De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 15
Resolvendo os problemas de uma garotinha.


Notas iniciais do capítulo

Glossário:

Genkan: Área da casa, posicionada à entrada, onde se deixam os calçados antes de entrar;

Surippa: Chinelos ou pantufas próprios para serem usados dentro de casa.



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Havia cinco itens nos bolsos de Sesshoumaru; no bolso direito:

— um isqueiro.

—uma caneta tinteiro (presente da Domadora em seu último aniversário, e sem a qual ele não andava desde então).

—sua carteira..

No bolso esquerdo:

—uma carteira de cigarros (já vazia quase pela metade).

—um item misterioso (colocado ali mais cedo naquele mesmo dia, por Rin).

Ele havia esquecido o celular no porta luvas do carro... No estacionamento do prédio onde morava.

Ele mal tinha saído da reunião e já estava segurando o cigarro entre os lábios com uma mão quando, enquanto procurava o isqueiro, encontrou — juntamente com o isqueiro — o tubo de mini chocolates m&m.

Então fora esse o item misterioso que aquela menina enfiara em seu bolso quando o abraçara mais cedo depois de ele deixá-la na escola.

Quando percebeu isso ele teve que tirar o cigarro — ainda não aceso — da boca e, mesmo que levemente, sorrir com aquilo, da próxima vez ela provavelmente iria tentar furta-lhe a carteira de cigarros diretamente do bolso, mas tudo bem, afinal não era como se ela fosse realmente conseguir fazer algo assim, pois ela era uma péssima ladina — ele sentira a mão dela em seu bolso o tempo todo, mas deixara como estava para ver o que ela pretendia.

A mão segurando o cigarro já pendia esquecida ao lado de seu corpo e Sesshoumaru havia acabado de abrir o tubo de m&m quando Myuga o alcançou.

—Sesshoumaru por que cargas d’água você veio vestido dessa maneira?!

Sesshoumaru enfiou o cigarro de qualquer jeito no bolso e jogou, desleixadamente, alguns m&m na boca antes de também guardar o tubo, junto com o isqueiro, no bolso e olhar de canto para Myuga.

—Você me chamou aqui de última hora, dê-se por satisfeito por eu, ao menos, ter aparecido na hora.

Myuga girou os olhos.

—Pelo menos da sua pontualidade eu não posso reclamar! — afirmou. — Mas francamente você quer mesmo me convencer de que não tinha nada melhor para vestir no seu armário do que essa camisa surrada e esses jeans desbotados?! E quantos anos têm esses seus tênis? Dez?! — que exagero, os tênis nem haviam completado três anos de uso ainda, embora, verdade seja dita, eles estavam mesmo tão surrados pelo constante uso, já que eram os únicos calçados de Sesshoumaru, que realmente pareciam bem mais velhos que isso — A propósito quando os lavou pela última vez?!

Há sete semanas.

—Eu me tornei escritor para não ter que passar minha vida sufocando em um terno com gravata. — afirmou parando de frente ao elevador, com ambas as mãos nos bolsos.

Essa não fora a única razão, mas com certeza estava entre as cinco primeiras.

—Mas você não precisava colocar terno e gravata! — Myuga exasperou-se chamando pelo elevador — Talvez uma camisa de gola polo, ou se quisesse apenas um jeans limpo e um par de sapatos que não parecesse prestes a se desfazer a cada passo seu, qualquer coisa que o deixasse mais apresentável! Céus!

—Meus jeans estão limpos. — disse simplesmente — E esses tênis são confortáveis.

—Você é impossível! — Myuga parecia a ponto de arrancar os poucos cabelos que ainda restavam em sua cabeça.

—Deixando de lado a minha indumentária... — Sesshoumaru deu um passo à frente para entrar no elevado que acabara de chegar, já carregando outras duas pessoas — A reunião correu muito bem.

Myuga suspirou o seguindo.

—Oh sim, muito bem. — concordou, ele sabia perfeitamente bem que de nada adiantava insistir com Sesshoumaru quando ele dava um assunto por encerrado — E eu estava realmente apreensivo, e não só por causa da forma como você se apresentou, embora deva admitir que isso me deu taquicardia, mas principalmente porque eles não queriam, aceitá-lo como um dos co-autores desse livro de forma alguma.

No sétimo andar as portas se abriram, uma das pessoas que estavam com eles no elevador saiu.

Sesshoumaru recostou-se à lateral do elevador.

—Ah é? — perguntou despreocupado — Por eu ser um autor ainda novo?

Tecnicamente Sesshoumaru já era um “escritor profissional” já há cerca de oito anos, pelo menos do ponto de vista de Myuga, pois Sesshoumaru publicara seu primeiro conto praticamente aos dezesseis anos, e para aquele velho você se tornava um escritor profissional no momento em que recebia por algo que houvesse publicado — essa era a maneira dele de “incentivar novos talentos”, mas Sesshoumaru via as coisas de uma maneira um pouco mais pragmática: você só se tornava um escritor depois que publicava seu primeiro livro e recebia — mais do que havia investido, pelo menos — por isso, qualquer coisa publicada antes disso, tendo recebido ou não, era apenas uma fase de experiência, e vendo por esse lado ela mal tinha completado três anos como escritor.

—Não, nada disso, se fosse por isso uma das que tem por tema o outono não teria conseguido entrar nesse projeto, ela só está nesse meio há uns dois anos e até agora apenas publicando contos, sem qualquer previsão de um livro pela frente ainda.

Ou seja, ela ainda não era uma escritora, mas sim apenas uma amadora acumulando experiências.

—Então o que foi que os fez hesitarem?

Primeiro andar, outras quatro pessoas entraram no elevador.

—Seu gênero de literatura. — Myuga respondeu — Você escreve estórias de terror e/ou suspense, que tendem a mexer com o psicológico do leitor, e isso não era bem o que estavam procurando para esse livro.

Sesshoumaru permaneceu olhando o painel, não era como se isso fosse uma grande surpresa para ele, pois havia pegado a indireta na reunião quando disseram que talvez aquele livro “fugisse da zona de conforto de alguns deles”.

—Quanto ao pagamento... — começou a dizer.

E ouviu Myuga voltar a suspirar, mas o velho o conhecia desde que ainda havia cabelo naquela sua careca brilhante — e isso fazia muito tempo — e sabia que com Sesshoumaru era assim que as coisas funcionavam: ele ditava os rumos da conversa, e aos outros só restava acompanhar.

O elevador chegou ao térreo, três pessoas saíram, mas mais cinco entraram.

Aquela caixa de metal já estava ficando cheia de mais para o gosto dele.

—Ah sim, vocês receberão, num prazo de até quinze dias uma quantia adiantada para custear seus gastos durante o tempo de produção para o conto, de, no máximo, oito mil palavras, após a publicação vocês oito terão um total de até 32% na participação dos lucros.

Finalmente o estacionamento.

Incomodado Sesshoumaru precisou se espremer para sair daquela apertada caixa metálica, juntamente com Myuga e mais outra pessoa — alguém que tinha “embarcado” no primeiro andar.

Duas pessoas que esperavam pelo elevador entraram assim que eles saíram.

—Parece razoável. — concordou.

—E bem mais que apenas razoável. — o velho afirmou parando ao seu lado e olhando a volta — Onde está seu carro?

Ao longe alguém gritou “segura o elevador”, atrás deles o elevador fechou suas portas e começou a subir.

—Na garagem do prédio em que moro, eu não vim de carro hoje. — Sesshoumaru respondeu já se afastando — Você sabe que não gosto de dirigir, Myuga...

Para Sesshoumaru dirigir era, na maior parte das vezes, apenas uma grande chateação, todo aquele barulhos, congestionamento e estresse... Definitivamente não era para ele. Por isso que preferia era ir andando para os lugares, ou então pegar mesmo o metrô — e sempre tomava o cuidado de não pegá-lo em horário de pico para não ter que enfrentar a lotação —, salvo, é claro, em algumas raras exceções como, por exemplo, quando tinha que ir ao supermercado, aí se tornava muito mais cômodo ir de carro do que ter que vir carregando todas as compras no metrô, e mais recentemente para levar e buscar Rin diariamente na escola também.

—Francamente. Pra que você comprou um carro então? — ouviu Myuga dar um riso fungado atrás de si — Ao menos coloque uma jaqueta quando não estiver de carro, você ainda vai morrer congelado rapaz! E... Sesshoumaru?

Sesshoumaru parou.

—O que? — respondeu sem se virar.

—Hum... Tente... Pegar leve dessa vez. O.K? Só um pouco talvez...

Ao ouvir aquilo Sesshoumaru mirou Myuga por cima do ombro e lançou a ele um meio sorriso, fazendo o velho arregalar os olhos e empalidecer na mesma hora, pois aquele não era um dos raros — e recém descobertos — sorrisinhos que Rin surrupiava de Sesshoumaru vez ou outra, não... Aquele era um sorriso cruel e cheio de malicia.

—Não se preocupe. — disse — Não vou matar ninguém.

—Oh céus! — ouviu o velho exasperar-se quando começou a se afastar novamente — Ele vai ferrar com o psicológico dos leitores!

Sesshoumaru obviamente ignorou este último comentário.

Já do lado de fora Sesshoumaru checou as horas em seu relógio de pulso, 17h12min, a tal reunião havia mesmo demorado mais do que ele esperava... Algo gelado tocou a palma de sua mão.

Sesshoumaru ergueu os olhos. Neve.

...

A casa da Domadora era uma antiga e tradicional mansão Japonesa, cheia de regras e criados em roupas tradicionais para qualquer lado que se olhasse, com certeza muito semelhante à casa da família da mãe de Sesshoumaru, a qual ele nunca visitara.

Ele já estava sendo esperado então foi facilmente recebido, mas ainda estava tirando seus sapatos no genkan, com uma empregada ao seu lado já com um par de surippas próprias para o inverno prontas para ele, quando Pervertido veio ao seu encontro:

—Há! — ele exclamou — Veja só quem chegou! Nós já estávamos mesmo nos perguntando quando é que você iria decidir nos dar o ar de sua graça!

Já passavam das 19h, porque Sesshoumaru havia esperado até o metrô começar a passar mais vazio para só então poder embarcar.

Porque ele odiava às multidões.

—Eu vim buscar Rin. — afirmou — Traga-a aqui.

—O que? E vai embora sem nem sequer dizer um “oi” ao pessoal? — perguntou alegremente se aproximando e lhe segurando o pulso.

Sesshoumaru livrou-se de sua mão com um puxão.

—Por acaso você está bêbado Pervertido?

—Estão todos na sala de jogos agora... Dá pra acreditar? Sala de jogos! — exclamou empolgado, o ignorando por completo, e cruzando os braços completou: — Francamente não sei por que a Kagome passa tanto tempo na sua casa quando ela mora em um lugar desses...

Com certeza para ficar perto do idiota do Inuyasha, mas ela parecia não se dar conta disso.

—Sim, eu também queria saber, agora traga logo a Rin até aqui. — respondeu impaciente.

Pervertido dirigiu-se à empregada:

—Ah muito obrigado, mas pode deixar que eu fique com ele agora. — agradeceu já pegando as surippas de suas mãos.

Sem dizer uma palavra sequer a mulher curvou-se numa reverencia e foi embora em silêncio.

Pervertido lhe estendeu as surippas.

—Então vamos?

E que remédio, não?

Sesshoumaru calçou as surippas e seguiu Pervertido.

—Ei pessoal, olhem quem eu encontrei! — ele anunciou alegremente empurrando para o lado a porta de correr de papel de arroz.

—Sesshoumaru-Sama! — foi a primeira coisa que ele escutou.

No instante seguinte Rin estava agarrada a ele como se já não o visse há mil anos.

Ela era uma menina realmente pequena para a idade... Mas sua mãe também não fora uma pessoa muito alta.

Sesshoumaru analisou o ambiente, todo aquele quarto sozinho era, no mínimo, do tamanho do apartamento inteiro dele, e fora o tatame no chão — que era o único toque tradicional naquele cômodo — todo o resto parecia fazer parte de um mundo a parte

—Oh... Então ele realmente veio. — murmurou Gata Selvagem, inclinando-se sobre a mesa de bilhar no centro do cômodo e concentrando toda a sua atenção ali — Inuyasha parece que eu ganhei. — ela deu a tacada e endireitou-se — Eu te disse que ele viria.

Sesshoumaru ergueu os olhos, pra que o globo de espelhos?

Inuyasha estava em um canto da sala, suando para tentar acompanhar o ritmo do jogo de dança com o qual brincava, tentando pisar na ordem correta nas setas do tapete aos seus pés. A televisão ali era tão grande que o avatar na tela de plasma quase aparecia em tamanho natural.

—Mas que droga... Sesshoumaru. — ele comentou dando um giro — Você não da uma dentro, mesmo!

—Nós estávamos achando que você pretendia abandonar Rin aqui na casa da Kagome. — Pervertido lhe explicou dando-lhe uma tapinha no ombro e adentrando o cômodo em seguida — Ei Sango, já é minha vez?

—Já. — Gata Selvagem respondeu lhe passando o taco.

—Estávamos mesmo achando que você pretendia deixar Rin aqui, Sesshoumaru. — afirmou Domadora, ela por sua vez estava em um sofá baixo, bem a moda dos móveis japoneses, no outro canto da sala. — Eu já estava até pensando em pedir a alguém que trouxesse para Rin um dos meus pijamas antigos, para ela poder passar a noite aqui.

Realmente não seria uma má idéia deixar a menina ali... Afinal, se era um lar que ela queria, porque não se sentia no direito de morar com os pais de Mariko — visto que tinha um medo infantil de acabar por “matá-los” — que melhor lugar que a casa da Domadora?

Domadora certamente não se importaria de ficar com a menina para si por algum tempo, e ele teria de volta a sua paz — e era isso o que queria... Certo? E tentou não pensar no envelope que pegara no laboratório meses atrás — e assim todos saiam ganhando.

—Se quiser ficar com Rin...

—Mas que droga. — Inuyasha, que pelo visto tinha acabado de perder a partida, o interrompeu — E eu que já tinha dado a vitória por certa na aposta quando começou a nevar...

—Eu também achei que Inuyasha já tinha ganhado quando começou a nevar. — Pervertido apoiou, se erguendo depois de uma tacada — Ele não sai nem quando o tempo está bom, imagine então com neve...

—Mas se bem que não chegou a nevar nem por vinte minutos. — meditou Domadora.

—Eu acreditei no senhor, Sesshoumaru-Sama! — a voz de Rin sobressaltou-se a de todos os outros — Eu sabia que o senhor viria me buscar, afinal um pouco de neve não é nada para o senhor que ama ao frio!

Embora ela estivesse tão firmemente agarrada a ele, Sesshoumaru já havia até mesmo esquecido dela ali.

—E olhe, olhe Sesshoumaru-Sama! — voltou a chamar sua atenção, finalmente largando-o e saltando para trás — Kagome-chan arrumou meu cabelo, ele ficou bonito não foi?

O cabelo dela estava preso em ambos os lados com fitas azuis.

Era evidente que uma garota — mesmo que uma colegial — se sentiria muito mais cômoda em cuidar de uma menina do que ele, até porque Domadora tinha aquele monte de empregados para ajudá-la.

Sesshoumaru a fitou.

—Você gostou de estar aqui na casa da Domadora?

A menina inclinou a cabeça de lado.

—Ah...? Sim...

—E gostaria de ficar aqui? Não tem problema algum em querer ficar. — acrescentou.

Gata Selvagem e Pervertido deixaram cair os tacos, o queixo de Inuyasha caiu.

—S-Sesshoumaru! — Domadora exclamou levantando-se com um salto.

Rin apenas sorriu.

—Não, tudo bem. — respondeu — Aqui até é legal, mas eu já estava mesmo louca para voltar para casa!

—Faça como quiser então. — Sesshoumaru lhe deu as costas.

—Ah...! Obrigada por cuidarem de mim, mas eu tenho que ir agora!

Ouviu-a despedir-se rapidamente e logo em seguida apressar-se a correr para alcançá-lo.

Ele a olhou de canto.

—Onde é que estão as suas coisas?

—Ah! — a menina espantou-se, dando-se conta de que estava sem nada — Elas estão...

—Rin-chan! — ambos pararam e se viraram ao ouvir Gata Selvagem chamar. — Você esqueceu sua mochila!

E junto dela também vinha uma das empregadas de kimono, que trazia nos braços os agasalhos dela e de Rin.

—Oh, obrigada Sango-chan. — agradeceu pegando a mochila.

—Sim, obrigado. — Sesshoumaru acenou.

—Não foi nada. — Gata Selvagem sorriu, e seguiu caminhando com eles. — Ei Sesshoumaru, está meio frio lá fora...

—Meio? — Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

Claro, a temperatura ainda não o estava o incomodando — embora estivesse começando a achar mais confortável andar com as mãos nos bolsos —, na verdade ele particularmente achava aquele “ar de inverno” um tanto quanto revigorante, mas ouvira várias pessoas na estação e no metrô reclamando da temperatura que caia rapidamente.

—Frio demais para se andar de bicicleta. — concluiu sem preâmbulos — E eu queria saber se você não pode me dar uma carona.

—Acontece que eu não estou de carro.

Os três — e mais a empregada de kimono, que ainda os seguia — pararam no genkan.

Rin e Gata Selvagem se voltaram para ele.

—Não está de carro? — Rin perguntou abismada, deixando a empregada ajudá-la a por o casaco sem sequer perceber — E como vamos para casa?

—Da mesma forma que eu cheguei até aqui: de metrô. — respondeu, movendo-se para pegar seus tênis na prateleira de cima do móvel posicionando na lateral do genkan. — Se não tiver dinheiro eu posso pagar a sua passagem, Gata Selvagem.

—Não, valeu. — Gata Selvagem pegou os próprios sapatos, que estavam uma prateleira abaixo dos seus, e sentou-se no degrau, que separava o genkan da entrada principal, para calçá-los. — Eu posso ir de bicicleta mesmo.

—Então é melhor que comece a pedalar logo. — sugeriu, sentando-se ao seu lado para calçar os tênis — Porque a qualquer momento pode começar a nevar de novo.

Muito improvável.

—Uhun. — Gata Selvagem concordou levantando-se e sorrindo agradecida quando a empregada, a mesma que estivera ajudando Rin antes, lhe estendeu o casaco — Então eu já vou indo.

Despediu-se, e saiu ainda abotoando o casaco.

—Ela vai ficar bem? — Rin perguntou ajeitando o gorro na cabeça — Vovô sempre dizia que é muito perigoso que moças saiam desacompanhadas durante a noite. Uma vez eu ouvi Mariko chorando dizendo que um homem a tinha seguido.

—Ela foi a policia?

Rin balançou a cabeça.

—Vovô foi esperá-la na estação todas as noites com um pedaço de pau bem grande debaixo do casaco durante três meses, e ela sempre tinha um apito e spray de pimenta na bolsa.

Mariko certamente havia passado por muita coisa, mas isso o fez pensar em certa que sempre teimava em sair sozinha para fazer compras de madrugada, mesmo que ele lhe dissesse que ela poderia chamá-lo para ir até a lavanderia 24h às duas da manhã, se quisesse.

—Sango! — ambos ouviram Pervertido chamar de repente no momento em que Sesshoumaru se levantava após ter amarrado os cadarços — Sango...! Cadê ela?

Ele vinha correndo apressado pelo corredor, enfiando atrapalhadamente uma manga no casaco, com o cachecol jogado de qualquer jeito em volta do pescoço e um gorro torto na cabeça, que parecia que sairia voando a qualquer momento.

—Já foi. — responderam em conjunto.

—Aquela...! Ela nem sequer me esperou! — ele parou, por menos de um minuto, para calçar os sapatos de qualquer jeito e então sair correndo atrás dela.

Sesshoumaru voltou-se para Rin.

—Ela vai ficar bem.

A menina sorriu e acenou concordando.

A frase o atingiu em cheio.

—Sesshoumaru-Sama? — ouviu Rin o chamar.

Mas não respondeu, pois estava visualizando a sua frente a frase que acabara de nascer em sua mente.

Ele não soube na onde e nem como ela surgiu, ela simplesmente apareceu, assim do nada, em sua cabeça — mas afinal era um escritor, coisas assim aconteciam o tempo todo com ele.

Era essa! Era a partir dessa frase que ele construiria seu “conto de verão” e ele precisava anotá-la... Num movimento rápido pegou a caneta tinteiro do bolso esquerdo, e tirou um pedaço de papel qualquer da carteira.

 “Que tipo de coisas terríveis se esconde nas profundezas do mar?”.

—Ah, vejo que gostou da caneta que a Kagome te deu de aniversário, ela vai gostar de saber. — Inuyasha comentou aparecendo ao seu lado.

Sesshoumaru olhou para o irmão mais novo, guardando a caneta e o papel no bolso.

—O que foi? — arqueou uma sobrancelha — Veio se despedir do seu irmão mais velho?

Zombou.

—Nem por isso. — Inuyasha lhe respondeu.

—Então?

O mais novo desviou o olhar, Sesshoumaru seguiu seu olhar e percebeu que ele olhava para Rin que, por sua vez, tentava calçar os sapatos... Ela devia ter colocado as luvas só depois, e a empregada de kimono já se fora.

—Rin estava meio estranha hoje. — confidenciou-lhe Inuyasha em tom baixo, aproveitando-se da distração da menina.

—Estranha como? — Sesshoumaru perguntou no mesmo tom.

—Muito calada. — respondeu-lhe — Quieta... Nem quis brincar com nada da sala de jogos, claro, também pode ser que ela só estivesse sentindo sua falta, porque a menina parece inexplicavelmente gostar de estar contigo, mas acho que você devia ver isso.

Sesshoumaru concordou.

—Já estou pronta Sesshoumaru-Sama! — Rin anunciou, prontamente postando-se ao seu lado.

—Então vamos. — Sesshoumaru virou-se, mas antes de ir embora quis dizer uma última coisa ao irmão — Vê se para de uma vez de abusar da hospitalidade da Domadora e volta pra casa, seu parasita imprestável.

—Feh, eu volto já por esses dias. — Inuyasha respondeu.

...

—O que foi? — Sesshoumaru perguntou algum tempo mais tarde, enquanto caminhava pela rua, a caminho da estação de metrô, quando o sorriso persistente de Rin começou a incomodá-lo.

—O senhor sente falta do tio Inuyasha. — ela respondeu, e estava com a mão enluvada bem agarrada a sua.

—Como se isso fosse possível. — girou os olhos.

—Então por que disse para ele voltar para casa?

Sesshoumaru a olhou de canto.

—Meu pai me manda uma quantia mensal para que eu deixe Inuyasha morar comigo, logo, sem Inuyasha, sem dinheiro. — respondeu.

—Ah... Claro. — ela suspirou — E... Quanto o vovô te envia?

—É uma soma bem considerável, ele envia uma quantia suficiente para pagar pelos estudos de Inuyasha e pela maior parte do que ele come, com uma pequena quantidade a mais para pagar por gastos adicionais, caso ele vá parar no hospital ou precise de fiança, qualquer coisa assim, se esse dinheiro não for usado deve-se deixá-lo guardado para eventuais imprevistos, e mais uma pequena mesada para Inuyasha gastar com seu lazer.

A menina o olhou surpresa.

—Uma mesada para tio Inuyasha gastar com o lazer?! — exclamou — Mas ele está sempre duro! É a Kagome-chan que paga pelas coisas para ele! O que acontece com essa parte do dinheiro?! — Sesshoumaru manteve-se calado, Rin estreitou os olhos — Sesshoumaru-Sama, o senhor fica com o dinheiro do tio Inuyasha?!

Ele não negou a acusação.

—Pagar pelos gastos de Inuyasha é o mínimo que meu pai podia fazer, portanto eu considero essa pequena quantia por uma comissão por agüentar a ele aos amigos na minha casa. — afirmou — Meu pai também paga parte do aluguel do apartamento.

—Que parte? — ela perguntou desconfiada.

A menina estava ficando mais esperta.

Sesshoumaru encolheu os ombros.

—Ele acredita que é apenas a metade.

—E quanto ele realmente paga? — ela insistiu.

Menina esperta...

—O aluguel custa um total de ¥ 16.000* por mês. — informou.

—E desse total o vovô paga...?

—¥ 16.000

—Sesshoumaru-Sama! — exclamou chocada.

Ele não lhe deu muita atenção.

—Rin. — chamou uns tantos passos depois — Há algo que esteja querendo me dizer esses dias?

—Hã? — ela se assustou — Não... Nada... Nada mesmo.

—Mesmo? — pressionou.

—M-mesmo. — ela garantiu.

Mas aquela resposta pareceu muito nervosa para ser sincera.

—Mas você tem agido meio estranha ultimamente.

—N-não tenho...

—Tem. — a cortou — Me espia trabalhando por horas, e parece sempre prestes a falar algo, mas foge no último segundo. O que é que você quer tanto me dizer Rin?

Rin baixou a cabeça.

—E-eu... — ele a sentiu apertar um pouco mais a sua mão — Sesshoumaru-Sama?

—Eu. — respondeu.

—O senhor acha que o penteado que a Kagome-chan me fez pode continuar intacto até amanha?

—Sim, se você dormir como uma gueixa.

Ela ficou pensativa por alguns minutos, enquanto eles já desciam as escadas da estação de metrô, como se realmente estivesse cogitando a possibilidade de ele ter falado a sério.

—E como dorme uma gueixa?

—Não durma como uma gueixa, só vai te dar enxaqueca. — respondeu firme, em seguida voltou a insistir: — Agora me diga logo o que é que você vem querendo me dizer esses dias.

Chegaram ao final da escadaria, a menina hesitou, com os olhos fixos nos próprios sapatos — que milagre ela ainda não ter começado a usar botas, frienta do jeito que era...

—Estou sendo impedida de assistir às aulas desde o começo da semana. — ela finalmente revelou.

Sesshoumaru franziu o cenho.

—Por quê?

—Minha... Minha professora avisou-me que meu penteado é inadequado para escola, e que eu deveria ir apropriadamente arrumada e também que queria falar com meu responsável, ou do contrário eu seria impedida de assistir as aulas.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

—E você não me avisou nada disso?

—Eu... Não queria incomodá-lo Sesshoumaru-Sama e... Seria um estorvo para o senhor ter que ir até a minha escola.

Ainda segurando-a pela mão Sesshoumaru voltou a caminhar.

—Estorvo maior será se eu não for. — afirmou — Porque então você continuará sendo impedida de assistir às aulas e acabara repetindo o ano por causa disso, e aí sim Domadora terá um motivo para reclamar sem parar na beira do meu ouvido.

—A Kagome-chan é realmente uma pessoa bem corajosa, não é? — ela perguntou novamente com aquele seu usual tom admirado de sempre.

—Ela é só uma irmãzinha caçula impertinente e mandona. — Sesshoumaru retrucou — Mas se eu pudesse escolher entre ter ela ou Inuyasha como parente, eu escolheria ela, a Domadora come menos e é bem mais funcional no apartamento.

Pelo canto dos olhos ele a viu cerrar os olhos novamente para si, daquela sua maneira tão desconfiada.

—Basicamente o que o senhor está me dizendo é que, antes da minha chegada, quem cuidava para você e tio Inuyasha não morrerem de fome e nem se perderem na própria bagunça era a Kagome-chan, não é?

Na verdade Sesshoumaru não era um homem particularmente desorganizado, muito pelo contrário, mas acontece que a única parte do apartamento que ele se importava em deixar realmente organizada era o seu quarto, quanto ao resto...  Bem, ele ia naturalmente sucumbindo ao caos do descaso.

 —Rin. — chamou.

Ambos pararam em frente à catraca, ele deixou que ela passasse na frente.

—Sim, Sesshoumaru-Sama? — ela virou-se para esperá-lo.

Ele também passou pela catraca.

—Guarde essas fitas do seu cabelo, e amanhã se arrume o mais cedo que puder, porque você irá para a escola com o cabelo tão impecavelmente arrumado que a professora irá até querer usá-la como exemplo para as outras crianças. — afirmou convicto — E avise-a também de que não será mais necessário deixá-la do lado de fora da sala, pois amanhã mesmo, depois da aula, irei falar com ela, melhor, mandarei um aviso por escrito para avisá-la disso, trate de entregá-lo.

A menina juntou as palmas das mãos animadamente diante do rosto, os olhos brilhando da mais genuína e infinita admiração.

—Sesshoumaru-Sama! — exclamou maravilhada.

...

Sesshoumaru ouviu a moça do balcão soltar uma risadinha.

—Sabe, não é todo dia que alguém traz uma menina ao salão de beleza só para ela fazer um penteado para um dia comum de escola. — ela comentou.

Eram ainda 7h32min, o salão havia acabado de abrir e Rin era a primeira — e até então única — cliente daquela manhã.

—Eu não tenho tempo, nem disposição, para tentar aprender a amarrar os cabelos dela e ela já estava sendo impedida de entrar na sala de aula. — respondeu.

Mas, pelo andar da carruagem, aquilo acabaria se tornando inevitável, já que ele não pretendia ter que pagar um salão de beleza para Rin toda manhã em seis de cada sete dias da semana — nem que publicasse um livro por mês!

—Ah, entendi. — ela inclinou-se um pouco mais sobre o balcão — Sua esposa deve está muito orgulhosa, não? Por ter um marido assim tão dedicado em cuidar da filha enquanto ela está...

—Morta.

Respondeu secamente, deixando a recepcionista completamente sem jeito:

—E-eu sinto muito, eu não fazia idéia... — gaguejou, mas pareceu também recuperar-se bem rápido do constrangimento, pois, pondo a mão sobre o antebraço de Sesshoumaru continuou: — E você já casou novamente?

—Nunca fui casado. — respondeu com pouco caso, olhando o relógio de pulso.

7h36min.

—Oh, deve ser realmente difícil para você, ter que cuidar sozinho da menina... — afirmou a recepcionista, com voz macia.

—Sesshoumaru-Sama, eu já estou pronta! — Rin anunciou alegremente correndo ao seu encontro.

Surpresa, a recepcionista imediatamente tirou a mão do braço de Sesshoumaru que, por sua vez, afastou-se do balcão sem o menor interesse — como se nem sequer tivesse notado-a falando com ele.

—Está bom. — afirmou, analisando os cabelos dela, bem presos em um coque de tranças com as fitas da noite anterior entrelaçadas nele, enquanto a franja permanecia bem sentada e penteada de lado — Agradeça à cabeleireira pelo bom trabalho.

—Sim! — E imediatamente ela virou-se e, com as mãos sobre os joelhos, curvou-se dizendo — Muito obrigada por seu bom trabalho!

—Ah, que menina tão educada! — a cabeleireira riu encantada — É realmente uma filha adorável esta que o senhor tem.

Sesshoumaru olhou novamente o relógio, 7h42min, a aula da menina começava em menos de vinte minutos, e, especificamente naquele dia, ela não poderia chegar atrasada — ele não queria dar mais nem um motivo a mais para a professora pô-la para fora, já lhe bastava de problemas com aquela criança! —, não havia tempo para explicações.

—Rin. — chamou já saindo do salão — Vamos.

—Sim!

Ela respondeu, correndo para alcançá-lo ao mesmo tempo em que lutava para enfiar os braços nas mangas do casaco — ainda que ele tivesse parado à porta para esperá-la — que a recepcionista no balcão lhe estendera, e agarrando-lhe firmemente a mão antes de saírem.

O carro havia ficado estacionado do outro lado da rua.

—Ei, ei, Sesshoumaru-Sama. — ela o chamou enquanto atravessavam a rua.

—Que é Rin?

—Eu reparei uma coisa estranha.

—O que? — perguntou ao mesmo tempo em que largava sua mão para entrar no carro.

A menina correu para dar a volta no veiculo e, tão logo entrou, respondeu:

—Quando os homens viam que Mariko tinha uma criança, e que era mãe solteira, eles sempre se afastavam, mas com o senhor é o contrário: quando as mulheres vêem que o senhor tem uma criança, e que é pai solteiro, elas sempre se aproximam.

Sesshoumaru deu a partida no carro, ela estava certa, mas obviamente havia se esquecido de Kagura — e de como ele, propositadamente, a espantara ao afirmar, oportunamente, pela primeira e última vez, que ela era sua filha.

—Fala sobre a recepcionista do salão?

Então ela havia visto aquilo, menina atenta...

—Uhun. — ela confirmou afivelando o cinto de segurança — Por que isso acontece, Sesshoumaru-Sama?

—Por um simples fato Rin: Quando uma mulher é mãe solteira ela é vista como uma mulher qualquer e irresponsável, uma mulher com filhos também não é exatamente atraente, é muita responsabilidade e é de senso comum que ela provavelmente deve estar procurando um homem para bancar a ela e a criança...

—Mariko não era assim! — a menina protestou.

Mas me deixou você para cuidar quando morreu, não foi? Pensou irritado.

—Já quando um homem é pai solteiro ele é visto como sensível, amável e responsável, e isso nos torna atraente. — continuou, como se ela não tivesse dito nada.

—O senhor também não é uma pessoa sensível, e muito menos amável. — ela o acusou — E nem é tão responsável assim!

—Essa é a sua opinião.

—Isso não é justo. — a menina reclamou.

—É a realidade. — Sesshoumaru respondeu.

 


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Notas finais do capítulo

* ¥ 16.000 equivale entorno de R$ 623,98

Bem, agora sabemos aonde Sesshoumaru foi, e então, o que estão achando de como está indo a relação dele com a Rin?
E no que será que vai dar esse encontro do Sesshoumaru com a professora da Rin???
Ah! E uma pequena curiosidade: O que o Sesshoumaru falou a Rin, sobre dormir como uma gueixa para manter o penteado intacto isso é porque as gueixas eram treinadas para dormir com o pescoço encaixado em pequenos suportes elevados chamados de Takamakura. Desta maneira, elas conseguiam manter o penteado perfeito mesmo enquanto dormiam. Para reforçar esse hábito, derramavam-se grãos de arroz em torno do suporte e caso a gueixa se descuidasse enquanto dormia, amanhecia com os grãos grudados no cabelo.
Até a próxima!



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