Capítulo 3
Carmen: Se você diz. (dando de ombros) Cecília (chamando a atenção da irmã que ajeitava a cozinha e parou para olhá-la) Me diz uma coisa (fez menção para que ela continuasse) Você achou o Alfredo bonito?
Cecília ficou sem reação. Não esperava que a irmã fosse fazer uma pergunta daquelas. Afinal, as duas nunca conversavam sobre esses assuntos. Não sabia nem o que responder, apenas ficou calada. E Carmen perguntou novamente:
— Me diz, você achou o Alfredo bonito?

Continuação:
Cecília continuava sem saber o que responder. Estava nervosa. Mas preferiu dizer a verdade.
– Esta bem Carmen (fez uma pausa) Sim, eu achei ele bonito sim.
Carmen: É sério? (sem acreditar)
Cecília: Sim. Eu não tenho por que mentir. Nunca menti para você.
Carmen: Eu sei, mas é difícil de acreditar.
Cecília: Mas e você? Achou ele bonito?
Carmen ficou completamente nervosa. Nunca imaginou que a irmã lhe faria essa pergunta.
– Cecília, por favor! Eu não sei o que dizer. (nervosa)
Cecília: A verdade Carmen.
Carmen: Ai Cecília. Sabe que eu nem reparei. Eu o vi tão pouco, mal o conheço.
Cecília: Tem certeza Carmen. Porque para mim você ficou muito nervosa com esse assunto. (percebendo que a irmã estava escondendo algo)
Carmen: Mas é claro que não estou escondendo nada. (se irritando) E não estou nervosa. Só estou...surpresa (tentando improvisar)
Cecília: Surpresa?
Carmen: É, surpresa. Porque nós nunca conversamos sobre isso. (ainda um pouco nervosa) Além do mais, por que estamos falando sobre isso?
Cecília: Bem, foi você quem começou.
Carmen: Está bem, agora chega desse assunto. Vamos dormir. (Cecília assente) Boa noite
Cecília: Boa noite
No dia seguinte:
Carmen: Sabe Cecília, eu estava pensando.
Cecília: Pensando em quê? (perguntou enquanto se sentava para tomar café)
Carmen: Na nossa irmã Isabel. Nós duas nunca mais a vimos. (ressentida) Deve estar muito feliz. Com certeza se esqueceu das irmãs
Cecília: Não. Ela não se esqueceu de nós duas. Ela só tem uma vida diferente da nossa.
Carmen: (amargurada) Claro, depois que se casou com aquele velho milionário nunca mais apareceu aqui.
Cecília: Carmen, ele não era velho.
Carmen: Ele era velho sim, pelo menos uns quinze anos mais velho que a Isabel.
Cecília: A idade não importa. Ela se apaixonou por ele.
Carmen começou a rir
Cecília: Do que está rindo?
Carmen: Tem certeza que ela se apaixonou por aquele velho ridículo?
Cecília: Não fale assim Carmen. Ela se apaixonou por ele sim. (tentando convencer a irmã)
Carmen: Para mim ela se apaixonou pela conta bancária dele. (pensando) É... Eu tenho razão. Ele foi muito inteligente. Conseguiu uma vida boa. Enquanto nós duas estamos aqui, na pobreza.
Cecília: Por favor, Carmen. Não fale assim da Isabel. Ela não teve culpa. Não se pode mandar no coração.
Carmen: Você acha mesmo que ela se casou com ele por amor? Para mim ela só se interessou pelo dinheiro.
Cecília: Eu tenho certeza que foi assim.
Carmen: Se você diz (dando de ombros). A Isabel sempre foi a preferida dos nossos pais.
Cecília: Por que diz isso?
Carmen: Ela sempre teve tudo. Por ser a mais velha de nós três ela teve muito mais oportunidades.
Cecília: Carmen, nossos pais amavam igual a nós três. Nenhum pai tem preferência.
Carmen: Mas nossos pais tinham. Para falar a verdade eu sempre me senti excluída. A Isabel teve mais oportunidades que nós duas. E você, pode estudar. Eu mal terminei o ensino fundamental.
Cecília: Carmen, você tinha oportunidades. Assim como eu tive e estudei até onde pude, consegui terminar o ensino médio.
Carmen: Você sabe que não foi assim. (ressentida) Eu precisei trabalhar muito cedo e não tinha como estudar.
Cecília: Eu também comecei a trabalhar muito cedo, mas não desisti dos estudos.
Carmen: Eu não desisti, mas não podia estudar. Estávamos com muitas dívidas, não podíamos pagar. (amargurada) Você também teve sorte, o nosso pai pagou os seus estudos.
Cecília: Você não estudou porque não quis. Oportunidades você teve. Agora não adianta reclamar.
Carmen: Claro, para você e para a Isabel tudo sempre foi fácil. Vocês puderam estudar, arranjaram empregos bons. Pra só tinha migalhas.
Cecília: Por favor, Carmen! Não seja ingrata. Nossos pais fizeram tudo o que puderam por nós três. E nunca nos faltou nada. (se irritando com as lamúrias da irmã)
Carmen: Sabe o que eu acho Cecília? Que você sempre foi a preferida do papai. Ele sempre fez de tudo por você.
Cecília: Carmen, por favor. Já chega! Nunca pensei que você fosse tão ingrata. (irritada) Você nunca valorizou o que nossos pais fizeram por nós.
Carmen: E você Cecília! Você nunca reclama de nada. Sempre quer ver o lado bom das coisas.
Cecília: Sabe por quê? Porque reclama de tudo. Nada está bom para você.
Carmen: Eu não sou como você! Nós duas somos muito diferentes. E Sabe por quê? Você sempre se contentou com pouco. Você nunca teve ambição.
Cecília: Já chega Carmen. Não quer mais falar sobre isso.
Carmen: É...É melhor assim.
Cecília: Já vou indo. Até mais tarde.
Carmen: Está bem. Até logo.
E Cecília saiu.
À noite quando voltava para casa, encontrou Alfredo também voltando para casa.
Alfredo: Boa noite Cecília.
Cecília: Boa noite! Como vai?
Alfredo: Vou bem. Tenho uma novidade para você. (animado)
Cecília: É serio? Qual? (se animando)
Alfredo: Consegui um emprego
Cecília: Mais que maravilha! Fico muito feliz por você.
Alfredo: Obrigado Cecília. Olha, agora que já consegui emprego, você aceitaria sair comigo para tomar um café qualquer dia desses?
Cecília ficou surpresa. Não sabia o que responder; muito menos o que pensar.
Alfredo perguntou outra vez:
– Cecília, aceitaria sair comigo?