivido durante todo aquele tempo até ela chegar.

—Sesshoumaru-Sama é bom para muitas coisas, mas é realmente horrível para fazer compras. — Rin afirmou.

Sesshoumaru-Sama, que ia mais a frente carregando uma cesta de compras, virou-se, e só então pareceu perceber que ela tinha pegado um carrinho de compras para empurrar, com uma sobrancelha arqueada ele perguntou:

—Por que você diz isso?

—O senhor só pegou uma cesta para fazer as compras do mês todo!

Até então Rin sempre fizera as compras do mês com tio Inuyasha, mas visto que ele ainda não havia voltado da casa de Kagome-chan — e já fazia duas semanas que ele estava hospedado lá! — daquela vez ela tivera que ir com Sesshoumaru-Sama.

E nem demorou tanto assim para convencê-lo — somente quatro dias e cinco noites — de forma que ali estavam eles em plena uma segunda-feira depois das aulas, no supermercado.

—Uma cesta sempre foi o bastante. — ele afirmou.

Rin o fitou.

—Isso porque antes o senhor e tio Inuyasha só compravam ramen e comida em conserva. — afirmou.

—Nós também comprávamos pasta de dente, e desodorantes. — ele acrescentou passando por ela ao fazer o caminho de volta — Além de um produto econômico que era 3 em 1: xampu, condicionador e sabonete. E outros itens críticos.

—O senhor ainda compra esse produto três em um! — acusou o seguindo.

—Muito bem então. — ele deixou a cesta de volta na pilha de onde a pegara e virou-se para ela — Você tem uma lista então?

—Sim...! — Rin largou o carrinho para procurar pela tal lista na mochila — Aqui.

—Já sei por que está sobrando cada vez menos dinheiro no final do mês. Escritores não são ricos, sabia Rin? — comentou após dar uma olhada na lista — Não todos eles...

—O senhor já não gasta com o aluguel, gaste ao menos um pouco com a comida. — ela lhe respondeu.

—Suba.

Ele ordenou-lhe, ao que ela colocou, sem questionar, os pés sobre as grades embaixo do carrinho, segurando-se na alça dele, enquanto Sesshoumaru-Sama punha-se a empurrá-lo.

—Ei, ei, Sesshoumaru-Sama. — chamou alguns minutos depois — Eu disse para Abi-sensei aquilo que o senhor tinha escrito no papel e...

—Amanhã é o aniversário dela, não é? — ele perguntou como se nem sequer a estivesse escutando, virando-se de lado para selecionar alguns vegetais.

Ele não estava falado de Abi-sensei, e Rin sabia disso.

Rin paralisou surpresa, pois nunca imaginou, de forma alguma, que o mesmo Sesshoumaru-Sama que, no principio, havia negado até mesmo se lembrar da existência de Mariko, de repente se lembrasse do aniversário dela!

—Amanhã é o aniversario de Mariko, não é? — voltou a perguntar de forma mais especifica, parecendo julgar que o silêncio dela se devia a falta de compreensão — 22 de dezembro.

—É. — confirmou baixando o rosto até apoiar a testa na alça do carrinho de compras — Mas eu não vou visitá-la.

Coisas foram arremessadas no carrinho e ele voltou a ser empurrado.

—É? E por quê? — a voz de Sesshoumaru-Sama veio de cima, e não demonstrava um pingo de interesse.

A voz dele — e todo o resto, na verdade — quase nunca demonstrava coisa alguma.

 —Porque não quero correr o risco de encontrar vovô e vovó.

Mesmo que, num primeiro momento, a avó tivesse concordado com aquilo tudo, foi só por causa do choque devastador que a morte de Mariko causara em sua mente, e Rin preferia não jogar com a sorte.

—Então vamos depois de amanhã, pela parte da manhã. — Rin ergueu a cabeça e virou-se surpresa com aquela sugestão — Eu sei que amanhã é seu ultimo dia de aula antes do recesso para as férias de inverno. — afirmou.

—Sesshoumaru-Sama... — balbuciou.

Mas ele já não estava mais prestando atenção nela, e sim na lista de compras que tinha uma das mãos enquanto com a outra ainda empurrava o carrinho.

—Aqui você escreveu “carne”, mas não especificou que carne, qual seria melhor, de porco ou de vaca? — e ele sequer estava olhando para que direção empurrava o carrinho — Inuyasha não está em casa, então acho que hoje podemos abrir uma exceção e optar por qualidade ao invés de quantidade, vamos comprar de porco.

...

Foi assim que, numa gélida manhã de dezembro, na qual parecia que nevaria a qualquer minuto — embora a previsão do tempo tivesse garantido que não ocorreria, Rin guiou Sesshoumaru-Sama no cemitério até o tumulo de Mariko.

Naquele dia a temperatura estava próxima dos 3°C, fria demais até mesmo para o inverno, e talvez justamente por isso Sesshoumaru-Sama tenha escolhido aquele dia para usar um sobretudo cinzento que provavelmente não via a luz do dia desde o ano passado, ele parecia desgastado e nem de longe quente o suficiente para aquecer uma pessoa normal, mas o suficiente para Sesshoumaru-Sama, não usava luvas nem cachecol, nem nada do tipo,mas mesmo assim já era um grande passo dele.

—É aqui. — anunciou parando em frente ao túmulo de Mariko.

—Bem, e então? — ele questionou alguns minutos depois do mais absoluto silêncio — Diga olá para sua mãe.

Nervosa, Rin engoliu em seco.

—Olá, mamãe, já faz algum tempo, não é? Eu estou bem e já cresci 7cm. — se mexeu meio sem jeito — Eu... Eu sei que estou atrasada em um dia... Mas não é porque eu esqueci o seu aniversário. — apressou-se a dizer — É só que... — novamente desconfortável — Ah! É verdade, eu lhe trouxe um presente! É alguém que veio visitá-la: Sesshoumaru-Sama. Você sempre quis vê-lo de novo um dia, não é?

Virou-se, Sesshoumaru-Sama estava dois passos atrás dela, com o olhar distante dali, mantendo uma mão no bolso e a outra segurando o cigarro entre os lábios.

—Sesshoumaru-Sama? — chamou.

Ele a olhou.

—O que?

—O senhor quer dizer algo para Mariko?

Pelo seu rosto inexpressivo, talvez até entediado, não parecia que Sesshoumaru-Sama tivesse vontade de dizer algo para Mariko, mas mesmo assim ele suspirou e aproximou-se.

—Olá, Mariko. Já faz algum tempo. — cumprimentou. — Para lhe ser franco confesso que não esperava encontrá-la novamente algum dia, muito menos dessa forma. — ele tirou o cinzeiro portátil do bolso e apagou o cigarro — Você costumava gostar de doces, não tenho ideia se seus gostos chegaram a mudar, mas, de qualquer forma, eu lhe trouxe isso. — agachou-se tirando do bolso um bombom de chocolate, o qual deixou junto das oferendas, depois voltou a se levantar e disse: — Como já deve ter percebido eu estou com Rin, mas não se preocupe, não vou pedir um resgate por ela.

E bateu palmas duas vezes antes de juntá-las em definitivo, baixando a cabeça e fechando os olhos para orar.

—Rin. — chamou.

—Ah, s-sim! — gaguejou.

E imediatamente se prontificou ao seu lado, batendo palmas duas vezes antes de juntar definitivamente as mãos e baixar a cabeça com os olhos fechados.

—Sesshoumaru-Sama? — chamou sem abrir os olhos.

—O que foi Rin?

—Mariko o amava muito.

Silêncio. E então:

—Eu sei.

::CENA EXTRA::

O dia seguinte à visita de Sesshoumaru à escola...

Cruzando os braços Abi-sensei bateu impacientemente com o pé no chão.

—Nanjo Shiori-chan. — chamou seriamente — Queira fazer-me o favor de agudar lá fora até o fim da aula?

Shiori levantou-se lentamente mordendo o lábio inferior.

—Professora, por favor...

—Não permitirei tal desrespeito com os regulamentos da escola em minha aula. — a professora a cortou seriamente.

Shiori baixou a cabeça.

—Sim, me desculpe.

Murmurou com voz embargada, e já reunia suas coisas para sair, quando Rin repentinamente levantou-se.

—Espere professora!

Abi-sensei arqueou a sobrancelha.

—Acaso quer fazer companhia a ela no corredor, Kimura Rin-chan?

—N-não é isso, é que... — Rin engoliu em seco, nunca a convenceria daquela forma! Respirou fundo, Sesshoumaru-Sama lhe garantira que aquilo daria certo! — A senhora não pode obrigar Shiori a escurecer os cabelos, eles são tudo o que resta a ela!

—Tudo o que resta de que? — Abi-sensei perguntou cética.

Não dê atenção a todos os olhos postos sobre você. Não seque as mãos na saia.

—De sua herança real é claro! — e antes que alguém a detivesse desatou a falar: — Shiori é a herdeira de um magnífico reino muito distante daqui, além do arco íris, os pais dela governaram com grande benevolência e sabedoria por muitos anos, mas então o cruel tio dela lhe aplicou um golpe de Estado! E eles tiveram que fugir do reino! Mas Shiori jurou que um dia retornaria para recuperar seu reino, e é por isso que ela não pode escurecer o cabelo, eu sei que é contra o regulamento da escola, mas acontece que esses cabelos claros são a herança de seu sangue real e o lembrete de que um dia ela retornará por seu trono e seu povo!

Ao fim estava completamente sem fôlego e a turma toda imersa num silencio completamente estupefato, inclusive Abi-sensei que a encarava boquiaberta e inclusive sentou-se, tamanho o seu choque... E então sorriu, tremula, e fez um som estranho, quase um engasgo, e mais outro, ela levou a mão à boca e seus ombros começaram a se sacudir.

E quando todos finalmente deram-se conta de que, na verdade, Abi-sensei estava rindo, todos se puseram ainda mais estupefatos.

—A princesa de um reino distante você disse? — perguntou entre risadas — Cujo trono foi usurpado e os cabelos são sua honra? Oh céus! Nunca achei que voltaria a ouvir uma história tão absurda como essa! — ela inclinou-se para trás, passando os braços em volta da barriga, ainda rindo e rindo, e rindo — E o que se supõe agora? Por acaso ela será a princesa de gelo?

Rin não tinha ideia do que ela estava falando, e tão pouco Shiori, que seguia de pé sem saber o que fazer.

—Hum... Sensei... Perdoe-me, mas... — ela gaguejou — O que devo fazer?

—Hum...? — Abi-sensei estava recuperando-se agora, e franziu o cenho — Ora, sente-se Shiori-hime, preciso começar minha aula, ou não?

—S-sim!

Shiori sentou-se rapidamente, ao mesmo tempo em que Abi-sensei pigarreava e punha-se de pé.

—Muito bem, todos de pé. Cumprimentem. Muito bem, podem sentar-ser. — e então ela mesma sentou-se e abriu seu diário de classe — E Kimura-chan.

Chamou sem erguer os olhos.

Rin colocou-se de pé novamente.

—S-sim!

Abi-sensei nem mesmo ergueu os olhos:

—Você é definitivamente filha de seu pai.

::FIM DA CENA EXTRA::


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Notas finais do capítulo

Bem, e o que acharam da forma como Sesshoumaru resolveu os problemas de Rin? Quem diria que a professora dela era, afinal, uma conhecida dele kkkkk
Muito bem pessoinhas, até a próxima!



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