De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 17
Festas de final de ano.


Notas iniciais do capítulo

Hellou e boas festas, pessoal!

GLOSSÁRIO:

Hatsumode: É um termo japonês usado para se referir à primeira visita ao santuário xintoísta no Ano Novo.

Geta: Sandálias tradicionais feitas de madeira.

Kotatsu: uma invenção japonesa que consiste de uma colcha posicionada entre a armação e o tampo de uma mesa, na qual a parte inferior possui uma fonte de calor. A origem desse objeto é datada do século 14 e ele é derivado dos irori (espécie de lareira japonesa). A diferença desse artefato é que sua versão moderna é móvel, tratando-se de uma evolução dos modelos fixos cavados no chão, utilizados no século 17.

Obi: faixa utilizada como cinto em roupas tradicionais japonesas.

Oden: prato tradicional da culinária japonesa e tem como base legumes, carne, peixe e/ou frutos do mar (entre outros), tudo cozido em shoyu e dashi e próprio para ser consumido em dias frios.

Oshogatsu: No Japão o ano novo é chamado OSHOGATSU (o = preposição que indica respeito, importância; sho = honestidade, verdade; gatsu = mês).

Se houver alguma coisa que não entendam, por favor me avisem! XD



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Sesshoumaru fechou os olhos e contou até dez.

—Inuyasha, eu vou te falar uma coisa e preste atenção porque eu vou falar somente uma vez. — avisou erguendo a cabeça — Mais um espirro, só mais um, e eu te enxoto daqui como um cachorro.

—Feh, nem precisa se preocupar com isso, Sesshoumaru. — Inuyasha respondeu aparecendo à entrada da sala já todo empacotado com calças, suéter, cachecol, casaco, luvas, meias, protetores de ouvido, gorro... — Eu já estou de saída!

E jogou o capuz do casaco por cima da cabeça.

—E já vai tarde. — respondeu baixando os olhos novamente para o notebook.

Inuyasha havia retornado no dia em que Sesshoumaru e Rin foram ao cemitério, quando eles voltaram para casa o idiota já estava até desfazendo as malas.

Por que Sesshoumaru tinha que ter comprado carne de porco ao invés de carne de vaca? Que desperdício.

—Você vai sair de novo, tio Inuyasha? — Rin perguntou se aproximando.

Ela também estava tão empacotada que quase parecia uma bola de lã usando cachecol.

Na verdade ele mesmo estava usando um par de meias de lã, mas nada comparado ao exagero daqueles dois.

—Vou. Eu vou para o apartamento da Sango, que é mais quente. — mesmo todo coberto do jeito que estava o idiota ainda parecia ser capaz de sentir frio o suficiente para tentar aquecer as mãos enfiando-as debaixo das axilas. — Você também deveria vir comigo.

Mas ela recusou:

—Não, tudo bem. — e puxou o cachecol por cima da boca e do nariz — Pode ir.

—Tem certeza? — ele perguntou desconfiado — Porque se você acha que está frio agora, saiba que a tendência é só piorar, na verdade é capaz de começar a nevar aqui dentro antes de começar a nevar lá fora.

—Eu vou ficar bem. — ela garantiu.

—Mas...

—Vá logo embora de uma vez! — impacientou-se Sesshoumaru que queria sua tranquilidade de volta para voltar a escrever. — Se a menina começar a congelar eu a coloco dentro do forno.

—Feh! Tudo bem! Eu já estou indo, ok?! — Inuyasha respondeu indo embora com as mãos nos bolsos, e Rin o seguiu — Mas não queira fazer-se de forte, ouviu Rin? Se ficar muito frio para você aguentar suba logo, ou pode acabar perdendo uma orelha para o frio.

—Pode deixar tio Inuyasha, não se preocupe. — ele a ouviu responder.

—É sério, não tente aguentar o frio só porque o Sesshoumaru aguenta. Aquele cara lá não é um ser humano normal. Sabe como o chamavam no colegial?

 —O “príncipe de gelo”.

—Exatamente.

E então ele finalmente se foi e Sesshoumaru pôde voltar a escrever.

Como se a sua resistência ao frio realmente tivesse algo a ver com o apelido de adolescência que as garotas haviam colocado nele, bem... Talvez um pouco, mas ele se devia principalmente à frieza com a qual ele ignorava a maioria delas — embora isso só servisse para que elas “se apaixonassem” ainda mais por ele, todas querendo saber quem seria aquela que finalmente conseguiria “derreter o coração do príncipe de gelo”, como se fosse uma espécie de jogo.

...

Uma hora mais tarde Sesshoumaru finalmente fechou o notebook e levantou-se do sofá, havia dito para Rin que faria o almoço naquele dia, então era melhor ir logo.

Mas quando chegou à cozinha deparou-se com a menina já em cima de um banquinho em frente ao fogão jogando batatas em uma panela no fogo.

—O que está fazendo? — perguntou surpreendendo-a — Eu disse que faria o almoço hoje.

—Ah sim, mas o senhor parecia tão ocupado lá que eu achei melhor fazer logo o almoço eu mesma para não atrapalhá-lo. — ela sorriu-lhe.

Na verdade ele só estava assim tão ocupado porque havia deixado para a última hora algumas resenhas que havia sido encarregado de fazer, mas ser um escritor era isso: você não podia forçar, tinha que esperara inspiração.

—Entendo. — Sesshoumaru concordou, e lançou um olhar às várias camadas de roupa que Rin já havia tirado e deixado dobradas sobre a mesa e depois à forma como ela parecia tentar aquecer as mãos sobre o vapor quente da panela — E suponho que o fato de a cozinha ser, com o fogão ligado, o lugar mais quente do apartamento não tenha nada haver com essa sua decisão.

A menina ficou imediatamente corada.

—S-Seshoumaru-Sama, o almoço deve ficar pronto daqui a uns minutos, porque não volta a escrever? Eu prometo que o chamo.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

—Muito bem então. — concordou.

Mas ao invés de voltar a escrever, foi fumar na varanda.

...

—Sesshoumaru-Sama. — Rin o chamou, meia hora depois, enquanto almoçavam.

—O que? — respondeu.

—O senhor acha que tio Inuyasha e os outros descerão para almoçar conosco? — ela perguntou, ao invés de reclamar do cheiro de cigarro impregnado nele, tal como ele esperava.

—Não. — respondeu — Eles quase nunca vêem aqui durante o inverno, e nessa data do ano especifica sempre passam o dia e a noite toda na casa da Sango.

—Nessa data especifica? — ela repetiu.

Ele a olhou.

—O que? Você não sabe que dia é hoje? — lentamente ela balançou a cabeça — Não percebeu as luzes lá fora?

—Que luzes?

Claro que ela não tinha notado, as luzes só era acesas de noite e ela ainda não havia saído do apartamento durante a noite.

Mas seria possível que ela nem sequer olhava pela janela?

—Desse jeito parece até que eu te mantenho em cativeiro.

—Hã?

—Hoje é 25 de dezembro. — esclareceu.

Rin arregalou os olhos.

Todo natal Inuyasha e seus amigos idiotas se reuniam no apartamento da Gata Selvagem para preparar uma festa de natal, na qual eles passavam a noite toda comendo besteiras e jogando vídeo-game — ou assim Sesshoumaru imaginava, já que não tinha o menor interesse de ir lá ver.

Mas a menina queria ir até lá.

Ela queria desesperadamente ir lá.

Isso era mais do que óbvio para Sesshoumaru.

—Se quer subir suba de uma vez. — mandou parando à entrada da sala com uma caneca de café na mão.

Passava das sete da noite, a temperatura havia caído mais dois graus e ele finalmente havia terminado suas resenhas.

—N-não. — gaguejou sentada encolhida e tremendo embaixo de um cobertor no sofá — E-eu estou bem.

—Seu nariz está começando a ficar azul. — afirmou, e tomou um gole de café — Suba de uma vez.

Teimosa ela sacudiu a cabeça.

—Eu estou assistindo esse especial de Natal na TV. — afirmou.

E pareceu trincar os dentes para que eles parassem de bater.

—Você nem sequer sabia que hoje é Natal até eu lhe falar.

—Sim. — ela concordou com os olhos fixos na TV. — Mas Mariko realmente amava muito esse filme.

Olhando para a TV, Sesshoumaru reconheceu o tal filme: “O Estranho Mundo de Jack”, Mariko realmente o amava, ela estava sempre o assistindo na casa dele enquanto cuidava de Inuyasha e, durante os poucos meses em que estiveram juntos, o fez assistir com ela, pelo menos, umas três vezes, e também fizera com que Inuyasha assistisse com ela outras tantas vezes, já que ele tinha que obedecê-la por ela ser a babá dele.

Ela o assistira tantas vezes que podia dizer a fala de cada um dos personagens, mas nunca se cansava de assisti-lo, porque realmente amava aquele filme.

—Assista lá em cima. — respondeu — Eles com certeza vão deixar.

Novamente ela recusou:

—Não.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

—Posso saber por quê? — perguntou já impaciente.

—Porque quero assistir com o senhor. — ela o olhou — Mariko e eu sempre o assistíamos juntas, mas ela não está mais aqui.

Sesshoumaru olhou para o teto, como se pudesse ver Mariko ali, aquilo só podia ser coisa dela, então essa era sua vingança por só ter ido visitá-la uma década depois de se mudar sem falar nada para ela? Fazê-lo assistir novamente aquilo?

—Muito bem, então.  — concordou sentando-se ao seu lado no sofá com a caneca de café da mão.

 Mas acabou não assistindo nem quinze minutos de filme, pois quase não conseguia ouvir a televisão com o som dos dentes dela batendo tão alto ao seu lado, e estavam batendo tanto que era arriscado ela tentar falar mais alguma coisa e acabar cortando fora um pedaço da língua.

Girando os olhos Sesshoumaru terminou seu café levantou-se e foi para o quarto, porque não aguentava mais aquilo.

Abriu o guarda-roupa, tinha certeza que estava ali em algum lugar, ele só não sabia se, depois de todo aquele tempo guardado, ainda funcionava... Ah, ali estava.

Francamente Sesshoumaru nunca achou que algum dia realmente usaria aquilo.

...

—O-o que é isso, Sesshoumaru-Sama?!

Rin espantou-se arregalando os olhos, e parecendo congelar naquela expressão, no momento em que o viu deitando-se no chão com a chave de fenda e os parafusos para instalar o aquecedor elétrico portátil debaixo da mesa.

—Exatamente o que você está vendo.

Respondeu apertando os parafusos.

Dez minutos depois quando se levantou e retirou o tampo da mesa para por o edredom sobre ela, — e torcendo levemente o nariz ao sentir o cheiro de mofo que ele exalava depois de praticamente dois anos e meio guardado — ela ainda continuava boquiaberta e imóvel.

—Pronto. — disse ligando o aquecedor na tomada — Se enfie logo aqui em baixo.

Saindo do choque ela pulou tão rápido do sofá que até mesmo esqueceu-se de que estava com frio, deixando o cobertor para trás.

—Essa mesa sempre foi um kotatsu?!

Calmamente ele pegou o cobertor do sofá e deixou-o cair sobre a cabeça dela, para então ocupá-lo por inteiro deitando-se ali.

...

Ela era uma criança fácil de agradar, Sesshoumaru não sabia se era assim com todas as crianças, mas com Rin certamente era.

Até meia hora atrás ela parecia completamente deprimida enquanto congelava lentamente, mas agora, só porque ele lhe montara o kotatsu, ela parecia completamente satisfeita e feliz, nem sequer parecia se incomodar com o fato de ter começado a nevar lá fora.

—Ei, Sesshoumaru-Sama. — ela o chamou durante um comercial. — Sabe com o que isso se parece?

Ele a olhou.

—O que?

—Com os natais que eu passei com vovô, vovó e mamãe. — ela sorriu. — Nós sempre sentávamos em volta do kotatsu com chá e bolo para assistir televisão, exceto vovô, ele deitava no sofá porque dizia que sentar no chão era ruim para suas costas, e geralmente era O Estranho Mundo de Jack que assistíamos.

—Hum. — fez. — Mas aqui não há nem chá nem bolo.

—Eu sei disso, Sesshoumaru-Sama, e está tudo bem. — Ela sorriu — Ao menos vovô e vovó estão comendo bolo... Ou, ao menos, eu espero que estejam. Tomara que não estejam se sentindo solitários.

E ali estava novamente: aquela mesma melancolia de antes.

O filme recomeçou.

Sesshoumaru levantou-se.

—Sesshoumaru-Sama aonde vai?! — ela assustou-se.

—Vou comprar um bolo. — respondeu saindo da sala — Eu volto antes do filme terminar.

—C-comprar um bolo?! Como assim? Há essa hora? Por quê? — em um segundo ela estava ao seu lado.

—Não abra a porta para ninguém. — avisou-a já colocando um braço dentro da manga do sobretudo.

—Sesshoumaru-Sama está nevando lá fora! — ela agarrou-lhe a ponta do sobretudo...

... Quando a porta abriu-se e um imenso urso cor de creme com uma gravata vermelha amarrada ao pescoço apareceu.

—Rin-chan, ainda está acordada?! — “o urso” gritou.

E convenientemente ele tinha a voz da Domadora.

—Não seja idiota, Kagome, mal deu 20h, que criança dormiria cedo assim, na noite de Natal? — dessa vez era a voz de Inuyasha que vinha do urso.

—Ela está passando o Natal com Sesshoumaru, Inuyasha, a coisa mais emocionante que poderia acontecer com ela seria ir dormir cedo numa noite que todas as crianças dormem tarde. — A voz da Domadora respondeu por detrás do urso.

—É. Você tem razão.

Para Sesshoumaru e Rin só restou afastar-se para o lado quando o imenso urso começou a se espremer e se contorcer até passar pela porta e revelar Inuyasha carregando-o por trás e Domadora o seguindo, usando um ridículo e comprido chapéu de bobo da corte de duas pontas, vermelho de um lado e azul do outro, com um guizo pendurado em cada ponta e carregando uma bandeja com o que pareciam ser chá e fatias de bolo.

—Ei Kagome, se ela já estiver dormindo podemos colocar o urso ao lado da cama para ela pensar que foi Papai Noel quem...

E então os dois os viram ali.

—O que vocês estão fazendo aqui?! — Kagome assustou-se, (simplesmente não dava para pensar nela como “Domadora” com ela usando aquele chapéu ridículo).

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

—Sou eu quem deveria fazer essa pergunta. — respondeu.

—Viemos ver como Rin está. — Kagome respondeu.

—Estou bem. — Rin respondeu. — Sesshoumaru-Sama e eu estamos assistindo um filme.

—Sério? — ambos perguntaram boquiabertos.

—É. — ela respondeu. — O que... É isso?

Ela apontou o urso.

—Ah sim! — Inuyasha lembrou-se, só mesmo ele para ser idiota o bastante para esquecer que estava segurando uma coisa imensa daquelas — Adivinha o que Papai Noel trouxe para você!

Os olhos de Rin arregalaram-se brilhantes.

—Uau! É para mim?!

—Com certeza!

Inuyasha confirmou pondo o urso no chão para que ela o abraçasse, o urso era quase duas vezes maior do que ela.

—E também trouxemos bolo. — Kagome acrescentou.

—Muito obrigada, Kagome-chan! Tio Inuyasha! — ela agradeceu ainda agarrada ao urso.

Até que Inuyasha pegou-o de volta do chão.

—Venha. — chamou — Vamos colocá-lo na sala para que ele possa assistir ao filme com vocês dois.

—Tá! — Ela concordou seguindo-o eufórica.

E continuaram conversando no corredor:

—Então... O que estão assistindo?

—O Estranho Mundo de Jack!

—Ah, sua mãe amava esse filme.

—Eu sei.

Bem, pelo menos agora ele não precisava mais sair.

—Sesshoumaru, você ia sair? — Kagome perguntou quanto reparou que ele estava tirando o sobretudo.

—Eu ia comprar cigarros. — Respondeu.

Kagome fez uma careta.

—Esse seu vicio horrível está cada vez pior! — ela reclamou — Deixar uma garotinha sozinha a noite só para sair para comprar cigarros!

—Eu a mandei não abrir a porta para ninguém.

Ela girou os olhos.

—Francamente S...!

—DESDE QUANDO TEMOS UM KOTATSU?!

Inuyasha gritou tão alto e tão de repente da sala que Kagome assustou-se e quase deixou cair à bandeja.

—Ele disse kotatsu?!

Ela empurrou a bandeja contra as mãos de Sesshoumaru e saiu correndo para verificar, a próxima coisa que ele ouviu foi o grito de Kagome:

—POR QUE TEM UM KOTATSU NA SALA DE SESSHOUMARU?!

Sesshoumaru já estava até vendo... Aquela seria uma longa noite.

—O Sesshoumaru-Sama montou para mim porque eu estava com frio. — Rin explicou quando ele entrou na sala carregando a bandeja.

Kagome tirou uma foto do kotatsu.

—Ela é grande demais para ser colocada no forno, por isso recorri à segunda opção. — explicou colocando a bandeja sobre a mesa.

Ele observou Kagome digitar freneticamente no celular e levantou-se tirando o maço de cigarros do bolso... Mas estava vazio.

Arqueou uma sobrancelha, então ele realmente precisava comprar mais cigarros.

—Tá, mas de onde você tirou...?

—Kagome? — Gata Selvagem chamou entrando no apartamento. —Nós recebemos sua mensagem

Mentalmente Sesshoumaru praguejou, ele havia se esquecido de trancar a porta.

—Tem mesmo um...? — Pervertido entrou na sala juntamente com Gata Selvagem — ISSO É MESMO UM KOTATSU?!

De olhos arregalados Gata Selvagem levou as mãos ao rosto como se tivesse acabado de chegar a uma cena de assassinato:

—ISSO É DE VERDADE?!

Inuyasha bateu duas vezes na mesa, e olhou-os.

—Aparentemente sim. — respondeu.

Sesshoumaru estava enganado, aquela não seria apenas uma longa noite... Seria uma noite que não teria mais fim.

E ainda por cima ele estava sem cigarros.

...

Quando Sesshoumaru deu por si aqueles quatro já haviam transferido a irritante festa de Natal deles para o apartamento dele, e até mesmo Kohaku, o irmãozinho da Gata Selvagem — Sesshoumaru quase nunca o via, por isso não havia lhe dado um nome de parasita como fizera com os outros — havia vindo junto.

Se bem que o menino nem incomodava tanto.

E claro que ele podia ter ido para o quarto e ficado por lá como sempre fazia, mas Rin insistira em continuar assistindo o filme com ele, de forma que ele acabara ficando, então enquanto os quatro parasitas — sim, ele contava Inuyasha nisso — e Kohaku se juntavam para comer e beber em volta do kotatsu, que ele só havia montado por causa de Rin, enquanto viam o filme com eles, Rin sentara-se toda embrulhada e encolhida entre as suas pernas no sofá, embora eles a tivessem convidado para se sentar ao lado de Kagome.

Talvez ela achasse que a qualquer momento ele poderia se levantar e ir embora e que fazendo aquilo o impediria.

—Bem, parece que é isso. — Kagome comentou espreguiçando-se ao final do filme, fazendo tilintar os guizos em seu chapéu a cada movimento seu.

—Então que tal fazermos um brinde?! — Pervertido perguntou animadamente erguendo seu copo de refrigerante — Sesshoumaru brinde conosco!

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha, será que haviam batizado o refrigerante e aquele idiota estava bêbado por acaso?

—Brindar com vocês?

—Sim, vamos comemorar a sua primeira vez participando da festa de natal!

—Eu não estou participando, vocês é que a estão fazendo no meio da minha sala sem convite algum. — esclareceu abrindo sua lata de cerveja — E também. Eu. Não. Brindo.

—Não brinda? — Kagome, que estava sentada ao lado de Inuyasha, perguntou deixando de lado o próprio refrigerante.

—Não. — respondeu tomando um gole.

—Nunca? — Rin virou-se para ele, com a cara suja de bolo.

—Não.

Ele pegou alguns dos lenços de papel que estavam no prato dela e começou a limpar-lhe o rosto.

—Isso é verdade. — Inuyasha, sentado entre Kagome e Pervertido, confirmou se servindo de mais suco — Uma vez fomos a um casamento de um parente do nosso pai e na hora dos brindes ele foi o único que não levantou a taça.

—Mas por que você...? — Gata Selvagem, sentada entre Pervertido e Kohaku, franziu o cenho com um pedaço de frango frito na mão — Sesshoumaru você está bebendo cerveja?

—Estou. — confirmou, e lá se foram mais dois goles.

—Sesshoumaru não beba na frente de Rin! — Kagome reclamou com os guizos em seu chapéu tilintando a cada movimento — Que tipo de exemplo você acha que está dando?!

—Na verdade eu não me incomodo, vovô sempre bebia na noite de natal também. — Rin, já com o rosto limpo, contou — E então ficava bêbado e dormia no sofá.

—Quantas latas você já bebeu? — Pervertido perguntou, provavelmente querendo descobrir se teria a chance de vê-lo bêbado naquela noite.

Sesshoumaru balançou a lata perto da orelha querendo saber quando ainda restara.

—Essa foi a segunda. — respondeu tomando o ultimo gole.

—Mas onde você arranjou a cerveja? — Inuyasha perguntou.

Com uma sobrancelha arqueada Sesshoumaru lançou um olhar para Kohaku comendo frango frito ao lado da irmã, e todos também direcionaram seus olhares ao menino.

Ao perceber ter se tornado o centro das atenções o menino corou.

—Kohaku você deu a cerveja do papai para o Sesshoumaru? — Gata Selvagem perguntou chocada.

O menino calou-se por alguns segundos.

—F-foram só três latas. — gaguejou baixinho — Eu achei que seria grosseria aparecer de mãos vazias... E também queria agradecer a hospitalidade...

Realmente Sesshoumaru não desgostava daquele garoto.

—Bem, mas voltando ao brinde. — Pervertido retomou o assunto — Já que não podemos brindar pela estreia do Sesshoumaru em nossas festas de natal, vamos brindar pelo kotatsu novo, afinal quem poderia imaginar que algum dia haveria uma fonte de calor justo no apartamento do Sesshoumaru?

E quando todos, inclusive Rin e Kohaku, ergueram seus copos de suco e refrigerante para brindar, Sesshoumaru os interrompeu:

—Esse kotatsu não é novo, ele já está aqui há dois anos e meio.

Todos o olharam, exceto Rin e Kohaku que continuaram, respectivamente, bebendo seu refrigerante e suco.

—Como assim dois anos e meio? — perguntou Kagome — Onde você o tem escondido durante todo esse tempo?

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

—No meio da sala, bem a vista de todos.

O quarteto arregalou os olhos.

—Você está dizendo que esse kotatsu é a nossa mesinha de centro?! — Inuyasha assustou-se erguendo o edredom para olhar por debaixo da mesa. — Inacreditável!

—Eu o comprei porque estava com um bom preço com desconto de 50%, já que na época estávamos no auge de um dos verões mais quentes da década. — relembrou.

—E nunca, nem por um momento, te passou pela cabeça nos contar que isso era um kotatsu? — Gata Selvagem perguntou incrédula.

Sesshoumaru a olhou.

—Não é minha culpa se vocês nunca perceberam o kotatsu bem na cara de vocês.

—Seu...! — Inuyasha trincou os dentes — Então por que agora? Por que decidiu montá-lo agora?

—Rin estava com frio, mas se recusava a sair daqui. — respondeu levantando-se e carregando Rin junto para então recolocá-la no sofá. — Eu não sou sádico, óbvio que não a deixaria pegar uma hipotermia.

Inuyasha franziu o cenho.

—Está dizendo que, se nós tivéssemos sido um pouco mais teimosos, e insistido em ficar aqui ao invés de fugir para um lugar mais quente sempre que o seu apartamento começa a ficar mais frio que antártica você teria...

—Deixado vocês congelarem até a morte? Sim, com certeza. — confirmou saindo da sala.

*.*.*.*

O inverno costumava ser a melhor época do ano para Sesshoumaru, porque era a época com a temperatura mais agradável e também a época em que ele se livrava de todos aqueles parasitas em seu apartamento.

Mas parece que isso era coisa do passado agora.

Há uma semana, desde que montara o kotatsu, que ele não conseguia se livrar daqueles três parasitas — sim, apenas três, pois a última vez que vira Domadora fora quando o carro viera pegá-la na manhã do dia 26 — e ter paz no apartamento, mas mesmo que houvesse um a menos isso não melhorava as coisas, pois agora sem Domadora para lhe dar carona, Pervertido muitas vezes acabava passando a noite ali.

E chegaram ao ponto de comer oden ali!

Era um pesadelo.

Mas ele não podia desmontar o kotatsu — que era a chama que atraia todos aqueles insetos — porque se fizesse isso Rin acabaria passando frio.

Claro, há uns dois dias eles haviam saído juntos para visitar uma casa de banho, e ele pensou se essa não seria a oportunidade perfeita para trocar a fechadura e ter paz, ao menos por uns dois dias, porém eles acabaram levando Rin junto e frustrando com seus planos — pois é claro que ele não iria trancá-la para fora de casa.

Mais tarde ele percebeu que, de qualquer forma, mesmo que trocasse a fechadura quando Rin não estivesse com eles isso não teria dado resultado algum, pois quando o idiota do Inuyasha começasse a bater na porta ela com certeza abriria para eles.

Mas ao menos ele tivera metade daquela tarde e o começo da noite sem precisar vê-los, e eles também o deixariam em paz hoje.

—Sesshoumaru-Sama? — era Rin batendo à sua porta — Sesshoumaru-Sama?

Sesshoumaru levou dois dedos à testa e fechou os olhos pousando o livro aberto sobre as pernas. Sem dizer nada ele levantou-se, deixando o livro que lia sobre sua cadeira, e destrancou a porta.

—O que foi, Rin?

Ela torceu a barra do suéter de gola alta que usava.

—É que... Já são quase dez e meia...

Ele arqueou a sobrancelha, não havia notado que já era tão tarde e geralmente àquela hora ela já devia estar dormindo.

—Então boa noite.

—N-não é isso... — ela gaguejou.

—Outro pesadelo? — ele afastou-se levemente para o lado, dando-lhe passagem para entrar.

A menina o olhou de forma espantada.

—C-como o senhor...?

—Se naquela noite a o único motivo que você tivesse para ter vindo até aqui fosse realmente apenas o frio, teria dado meia volta e ido embora no momento em que pisara aqui dentro, e os únicos outros motivos que conheço para uma criança não querer dormir sozinha é porque está com medo ou teve um pesadelo, mas se fosse medo você teria vindo aqui mais do que uma única vez.

Ela agora estava de olhos arregalados.

—O senhor é incrível Sesshoumaru-Sama. — ela admirou-se.

—E então? Outro pesadelo? — ele voltou a perguntar.

—Não... Eu não vim dormir.

De fato ela não estava de pijama.

—Então o que foi?

—É que... — ela umedeceu os lábios — Hoje é noite de ano novo.

Outro arquear de sobrancelha.

—E daí?

Novamente torcendo a barra do suéter ela o olhou.

—O senhor não vem conosco?

Sair para o Hatsumode, há muito tempo que ninguém lhe perguntava isso.

Na verdade ele tinha a nítida impressão de que Mariko fora a última pessoa a lhe convidar.

—Não.

Deu um passo para trás e fechou a porta.

Minutos depois ele ouviu Gata Selvagem chegar, mas apenas continuou a ler seu livro.

Foram mais ou menos trinta minutos de paz.

—Sesshoumaru? — dessa vez era Gata Selvagem batendo à sua porta — Sesshoumaru abra!

Sesshoumaru pousou o livro fechado sobre as pernas.

Ela não o deixaria em paz até que ele respondesse, não é?

—O que é?

E pensar que até pouco tempo atrás ele podia trancar-se no quarto por dias a fio e ninguém sequer se lembrava de sua existência.

—Nós já estamos de saída.

—Sayonara. — respondeu — Até o ano que vem.

Gata Selvagem voltou a bater na porta.

—Ora Sesshoumaru, o que é isso? — Se ao menos eles fossem embora de uma vez... — Ao menos abra a porta para se despedir direito de Rin e ver a quão bonitinha ela está essa noite!

Girou os olhos, afinal do que ela estava falando?

—Desiste Sango! — ouviu Inuyasha dizer — Você sabe que Sesshoumaru não vai abrir a porta nem em um milhão de...!

Sesshoumaru abriu a porta.

Mas apenas o bastante para eles verem seu rosto e parte de seu corpo.

Gata Selvagem e Inuyasha — que estava usando uma máscara hospitalar porque, como o idiota que era, havia apanhado uma gripe — o olharam, pelo visto eles realmente não esperavam que ele fosse mesmo abrir a porta.

—E então? — ele quis saber — Onde está ela?

—Ah, sim! — Gata Selvagem lembrou-se se afastando para o lado e puxando Inuyasha consigo.

Rin estava usando quimono.

Tratava de um quimono com um profundo tom de vinho e ricamente estampado com flores dos mais variados tamanhos, formas e cores, o obi era de um tom amarelo queimado nas laterais, mas com uma grossa faixa vermelha no centro onde se viam estampadas mais flores dourados.

O cabelo estava preso com o que parecia ser um barbante vermelho num rabo de cavalo lateral baixo que lhe caia sobre o ombro esquerdo.

E segurava nas mãos uma bolsinha típica cor de vinho com estampa floral que, obviamente, fazia conjunto com o quimono.

—Deu-me muito trabalho encontrar meu antigo quimono de infância, mas eu sabia que ficaria perfeito nela. — Gata Selvagem contou. — E as sandálias também serviram perfeitamente nela.

—As mangas estão quase se arrastando no chão. — comentou — Por acaso não sabe ajustar o tamanho de um quimono direito?

—Já fazia muito tempo que eu não usava quimono algum. — ela tossiu — Mas, ainda assim ele ficou adorável nela!

Sesshoumaru encarou Rin, mas ela mantinha o olhar baixo, parecendo se recusar a encará-lo.

Inuyasha pigarreou.

—Rin, nós vamos te esperar lá na porta.

Avisou indo embora e levando Gata Selvagem consigo.

Quando eles se foram Sesshoumaru abriu completamente a porta.

—Rin. — chamou.

Mas ela se recusou a encará-lo, na verdade quando falou foi como se nem sequer o tivesse ouvido chamá-la:

—Eu ia dizer para Sango-chan que não ia mais, mas ela teve tanto trabalho para achar o seu antigo quimono, e estava tão feliz em poder me vestir com ele... Ela disse que se tivesse tido uma irmã o teria dado para ela, mas ela só tem o Kohaku, então... — ela levou a manga ao rosto — Ele cheira a lavanda.

—Rin, você não precisar se recusar a ir aos lugares sempre que eu deixar de ir. Se fizer isso só saíra daqui para ir à escola e, vez por outro, ao supermercado. — avisou-a — Achei que já houvesse parado com isso, você foi à casa de banho sem reclamar, não foi?

—I-isso foi diferente! — ela ergueu o rosto corado — Mesmo... Mesmo que o senhor tivesse ido, eu não poderia ficar junto com o senhor então... Dessa vez não fazia diferença.

—Rin. — ele voltou a chamá-la — Pare de agir como se eu fosse desaparecer no momento em que você virar as costas, eu não vou desaparecer. — fez uma pausa por dois segundos e depois completou — Esse apartamento é meu, se alguém tem que desaparecer daqui é o Inuyasha.

Por um momento ela sorriu para ele.

—Rin! — Inuyasha chamou-a da porta — Rin venha! Nós já estamos indo!

—Eu já vou! — ela respondeu, mas antes de ir fez uma longa vênia para ele — Então até mais, Sesshoumaru-Sama.

Despediu-se formalmente.

Ele acenou com a cabeça fechando a porta.

Virou-se e encarou sua cadeira de vidro.

—Segure esse elevador! — ordenou menos de um minuto depois saindo do apartamento usando seu sobretudo cinzento por razões que ele próprio desconhecia.

Carregava num dos braços um xale de lã branca e segurava na outra mão um par de aquecedores de orelha — igualmente brancos — e um guarda-chuva negro, para o caso de nevar.

No momento em que o viu Gata Selvagem — que segurava Kohaku pela mão — ficou boquiaberta, Inuyasha provavelmente também ficou, — embora fosse difícil saber por detrás daquela máscara —, mas Rin veio correndo em sua direção da melhor maneira que pôde já que estava usando aquele quimono e as getas.

—Sesshoumaru-Sama! — ela exclamou.

—Hum... Feliz ano novo, Sesshoumaru-Sama. — Kohaku o cumprimentou.

Sesshoumaru acenou com a cabeça e então se abaixou apoiando um joelho no chão.

—Você é muito frienta. — afirmou lhe pondo os aquecedores de orelha e então lhe enrolando o xale de lã em volta dos ombros, ele ficava enorme nela, mas tudo bem — Minha mãe esqueceu esse xale aqui numa das vezes em que veio me visitar, no último inverno. — levantou-se. — Você não está usando luvas.

—Eu estou bem, Sesshoumaru-Sama. — ela sorriu.

Ele olhou-a por mais um momento antes de pegá-la pela mão.

—Vocês dois pretendem ficar aí por mais quanto tempo? Fechem às bocas, o elevador já chegou. — chamou passando por Inuyasha, Gata Selvagem e Kohaku ao entrar no elevador.

...

Pervertido estava esperando por eles perto da entrada do templo.

—Uou! Rin está de quimono! — ele exclamou tateando os bolsos — Espere um pouco, me deixa tirar uma foto para enviar para Kagome... — um momento mais tarde percebeu Sesshoumaru ali também e quase derrubou o celular ao atrapalhar-se com o aparelho em mãos — Sesshoumaru veio também?! Agora mesmo é que eu preciso tirar uma foto! Ou então Kagome nunca vai acreditar!

Rin parou em frente a ele.

—Kagome-chan não vem?

Pervertido levou a mão à cabeça...

—Hum bem... Isso é...

—Miroku tire logo a foto nós queremos entrar logo. — Gata Selvagem o chamou e enganchou seu braço ao de Sesshoumaru, como se quisesse garantir que ele ficasse no lugar — E rápido, você sabe que uma oportunidade assim não se repete todo dia! Kohaku, Rin, fiquem aqui na minha frente! Inuyasha fique aí do lado do Sesshoumaru!

Rin correu de volta para junto deles e postou-se ao lado de Kohaku, enquanto Inuyasha também se postava ao seu lado sem dizer nada.

—Espere, eu também quero sair na foto! — Pervertido exclamou.

—Você sai na próxima! — Gata Selvagem respondeu.

Certo, até parece que ele ia deixar tirarem outra foto dele!

—Não, espera aí que eu to chegando!

Pervertido afirmou parando apressadamente alguém que passava por ali para pedir que tirasse a foto e então correndo para o lado de Gata Selvagem.

—Muito bem, agora todos digam: Milagres acontecem! — ela incitou-os.

Sesshoumaru já estava começando a se arrepender de ter vindo.

Mentira.

Ele já havia se arrependido no momento em que vestira o sobretudo.

A última vez que Sesshoumaru saíra para comemorar o ano novo, Inuyasha ainda era tão pequeno que nem sequer devia lembrar — o pirralho ainda nem tinha completado o primeiro ano de vida —, ele se lembrava de antes ir com o pai e a mãe, depois apenas com o pai, mas depois o pai arranjou uma nova mulher e filho e ele não viu mais necessidade de ter que acompanhar o velho.

Em comemorações daquele tipo, e não apenas no oshogatsu, mas qualquer outro tipo de festival também, as pessoas se dividiam em grupos, havia os “grupos de amigos”, geralmente compostos por adolescentes, os “grupos de família” e os “casais”, e Sesshoumaru não fazia parte de nenhum deles.

Por isso ele já estava planejando deixar Rin com os outros e ir sentar-se em um canto para beber alguma coisa — havia visto uma máquina de bebidas ali perto — para esperar até que eles terminassem e ele pudesse ir para casa.

Mas Rin frustrou seus planos quando se esqueceu da existência de todos os outros e firmemente agarrou sua mão.

—Sesshoumaru-Sama! Sesshoumaru-Sama! — Rin o chamava animadamente com a mão bem agarrada à sua — Venha, vamos tirar a nossa sorte, a fila deve estar enorme e temos que tirar antes de seja meia noite!

—Antes que seja meia noite? — ele repetiu.

—Sim, vovô e vovó gostavam de sempre tirar a sorte antes da meia noite e das preces. — ela respondeu alegremente. — Ah, e depois das preces vamos comprar algum amuleto? Nós sempre fazíamos isso... Que pena eu não trouxe nenhum amuleto do ano passado para queimar.

Tendo sido criada não só pela mãe, mas também pelos avós, Rin certamente crescera apegada àquele tipo de tradições.

Ele não ficaria surpreso se, nos dias seguintes, ela cismasse de limpar todo o apartamento, insistisse em sair para ver a primeira aparição pública do imperador, assistisse ao concurso nacional de caligrafia e preparasse as “sete ervas de primavera”.

—E Mariko?

Rin meneou a cabeça.

—Mamãe não. — ela respondeu — Desde que posso lembrar ela nunca saiu para comemorar o ano novo, ela sempre dizia que não se encaixava.

Claro que não. Afinal, provavelmente depois que tivera Rin todos os seus “amigos” deviam ter se afastado dela, e ela não tinha alguém com quem pudesse ir em casal, ela ainda podia ir com os pais e Rin e celebrar tudo em família, mas sem um marido ela consequentemente atrairia para si os olhares julgadores de todos aqueles que supostamente haviam ido até ali para se purificar dos maus pensamentos e desejos do ano, claro, Mariko era jovem e seus pais não eram tão velhos assim, então havia uma alta possibilidade de as pessoas acharem que as duas era irmãs e as deixarem em paz, mas isso certamente não a faria feliz também.

Mas, de alguma forma, saber que no fim a sempre tão alegre e otimista Mariko havia perecido um pouco em sua luminosidade e acabado por pensar com ele em certos aspectos, não o deixava feliz.

E, a título de comentário, as filas para tirar a sorte e comprar amuletos estavam sim enormes.

—Nós estamos indo ao karaokê. — Inuyasha os avisou colocando o capuz do casaco, perto das três da manhã, depois que as sortes já haviam sido tiradas, as preces feitas e os amuletos comprados. — Vamos passar o resto da noite lá, e depois vamos ver o primeiro nascer do sol.

Sesshoumaru não sabia dizer se eles estiveram o tempo todo ali ou se só os haviam encontrado agora.

—Vocês querem vir conosco? — Gata Selvagem perguntou, ela segurava o irmão mais novo pelos ombros à frente de si.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha perante o tamanho da idiotice daquela pergunta.

—Rin-chan, você quer vir conosco? — Pervertido reformulou rapidamente à pergunta.

—Não obrigada. — ela recusou. — Eu vou para casa com Sesshoumaru-Sama.

Sesshoumaru a olhou.

—Rin. — ele a chamou — O que foi que eu lhe expliquei antes de sairmos?

Como sempre Rin o olhou sorrindo.

—Está tudo bem, Sesshoumaru-Sama! — ela lhe respondeu — Eu realmente quero ir para casa agora, já estou cansada.

Sesshoumaru não tinha certeza se ela estava dizendo a verdade, mas considerando os hábitos dos mais velhos, pelos quais ela fora criada, provavelmente estava.

—Muito bem então. — concordou.

Eles haviam chegado ao templo andando, e seria andando que voltariam para casa, no entanto, de lá para cá a temperatura havia caído um pouco, e até mesmo Sesshoumaru deixava sua mão livre dentro do bolso do sobretudo enquanto o guarda-chuva seguia pendurado em seu braço, a outra segurava a mão de Rin, que ele sentia extremamente gelada.

—Rin. — chamou, parando em frente a uma loja de conveniências 24h, quando só haviam percorrido metade do caminho para casa. — Espere aqui.

Ordenou soltando sua mão e entrando na loja.

Minutos depois ele saiu carregando dois copos de isopor em mãos.

—Tome, beba. — disse sentando-se ao lado dela no banco em frente à loja de conveniências e entregando a ela um copo de chocolate com leite — Vai aquecer suas mãos também.

—O-obrigada, Sesshoumaru-Sama! — ela agradeceu pegando o copo girando-o nas mãos para aquecê-las.

—Rin, se estava com frio, tinha que ter me avisado. — ele a repreendeu tomando um gole do café que havia comprado para si.

—Desculpe.

Ele olhou para o alto, o céu estava fechado, com cara de que começaria a nevar.

—Se ficar um pouco mais frio eu vou ter que te guardar dentro do meu casaco. — comentou.

Ela riu.

—Rin. — ele a chamou.

E quando ela o olhou ele ergueu seu copo de café e tocou o copo de chocolate dela.

Um brinde de ano novo.

...

Embora não tenha chegado a nevar, de fato Sesshoumaru “a guardara dentro do casaco”, pois quando chegaram ao prédio ele carregava a menina adormecida nos braços — ela havia caído no sono logo depois de terminar o chocolate com leite, o que confirmava a história dela de estar cansada — a mantendo dentro do sobretudo que ele vestia, para aquecê-la, pois sabia que, apesar de sua repreenda, ela não havia lhe confessado realmente o quanto estava com frio.

Logo que adentraram o prédio uma das sandálias dela lhe caiu do pé, mas ele não se importou em parar para recolhê-la.

Estava para subir as escadas quando ouviu a voz atrás de si:

—Ela é filha da enfermeira?

Ele virou-se para a mulher atrás de si.

—Não. — respondeu, e observou a sacola de compraras em sua mão direita — Ainda com aquele mesmo hábito de fazer compras durante a madrugada em supermercados 24h?

Ela encolheu os ombros.

—É o melhor momento para se fazer compras: está tudo praticamente vazio e não preciso enfrentar filas ou duelar por um salmão. — fez uma pausa — Eu já estava com a dispensa completamente vazia, então vou ter que fazer compras de verdade antes do final de semana.

Segurando Rin com apenas uma mão ele estendeu a mão, agora livre, para ela, e sem dizer nada ela lhe entregou a sacola de compras.

Juntos eles começaram a subir as escadas.

—Foi sorte encontrar um aberto, você sabe que tudo fecha no primeiro dia do ano. — ela comentou, Sesshoumaru concordou. — Essa menina realmente não é filha da enfermeira?

—A mãe de Rin veio um pouco antes disso. — respondeu.

—Devasso. — ela o chamou.

Mas não disse isso em tom de ofensa, era mais um tom de alguém que faz um comentário, como quem diz “seu cabelo parece maior”.

—Eu posso seguir sozinha daqui, obrigada pela ajuda. — ela agradeceu pegando a sacola de volta quando eles chegaram ao quinto andar — Vou fazer macarrão com queijo para o almoço. — avisou — Parabéns pela passagem do ano, Sesshoumaru.

Despediu-se subindo o resto das escadas.

—Para você também. — ele respondeu — Madame Eleonor.

Virou-se e, ainda com Rin adormecida nos braços, foi para seu próprio apartamento.

 


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Notas finais do capítulo

E aqui terminamos mais um ano, espero continua vendo-os por aqui no ano que vem também! =^.^=
Vou lhes contar um segredo: a personagem Eleonor mencionada no final desse capítulo é uma personagem original minha que, na verdade, eu já havia utilizado em outra fanfic minha de Inuyasha! XD
E eu confesso, na verdade eu já tinha esse capitulo pronto há uns três anos (desde meados de 2016 se não me engano), mas aí recentemente uma leitora aqui (Joh-chan estou falando com você!) que só pode ser vidente, começou a comentar sobre como ela não tirava da cabeça que Madame Eleonor poderia aparecer a qualquer momento nessa história e eu fiquei tipo “poxa, estragou a surpresa”, e até pensei em cortá-la da história... Mas não dá, amo demais essa personagem kkkk E aos que a estarão conhecendo somente agora, espero que gostem dela também!
Até a próxima!

Curiosidade do Japão:

No Japão durante o ano novo eles não dizem simplesmente “feliz ano novo”, em lugar disso, eles dizem “Tenha uma boa passagem de ano” antes do dia 01 de janeiro, e após o dia 01 de janeiro dizem “Parabéns pela passagem de ano”.



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